"No hay más vida, no hay
No hay más vida, no hay
No hay más lluvia, no hay
No hay más brisa, no hay
No hay más risa, no hay
No hay más llanto, no hay
No hay más miedo, no hay
No hay más canto, no hay (...)"
Não há mais nada. A morte levou tudo. O riso, a
alegria, até o choro, a tristeza, o pranto. Essa música é da Shakira, feita pra
trilha sonora do filme "O amor nos tempos do cólera", obra homônima
do livro do Gabo.
Era
segunda, já noite, nem tava tão tarde assim. Eu estava numa lanchonete perto de
casa, revendo amigos que não via fazia muito, rindo das histórias e fazendo-os
rir com outras. Deixa celular de mão, ele não é mais tão prazeroso assim... Mas
quando olha, tá lá uma notificaçãozinha do grupo de amigos, dando uma notícia
péssima: uma moça com a qual estudei no 1º período da Universidade, veio a
falecer, depois da tentativa de suicídio, há um pouco mais de 40 dias.
Que fique claro: não éramos íntimas, os contatos
que tínhamos eram apenas virtuais e muito esparsos. Não vou dizer que estou
sentindo a sua morte como sentiria a de qualquer de meus amigos chegados, mas
desde segunda estou com uma coisa estranha na garganta. Um marejar constante
nos olhos, que eu reconheço de outras vezes em que outros que não eram ou já
não eram tão meus assim, encontraram a inevitável. As especificidades desse
caso, talvez, que me deixaram mais atenta. Era uma moça que eu me lembro de ser
extremamente expansiva, efusiva, mais do que eu, até. Alguém que falava alto e
tinha uma risada bonita. São poucas as lembranças, lamento. Mas ao ler os
quatro posts enormes que ela escreveu antes da tentativa, às quatro da manhã de
um outro dia de semana, doeu alguma coisa adormecida em mim. Era muita dor, não
havia como não se abalar com aquilo. Uma mente que estava doente e que dava o
último grito de socorro. Quem pode te julgar se não deu mais, querida?
Lembrei, é claro, dos dias maus. Mas em favor da
minha própria saúde mental, coloquei esse assunto numa pastinha oculta do meu
cérebro e toquei a vida em frente. A família conseguiu o acesso ao perfil e por
lá eu sabia alguma coisa aqui, acolá. Não avançava. Continuava internada em
coma na UTI, apenas estável. Faleceu. Por mais que eu esteja evitando pensar
nisso, é algo que está pertinente na minha cabeça. "Mas, moça, você nem
tinha mais contato com ela!". Eu sei! Por isso não me permito entrar em
tristezas maiores.
Outras coisas também têm me tomado o juízo nesses
últimos dias. Preocupações próprias da vida adulta, projetos novos, sonhos
antigos, pressões e expectativas sobre o futuro... E a espera. Nem sempre é
fácil e nem eu acho que tenha mesmo que ser. Sair da menoridade dói. E na
tempestade em copo de pensamentos etéreis, chega o recado bem dado, reafirmado tantas vezes, de que ainda
não inventaram coisa mais necessária que a paz de espírito.
Eu sei que é só uma dessas coincidências sem
sentido, mas estou quase pra terminar o livro do Gabo de novo. Já o li há não
sei quantas vezes e as músicas do filme vão me acompanhando durante a leitura.
"La despedida" é uma delas, das mais tristes que eu tenho na memória.
E parece que não há maneira: todas as vezes que alguém se vai, ela me vem. Acho que por causa da
certeza de que a tristeza da despedida, ainda que nós nos neguemos a ela, é
traduzida perfeitamente nos versos:
"Cuándo
álguien se va/
El
que se queda/
Sufre más..."
Que haja paz, pra que ainda haja vida.