sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O ano dos abraços

Nunca foi tão visível a necessidade de abraços.

Talvez, dentre os que tenho memória, esse foi o ano em que eu mais precisei deles, já sendo grande, tendo a consciência plena de seus efeitos. E fui abraçada por tudo. Seguraram meu peso por morte, solidão, amor, desgraçamentos gerais, amizade, alegria, felicidade e, desconfio, em grande parte, por eu carregar um rechonchudo par de seios. Sim, teve tudo isso.

Nessa semana, me abraçaram espontaneamente. Viram-me, entenderam e abraçaram, como os amigos fazem. E eu lá, emocionada entre tanto carinho gratuito aliviando aquelas necessidades, entre tanta vida que surge do nada na vida da gente.

Claro, vários abraços me faltam. Um em especial, pra sempre. E não haverá que o iguale. Mas vou abraçando o mundo e as gentes como posso, recebendo o amor daqui e dali e forrando meu coração para o muito de vida que ainda há por vir.

Que o novo tempo seja bom. Que o que já se faz velho, dê lugar ao novo. Que não me faltem os abraços e que eu precise deles por melhores motivos.



terça-feira, 24 de novembro de 2015

O amor descansado

Ontem, depois de rodar a cidade com amigos, fui bater na casa de outro. Estamos todos sempre tão ocupados, tão sem dinheiro, tão fisicamente distantes, que o abraço é um alívio. A necessidade não é compulsória, nem sofrida. Saudades tão ali o tempo todo, só basta lembrar. Mas é gostoso deixar rolar.

Há muito tempo atrás, no que se parece com outra era, foi desses amores bonitos, cheio de vida, de cores, de efeitos, mas tão complicado...  Tão... Jovem, sabe? Eu era pressa. Ele era medo. Eu estava nos tempos das primeiras coragens. Eu tinha ânsia pra enfrentar aquele medo paralisador. E os jovens se viram, se reconheceram, se amaram. E, por mais que o mundo tivesse mudado e muito, nunca deixaram de se amar.

Amor chama. Abraços e carinhos são permitidos. Danças coladas, sentindo o cheiro do pescoço também. Nada disso é pesado. Nada disso nos tira a paz em que nos assentamos. Nada disso dá vontade de reviver o passado, ou nos traz lembranças sombrias. O toque é bom e vai continuar, mas ele é claro. Sabemos o que são os pactos iniciais. Lemos Kundera. Entendemos o que são as nossas coisas.

E tudo o que ficou foi o amor. A coisa é tão assim que eu posso chegar e dizer sem avisar: vou dormir aqui e pronto. E dormir mesmo. Uma coisa tão boa, que se pode até discutir o passado, analisar os fatos, nossas incongruências e entendê-lo, com respostas mútuas, da maneira que a gente pode. E tudo bem.

E nessas conversas, sempre os nossos novos amores entram em cena. Os recém-acabados, os impossíveis, os idealizados. Os de um lado, os de outro.  E conversamos sobre aquelas pessoas, segurando nossos próprios corações em uma das mãos, e com a outra, a do outro, pra não deixar vacilar. De toda minha alma, a pergunta que eu fazia ao lembrar do novo, era se um dia poderemos viver isso que eu e esse amor do passado vivemos hoje.

Fomos juntos, com o que nós conhecemos um do outro, olhando as situações e ajudando a encontrar as respostas. Duas da manhã, o cansaço, o vento, a terra e as plantas, mas ninguém parava de falar. Entender era sempre melhor.


O certo é que aquele amor é sempre. Mesmo que a vida vá e volte, rode, mude, desfaça, faça, ande, tropece, caia, levante, acenda, apague, morra ou viva. Sempre. Porque aquele amor é amizade amada. O poeta disse e eu sei que é: do tipo de amor que nunca morre.