segunda-feira, 4 de julho de 2016

O amor, a vida e a morte

A morte.

A única certeza da humanidade. A pedra no meio de todos os caminhos. O que põe fim ao tempo. A hora da certeza mais que certa. "O único mal irremediável".

A vida.

O choro descrente de quem sentiu o ar pela primeira vez, incomodado pelo frio que faz aqui fora. O intervalo, ora doloroso, ora triunfante. A sede. A fome. O sono. As necessidades. Os sentidos. A razão.

O amor.

A pura e simples grandeza, que não se acaba com a morte e dá sentido à Vida.


Em tempos de morte, a vida persevera e o amor sobressai. Em todas santa vez que alguém se vai, me lembro de "La despedida", da Shakira. A dor do luto, seja lá de que ele for, é tamanha, que não deixou que nada restasse. Pede, com uma réstia de esperança, que quem partiu leve quem ficou até onde esteja, pois precisa do alento da presença. E diz bem alto que "quando alguém se vai, aquele que fica sofre mais". Verdade inconteste. Axioma dos aflitos.

Quando o moço dos turbantes se foi, vários derramamentos jorraram nas vestes do tempo e do espaço. De lágrimas, de tristeza, mas o mais abundante foi o de amor. Tão grande, tão intenso, tão bonito, tão sobressalente, que inundou uma cidade inteira. Balões azuis foram ao seu encontro, aos céus, repetindo o pedido da canção, mesmo que sem pedir. Nos levamos a quem se foi, agarrados pelas mãos do vento.

Ao contrário de todas as vezes, não lembrei da despedida dolorosa. Lembrei de "La vida", de Calle 13. Uma canção forte, que vai narrando do nascer ao morrer. Mesmo por certeza de que o único destino certo é a morte, a vida vibra e continua vibrando, a cada passo que damos e a cada suspiro forte.

A partida do moço também me fez tomar algumas decisões na minha vida. Em todo o tempo, nunca disse cara a cara pra alguém, que o amava. E não foi por falta de amar. Resolvi dizer a quem tem alegrado a minha vida e estado perto de mim, trazendo mais paz pra minha própria paz, que já o era antes dele. Resolvi que isso de segurar os nomes dos sentimentos, pode converter-se numa bolha monumental, onde o silêncio fala alto demais. Os pactos iniciais subentendidos, como cunhou Milan Kundera, estão sendo feitos a cada momento. E é preciso, por amor a mim mesma, que o amor seja mesmo transparente. Que nossos silêncios sejam respeitados, mas não mais amargarei a dor de calar os que não têm razão de ficarem silentes. A decisão não foi por dizer. A decisão foi por sentir.

Vivo, até que a morte colha o meu caminho. E tenho certeza, não terá sido pouco amor a alcançar-me o caminho.

Que haja mais amor. Em toda a sua extensão. Em toda a sua glória. Em todo o seu calor, para que a morte não finde a vida, que se perpetua na grandiosidade da existência.