terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Duas páginas de mim mesma

Bom, já é dia 1 de Fevereiro, mas só fazem duas horas, ainda não conta.

Fico me perguntando o que minha mãe pensa.
Realmente não sei. Sei tudo de como ela se comporta, e em cima disso, fico fazendo cálculos de como será o pensamento dela, mas no final de tudo, não posso afirmar nem desafirmar nada.
Me tomo como exemplo disso, eles podem até saber como eu me comporto, mas nem sonham de todos os meus verdadeiros pensamentos... por quê isso? Por quê esse abismo todo criado na nossa família? Quem foi que o construiu, por quê todo esse muro que nos cerca?
Estou tentando fazer desta noite algo produtivo, quer dizer, fazer pelo menos um dos trabalhos que eu preciso entregar nessa semana, por que acima de tudo, tenho certeza de que amanhã não farei absolutamente, eu me conheço, e prefiro perder essa noite de sono.
Mas por qual razão minha mãe simplesmente não consegue nem dormir, sem que eu durma - ou melhor, sem que esteja deitada naquela cama também? Por que não simplesmente, deitar e dormir o que tem direito, como o Pai está fazendo agora? (claro que não sem antes brigar também)
Esse tipo de coisa me incomoda tanto! Como pode ser que eu quero ser livre, se nem ao menos na minha própria casa eu posso passar uma noite acordada estudando? Será tão difícil assim pra eles saberem que eu não posso ser assim tão encabrestada?
O que eu tenho que fazer pra conseguir a minha independência? É isso que eu me pergunto... será preciso que eu case? Que vá embora dessa cidade? (Se bem que eu tenho a plena certeza também, de que mesmo à distância, o controle vai persistir e isso me dá sérios calafrios.)
São tantas as perguntas que eu me faço nessa hora... e delas eu julgo saber a resposta, sem , de fato, ter plena certeza, mas tudo me leva a crer que é apenas pra me manter no controle, pra eu ter na cabeça que ém que manda, pra eu saber que não sou adulta, pra eu saber que eu não sei de nada da vida, que não sou esperta o bastante, que ainda não viví nada e por isso não estou nem minimamente pronta pra nada.
É essa a sensação que eu tenho, que a maioria das ordens que eles me dão são apenas pra isso: pra me deixar cônscia disso. Pra eu escapar dessa minha segurança de que tudo depende de mim, pra eu parar de pensar que ninguém pode efetivamente me levar pra qualquer caminho, sem que antes eu queira também ir por ele.
Eu mudei. Mudei demais.
Talvez tenha mudado intensamente em um curto espaço de tempo e eu sei que isso também os assusta, mas eu não tenho tanta certeza de que eles saibam o tamanho e a profundidade dessa mudança, desse incômodo que eu sinto todos os dias que acontecem essas pequenas coisas, esses sutis avisos... ou será que apenas eu interpreto-os dessa forma?
Eu não sou mãe, mas posso apenas imaginar o quão difícil seja pros pais deixarem que seus filhos enveredem pelos caminhos que escolheram, eu tenho a sensação que os pais acham que eles estão abandonados à própria sorte à espera de algum predador que sinta os seus cheiros. Mas, por Deus, eles já deveriam estar se preparando pra isso e preparar suas crianças pra isso também, pra hora de tomar novos rumos.
O que eles querem que eu vire? Uma mulher de meia idade que viva com um marido medianamente fiel e que a trate medianamente bem e que more aqui numa ruazinha próxima e que todas as tardes traga os seus netos pra eles paparicarem? Sim, que disse que isso não é bom? É! É muito bom sim! Mas não é o melhor! Não suporto imaginar que minha juventude, minha força e meus sonhos podem se perder nessa vida, dessa mesma maneira, desse mesmo modo, sem nenhuma perspectiva, sem nada de novo no horizonte, apenas para garantir o conforto da segurança, da estabilidade... mas é tudo tão difícil pra mim quando eu acabo de ver minha mãe se acabando de chorar no quarto ao lado, apenas pela minha recusa em deitar no horário que ela mandou.
Minha cabeça se enche de porquês nesse momento. Como eu posso ter forças pros piores momentos da minha vida, como eu posso ultrapassar sozinha as montanhas, se os meus próprios pais me impedem e nem ao menos se dão conta disso? Achando que isso é pro meu bem?
Várias vezes me sentí como em uma redoma de vidro e pra onde quer que eu grite o som sempre vai voltar pra mim mesma, várias vezes achei que a qualquer momento eu poderia explodir e deixar que a fera da minha língua dominasse tudo em mim e plantasse o ódio mais uma vez.
Meu desespero é sem tamanho quando eu vejo todo o meu futuro, toda uma gama de possibilidades e de oportunidades que podem ser abertas pra mim - e que eu sou perfeitamente capaz de conquistá-las - podem acabar perdidas por aí, sem que eu posso usurfruir e eu viva apenas nessa vidinha que os meus pais levam, boa e medianamente confortável.
Acho às vezes que a vontade deles é que um dia eu acorde e veja que isso tudo é apenas frivolidade, apenas algo passageiro, temo mesmo que a cham em mim se apague e que eu acabe achando mesmo que o melhor pra mim é isso, isso que eu vejo todos os dias nesse lugar. Temo ficar imersa nesse pensamento e são nessas pequenas e cotidianas situações que eu me pego pensando nisso tudo e mais um pouco do que eu escreví. Infelizmente, aprendí desde cedo a controlar meus sentimentos e me cerrar em minhas emoções, aprendí a desde cedo a ser valente em muitas horas, mas nessas horas ser apenas uma covarde no meio da multidão. Não há como não se entristecer por isso.
Agora, que o choro dela está mais convulsivo e minha cabeça está doendo tanto que eu poderia espocar, vou mesmo dormir - ou pelo menos tentar - já são 3:15 da manhã e já não tenho mais forças pra "lutar". Mais uma covardia que alimenta o comportamento deles, mais uma vez que me dobro ante àquilo que eles julgam ser o certo.
Eu só vou dormir, mas parece que volto de uma batalha, da qual não fui vitoriosa.
Só espero que o dia de acordar e achar que tudo é frivolidade nunca chegue e que eu nunca me lembre disso com o mínimo de vergonha por ter sido tão ingênua. Isso nunca!
Talvez, a convicção (por que não a esperança?) de meus pais é que um dia eu tenha uma filha como eu. Eu já respondí uma vez: "pelo menos eu a entenderia".
Eu ainda não desistí.




(isso já faz um tempo que escreví, mas só agora quis postar, nem sei mesmo porquê. Taí, sem alteração de uma vírgula, pra quem ainda se lembrar de que o blog da liga ainda existe.)