Já não escrevo mais.
A voz interna que fala pra mim o que escrever parece que resolveu descansar um pouco, depois de tantos escritos, de tantas tentativas, de tantas ideias soltas cujas palavras sequer chegaram à capitular. Aquela ânsia tão premente, tão presente, tão sofrida, de me desmanchar em palavras se amainou. O coração, tão feliz, jura agora não ter mais motivos pra falar. E falar o quê? Se já não há nele dores de partidas, nem chegadas ansiadas: há só o oceano tranquilo de um amor sereno.
Ainda assim, ainda não seria o suficiente pra justificar o fato de não escrever mais. Seriam as paredes de madeira da casa pequena que moramos, ou o sol frio que faz nos cantos do sul do mundo? Não sei. Mas, se não sinto que preciso escrever, então algo parou de coçar na superfície da minha alma. Se nem ao menos a voz que fala dentro me dita os textos que se escrevem sozinhos, o que terá adormecido em mim?
Se a minha própria essência não me carrega pelos mares da minha própria imaginação, então, quem sou eu? Eu me pergunto qual foi o momento de ruptura desse hábito que sempre me trouxe paz. Se foi a água salobra do sertão ventilado. Se foi a água gelada da metrópole fria. Se são os sonhos que me completam, me chamando de volta pra um passado que jamais será novamente. O que será?
Termino este texto - ele mesmo um completo contrassenso - em que escrevo o não escrever, na tentativa de acender uma chama que sempre foi assustadoramente acesa, pra que eu ainda possa me resolver em infindáveis textos. E pra que, principalmente, não deixe mais escapar esta enorme quantidade de vida que vem, e sempre há de vir, por aí.