domingo, 20 de maio de 2012

E eis meus vinte e dois.

Tá com 22 anos e dois dias que eu "tou aí", como vi uma vez um cara dizer numa comunidade que eu fazia parte no Orkut. Pensei que não, começou 2012, o ano raspou duma lapada. Foi carnaval, semana santa, aquela loucura toda. Pensei que não de novo, veio Maio com todas as fulerágis típicas do mês, como uma pá de gente vestida de branco em razão de alguma promessa religiosa católica (ou não, hein? Nunca fui atrás de saber disso direito), mais aquele monte de gente desesperada sobre o presente das mamilys e tudo o mais (não dei pra minha...). Além de matérias sobre as ~tendências~ nos casamentos, que, graças ao Pai, eu não assisti por não ter televisão. Mas o pior de tudo no mês de maio, é o fato de absolutamente TODO MUNDO ter sido presenteado pelo destino ou pelo planejamento familiar para nascer nesse mês. Ah, mas é um mês lindo. É, é mesmo. Mas eu queria mais exclusividade nesse mês, pô!
Enfim... Nem só de reclamações vive a Jamila. Esse ano, que eu pensei que não fosse ter mais surpresas, já que todos os anos que eu morei aqui em Teresina, me fizeram festinhas do tipo - as primeiras festas surpresa da minha vida, repara! - eu achei que ninguém mais iria adotar esse método pra me fazer feliz no meu aniversário. Tanta foi a minha certeza, que eu mesma marquei da galera ir pra algum barzinho estiloso (leia-se: paredes pichadas e uma cerveja não tão cara assim) e comemorarmos essa data com show de amigos que têm/tocam/cantam/fazem-alguma-coisa em bandas covers daqui de Teresina. 
E qual não foi a minha surpresa quando, no dia 18 de maio de 2012, vestida com a camiseta pintada à mão do Calvin e do Haroldo se abraçando, que o Pelé me deu, cheguei, totalmente inocente na sala de aula daquele CCE e estavam muitos amigos meus e alguns professores queridos, vestidos numa camisa que mamãe mandou fazer lá em Bacabal, com os dizeres: "Feliz aniversário Jamila" (sic - veio sem a vírgula mesmo, mas não interessa!), junto com uma imagem de uma mocinha inocente andando de bicicleta - uma alusão à pobre e recém capturada Mary Jane, a primeira e a mais amada bicicleta que tive na vida - de chapéu, cabelos ao vento, com um jornal dentro da cestinha da bike que tinha como única manchete: "Parabéns!".
É, mãe, a senhora se superou dessa vez.
Eu, chocada, fui lá tentar falar com alguém. Abraçar alguém. Sei lá, fazer parte do que minha mente não tinha programado de jeito nenhum. Foi perfeito. Fiz um discurso nessa hora, falando a mais pura verdade: a verdade de que eu não seria nada sem meus amigos aqui em Teresina. Como prova disso, dei o primeiro pedaço do bolo pro Pelé, essa mina véia do buchão. (Nota: amizade mesmo só presta se tiver esculhambação mútua.)
Depois de todo o furdunço, ficamos conversando na sala vazia, já limpa, enquanto esperávamos a hora de ir pra pracinha. Ahhhh, a pracinha. Fizemos a famosa vaquinha e fomos lá, uns cinco no carro, comprar as boas vódegas para a confecção dos bons drink, enquanto já estava um povo sentado no banquinho da pracinha, esperando o éter que nos eleva aos céus, chegar. Chegamos. Pensei que não de novo, já tinha entornado o terceiro copo e quando chega a essa conta, já perdi boa parte da minha coordenação motora. A parte mais importante: a que coordena a língua. Além do falar enrolado, estava também as minhas já conhecidas eguagens multiplicadas pela ocasião. Acusei dois amigos (um homem e uma mulher, repare bem!), quando eles foram atrás de uma torneira pra lavar as mãos na praça, de terem ido dar umazinha e saí, rumando a minha casa, dizendo em alto e bom som que não ia jamais ser presa pelo atentado ao pudor alheio. rs Uma alma foi lá no meu caminho, me trouxe de volta calmamente e disse que não era nada daquilo. Mas minha pobre mente já estava contaminada: deduzi que eles tinham terminado rápido demais quando os vi voltando (já que não acharam a torneira!), falei: "Oxi, mas já?!" e a alma que me conduzia: "É que ele tem ejaculação precoce, amiga!". Lá fui eu falar com o meu amigo, abraçando-o e dizendo, com toda a piedade do meu coração, que aquilo era algo normal na idade dele, que isso tinha tratamento, que eu poderia dar o número da minha psicóloga e tal. Por aí você tira o resto da esculhambação que foi essa noite. Lembro apenas de ter recebido uma ligação de minha mãe e ter bancado a sóbria pra atendê-la. Ela não desconfiou de nada e mandou até ligar pra minha vó pra contar como foi a festa. Minha mãe, eu consegui passar a perna. Ela tomou minha fala enrolada por emoção. Mas a véia Lulu... Ah, a véia Lulu não tem esse que engane. Ali é 81 anos que lida com catchaceiro. Deusulíve!
Também não sei como, comecei mais um discurso. Esse, muito mais emocionado, muito mais poético, muito mais louco e alucinado que o primeiro. Falei de como sobrevivi a esses vinte e dois anos aí no mundo, sendo quem eu sou, sofrendo o que já sofri. Falei e o álcool aflorou todos os meus sentidos literários, já que três ou quatro das minhas amigas já estavam aos prantos quando terminei. Elas ainda sóbrias, ou pelo menos não tão bêbadas quanto eu.
Ontem, ainda não satisfeita com tanto vuco-vuco (no bom sentido!), fui comemorar no tal barzinho estiloso que já tinha marcado com o pessoal. Deu que pouca gente que eu chamei foi, mas mesmo assim foi muito legal. Coloquei o vestido mais sensual que eu tenho, me arrumei disposta a beijar uma boca em particular, e deu que de bocas que me tocaram, só as que me cumprimentaram de um lado e do outro da face. Nem sempre se consegue o que se quer, né? Voltei pra casa arrependida por não ter segurado o rosto do moço e ter dito, na cara-dura: "Vamos lá, tá esperando o quê pra me beijar?". O erro foi meu. Não dei abertura o suficiente. O moço deve ter ficado meio tímido, sei lá. Eu também fiquei. Enfim, enfim... Já era.
Hoje, no entanto, tive uma manhã mau. Sim, sem concordar com o gênero da palavra mesmo. O mau concorda com o meu conceito de dia mau. É o dia em que a minha história se manifesta e o meu passado pesa. Pesou hoje, só pra variar. Pareceu que não acreditaram em mim, quando disse que não poderia ir a um compromisso que tinha pra hoje de manhã, quando reclamei de uma dor que estou sentindo no estômago desde ontem. O descrédito que senti, de alguma forma me piorou. Passei a manhã inteira querendo dormir, sem conseguir. Tendo sonhos perturbados. Levantei uma hora da tarde, entre gemidos maus, com a consciência de que estou sub-alimentada, mas a consciência mais perturbadora ainda de que não tinha nenhuma vontade de comer e que não iria. A maçã que tirei da geladeira já se oxidou aqui em cima da mesa o potinho de Iogurte não tem o suficiente pra me manter de pé o dia inteiro. No entanto, não fui atrás de mais nada. Talvez ainda vá. Assim espero.
É, querido leitor (!!!) deste blog que eu me apropriei, chegou na estranha hora do texto, que eu consegui colocar muitas das coisas que eu queria pra fora. Algumas alegrias, algumas frustrações... Já não sei mais o que será desta menina que escreve, neste domingo solitário.
Vinte e dois anos, sim, mas ainda menina.