sexta-feira, 10 de julho de 2009

Eu nunca fui uma moça bem-comportada.



Eu nunca fui uma moça bem-comportada.
Pudera, nunca tive vocação pra alegria tímida,

pra paixão sem orgasmos múltiplos ou
pro amor mal resolvido sem soluços.


Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo.
Não estou aqui pra que gostem de mim.

Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho.

E pra seduzir somente o que me acrescenta.
Adoro a poesia e gosto de descascá-la até a fratura exposta da palavra.
A palavra é meu inferno e minha paz.
Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que me deixa exausta.

Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo.
Sei chorar toda encolhida abraçando as pernas.


Por isso, não me venha com meios-termos,com mais ou menos ou qualquer coisa.


Venha a mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar...


Eu acredito é em suspiros,mãos massageando o peito ofegante de saudades intermináveis,
em alegrias explosivas, em olhares faiscantes,em sorrisos com os olhos, em abraços que trazem pra vida da gente.

Acredito em coisas sinceramente compartilhadas.
Em gente que fala tocando no outro, de alguma forma,no toque mesmo, na voz, ou no conteúdo.

Eu acredito em profundidades.

E tenho medo de altura, mas não evito meus abismos.
São eles que me dão a dimensão do que sou.


Maria de Queiroz

domingo, 5 de julho de 2009

A triste história de Pirró

Pelo que contam as pessoas desta estimada semi-circunferência (ou círculo?) do globo terrestre, hei de contá-los a triste história de Pirró. Um rapaz que foi além do limiar da infelicidade, por causa duma disgramada!
Rapaz cativante, por onde andava distribuia seu carisma e seu charme pra quem quer que fosse, tinha uma legião de fãs, porque além de bonito, era calmo, transparente, engraçado e tinha um sorriso que aaave maria! Que sorriso era aquele...
Dizia-se que aquela alegria que ele espalhava era por causa dela, do seu grande amor, um amor tão forte, tão bonito e tão profundo, que só Afrodite compreenderia e ainda assim, ficaria com ciúmes, pois nenhum de seus feitiços conseguiria desvirtuá-lo. Essa moça era uma graça... Era tão bonita e dizia a Pirró que seus filhos seriam cinco ao todo, três meninas e dois meninos, todos com cabelos castanhos e de olhos negros. Ela disse que só tinha se apaixonado porque o olho dele era negro, muito negro. Aquela coisa de não saber o que é menina do olho, o que é íris a fisgou.
Eles iam se casar, e ele tinha uma melhor amiga, Lena. Saíam, se divertiam, e o elo deles era excelente, toda a parentela de Lena era doida pra que eles namorassem, afinal, um bom partido não se pode deixar passar assim. Pena que a amiga também fosse amiga da namorada de Pirró.
Num casamento, a primeira garota citada foi, flertou com o noivo. Uma semana depois, deu pra ele. Fez o favor de dizer tudo pra Lena, depois ainda levou o amante pra conhecê-la.
Lena ficou naquela do "conto ou não conto?". Quer dizer, já imaginou se ele não acredita? E se acredita e mesmo assim aceita, ou se não acredita e não aceita, mas não quer mais falar por ter destruído a sua melhor ilusão?
A prima de Lena insistiu tanto que ela contasse pro rapaz, que ela acabou concordando, sabendo que era o seu dever de amiga, reuniu toda a coragem e foi na casa do rapaz.
(O pior que a gente sente quando algo não vai bem. Talvez, no fundo, no fundo, a gente sempre saiba.)
Na primeira vez que ela foi contar, o rapaz teve que sair pra um "compromisso" que ele tinha esquecido, às pressas, deixando suas desculpas e prometendo que escutaria tudo com muito prazer depois. Na segunda vez, outro empecilho. Na terceira, um: "Relaxa, Lena, depois você me conta, a gente não vai ver o filme?". Até que a pobre não se viu com mais coragem nenhuma...
Depois de muitas tentativas, a prima forçou. "Vem cá, Pirró! A Lena quer falar uma coisa muito importante contigo!". Não teve outra: um rapaz desorientado, que corria de um lado pro outro e que parecia não poder ouvir nem enxergar. Depois ele se lembrou que tinha voz e começou a gritar. Na mesma hora, antes do sangue esfriar, foi na casa da querida e pediu o colar de ouro que era o símbolo do amor (dele!).
Algum tempo depois, numa boate, eles se esbarraram: Lena com Pirró e Ela. A garota, com a consciência mais baixa que o carpete, pediu pra colocarem no letreiro da boate: PIRRÓ, POR FAVOR, ME PERDOA!
Na mesma hora, Pirró começou a chorar, foi correndo onde ela, a abraçou e se beijaram, rodando, no meio de um círculo que fizeram pra aplaudir e admirar. Foi só o tempo de o rapaz ir em casa deixar um amigo, a ex tava se agarrando com outro cara, e nem se deu o trabalho de escapar das vistas de Lena. Ele veio e viu e mais uma vez, sangrou. Pediu explicações, mas ela só respondeu que tinha pedido perdão, não pra voltar. Dilacerado, chorou de novo o maior amargor de sua vida, que foi ser feito de idiota duas vezes pela mesma mulher.
A transformação foi horrenda. Do cara que sabia todas as piadas de pontinho ao cara que foi preso por brigar numa balada e quase perde a mão, duma garrafada.

Triste história verdadeira de Pirró. Eu soube ontem, pela prima que forçou Lena. Apesar da história pertencer aos donos, julgo muito mais sábio aprender pelas histórias alheias, pena que a gente seja que nem a criança que ainda não sentiu a dor do fogo e não sabe que queima, sempre querendo viver também...