sexta-feira, 20 de março de 2009

Alguns versos tristes

(Não, não é esse o nome do poema, na verdade eu não tenho a mínima noção de como seja o nome do poema.)

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda.

Às vezes eu me sinto assim, tentando encontrar o último momento da dor. Mas é aí que eu me engano redondamente, porque procurando o último momento, eu estou prolongando-a. Mas é algo que não tenho como fugir, eu só sinto, sem querer. E parece que tudo é pior quando as lembranças vem e mudam nossas feições repentinamente, tudo de repente se torna frio, mesmo com o pulsar violento do coração.
Não sei, queria eu ter a força de Neruda pra dizer que são as últimas linhas que escrevo por ele... Mas essas são as únicas que alguém possa ler.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Tolice

Vivendo sossegadamente,
E alguém diz: ainda chegará a tua hora
De encontrar o grande amor.
Espera, não demora.
E ficamos nesses termos,
Esperando e sempre esperando,
Com o coração apertado
Quando se conhece um novo rapaz.
As perguntas, enfim:
É esse que não vai me deixar dormir?
É com esse que sonharei?
Beijos escondidos recheados de paixão,
Que põe o corpo em sério perigo
De alguma violação?
De sentimentos enchem-se nosso viver,
E passam e alguns ficam por obrigação
E abalam tudo o que nos possa deixar em paz
E andamos sempre em algumas ledas ilusões,
Na expectativa do grande dia chegar,
E vivemos sempre nessa tola esperança de encontrar esse alguém.
E é tola justamente por esperarmos.