segunda-feira, 23 de abril de 2012

Um brinde aos meus arrependimentos.

Todos eles apareceram na festa que dei na minha mente ontem à noite, mas nenhum deles quis beber comigo. Sentaram-se numa mesa, olhavam pra mim com a discreta desaprovação que vão ao casamento da noiva grávida. Nenhum deles ainda tinha rido, nenhum deles ainda tinha chorado, apenas ficaram com aquela mira intermitente para mim, que estava sentada, horrorizada, no lugar de honra da festa.
O mais chorado manifestou-se. Veio até mim, me dizendo que nunca esqueceu, nunca vai entender o porquê, mas nunca me cobrará as explicações. Só queria que eu soubesse. Só queria que eu soubesse...
Eles sempre querem que saiba!
O de amor olhou pra mim de soslaio, permitiu-se mais um gole de Whisky, foi-se embora da festa e pra tanto, passou por mim imperioso. Nem sequer teve a misericórdia de me olhar nos olhos. Aqueles olhos tristes me doeram tanto! Acabou retornando, porque ele sabe que se sair da minha memória, morre.
As bocas que não beijei se riam despudoradamente de mim e pra mim. Meu Deus! Como elas estavam molhadas, lindas, apetitosas, querendo a minha mordida lasciva. Elas se exibiam como se soubessem de seus efeitos, de minhas vontades que guardei à sete chaves porque tinha medo. Quais foram os transes que me neguei?
O mais lindo, o que vi uma única vez num restaurante, que seria o homem da minha vida, peguei de mãos dadas com a mulher que ele agora está fazendo feliz. Esse apenas acenou e eu sorri o meu mais lindo sorriso triste.
Todos os meus arrependimentos cantaram a minha primeira canção d'alma, que escrevi na quarta-série naquele colégio religioso, sabendo que não seria mais uma, sabendo que amor era grande coisa, sabendo que andaria caminhos ainda não trilhados, sabendo que algo grandioso me aguardava.
E eu só conseguia pensar na grande ironia de todos escolherem essa música.
Olhei pra cada um deles, lembrei de cada um deles, amei novamente cada um deles e entendi, no meio daquele lamaçal de lamúrias, que o medo levou os meus melhores anos.
O riso do canto da boca ainda não havia se dissipado.
Peguei pra mim uma taça de vinho, tal qual Jesus, e disse: "Reparto, então, com vocês meu pranto. Reparto com vocês minhas agruras. Reparto com vocês minhas mortes tantas vezes morridas em cada um de vós. Toda vez que tomarem desse cálice, lembrem-se também de mim, porque eu nunca me esquecerei tanto de vocês, mesmo sem cálice algum".
Todos brindamos e então foram saindo um por um. Um por um...
Um por um...
Até que o derradeiro se retirou e eu fiquei, com o coração arrasado, apertando minhas mãos até que se rasgassem mais os dedos, agarrada unicamente à certeza de que aquela festa nunca mais aconteceria de novo.