sexta-feira, 21 de março de 2008

Cinema: Shadows e Sombras em John Cassavetes

Título original: Shadows
Diretor: John Cassavetes
Gênero: Drama
Duração: 82 minutos
País: EUA
Ano de Lançamento: 1959
Elenco: Ben Carruthers, Lelia Goldoni, Hugh Hurd, Anthony Ray, Dennis Sallas





Sinopse:A vida de três irmãos na Nova Iorque dos anos 50 é explorada no primeiro filme realizado por John Cassavetes, ator e cineasta impulsionador do cinema independente. Neste objeto de puro improviso consegue capturar a essência da era beat e o início de uma grande mudança que se preparava para acontecer. O racismo deixava de ser tão evidente e tomava lentamente a forma de tabu, aqui evidente no confronto de um novo namorado da irmã mais nova com o resto da família, e o jazz a todos dominava. É também o retrato de uma geração perdida no desespero silencioso de não conseguir traçar um caminho para o seu futuro. Isso toma a forma nos dois irmãos mais novos: Ben, um trompetista que passa os seus dias com os amigos a deambular por Manhattan e Lelia, cujo espírito tempestuoso acaba por subjugar involuntariamente todos aqueles que dela se aproximam. Shadows é um pequeno filme que quase esteve perdido para sempre e que merece ser visto, especialmente como marco essencial de uma nova era do cinema norte-americano.


Fonte: MakingOff



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Minha opinião: Um dos filmes essenciais a qualquer cinéfilo, obra do maior ícone do cinema independente norte-americano. Exemplo vigoroso de como fazer filmes com uma câmera na mão e idéias em ponto de ebulição na cabeça.
Fala-se muito que esta é uma história sobre a questão racial, e blá blá blá, mas eu vi um filme diferente desse aí que comentam. Vi um filme sobre indivíduos isolados em contraponto à eterna necessidade de se sentirem parte de algo maior. Nossa insatisfação não-perecível em sermos isso... apenas nós. Não nos aceitamos como detentores de um mundo completo, definido, e abundantemente rico que existe em cada um de nós.


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Decupando as cenas...

O início mostra cenas onde jovens se divertem ao som do que viria ser o rock (já era rock?). O filme, que supostamente trata sobre questões raciais, mostra que jovens (negros e brancos) se divertindo juntos. Ainda que a maioria deles fosse (na festa em questão), predominantemente, branca.
Os três amigos (que mais tarde descobriríamos ser Ben, Dennis e Tom) entram num clube que está tocando jazz (ou ainda era bebop? Eles diferenciavam muito melhor do que a gente diferencia hoje, o que mostra que nosso "ouvido" mudou - denotando a diferença das gerações)
Os rapazes abordam mulheres (provavelmente putas) e cada um começa a noite conversando, em particular, com uma delas. Eles tentam falar sobre banalidades da vida particular, mesmo estando ali para "fazer negócios". O que me faz pensar sobre a necessidade dessa abordagem inicial "vamos falar sobre nós dois enquanto a gente não trepa".

Enquanto isso, em outro lugar da cidade, o irmão de Ben, Hugh, se vê envolvido em um dilema... ele é um cantor de jazz e está desconfortável em ter que apresentar o show de umas meninas, que, segundo ele, não dizem nada. Apresentar a arte na qual realmente acreditam e vêem valor, ou ganhar dinheiro com o "comercial"? Ilustra a virada da noite nova yorquina... transição dos jazz clubs para as casas de espetáculo. Hugh fica incomodado com a ideia de ter que se "vender". Rupe diz: Cada um dá o seu jeito do jeito que pode. O cara infere que essa é a maneira que elas encontraram para sobreviver. Então... todo trabalho é digno? Enquanto umas prostituem o corpo, outras prostituem suas ideologias (isso quando têm alguma). Hugh questiona o fato de não ter o que falar quando for apresentar o bando de meninas burras... Rupe diz pra ele ser simpático. É o espetáculo surgindo... showtime! Sem qualidade intelectual ou arte contemplativa, mas com entretetimento garantido. Imagens que passam sem dar espaço pra gente pensar. É opressor, mas é uma droga que anestesia.

Quando ele começa a cantar e ninguém presta atenção... conversas paralelas. O dono do bar diz sobre a música de Hugh: Cara, isso é um sonífero. Então é isso o que queremos? Estamos ávidos pelo consumo de puro entretenimento. O conteúdo desse frasco é vazio, mas o frasco é bonito, vamos consumí-lo e colocá-lo na estante de casa.

Ben vive pegando dinheiro emprestado com todos... é um jovem irresponsável. Vai pedir grana ao Hugh (seu irmão), que está mais preocupado com sua situação do que resolver um contrato de trabalho. Ele é irmão mais velho de "brancos" e o mais responsável.
Lelia anda pela noite de NY e fica encantada com os letreiros... é confundida com uma puta por um cara, que a aborda... este arruma briga com um outro que chegou para defendê-la (o irmão havia previsto a cena).


David diz aos rapazes:
Se vocês sempre fazem a mesma coisa, vocês nunca farão nada com suas vidas. Mas eles estão se divertindo. Por que vocês não fazem algo? Aprendem algo.. existem milhares de coisas para se fazer em Nova York. Fazer coisas diferentes, conhecer pessoas novas.

Diálogo:
Dennis diz: Você não tem respeito pela arte. (quando parece não saber sobre o que está falando)
Tom responde: Você não passa de um idiota, um pequeno burro arrogante. Eu fui à universidade, Dennis.
Dennis espantado: Você?

Enquanto os dois discutem, Ben contempla uma das obras expostas na parte externa do museu. Tom fala sobre o clima da faculdade, as pessoas arrogantes..
Em relação à obra de arte, Ben diz: a questão não é entender, mas sentir (oh, bom menino!).
Quando estão em frente à estátua da mulher nua, falam sobre ela de forma divertida. Depois que a conversa acaba, Dennis fica olhando pra ela, e pensando. Então qualquer obra de arte faz pensar? Seria esse o objetivo? Seria esse o termômetro que diferencia a arte da tentativa (frustrada) de arte?
Cena de uma festa (com os amigos de David). A câmera presencia uma conversa entre intelectuais que falam sobre o existencialismo em Sartre. Tony participa do papo como espectador atento, emitindo comentários superficiais.
Em outro momento da mesma festa, Tony dá em cima de uma moça, depois de uma abodagem inicial, ela diz que é casada, e percebe que o marido está ao lado acompanhando a conversa toda. Fica sem graça, desconversa, e finge que precisa sair para pegar uma bebida. Em alguma cenas posteriores, tem uma atitude semelhante ao perceber que o irmão de Lelia é negro.

Ainda na festa, David fala de um dos personagens criados pela Lili. Mais tarde podemos ver que este personagem trata-se dela mesma.
Diálogo:
David: Esta menina não tem nenhum controle sobre si mesma. Foi ferida profundamente, mas continua vivendo sua vida como se nada tivesse acontecido.Isto é incoerente. A vida é algo mais do que imaginação.
Lelia: O ponto é, se você é você mesmo,não irá machucar-se.

David cobra realismo nos textos de Lelia, mas ele não observa que os textos são tão impregnados de realismo, que este chega a brotar em sua frente (exemplo oferecido quando Lili beija o, então desconhecido, Tony para ilustrar seu texto.

David (apresentando a situação e o personagem de Lili): É o primeiro dia da personagem. Ela anda calmamente pela calçada da quinta avenida. vê um desconhecido logo abaixo em uma esquina da rua e lhe dá um beijo. Um estranho. É revoltante,para uma tarde de domingo.
Lelia: Não é nada! Se eu quisesse eu faria isso (e beija Tony)
Tony: Acho que estou do lado dela David.
Lelia: David, poderia me buscar mais champagne?
David: É ainda mais revoltante na vida real.
A certa altura, David diz à Lelia: "Às vezes uma pessoa é pode acabar com sua vida. E tudo o que irá te dizer vai ser "sinto muito".
Ao se relacionar com os dois, ela une o intelecto de David com o vigor juvenil de Tony. Um misto de Jules et Jim? Talvez Cassavetes tenha se inspirado no triângulo existente no romance de Henri-Pierre Roché, adaptado pelo Truffaut para o cinema.

Cena dos três no Central Park.. plano geral de David correndo atrás de Lelia e Tony, que fugiam dele (para, mais tarde, ela entregar sua virgindade ao Tony).

Lelia: Eu tenho a sensação que nunca serei inteligente e que nunca terei o que quero.
Tony: Se sente em uma caixa que não consegue sair.
Lelia fica surpresa e diz: Meninos nunca entendem coisas desse tipo. Viu, eu estou muito atrasada.
Tony: Atrás de quem?
Lelia: Agora você fala como o David.
Tony: Espero que não.
Lelia: Por quê? David é uma das pessoas mais inteligentes que já conheci.
Tony: Mas não é muito romântico. Quando conheço alguém que gosto, e ela gosta de mim, eu aceito minhas inclinações românticas.
Tony Convida Lalia pra subir.. ela fica meio receosa mas sobe. Diferente dos outros meninos (Ben, Tom, Dennis), ele consegue sexo sem pagar. Ele oferece bebida a ela, mas ela não quer nada pra beber, vai fazer sexo sem dinheiro e sem álcool. Não dá dinheiro mas oferece promessas de amor eterno. Sempre há algo em troca.

Lelia (após a tentativa de sexo com Tony): Eu não sabia que poderia ser tão horrível.
Tony: Não fique tão triste querida, vai ser melhor da próxima vez.
Lelia: Não vai ter próxima vez.
Lelia parece ter ficado traumatizada com o sexo e com toda a situação posterior. Ela diz: Eu achava que estar com você seria tão importante, tão significativo. Que depois duas pessoas estariam tão próximas como é possível ficar. Mas ao invés disso somos só dois estranhos. Acabou. Pelo menos isso eu entendo sobre a vida (a cena em que ela fala isso está coberta de sombras).
Associei esta cena à cena final, quando Ben se despede dos amigos e passa a andar sozinho pelas ruas (cheias de sombra) de NY Tony se mostra desconfortável quando ela apresenta seu irmão. O clima fica tenso e Hugh o expulsa da casa deles. O relacionamento entre Lelia e Tony termina ali.
Em determinado momento, na festa que Hugh oferece em casa, uma mulher diz à Lelia: Sabe do que você precisa? De um cara que se preocupe com você e proteja seus valores. Precisa de um lar, seguro, e com crianças querida. É disso que precisa.

Mostra claramente a antítese entre a visão (e comportamento) das mulheres anteriores à década de 60, e a nova geração, que estava despertando para a vida no início dos anos 60. (O filme foi filmado em 1957-58 mas só foi lançado em 59, por falta de grana).

Nesta mesma festa, após a briga com Ben, Hugh conversa com uma mulher, e fala sobre seus problemas. Ruppert intervem no assunto, e diz para Hugh conversar sobre coisas mais interessantes. Hugh reclama sobre os improvisos que Rupe faz no palco... seria uma metáfora para os improvisos tão fundamentais nas nossas vidas?
O seguinte diálogo antecede a briga entre Ben e a mulher que o aborda na festa:
Mulher: Vem tomar uma cerveja com a gente. Entra na festa, e esquece seu mau humor por um tempo. Não te entendo. tenho a impressão que você quer entrar na festa Mas não sabe como... você quer parecer distante, ou algo assim.
Ben: Você realmente acha isso? Eu prefiro ser distante, distante de você, ok?
Mulher: Tem outras formas... quer uma cerveja? Posso te trazer uma?
Ben: Não quero.
Mulher: Você vai ver, é bom para o que você tem. Anime-se. Só engana a você mesmo. Sua escala de valores está muito confusa, precisa de ajuda.
Ben: Não me toque.

Ela tenta invadir a individualidade de Ben, que se mostra agressivo ao tentarem interpretar sua suposta solidão, e sua vontade de permanecer sozinho. Interagindo da maneira dele. Hugh briga com Ben por causa do comportamento do irmão, mas não consegue se comunicar com ele. Acaba perdoando sem entender porque ele agrediu aquela mulher. Passa a mão na cabeça. Tolera. Talvez com a consciência de que cada pessoa tem seu tempo para amadurecer. (e foi o que aconteceu com Ben ao final do filme. Ele amadureceu. Algo mudou dentro dele)
Davy esqueceu de levar a flor pra Lelia, que cobrou e disse: não me parece bonito fazer isso. Lelia se mostra muito fria com os rapazes (principalmente depois do que aconteceu entre ela e Tony). Informalidade na casa de Lelia... David, o convidado teve que se servir. Rolou um certo clima de animosidade... todos são bem sinceros e diretos (e, por isso, talvez pareçam mal educados).
Timecode 1:05:00
Davy: Será que dá pra andar mais rápido, pelo amor de deus? Tem duas horas e meia que estou esperando.
Lelia: Quer sair com um espantalho ou com uma moça bonita?
Davy: Quero uma moça bonita que fique pronta rápido.
Lelia: Quer ir dançar comigo? Então espere, ainda não estou pronta.
O irmão se intromete na conversa, chama a atenção para a rispidez de Lelia, mas David permanece esperando mesmo com tanta frieza por parte dela. Sabe que pode mostrar a ela que ela pode ser mulherzinha. Tanto que, um pouco adiante, ele diz que ela poderia ser tão bonita e agradável o quanto parece. Ele vê que ela se esconde atrás de uma máscara de rispidez, que impõe distanciamento. Ele mostra que ela não precisa ser "masculina" para se relacionar com os homens. Talvez ela seja assim porque cresceu ao lado de dois irmãos, presenciando comportamentos masculinos o tempo todo.
Cena em que Tony chega e vê Lelia saindo com o (negro) Davy. Mostra que o relacionamento dos dois realmente acabou, já que, após a conversa entre Tony (se mostrando arrependido pelas atitudes anteriores) e Ben, este último deixa claro que não dará recado algum à Lelia.

Hugh vive viajando com sua banda para se apresentar em outras cidades. É assim que ele ganha dinheiro para sustentar seus irmãos. Ruppert reclama com o Hugh porque ele é um cantor de temperamento difícil, o que está dificultando sua contratação pelos clubes das cidades próximas. Sonha em ir para Paris, seguindo o rumo de muitos outros músicos de jazz da época (Round Midnight teria se inspirado nisso?)
Hugh, com excesso de realismo, diz: será igual aonde quer que a gente vá. Ele sabe que a vida que a gente leva depende do que existe dentro de nós, e não do que existe fora. O que está fora é apenas um cenário para que os dramas internos se realizem. "Mesmo quando você chega na hora, você não está na hora" (comentário do Rupe sobre Hugh). Ruppert está prestes a romper com o Hugh, devido ao comportamento pouco profissional de seu cliente, mas o convence a permanecerem juntos dizendo Rupe é o melhor representante do mundo... eles se divertem trabalhando juntos, confiam um no outro, têm cumplicidade. Ruppert entende isso e decide seguir viagem com o amigo/cliente.
Corta para a cena dos amigos do Ben, Tom e Dennis, que também se divertem juntos, ainda que seja não fazendo nada (bebendo cerveja). O interesse deles se resume a conhecer mulheres.

Arrumam briga quando dão em cima das mulheres que estavam acompanhadas por outros caras. Apanham. Filme começa com festa e termina com pancadaria, mas os amigos se ajudando.

Tom diz: E o que vamos fazer? Saímos pra nos divertir, certo? Tem que pagar o preço, se te pega, te pega.
Ben: Não sei porque sempre fazemos isso. Ir por aí, tentando pegar garotas. Podiamos ter as nossas, sabe. As normais. Então não vou fazer mais isso. Se quer que eu fale como um velho, e diga que aprendi a lição, eu digo, aprendi.
Quando visitaram o museu, Tom disse que na universidade conheceu professores que queriam ensinar qualquer coisa que eles já tivessem fracassado antes. O diálogo anterior, mostra o Ben "ensinando" o que acabou de aprender.

Os amigos se afastam, e cada um segue o seu caminho. Indivíduo se dispersando no coletivo, e voltando a ser indivíduo. Somos todos sozinhos. Seres (de)limitados buscando a continuidade no outro."
A cena final, do Ben andando pelas ruas de NY ao som de jazz, me remeteu à cena da Jeanne Moreau andando pelas ruas de uma Paris meio acesa, meio nas sombras, em Ascensor para o Cadafalso, ao som do trumpete do Louis Malle.

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Curiosidades cinematográficas:
- Não há muitos close ups nos filmes do Cassavetes.. os planos eram mais gerais, e os cortes mais espaçados. No entanto, sem os tempos mortos que estavam muito em voga na Nouvelle Vague francesa.
- A câmera não participa da cena, ela se torna mero observador da cena... subjetiva, e não impositiva.
- O dedo (de Davy) que toca a campainha é o mesmo que aparece quando Hugh tocou quando chegou em casa. (coincidência?)
(Eu queria saber se só eu tive a impressão de que o Ben era muito louco...)

Enfim... filmaço.
(e foi todo fruto do improviso)

* Leitura Recomendada: O indivíduo na sociedade, Emma Goldman

** Peço desculpas por minha forma não-linear de escrever, mas eu não sou a mais linear das pessoas.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Exposição: Darwin no Rio

Aproveitando a deixa do Lapa, também vou passar uma dica de programação cultural que está rolando na minha amada (e caótica) cidade: o Rio de Janeiro.
Charles Darwin, o cientista que nasceu para oferecer a teoria que seria o divisor de águas na crença cristã a respeito da criação do mundo, chega ao Brasil em forma de exposição de sua vida e obra.
O Instituto Sangari traz ao Brasil "Darwin - descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo". A exposição já passou por São Paulo, onde foi sucesso de público (cerca de 175 mil) e aterrisou no RJ em janeiro, onde fica até o dia 13 de abril no Museu Histórico Nacional.

A exposição de divide nas seguintes seções:
  1. Introdução
  2. O mundo antes de Darwin
  3. O jovem naturalista
  4. Uma viagem ao redor do mundo
  5. A idéia toma forma
  6. A obra de uma vida
  7. A evolução hoje
  8. Epílogo
Este evento teve início em Nova York e terminará em Londres, ocasião em que se comemorará o aniversário de 200 anos de nascimento do cientista-pensador-naturalista-geólogo-gênio.

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Você pode encontrar mais informações sobre a exposição no site oficial do evento.
Site do Museu Americano de História Natural (AMNH)



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Um pouco mais sobre Charles Darwin na web









Filosofia barata

liberdade
[Do lat. libertate.]
Substantivo feminino.
1.Faculdade de cada um se decidir ou agir segundo a própria determinação: Sua liberdade, ninguém a tolhia.
2.Poder de agir, no seio de uma sociedade organizada, segundo a própria determinação, dentro dos limites impostos por normas definidas: liberdade civil; liberdade de imprensa; liberdade de ensino.
3.Faculdade de praticar tudo quanto não é proibido por lei.
4.Supressão ou ausência de toda a opressão considerada anormal, ilegítima, imoral: Liberdade não é libertinagem; Liberdade de pensamento é um direito fundamental do homem.
5.Estado ou condição de homem livre: dar liberdade a um prisioneiro, a um escravo.
6.Independência, autonomia: O Brasil conquistou a liberdade política em 1822.
7.Facilidade, desembaraço: liberdade de movimentos.
8.Permissão, licença: Tem liberdade de deixar o país.
9.Confiança, familiaridade, intimidade (às vezes abusiva): Desculpe-me, tomei a liberdade de vir aqui sem telefonar-lhe;

Muito comunicativo, toma às vezes certas liberdades que me aborrecem.
10.Bras. V. risca (4): “Trazia os cabelos caprichosamente penteados, com uma abertura ao meio, formando liberdade.” (Araújo Costa, O Menino e o Tempo, p. 29.)
11.Filos. Caráter ou condição de um ser que não está impedido de expressar, ou que efetivamente expressa, algum aspecto de sua essência ou natureza. [Quanto à liberdade humana, o problema consiste quer na determinação dos limites que sejam garantia de desenvolvimento das potencialidades dos homens no seu conjunto — as leis, a organização política, social e econômica, a moral, etc. —, quer na definição das potencialidades que caracterizam a humanidade na sua essência, concebendo-se a liberdade como o efetivo exercício dessas potencialidades, as quais, concretamente, se manifestam pela capacidade que tenham os homens de reconhecer, com amplitude sempre crescente, os condicionamentos, implicações e conseqüências das situações concretas em que se encontram, aumentando com esse reconhecimento o poder de conservá-las ou transformá-las em seu próprio benefício.] [Cf., nesta acepç., autodeterminação (2) e autonomia (5).] ~ V. liberdades.

IN: Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa – 3ª. edição, 1ª. impressão


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O que é a liberdade senão uma fantasia? Um delírio humano de capacidade de determinação e inventividade. A tentativa frustrada de guiar com as rédeas do livre-arbítrio sua estadia transitória sobre a Terra.
Estamos encerrados em um sistema de valores materiais (e morais) que não nos permite caminhar livremente, seguindo apenas nossa vontade. É certo que nossa própria vontade não é bem apenas nossa, mas uma vontade oriunda da equação: (indivíduo + desejo do coletivo) / 3. Talvez ela já tenha nascido enviesada pelo exterior que não nos determina, mas nos molda com mãos de um artesão que se repete em seus trabalhos.
Sim, somos seres modelados. Nosso comportamento é pré-concebido, agimos de acordo com as expectativas criadas, e realizadas, num processo infindável dentro desse ciclorama descontínuo chamado vida e morte.
E bradamos pela liberdade, ansiamos por ela, sonhamos a liberdade. Quando, enclausurados nos grilhões da máquina, não nos percebemos tolhidos, fechados pelo punho do senhor invisível chamado tempo&espaço. A liberdade é nosso pote de ouro ao final do arco-íris.
Ah sim, temos o direito de ir-e-vir. Ir-e-vir pra onde? Percorrer as vias cansadas dos pés dos que se adiantaram a mim. Nossa liberdade termina onde começa a do outro. Então nossa liberdade tem fim? Ora... contrasenso! Não é preciso ser muito perspicaz para sacar que liberdade deveria ser um cavalo alado, solto, com permissão concedida para visitar os lugares mais remotos e experimentar de todas as coisas, ou apenas tudo o que lhe aprover (o pegasus é livre para escolher). Liberdade onde? Cadê? Eu quero.
Trago uma alegre notícia aos senhores donos de si: a liberdade é uma balela.
Pronto, agora podemos ser felizes!

Música: She Wants Revenge

Quando eu ouvi essa banda pela primeira vez pensei: "Caramba, como pode eu nunca ter ouvido essa banda antes?", isso aconteceu porque eu jurava que essa banda só poderia ser dos anos 80's, mas a mesma foi formada em 2005 e só lançou seu debut em 2006.



Com um clima dançante, batida envolvente e vocais eletrônicos essa banda alternativa tem conquistado os fãs de música oitentista e conta com apenas dois integrantes, Justin Warfield e Adam Bravin.

A música Tear you apart teve o seu vídeo clipe dirigido por Joaquin Phoenix e fez parte da trilha sonora de "The Number 23" com o ator canadense Jim Carrey. These Things conta com Shirley Manson (Garbage) e foi o segundo clipe.

Para quem gosta do estilo vale a pena conferir, a banda lançou dois discos até agora, o primeiro com o título de She Wants revenge e o segundo recém lançado "This is forever".

Mais clipes:
True Romance
Written In Blood
Out of Control (não oficial, mas é minha música preferida)

Site oficial

Ouvindo: More - Shaaman (4:06)

F5: Esqueci de mencionar que cai no gosto do pessoal gótico e que um dos fortes da dupla são as letras, não vou dizer o conteúdo pra não estragar a surpresa.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Teatro: Festival de Curitiba

Puxando um pouco a minha sardinha, vou fazer um merchand de uma das coisas que Curitiba (minha amada cidade) tem de melhor: O Festival de Curitiba.
Nas primeiras edições restrigia-se apenas ao teatro, hoje existem mostras paralelas de música artes plásticas, dança, cinema, entre outros.
Começa hoje, 19/03 e vai até o dia 29/03, ou seja, 10 dias em que a cidade "respira" cultura e fica muito mais interessante.

O Festival de Teatro de Curitiba nasceu numa mesa de restaurante. Sem saber ao certo o alcance e a força das idéias que ali surgiram, um grupo de jovens amigos dava os primeiros passos para o que viria a ser um dos mais importantes eventos de teatro da atualidade. Os estudantes Leandro Knopfholz e Carlos Eduardo Bittencourt, então com 18 e 22 anos, tinham acabado de ver a peça New York, New York, de Edson Bueno, no Teatro Guaíra e resolveram esticar a noite num dos diversos restaurantes da cidade. Enquanto escolhiam os pratos do cardápio, lamentavam o parco número de peças de teatro em cartaz na cidade. Leandro, talvez entusiasmado pelo espetáculo que tinha acabado de ver, sugeriu ao amigo que ao invés de apenas lamentar, poderiam organizar um festival na cidade. Carlos ficou na dúvida, mas Leandro lhe desarmou com um célebre "Por que não?”.
A partir daí começou o corre-corre: campanha, patrocínios, programação e produção. Leandro e Carlos chamaram os amigos Cássio Chamecki e Victor Aronis Em dezembro de 1991 eles promoveram a festa de lançamento do Festival, que iria estrear no dia 19 de março do ano seguinte. Ninguém acreditaria que aquela idéia, surgida em uma conversa de restaurante, seria realizada com tanta agilidade, e nem que duraria tanto.

A Edição 1992 do Festival trouxe ao Paraná grandes nomes do teatro brasileiro, como Antunes Filho, José Celso Martinez Correia e Gabriel Vilella. Quando viram os convidados no saguão do hotel, os amigos sentiram um frio na barriga: "Meu Deus, olha só o que a gente fez".

Ao longo desses anos, 1607 espetáculos para um público estimado em 1,2 milhão de pessoas.

Aqui, se encontra a programação da mostra Fringe, a oficial. Existem muitas mostras paralelas, inclusives espetáculos gratuitos, encenados nas ruas, nas praças, bibliotecas, escolas, bares...

Agatha se apresentando

Sou como um gato, que não se apega. Eu não dou ponto sem nó. Sou como um rio, que corre livre. Sou a represa, que o apriosiona. Eu sou a flor colhida no campo quando chega a primavera. Eu sou o rato que se esconde da vassoura. Sou veneno pra barata. Eu tenho vícios. Subo montanhas que não dão em nada. Percorro estradas que não levamho sede quando não há água. Tenho comida quando passam fome. Sou em quem dá a última risada. Eu sou humano e não tenho nome.


Podcast
Poesia pra boi dormir

Música: Andy Timmons

Parece que serei a veia mais rock/metal da LJ em termos de música, mas gostaria de começar indicando um ótimo guitarrista que só descobri há cerca de dois meses.

Andy Timmons começou sua carreira na banda de rock farofa Danger Danger onde gravou três discos, passando depois para carreira solo, onde prima pelo instrumental. Já tocou com gente famosa como Paula Abdul, Paul Stanley, Kip Winger, Steve Vai e Joe Satriani.

Foi endorser das guitarras Ibanez até 2007, passando esse ano para o time da Fender, que é mais sua cara. Atualmente montou a Andy Timmons Band e se encontra em turnê na Europa.

Discografia

Danger Danger
Danger Danger
Down And Dirty Live
Screw It!

Solo
Ear X-Tacy (1996)
Ear X-Tacy 2 (1997)
The spoken and the unspoken (1999)
Orange Swirl (2000)
And-Thology 1 & 2 (2000)
That Was Then, This Is Now (2002)


Andy Timmons Band
Resolution (2006)


No youtube:
Cry for you (excelente)
Jungleyes
Tocando com Paul Gilbert e Steve Vai
Groove or die versão bossa nova

Pra quem gosta de música instrumental é uma parada obrigatória.

Ouvindo: 20th Century Blues - Robin Trower (3:13)

terça-feira, 18 de março de 2008

Fotografia: Henri Cartier-Bresson x Sebastião Salgado

Dois nomes expressivos da fotografia do século XX. Ambos trabalharam como repórter fotográfico, e tinham a preferência pela fotografia em p&b - talvez cientes de que estavam eternizando um momento presente que seria evocado em algum lugar do futuro. A fotografia como um resgate do passado em tempo presente.

Enquanto Cartier-Bresson se ocupava, na maior parte do tempo, em fotografar cenas do cotidiano, seja em Paris ou em alguma cidade chinesa, Salgado dava preferência aos temas sociais, nos levando aos lugares onde repousavam as "minorias" ignoradas pela sociedade de consumo.



Cartier-Bresson
Uma das características que o próprio fotógrafo destaca em seu trabalho é seu senso de geografia, talvez oriunda de sua formação acadêmica em artes plásticas (Cartier-Bresson também pintava e desenhava). Seu trabalho é marcado pela espontaneidade de seus temas.

Considerado um dos cinco maiores artistas do século XX, Cartier-Bresson já foi comparado ao grande escritor russo Tolstoi, por também testemunhar o movimento da
história do século XX, oferecendo à humanidade seu ponto de vista do desenrolar da História.

Alguns críticos sublinham a sensibilidade e intuição como pontos fortes das imagens capturadas por Bresson. O próprio fotógrafo concorda, e inclui a geometria como elemento principal da composição de suas fotos.

Para Bresson, o momento da fotografia é mágico, e acontece apenas quando ele é pego pelo objeto fotografado. Ou seja, quando o objeto o seduz. Este seria o momento para apertar o botão e fazer o obturador funcionar. Cartier-Bresson não pensa enquanto fotografa. O que atua no instante da foto é sua sensibilidade.

Possuía trânsito livre em muitos locais do Globo. Fotografou desde os últimos dias de Gandhi ao cotidiano do socialismo soviético in loco.

Em relação ao modo de vida e ideologias, o fotógrafo-desenhista-pintor se define como anarquista e pacifista, o que, para ele, transcende qualquer conceito, tornando-se uma ética oportuna para se basear a vida, oferecendo diretrizes de comportamento em sociedade. Bresson temia o crescente aumento da tensão (ricos x pobres) das relações que o mundo globalizado produz, acreditando que, inevitavelmente, the world will tear apart.

Sebastião Salgado
É a versão tupiniquim-contemporânea do fotógrafo francês.

Talvez o valor artístico das imagens produzidas por Salgado não seja tão evidente quanto o presente na fotografia de Henri Cartier-Bresson, ainda que sua qualidade técnica seja indiscutível. Porém, aquela intuição existente na obra do fotógrafo francês (e tão fundamental nas obras artísticas), praticamente desaparece no trabalho de Sebastião Salgado. Suas fotos são pensadas, montadas, produzidas.

Sua preocupação em retratar a vida dos excluídos faz com que seus temas se repitam e, muitas vezes, beirem o clichê. No entanto, isso não tira o caráter brilhante de sua coleção "Êxodos".

Uma opinião controversa, é verdade, mas sincera.


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Links com obras e mais informações sobre os fotógrafos:

Portraits
Magnum Photos
Sebastião Salgado

Posted by: Agatha

Música: Ingrid Lucia & The Flying Neutrinos

Uma banda sensacional de Jazz e Retrô Swing que eu descobri há alguns dias.
Não se trata de nada fora do normal, mas de uma banda competente, com um vocal (Ingrid Lucia) extremamente doce e agradável e com músicas que agradam do começo ao fim.
Minhas faixas favoritas são "Cry", "Baby's Making Duck", and "Lonely Side".
A Banda lançou apenas dois discos e depois acabou: I'd Rather be in New Orleans (1999) e Hotel Child (2000).
Segue o segundo disco, de 2000: Hotel Child.


1. Mr. Zoot Suit
2. Violent Love
3. Cry
4. Some Of These Days
5. Love Is Coming Back
6. Lonely Side
7. Baby's Making Duck
8. Someday You'll Be Sorry
9. Promise
10. I Believe In
11. Johnny Listen
12. After Hours


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Cinema: filmes do início do século XX

Voyage dans la lune
Filme do francês Georges Meliès, realizado em 1902.

Curiosidades sobre o filme:
Meliès explora um dos seus temas favoritos: a vida fora do planeta.

As cenas são todas realizadas em apenas um plano (geral), o que nos remete ao fato de que a noção de corte e da utilização da montagem como condutor dramático veio mesmo com o Eisenstein, no início da década de 20. Não há planos em close up, as atuações são ainda teatralizadas, exageradas. Não há movimento de câmera.

The Great Train Robbery
Filme do americano Edwin S. Porter, realizado em 1903.

Curiosidades sobre o filme:
Considerado o primeiro filme de faroeste, onde a violência começa a ser um dos temas preferidos. Aqui, ao contrário do filme do Meliès, já é possível observar alguns (tímidos) movimentos de câmera (e efeitos de zoom), além do desenvolvimento mais complexo das cenas. Porém, a forma teatral de atuação ainda permanece (e iria permanecer até o advento do cinema falado).

(Reparem no "maquinista" que é jogado do trem por um dos ladrões. "Efeito" inconcebível no cinema contemporâneo)





Posted by: Agatha

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Bem-vindos, super-heróis!

Passamos grande parte do dia em frente ao computador e, muitas vezes, não produzimos absolutamente nada através dele. Não nos damos conta de que temos uma ferramenta de comunicação poderosíssima, e que (infelizmente) fazemos um sub-uso dela.

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