quarta-feira, 26 de março de 2008

Música: Improvisando no Jazz

Em um cantinho da América do Sul, um dos maiores músicos do século XX empunhava seu violão, enquanto em algum canto do mundo, outro grande músico sacava seu trumpete agudo, ou um sax melancólico, para embelezar as ondas sonoras e torná-las navegáveis. Nas areias de Ipanema nasce a Bossa Nova, música nascida no berço da classe média alta carioca, que bebeu da fonte do samba e do jazz, ambos ritmos nascidos no seio da cultura negra e marginal.

O que une essas duas turmas tão diferentes? A paixão pela música, o ritual que envolve criar uma melodia, harmonizá-la, distribuí-la, executá-la. Convidar bons músicos, selecionar algumas canções, preparar o setlist. Tudo isso regado a uma grande quantidade de álcool e outras substâncias que têm o poder de entorpecimento (and does the music itself hasn't this power?). O processo de fazer música pode ser muito atraente, e certamente era para todos esses musicistas.

Não há como não se apaixonar pelo vigor, genialidade, e até certa displicência, de muitos dos músicos de jazz. Eles tocam com a alma, pressupondo que alma existe. Utilizam o corpo apenas como materialização de sua arte, pois a arte deles é abstrata, pois vai de homem a homem, de espírito a espírito. A comunicação é flutuante, é invisível, mas plenamente perceptível e deleitosa. No jazz, a regra é seguir a música. É ela que nos leva, é ela que direciona os caminhos pelos quais seus executores percorrerão, e não o contrário.

No jazz, quem manda é a música.


Onde nasce o jazz, jaz o dogma.


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SOBRE O TEMA:

Leitura recomendada: História Social do Jazz, Eric Hobsbawm
Filme recomendado: Round Midnight, Bertrand Tavernier
Som recomendado: Lester Young (uma das maiores influências dos jazzmen)



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Sons relacionados:
- Bud Powell e sua carreira meteórica, decorrente do alto consumo de drogas, mulheres, e afins. Um dos mestres do improviso no piano.
- Charles Mingus com um baixo acústico que guia os outros músicos pelos caminhos harmônicos das canções.
- Charlie Parker um dos (e talvez o mais) brilhantes saxofonistas da história do jazz.
- Dizzy Gillespie é o trumpetman por excelência. Famoso por alcançar notas altas, e mantê-las lá em cima.
- Miles Davis é, pra mim, o maior trumpetista de jazz por toda a criatividade inventiva que trouxe ao ritmo.
- Chet Baker e um trumpete melódico, doido pra chorar.
- Duke Ellington compositor, pianista, e arranjador. O cara já foi até comparado ao Mozart.
- John Coltrane é um cara que eu acho genial. Resume nas notas produzidas por seu sax o espírito do jazz.
- Thelonious Monk com seu piano excêntrico, mostrando porque este é considerado um instrumento de percussão.

Os menos velhinhos também merecem destaque:

- O sax alto Paul Desmond, que tocou no insuperável quarteto do grande pianista Dave Brubeck. Por favor ouçam Time Out (com Eugene Wright no baixo e Joe Morello na bateria), um dos discos seminais do jazz.
- A guitarra jazzística do George Benson também merece ser citada, ainda que o músico transite entre o pop e o smooth jazz.

Os "brancos" Dave Brubeck e Paul Desmond, dois nomes respeitáveis do jazz.


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Ps.: os sons relacionados foram representados apenas com músicos. Em breve recomendações de vozes femininas do jazz.

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