Às vezes eu fico me lembrando de como as coisas eram diferentes há um
tempo atrás. Não há tão pouco tempo assim, levando em consideração os
aspectos mais gerais da minha vida. E, não sei porque diabos, vim me
lembrar de como era quando eu tinha os meus diários. Aquelas páginas em
branco, cheias de privilégios, já que elas eram praticamente as únicas
que me viam inteiramente. Ali o espelho era total. Depois que muita
coisa aconteceu, nunca mais consegui um espelho tão definitivo quanto
aquele. Nunca mais soube como era, de verdade, estar sufocada por uma
situação durante o dia e saber, ter a certeza mais plena e absoluta, que
as suas próprias palavras iam servir como o bálsamo pra deixar que a
noite viesse sem maiores sobressaltos.
E eu só me
lembrei disso, porque hoje foi um desses dias em que eu estive sufocada.
Não durante o dia inteiro, ainda bem. Mas em uma parte considerável
dele e, pra mim, na parte mais crítica: durante a noite. De repente,
acontece algo que te leva há alguns dias atrás e te lembra de uma
dorzinha que esteve ali e que você viu que não foi embora. Vulcões não
se revolvem tão facilmente, como no mundinho minúsculo do Pequeno
Príncipe.
Essa dor, por mais irracional que tenha sido
e por mais que eu saiba que não darei qualquer tipo de prosseguimento a
ela, me deixou a par da minha situação: ainda vulnerável às
expectativas. Ainda querendo alcançar uma serenidade que eu queria que
fosse como a sua natureza pede: natural. Algo que continuasse comigo
mais tempo, nesses tempos. Só que aí a gente se lembra que não seria
quem é se não fosse a falta dela nesses tempos, né?
Tô falando muito em código, né? Eu sei.
Eu
realmente não sei há quanto tempo eu sou blogueira daqui da Liga.
Lembro só que os meus primeiros textos eram muito pífios. Daquela menina
de dezoito anos que queria escrever, que achava bonito, mas que não
fazia isso muitas vezes. O que dava aos meus textos um certo
provincianismo e uma lógica meio furada de que eu precisava copiar o
estilo de alguém. Hoje eu sei que posso não ser lá essas coisas, mas as
coisas que eu escrevo, estão muito mais conscientes, pelo menos. A
temporada de visita diária ao meu íntimo de mais de dois anos, me trouxe
resultados surpreendentes e me deixou ciente de que sempre eu poderia
me desvendar, com um texto ou dois. Que eu poderia, se não resolver,
pelo menos compreender o que está se passando e racionalizar uma solução
viável pra parar de doer. Sempre dava certo.
Hoje,
por mais que eu saiba que vai parar de doer aquela dorzinha em
particular, por algo que eu já havia perdoado, eu sei que hoje,
especificamente hoje, isso está me incomodando. E outras questões
surgem, sempre ligadas às expectativas que eu não sei deixar de fazer
sobre o futuro, por mais que eu tente sempre me policiar em relação a
isso. Viver mais o momento e deixar o depois pra depois mesmo.
É
complicado... Sempre soube o que fazer quando era só eu. Mas nunca foi
só eu, né, Jamila? Sempre havia algo ou alguém na vida. Eu não sou uma
ilha. rs
Enfim, muito mais desabafo comigo mesma (já
que eu sei que quase ninguém vai ler o que tá aqui mesmo) do que
qualquer outra coisa. Eu sei que sensações vão passar por mim. Eu sei
que isso vai passar, mas eu espero que logo. Respiro profundo e entendo
que coisas boas estão só à minha espera e que essa insegurança não pode
levar ninguém a nada. Um pouquinho de tristeza nunca matou ninguém
(sendo só um pouquinho!).
Ah, outra coisa: PUTA
QUE PARIU, como eu tô com saudades da minha mãe. Se eu chorar hoje à
noite, vai ser por causa da falta dela. Eu só queria um abraço dela.
Eita porra, dela e da minha vó. Do meu pai. Do meu irmão. Dos meus
primos pequenos, da bebê. Isso me ajudaria a aliviar um pouco a alma,
hoje.
Já respiro melhor agora. Já posso dormir melhor agora. (Se o calor deixar, é claro!)