quinta-feira, 13 de novembro de 2014

"Não há mais vida, não há..."



"No hay más vida, no hay
No hay más vida, no hay
No hay más lluvia, no hay
No hay más brisa, no hay
No hay más risa, no hay
No hay más llanto, no hay
No hay más miedo, no hay
No hay más canto, no hay (...)"


Não há mais nada. A morte levou tudo. O riso, a alegria, até o choro, a tristeza, o pranto. Essa música é da Shakira, feita pra trilha sonora do filme "O amor nos tempos do cólera", obra homônima do livro do Gabo.

Era segunda, já noite, nem tava tão tarde assim. Eu estava numa lanchonete perto de casa, revendo amigos que não via fazia muito, rindo das histórias e fazendo-os rir com outras. Deixa celular de mão, ele não é mais tão prazeroso assim... Mas quando olha, tá lá uma notificaçãozinha do grupo de amigos, dando uma notícia péssima: uma moça com a qual estudei no 1º período da Universidade, veio a falecer, depois da tentativa de suicídio, há um pouco mais de 40 dias.

Que fique claro: não éramos íntimas, os contatos que tínhamos eram apenas virtuais e muito esparsos. Não vou dizer que estou sentindo a sua morte como sentiria a de qualquer de meus amigos chegados, mas desde segunda estou com uma coisa estranha na garganta. Um marejar constante nos olhos, que eu reconheço de outras vezes em que outros que não eram ou já não eram tão meus assim, encontraram a inevitável. As especificidades desse caso, talvez, que me deixaram mais atenta. Era uma moça que eu me lembro de ser extremamente expansiva, efusiva, mais do que eu, até. Alguém que falava alto e tinha uma risada bonita. São poucas as lembranças, lamento. Mas ao ler os quatro posts enormes que ela escreveu antes da tentativa, às quatro da manhã de um outro dia de semana, doeu alguma coisa adormecida em mim. Era muita dor, não havia como não se abalar com aquilo. Uma mente que estava doente e que dava o último grito de socorro. Quem pode te julgar se não deu mais, querida?

Lembrei, é claro, dos dias maus. Mas em favor da minha própria saúde mental, coloquei esse assunto numa pastinha oculta do meu cérebro e toquei a vida em frente. A família conseguiu o acesso ao perfil e por lá eu sabia alguma coisa aqui, acolá. Não avançava. Continuava internada em coma na UTI, apenas estável. Faleceu. Por mais que eu esteja evitando pensar nisso, é algo que está pertinente na minha cabeça. "Mas, moça, você nem tinha mais contato com ela!". Eu sei! Por isso não me permito entrar em tristezas maiores.

Outras coisas também têm me tomado o juízo nesses últimos dias. Preocupações próprias da vida adulta, projetos novos, sonhos antigos, pressões e expectativas sobre o futuro... E a espera. Nem sempre é fácil e nem eu acho que tenha mesmo que ser. Sair da menoridade dói. E na  tempestade em copo de pensamentos etéreis, chega o recado bem dado, reafirmado tantas vezes, de que ainda não inventaram coisa mais necessária que a paz de espírito.

Eu sei que é só uma dessas coincidências sem sentido, mas estou quase pra terminar o livro do Gabo de novo. Já o li há não sei quantas vezes e as músicas do filme vão me acompanhando durante a leitura. "La despedida" é uma delas, das mais tristes que eu tenho na memória. E parece que não há maneira: todas as vezes que alguém se vai, ela me vem. Acho que por causa da certeza de que a tristeza da despedida, ainda que nós nos neguemos a ela, é traduzida perfeitamente nos versos: 

"Cuándo álguien se va/
El que se queda/
Sufre más..."

Que haja paz, pra que ainda haja vida.