quarta-feira, 9 de julho de 2014

Colômbia, depois de todos esses anos.

(Escrevi isso no segundo dia que eu estava aqui e deixei assim, não terminado:)

Uma paixão avassaladora que surgiu, pra ser bem sincera, eu não sei há quantos anos. Vim pra Colômbia realizar um projeto, mas também saciar essa sede irrestrita que eu sentia há muito tempo de chegar perto de coisas que eu só vi nos livros e só escutei nas canções dos daqui.
A todos os que me perguntam: o que foi que tu foi fazer aí? Eu vim por um intercâmbio de curta duração. Serão apenas 45 dias aqui, na cidade de Barranquilla, que fica no departamento Atlântico, na costa da Colômbia. Esse intercâmbio é promovido pela AIESEC, que é uma Ong que age prioritariamente com isso, intercâmbios. Eles procuram a integração entre os povos através de oportunidades como essa, de que jovens universitários do mundo inteiro, possam vivenciar coisas diferentes do que estão acostumados. O meu projeto é o OC Army, que é um projeto basicamente cultural, onde vamos socializar as nossas vivências de nossos países, para, isso mesmo, jovens soldados do Exército da Colômbia. Bom, eu só vim ficar sabendo disso bem depois, quase quando já estava tudo acertado pra vir pra cá. Pensei (e disse pra muita gente), que era para fazer essa mesma coisa com crianças e/ou jovens de locais mais carentes de Barranquilla, o que eu, certamente, me daria muito melhor. Como nada é perfeito mesmo, amanhã começa essa jornada com os soldados. Ainda teremos treinamento, mas temos que ser proativos no que vamos ensinar (e aprender, logicamente). E estive pensando muito bem sobre isso, sobre as minhas próprias inclinações e pensei que é bom que os exércitos tenham esse tipo de vivência. Que se humanizem cada dia mais e mais, não é?
Estou hospedada na casa da Família Rivaldo. São três mulheres e um homem: a mãe, duas filhas e um filho. São gente muito generosa e boa, que moravam no interior da Colômbia e que se mudaram pra Barranquilla, pra cumprir o desejo do pai falecido. Apesar de ter falecido há um certo tempo, vejo que é uma presença constante nas conversas, nas paredes, nos retratos... Na lembrança dessa família bem apegada. E agora mesmo enquanto escrevo esse texto, uma voz canta o Ballenato - um ritmo musical daqui muito legal - em voz alta, porque essa galera é assim: coloca o som alto o dia todo e a mãe, uma senhora muito generosa e muito prática, que pode, a qualquer hora, começar a dançar e a cantar alguma música nesse ritmo, o ritmo que seu marido era cantor.
A cidade é quente, mas não tão quente quanto Teresina. Além do que, aqui venta muito, já que é uma cidade do litoral. Às vezes me parece que eu estou no Brasil, em uma capital do Nordeste que eu não conheço, só que com tudo dublado em espanhol. As pessoas comem muita comida frita, desde o café da manhã, até o jantar e falam um espanhol muito mais complicado do que em Bogotá, onde eu era constantemente elogiada pelo meu quase perfeito espanhol. hehe Aqui eu preciso que perguntar sempre: Como? Como?

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8 de julho de 2014.


Muita, muita coisa na minha cabeça. Hoje, como todo mundo com consciênia que estava nesse planeta Terra deve saber, tivemos uma derrota acachapante pra Alemanha na Copa. O Plínio Arruda, o político mais simpático do Brasiiiiil, faleceu depois de uma longa jornada contra um câncer. Não foi assim o melhor dia, né? Eu acabei que fiquei me sentindo muito triste por causa dessas coisas. Não sei. Eu acho que eu até não deveria me importar tanto, já que eu não sou assim tão fascinada pelo Futebol em outros âmbitos... Mas em Copa, amigos... Ah, em Copas do mundo eu simplesmente perco o meu juízo. Acho que é porque remete aos tempos em que eu era só uma pirralha lá em Bacabal, pedindo dinheiro de porta em porta pros vizinhos das muitas ruas onde morei, pra que a gente conseguisse decorar a rua de maneira satisfatória. Há duas copas que eu não passo em Bacabal. Nessa Copa, foi tudo muito diferente do que eu imaginei. Vim pra cá e no primeiro jogo do Brasil depois que eu estava aqui, eu não era a única que vestia o amarelo, mas a única que também vestia o verde junto. Foi uma experiência nova e absurdamente louca pra mim, que saí até num Portal de Notícias por estar aqui justamente durante esse jogo e torcer pelo meu país da mesma forma. Ok. Não tão da mesma forma. Festa nas casas dos outros têm que ser bem mais contidas, certo?
Ontem foi o dia em que realmente traçamos as estratégias do Projeto de compartilhamento cultural com os soldados batedores do Batalhão de Barranquilla. Por conta de atrasos do próprio exército, como celebrações internas, não pudemos dar muito procedimento na atividade na primeira semana em que estivemos aqui. Só nesse projeto, são quase 30 pessoas. Gente de toda a parte do mundo que veio pra compartilhar e conhecer. Sair da zona de conforto. Gente da Alemanha, Holanda, República Tcheca, Porto Rico, México, Argentina, Estados Unidos, Itália, Rússia, Índia, China e é, claro, eu e mais dois representando o nosso Brasil baronil. Ou seja, por mais que você tenha que saber o espanhol pra poder se comunicar com o resto da cidade, das pessoas e tudo o mais, é muito importante que você saiba inglês, senão fica difícil criar qualquer tipo de laço com essa galera que é só bilíngue. Estou me saindo muito melhor do que eu imaginava, devo dizer. Meu inglês não é, de jeito nenhum, essas coisas, mas eu compreendo e me faço compreender muito bem, apesar das escorregadas na gramática e na falta de fluência. Não tem problema, o tempo taí pra isso.
A cidade tem algumas particularidades, como o fato de as ruas não terem nomes, nem datas, como no Brasil, mas são divididas em calles e carreras. E todas elas são numeradas, ou seja, pra saber um endereço, você tem que pegar calle número tal com carrera número tal, que eles vão bater certinho onde é. Eu ainda não entendi direito como funciona esse sistema, porque os números são contados de baixo pra cima (ou seria de cima pra baixo?), em direção ao mar, or something like that. Perdão, gente. Eu sou ruim de localização até em Bacabal. Outra coisa que me impressionou bastante foram os chamados Transmetros. São estações bem legais que estão espalhadas por toda a cidade, com ônibus bastante confortáveis, novos e com ar-condicionados, com uma passagem relativamente barata. Aliás, apesar de eu ter achado que o real era desvalorizado em relação ao peso colombiano -o que foi um erro crasso meu, demonstrando total inabilidade com números =( -, as coisas aqui são, em compensação, bem mais baratas que no Brasil. Perdi ou me roubaram um celular, nas incríveis 17 horas de escala que eu passei em Bogotá e, chegando aqui, eu comprei um moto g do mais econômico. Não era bem um luxo, porque eu realmente preciso aqui de um celular que tivesse android por vários e vários motivos. Que se fosse pra comprar, comprasse pelo menos logo um de vergonha. Custou 410 mil pesos, o que custou menos que 500 reais. Em qualquer lugar barato no Brasil, o mesmo modelo não sairia por menos de 600.
No final de semana, fomos a um povoado chamado Taganga. É perto daqui e lá tem praias incríveis, com uma cor inacreditável. Pena só que não era todo aquele paraíso perdido que todos nós imaginamos, já que a praia já está consumida por turistas e há lixo por muitos lugares. Em suma, turismo descontrolado num lugar só pode dar nisso mesmo, merda. Ainda assim, foi uma viagem super legal, bem barata, onde nós aproveitamos pra nos conhecermos melhor. Onde vivemos situações legais, onde saímos pra dançar numa danceteria que não cobrou nada pra entrada e nem tinha consumação mínima e dançamos esses ritmos que fazem qualquer um dançar até se acabar, sentindo a brisa do mar, já que era parte coberta, parte a céu aberto. Histórias, pessoas, sorrisos, surpresas... Coisas que mudaram o modo como nós somos hoje. Quem diria que eu iria fazer mais amizade com a russa e com a alemã do que com os outros latinos? rs Quem diria que eu iria conhecer o cara que já visitou 10 países, morou em vários deles, sabe 6 línguas fluentemente e não tem nem 25 anos? E a gente aqui se achando O cosmopolita porque terminou o curso de inglês.
Essa é a minha primeira experiência fora do Brasil, durante um período que, às vezes parece muito curto, às vezes muito longo, de um mês e meio. Creio que isso é muito, quando se fala em saudades. Mas nem tanto assim, quando se pensa que vai pôr os pés num avião novamente e saber o mundo de coisas que você ainda não tinha aprendido, vão ficar pra trás. E quando eu vou ver essas pessoas de novo? Gente que eu já gosto, que já fiz amizade, me considero e me consideram como família? PORRA, como é que essas coisas acontecem, né? vsf
O meu coração está simplesmente cheio. Meu Deus do céu, de tanta coisa. De uma confusão tão grande de sentimentos, de cansaço, de alegria, de tristeza, de uma vontade de estar perto de alguém em particular, de uma vontade de sair pra dançar até eu me dar por satisfeita... Gente. Esse ano de 2014, tô ficando até com medo dele, porque o bicho tá sendo sem noção demais, em TODOS os sentidos. Maravilhosamente sem noção.
Obrigada pela tenacidade, meu Deus. Por essa teimosia, essa cara-de-pau, essa inexorabilidade que percorre o meu sangue. Quem sabe da minha trajetória, sabe do que eu estou falando. Cada conquista será sempre comemorada como um 7 a 1, só que pra nós. rs