Tá com 22 anos e dois dias que eu
"tou aí", como vi uma vez um cara dizer numa comunidade que eu fazia
parte no Orkut. Pensei que não, começou 2012, o ano raspou duma lapada. Foi
carnaval, semana santa, aquela loucura toda. Pensei que não de novo, veio Maio
com todas as fulerágis típicas
do mês, como uma pá de gente vestida de branco em razão de alguma promessa
religiosa católica (ou não, hein? Nunca fui atrás de saber disso direito), mais
aquele monte de gente desesperada sobre o presente das mamilys e tudo o mais
(não dei pra minha...). Além de matérias sobre as ~tendências~ nos casamentos,
que, graças ao Pai, eu não assisti por não ter televisão. Mas o pior de tudo no
mês de maio, é o fato de absolutamente TODO MUNDO ter sido presenteado pelo
destino ou pelo planejamento familiar para nascer nesse mês. Ah, mas é um mês
lindo. É, é mesmo. Mas eu queria mais exclusividade nesse mês, pô!
Enfim... Nem só de reclamações vive a
Jamila. Esse ano, que eu pensei que não fosse ter mais surpresas, já que todos
os anos que eu morei aqui em Teresina, me fizeram festinhas do tipo - as
primeiras festas surpresa da minha vida, repara! - eu achei que ninguém mais
iria adotar esse método pra me fazer feliz no meu aniversário. Tanta foi a
minha certeza, que eu mesma marquei da galera ir pra algum barzinho estiloso
(leia-se: paredes pichadas e uma cerveja não tão cara assim) e comemorarmos
essa data com show de amigos que têm/tocam/cantam/fazem-alguma-coisa em bandas
covers daqui de Teresina.
E qual não foi a minha surpresa quando, no
dia 18 de maio de 2012, vestida com a camiseta pintada à mão do Calvin e do
Haroldo se abraçando, que o Pelé me deu, cheguei, totalmente inocente na sala
de aula daquele CCE e estavam muitos amigos meus e alguns professores queridos,
vestidos numa camisa que mamãe mandou fazer lá em Bacabal, com os dizeres:
"Feliz aniversário Jamila" (sic - veio sem a vírgula mesmo, mas não
interessa!), junto com uma imagem de uma mocinha inocente andando de bicicleta
- uma alusão à pobre e recém capturada Mary Jane, a primeira e a mais amada
bicicleta que tive na vida - de chapéu, cabelos ao vento, com um jornal dentro
da cestinha da bike que tinha como única manchete: "Parabéns!".
É, mãe, a senhora se superou dessa vez.
É, mãe, a senhora se superou dessa vez.
Eu, chocada, fui lá tentar falar com
alguém. Abraçar alguém. Sei lá, fazer parte do que minha mente não tinha
programado de jeito nenhum. Foi perfeito. Fiz um discurso nessa hora, falando a
mais pura verdade: a verdade de que eu não seria nada sem meus amigos aqui em
Teresina. Como prova disso, dei o primeiro pedaço do bolo pro Pelé, essa mina
véia do buchão. (Nota: amizade mesmo só presta se tiver esculhambação mútua.)
Depois de todo o furdunço, ficamos
conversando na sala vazia, já limpa, enquanto esperávamos a hora de ir pra
pracinha. Ahhhh, a pracinha. Fizemos a famosa vaquinha e fomos lá, uns cinco no
carro, comprar as boas vódegas para a confecção dos bons drink, enquanto já
estava um povo sentado no banquinho da pracinha, esperando o éter que nos eleva
aos céus, chegar. Chegamos. Pensei que não de novo, já tinha entornado o
terceiro copo e quando chega a essa conta, já perdi boa parte da minha
coordenação motora. A parte mais importante: a que coordena a língua. Além do
falar enrolado, estava também as minhas já conhecidas eguagens multiplicadas
pela ocasião. Acusei dois amigos (um homem e uma mulher, repare bem!), quando
eles foram atrás de uma torneira pra lavar as mãos na praça, de terem ido dar umazinha e saí, rumando a
minha casa, dizendo em alto e bom som que não ia jamais ser presa pelo atentado
ao pudor alheio. rs Uma alma foi lá no meu caminho, me trouxe de volta
calmamente e disse que não era nada daquilo. Mas minha pobre mente já estava
contaminada: deduzi que eles tinham terminado rápido demais quando os vi
voltando (já que não acharam a torneira!), falei: "Oxi, mas já?!" e a
alma que me conduzia: "É que ele tem ejaculação precoce, amiga!". Lá fui
eu falar com o meu amigo, abraçando-o e dizendo, com toda a piedade do meu
coração, que aquilo era algo normal na idade dele, que isso tinha tratamento,
que eu poderia dar o número da minha psicóloga
e tal. Por aí você tira o resto da esculhambação que foi essa noite. Lembro
apenas de ter recebido uma ligação de minha mãe e ter bancado a sóbria pra
atendê-la. Ela não desconfiou de nada e mandou até ligar pra minha vó pra
contar como foi a festa. Minha mãe, eu consegui passar a perna. Ela tomou minha
fala enrolada por emoção. Mas a véia Lulu... Ah, a véia Lulu não tem esse que
engane. Ali é 81 anos que lida com catchaceiro. Deusulíve!
Também não sei como, comecei mais um
discurso. Esse, muito mais emocionado, muito mais poético, muito mais louco e
alucinado que o primeiro. Falei de como sobrevivi a esses vinte e dois anos aí
no mundo, sendo quem eu sou, sofrendo o que já sofri. Falei e o álcool aflorou
todos os meus sentidos literários, já que três ou quatro das minhas amigas já
estavam aos prantos quando terminei. Elas ainda sóbrias, ou pelo menos não tão
bêbadas quanto eu.
Ontem, ainda não satisfeita com tanto
vuco-vuco (no bom sentido!), fui comemorar no tal barzinho estiloso que já
tinha marcado com o pessoal. Deu que pouca gente que eu chamei foi, mas mesmo
assim foi muito legal. Coloquei o vestido mais sensual que eu tenho, me arrumei
disposta a beijar uma boca em particular, e deu que de bocas que me tocaram, só
as que me cumprimentaram de um lado e do outro da face. Nem sempre se consegue
o que se quer, né? Voltei pra casa arrependida por não ter segurado o rosto do
moço e ter dito, na cara-dura: "Vamos lá, tá esperando o quê pra me
beijar?". O erro foi meu. Não dei abertura o suficiente. O moço deve ter
ficado meio tímido, sei lá. Eu também fiquei. Enfim, enfim... Já era.
Hoje, no entanto, tive uma manhã mau. Sim,
sem concordar com o gênero da palavra mesmo. O mau concorda com o meu conceito
de dia mau. É o dia
em que a minha história se manifesta e o meu passado pesa. Pesou hoje, só pra
variar. Pareceu que não acreditaram em mim, quando disse que não poderia ir a
um compromisso que tinha pra hoje de manhã, quando reclamei de uma dor que
estou sentindo no estômago desde ontem. O descrédito que senti, de alguma forma
me piorou. Passei a manhã inteira querendo dormir, sem conseguir. Tendo sonhos
perturbados. Levantei uma hora da tarde, entre gemidos maus, com a consciência
de que estou sub-alimentada, mas a consciência mais perturbadora ainda de que
não tinha nenhuma vontade de comer e que não iria. A maçã que tirei da geladeira
já se oxidou aqui em cima da mesa o potinho de Iogurte não tem o suficiente pra
me manter de pé o dia inteiro. No entanto, não fui atrás de mais nada. Talvez
ainda vá. Assim espero.
É, querido leitor (!!!) deste blog que eu
me apropriei, chegou na estranha hora do texto, que eu consegui colocar muitas
das coisas que eu queria pra fora. Algumas alegrias, algumas frustrações... Já
não sei mais o que será desta menina que escreve, neste domingo solitário.
Vinte e dois anos, sim, mas ainda menina.
Vinte e dois anos, sim, mas ainda menina.