sexta-feira, 3 de junho de 2016

As pendências

Eu acho que já tentei parar e escrever sobre isso. Não lembro. Estou há um tempinho sem computador e os dias são tão lotados no trabalho, que é raro parar e fazer o que eu estou fazendo agora, escrevendo estas urgências que me sobem no peito de vez em quando.

Dorme no meu peito, o moço. Sente meu coração bater acelerado. Eu digo que não o sinto rápido, e é verdade. Como alguém pode estar em paz e com o coração batendo freneticamente ao mesmo tempo? Aqueles dias sem o remédio devem ter mexido em alguma coisa.

Incrível que, por mais intenso que tudo tenha sido e esteja sendo, de todos os ~sustos iniciais~, eu não me senti aflita ou ansiosa. Por mais que as energias se atraíssem, ter entrado na frequência das vibrações foi uma decisão consciente. Talvez, por isso mesmo, eu sinta a tranquilidade que agora sinto. E digo: gostando demais assim. Sinto toda a embriaguez, o ardor, mas nada disso me é pesado. Óbvio, sopesam inseguranças de vez em quando. Ainda sou quem sou. Lembro das minhas histórias, do que se repetiu, dos meus medos. Lembro do que me disseram, do que ouvi falar, já que tenho também consciência de que o rapaz já era alguém bem antes de mim. Mas vivo. Uso aquela especialidade adquirida depois de tanta coisa: dizer não aos medos.

Ele me disse e é mesmo: parece que já nos conhecíamos há eras e estamos matando as saudades agora, depois de um longo tempo que não nos víamos. Um tempo que durou todo o nosso tempo aqui. Andávamos nos mesmos lugares, compartilhamos vários amigos queridos, temos ideias bem parecidas, circulávamos por aí, impunes. Mas nada... Era como se houvesse uma venda em nossos olhos. Foi deus ou foi o diabo que nos cegaram. Acho que foi deus mesmo. Achei até uma foto em que estávamos lado a lado, há uns quatro anos, olhando fixamente pra um amigo que participava de uma folia.

Éramos outros quando não nos sabíamos. Vivíamos outras histórias. Usando a mesma frase que disse a um amigo assim que cheguei em Teresina: "O meu coração é guardado". E ficou guardado durante intermitentes tempos. Pela sorte que eu teimo em ter, o moço apareceu, lá daquele nada onde moram as surpresas, quando meu coração se resolver se revelar ao sol novamente, depois de outro longo desses períodos em que se enclausurou sem lastro. Como eu disse ao moço, a Vida poderia ter nos deixado passar batido pra sempre.

"Onde se escondia?"

Vai passando o tempo. Vai ficando a vontade de dizer pra ficar mais um pouquinho. Vamos dando as mãos nas lágrimas recíprocas de dores que ainda doem, mesmo depois de tanto tempo. Vamos beijando nossas fogueiras mútuas. Vamos experimentando risadas abertas das besteiras que batem à porta. Vamos fazendo bonitas trocas disso que a gente sente e sabe, de vez em quando, o quanto é grande: de Vida.

"Vem." Ele veio.

Descontamos da conta do destino, os amanheceres que tínhamos pendentes.