quarta-feira, 6 de maio de 2015

Pollyanna adulta

A vida de desempregada não é legal. Não precisa ser nenhum mestre Yoda pra saber disso. Talvez, a única vantagem, seja o tempo que se tem pra fazer as coisas que você gosta, mas nem isso é bem aproveitado se você está constantemente preocupada com as contas, com o rico dinheiro que você não receberá no quinto dia útil. Fora que fica uma sensação terrível de culpa. Sim, de culpa. "O que foi que eu fiz de errado no meu último emprego?" "Eu não deveria estar assim, estando prestes a completar meu primeiro quarto de século de vida." E é sim a primeira vez na vida, desde que me entendo por gente, que eu não tenho obrigação de nada. Eram sempre os anos do maternal, depois o ensino fundamental, ensino médio, a vida dividida em períodos da Universidade... Pra depois alguns trabalhos esparsos e agora, o terrível fantasma do nada. E olha que eu estudo por conta própria, mas ainda não consegui demover essa sensação de culpa e o pior, de incerteza.
Depois desse primeiro parágrafo pessimista, o leitor (?) pode pensar que eu estou me sentindo terrivelmente mal, certo? Verdade, não é legal mesmo. Mas ainda assim não consigo não sentir uma esperança de que as coisas vão se ajeitar. Eu lembro muito bem da época em que meus sonhos eram impossíveis de verdade. E, olha que coisa, está tudo consumado. E o que eu fiz foi sonhar sonhos dentro de sonhos. E, me desculpe a vida real, mas é no mundo onírico que eu quero caminhar. Pior que eu e ela somos íntimas. Nos conhecemos a fundo. Estamos sempre de mãos dadas. Então, desde sempre, estou caminhando do jeito que as coisas devem ser, afinal de contas: os pés no chão e a cabeça nas nuvens.
Mas minha esperança não me faz patética. Nem minha felicidade, nem a alegria de viver e muito menos a liberdade. Tudo isso foi conquistado à suor e sangue, com batalhas que eu travei comigo e com os outros desde muito nova pra poder alcançar o que eu alcancei. Eu não sou nenhuma Pollyanna idiotizada. Eu não estou cantando com os pássaros o tempo todo, nem agradecendo ao sagrado pela brisa da manhã. Problemas e questões de todas as espécies parecem me rondar, sempre com um pretexto ridículo pra aparecerem. A questão é: posso desistir? Posso. Irei? Não. Não dá, cara.
Nada é muito fácil, mas eu tenho plena consciência de que, mesmo com todas as adversidades, continuo sendo infinitamente privilegiada nessa sociedade que desmoronou e continua desmoronando, pedaço por pedaço, gente por gente.
Por fim, a esperança cumpre o seu papel. Acalma o meu coração, com o aviso da Pollyanna já adulta pra si mesma: "De pior você já passou".