sábado, 29 de março de 2008

Poesia: para ler ouvindo

- Toc toc toc
- Quem bate?
- É o vento.


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Deixe-me ser
Um pedaço da sua história
Esse tempo sem glória
Que você viveu

Deixe-me ser
O seu ledo engano
O teu erro profano
Esse espaço em vão

Deixe-me abrir
Teus caminhos pro nada
E ser mera risada
Que te faz aprender

Deixe-me ser
Esse vento que bate
E desfaz teu cabelo
E te faz esquecer


©

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Video: Brincadeira de criança

O video abaixo foi editado em 32 minutos.
Os personagens são fictícios. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.


Argumento: Agatha
Edição: Agatha
Falta do que fazer: Agatha

Imagens coletadas no Youtube

Inclassificável: a voz terceiro-mundista

Pior eu, que nem raça tenho. Sou preta, branca e amarela. Sou índio, gentio da terra. Carrego tudo em mim. Sinto as dores e a liberdade de ser. Pior eu, que não me classifico. Fico em cima do muro, percebo tudo assim. Melhor eu que nem raça tenho. Melhor eu, que sou brasileiro.



Brasileiros de terno. Há coisa mais estranha? Fomos feitos para o sol. Somos de lua. Somos da rua. Brasileiros em sua realidade crua. Índios, brancos, negros, na mais mestiça mistura. Caminhando sob o raio solar que ilumina idéias puras, fissuras, falsas juras, e a imensa loucura que é ser brasileiro.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Música: Improvisando no Jazz

Em um cantinho da América do Sul, um dos maiores músicos do século XX empunhava seu violão, enquanto em algum canto do mundo, outro grande músico sacava seu trumpete agudo, ou um sax melancólico, para embelezar as ondas sonoras e torná-las navegáveis. Nas areias de Ipanema nasce a Bossa Nova, música nascida no berço da classe média alta carioca, que bebeu da fonte do samba e do jazz, ambos ritmos nascidos no seio da cultura negra e marginal.

O que une essas duas turmas tão diferentes? A paixão pela música, o ritual que envolve criar uma melodia, harmonizá-la, distribuí-la, executá-la. Convidar bons músicos, selecionar algumas canções, preparar o setlist. Tudo isso regado a uma grande quantidade de álcool e outras substâncias que têm o poder de entorpecimento (and does the music itself hasn't this power?). O processo de fazer música pode ser muito atraente, e certamente era para todos esses musicistas.

Não há como não se apaixonar pelo vigor, genialidade, e até certa displicência, de muitos dos músicos de jazz. Eles tocam com a alma, pressupondo que alma existe. Utilizam o corpo apenas como materialização de sua arte, pois a arte deles é abstrata, pois vai de homem a homem, de espírito a espírito. A comunicação é flutuante, é invisível, mas plenamente perceptível e deleitosa. No jazz, a regra é seguir a música. É ela que nos leva, é ela que direciona os caminhos pelos quais seus executores percorrerão, e não o contrário.

No jazz, quem manda é a música.


Onde nasce o jazz, jaz o dogma.


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SOBRE O TEMA:

Leitura recomendada: História Social do Jazz, Eric Hobsbawm
Filme recomendado: Round Midnight, Bertrand Tavernier
Som recomendado: Lester Young (uma das maiores influências dos jazzmen)



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Sons relacionados:
- Bud Powell e sua carreira meteórica, decorrente do alto consumo de drogas, mulheres, e afins. Um dos mestres do improviso no piano.
- Charles Mingus com um baixo acústico que guia os outros músicos pelos caminhos harmônicos das canções.
- Charlie Parker um dos (e talvez o mais) brilhantes saxofonistas da história do jazz.
- Dizzy Gillespie é o trumpetman por excelência. Famoso por alcançar notas altas, e mantê-las lá em cima.
- Miles Davis é, pra mim, o maior trumpetista de jazz por toda a criatividade inventiva que trouxe ao ritmo.
- Chet Baker e um trumpete melódico, doido pra chorar.
- Duke Ellington compositor, pianista, e arranjador. O cara já foi até comparado ao Mozart.
- John Coltrane é um cara que eu acho genial. Resume nas notas produzidas por seu sax o espírito do jazz.
- Thelonious Monk com seu piano excêntrico, mostrando porque este é considerado um instrumento de percussão.

Os menos velhinhos também merecem destaque:

- O sax alto Paul Desmond, que tocou no insuperável quarteto do grande pianista Dave Brubeck. Por favor ouçam Time Out (com Eugene Wright no baixo e Joe Morello na bateria), um dos discos seminais do jazz.
- A guitarra jazzística do George Benson também merece ser citada, ainda que o músico transite entre o pop e o smooth jazz.

Os "brancos" Dave Brubeck e Paul Desmond, dois nomes respeitáveis do jazz.


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Ps.: os sons relacionados foram representados apenas com músicos. Em breve recomendações de vozes femininas do jazz.

terça-feira, 25 de março de 2008

OS DIAMANTES SÃO ETERNOS!!


Pedrinho, era um rapaz franzino, curvado sob o peso de uma idade que, se para outras pessoas representava talvez o auge da vitalidade, para sua compleição doentia chegava a ser um verdadeiro recorde.

Tinha vinte e dois anos.

Calmo, chegando mesmo a ser indolente.

Nunca se apressara para nada na vida.

Exceção feita ao seu casamento, que fora decidido logo após o primeiro mês de paixão arrebatadora.

Verdade seja dita: a notícia do casamento passou longe de causar o espanto que foi provocado quando dona Alfonsina, mãe de Pedrinho, anunciou que seu filho arranjara uma namoradinha – a primeira desses vinte e dois anos – e que essa namoradinha era Marina.

Abre-se aqui um parênteses para as devidas explicações: marina mudara-se para aquele pacato bairro há cerca de dois anos e desde então se tornara objeto de desejo de toda a população masculina – e até de parte da feminina – do local.

Jovem filha de um rico fazendeiro, mudara-se para a capital a fim de cursar uma faculdade e logo foi descoberta por uma agência de modelo.

Vinte aninhos incompletos, corpo esguio – exceção aos fartos seios, naturalíssimos, que eram o sonho dos marmanjos e o terror dos fabricantes de silicone – tudo indicava que dentro de pouco tempo seria uma modelo internacionalmente reconhecida.

Todos os homens solteiros e um ou dois dos casados da região já tinham tentado, sem sucesso, conquistá-la.

Mas marina era uma garota tímida e reservada.

Mantinha uma rotina que se limitava ao roteiro casa-faculdade-trabalho-casa e, raras vezes, se permitia uma ida a praia.

Só para tomar uma cor.

Conhecera Pedrinho por força da convivência e logo se tornaram amigos.

Devido à sua timidez, Pedrinho era o único do bairro que não a tratava como um objeto sexual.

E logo por isso, a bela acabou se apaixonando por aquele fiapo de gente.

A notícia do namoro causou verdadeiro furor àqueles homens, que olhavam cobiçosos o corpo escultural com o qual, apesar da timidez de sua dona e para desespero deles, ela se espremia dentro de uma lingerie minúscula, em vários outdoors e capas de revistas pela cidade.

Quatro meses e meio atrás – por iniciativa dela – começaram o romance.

Tórrido, diga-se de passagem.

Já na segunda semana tiveram sua primeira noite de amor, onde Pedrinho, apesar da sua compleição franzina, mostrara levar jeito para a coisa, e a tímida menina do interior se transformara numa verdadeira deusa da luxúria.

Desde então qualquer hora era boa.

No trabalho, em casa ou até mesmo na praia, qualquer encontro dos dois se transformava num verdadeiro incêndio.

Pedrinho passou a ser alvo de inveja e até mesmo de ódio por parte de alguns homens mais exaltados.

Mas nada poderia estragar sua alegria.

E daqui a alguns instantes ele estaria no altar, tornando de direito o que já é de fato e sagrando diante de Deus a sua posse sobre aquele monumento.

Cuidou de tudo nos mínimos detalhes e espalhou avisos por toda a casa para não correr o risco de esquecer as alianças.

Eram alianças de ouro dezoito quilates com um pequeno – eu diria até, minúsculo – diamante incrustado, que foram presente de sua mãe e tinham custado quase cinqüenta anos de economia.

Nada podia dar errado.

Mas deu.

Apesar de todos os cuidados, Pedrinho só lembrou das alianças ao chegar na frente da igreja.

O desespero tomou conta dele.

O apartamento do casal, local onde tinha esquecido as alianças, ficava do outro lado da cidade, e a limusine chegaria dentro de poucos instantes trazendo a noiva.

Entrou em pânico.

Ficou paralisado e não conseguia confessar a ninguém o erro que cometera.

Os minutos passavam numa rapidez alucinante e nenhuma solução ocorria ao desesperado noivo, que nada mais fazia senão esperar, apático.

E a limusine trazendo a noiva despontou na esquina, enquanto todos tentavam em vão levar Pedrinho – que nem andava nem explicava o porquê – até o altar.

Foi quando o inesperado aconteceu: Carlos, amigo de infância de Pedrinho, que ficara com uma cópia da chave do apartamento para preparar uma surpresa para os “pombinhos” apareceu, esbaforido, trazendo o salvador estojo com as alianças.

Ao ver aquele pequeno volume sendo agitado de forma triunfal na mão do seu amigo do outro lado da rua, Pedrinho percebeu o quanto era afortunado, e com o peito quase explodindo de alegria correu ao encontro de Carlos e do seu destino.

Foi atropelado por um caminhão carregado de melancias e morreu ali mesmo na rua, deixando para trás a quase-viúva mais linda de que se tem notícia e dois anéis de diamantes dos quais nunca mais se ouviu falar.


(DEUS)

domingo, 23 de março de 2008

Crônica da Poesia: poemando na Liga

Uma bebedeira, um mal de amor, um bem de amor, alguma dor qualquer. Esses são alguns dos motores que iniciam a necessidade de escrever. Tec tec tec tec... onomatopéia do teclado recebendo a inspiração do deus que habita em cada um de nós.

Muitas vezes são versos curtos os que mais dizem, os mais reveladores, os que mais se estendem sobre os temas da existência. E assim a gente se abre, a gente se mostra, a gente se apresenta. É assim que deixamos de ser transparentes para tornar concreto o substrato do abstrato que nos constrói. Assim, com versos.



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Versos cujo pai
É o título
Cuja mãe
Sou eu
Cujo irmão
São poemas crus
Cuja avó
É tinta
E o avô, papel
Versos que
Sempre quis construir
Ei-lo,
É um poema vadio



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A cidade como ela é
Sem idade
A cidade a ser desvendada
Cidade desvirginada
A cidade depravada
Cidade ansiedade
Sem idade, sem verdade
A cidade da maldade
O herói da iniqüidade
Cidade é sociedade
Cidade aparta entendimento
Cidade a todo momento
A cidade que deus castiga
Essa cidade mendiga
Cidade da falência
Cidade é inocência
City da veemência
Na cidade sem clemência
A verdade sem cidade
Berço da tranqüilidade



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Toda a água que cai
Evapora
E a árvore nasce
Sorrindo
Passarinho que canta
Lá fora
A abelha que passa
Zunindo
Todo amor que inicia
Vai embora
Sentimento que acaba
Iludindo
E julgamos infinito
Por ora
Esse amor acaba
Nos traindo
Decisão tem que ser
É agora
Se há dúvida não vá
Sem ter vindo
Adiar não adianta
Por fora
Se é pra ser, seja já
Estou indo



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A primavera esconde traços
Do inverno que

O outono não quis revelar

As folhas da estação
Dançam como
Pássaros deixando
Seus ninhos
Pra sempre

Voam leves e tolas
Voam belas e breves

Como o efêmero vôo
É a vida que segue
Até o ponto onde
A alma dança
E se liberta
Do corpo que fede



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O imediatismo
Da mediação
Arranca o lirismo
Do olhar da paixão
A catapulta pula
Aos olhos da moral
E faz o infinito
Além do bem e mal
O único impulso
Que exprime o desejo
É mais do que abraço
Vai muito além de um beijo
Caráter que se queira
Não quer mais ser enfim
Se olho para dentro
Eu busco além de mim
Sou grata ao inato
Pois nasci desse jeito
Esta sou eu, de fato
Humano com defeito




É por isso que eu me orgulho de deixar o sol bater forte em minha cuca, e permitir que a seiva maluca percorra os meus sentidos. Como eu queria ser engolida por uma multidão faminta, ávida por vida e morte. Quem sabe um dia dou sorte?