Ontem eu acordei tarde, como acontece nos dias em que eu estou em Bacabal, e peguei o celular pra dar uma conferida nas redes sociais. O susto: uma amiga havia sofrido um acidente automobilístico junto com o marido, a filha pequena, mais duas amiguinhas da filha e a mãe destas meninas. Por um momento, pensei que tudo havia terminado bem, já que todos estavam vivos até o momento da publicação. Com o coração na mão, fomos todos acompanhando as notícias do estado de saúde do marido, que veio a falecer antes mesmo de chegar a Teresina. Eu tive o prazer de o conhecer, mesmo que superficialmente. Mas, de qualquer forma, foi alguém que percebi que tinha uma índole boa e que sempre cumprimentava cordialmente quando nos víamos em qualquer lugar.
Sequer pensar na dor da minha amiga ao perder o companheiro desta forma tão brutal, me fez consternar de tristeza. Ninguém deveria, a troco de nada, passar por algo assim. E eu só posso desejar, de todo o meu coração, que ela tenha todo o amparo emocional que necessita, que consiga ter forças pra reconstruir a vida depois dessa tragédia, forças pra criar a filhinha pequena que os dois tiveram. Que a lembrança do seu amor se transforme num conforto, quando isso for possível. O que eu desejo é que ela e a família consigam atravessar esse extenso lago que se chama dor.
É claro, isto me revolveu os sentimentos de uma maneira particular também. As lágrimas derramadas também eram da urgência e da impossibilidade de abraçar o meu próprio amor, que tá tão tão longe. Há pouco mais de um mês, estamos acalmando as saudades nas suas vindas-relâmpago, nos tantos carinhos trocados, no amor que fazemos com a alma e com o corpo. E quase me desespero na ideia de que o acaso pudesse fazer qualquer coisa pra atrapalhar essa felicidade de sentimento que simplesmente desconhece limites. Foi preciso bastante concentração pra desanuviar a mente de pensamentos inoportunos que sempre teimavam em voltar, como costumam fazer bastante comigo. Foi preciso conversar objetivamente comigo, lembrando que, apesar de toda a tristeza que eu estava sentindo, não era comigo que aquilo estava acontecendo. Parece meio insensível, mas eu poderia entrar numa espiral de pensamentos muito ruins que me levariam a uma crise ou a uma angústia difícil de reverter, uma vez começada. Eu me conheço. Eu sei como eu funciono.
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Hoje foi um dia bom, no final das contas. As saudades me fazem sonhar mais frequente do que nunca com meu amor. Quando, nestes sonhos, não estamos dando fim às urgências, estamos abraçados, conversando, trocando carinhos... Coisas que fazemos aqui fora do mundo onírico. O da madrugada foi do segundo tipo. Eu ficava morta de alegre por poder abraçá-lo novamente. Apertou no peito o fato de que não nos veríamos hoje, ao final do dia, como ocorreu nos dois últimos finais de semana. Uma coisa que eu aprendi é que quando o coração está cheio de sentimentos pesados ou ruins, ele precisa de descanso. Fui me aninhar no sorriso dos meus primos pequenos, nos seus abracinhos. Rir das gracinhas que eles me fazem e me cansar correndo atrás deles, mesmo sem fôlego algum. Fui conversar com minhas amigas mais antigas, que me conhecem desde que eu tinha oito anos, e relembrar que a vida mudou pra nós, mas ainda continuamos nos amando indistintamente. Não tinha internet onde eu ia, o sinal da 3g não pegou... E as saudades só corroendo...
Quando finalmente conseguimos nos falar, meu bem me diz que está quase desesperado do lado de lá. Só, sem conhecer muita gente, em lugar estranho. Caiu internet, sinal de celular, Wi-fi. Ficou incomunicável, o coitado. E eu, que ando num mar de sensibilidade, me pego escondendo das crianças a lágrima caindo quando ele me fala que a saudade também tinha o tinha pegado com força total hoje.
Mesmo com o meu ceticismo exagerado, entendo que eu e ele não nos encontramos por acaso. Não sei se o carma, mas algo ainda nos devia este amor na vida, pra que a gente pudesse entender que ainda havia esperança depois de tanto coração torcido, depois de tantos quases, depois de tanto tempo. Às vezes eu realmente acho que foi um acerto bem elaborado de nossas avós, que se encontraram no céu das avós, trocaram figurinhas, e não quiseram nos deixar sós nesse mundo sem aquela coisa pura que elas nos ofereciam. De graça. Só porque era bom. Só porque sentíamos que era assim que deveria ser. A sensação que eu tenho é que eu passei a vida inteira procurando por ele e o meu coração só pôde descansar de verdade quando eu o encontrei.
A gente não sabe o que o futuro nos reserva. A gente só deseja que o futuro nos reserve mais abraços, mais beijos, ainda mais amor. Que todas as tempestades sejam contornáveis e que todo este afeto só se multiplique. Que o acaso continue nos protegendo, como me protegeu há mais de um ano, quando um carro, literalmente, atravessou o meu caminho. E que, por fim, este amor continue nos surpreendendo pelo tanto absurdo que ele é.