terça-feira, 25 de março de 2008

OS DIAMANTES SÃO ETERNOS!!


Pedrinho, era um rapaz franzino, curvado sob o peso de uma idade que, se para outras pessoas representava talvez o auge da vitalidade, para sua compleição doentia chegava a ser um verdadeiro recorde.

Tinha vinte e dois anos.

Calmo, chegando mesmo a ser indolente.

Nunca se apressara para nada na vida.

Exceção feita ao seu casamento, que fora decidido logo após o primeiro mês de paixão arrebatadora.

Verdade seja dita: a notícia do casamento passou longe de causar o espanto que foi provocado quando dona Alfonsina, mãe de Pedrinho, anunciou que seu filho arranjara uma namoradinha – a primeira desses vinte e dois anos – e que essa namoradinha era Marina.

Abre-se aqui um parênteses para as devidas explicações: marina mudara-se para aquele pacato bairro há cerca de dois anos e desde então se tornara objeto de desejo de toda a população masculina – e até de parte da feminina – do local.

Jovem filha de um rico fazendeiro, mudara-se para a capital a fim de cursar uma faculdade e logo foi descoberta por uma agência de modelo.

Vinte aninhos incompletos, corpo esguio – exceção aos fartos seios, naturalíssimos, que eram o sonho dos marmanjos e o terror dos fabricantes de silicone – tudo indicava que dentro de pouco tempo seria uma modelo internacionalmente reconhecida.

Todos os homens solteiros e um ou dois dos casados da região já tinham tentado, sem sucesso, conquistá-la.

Mas marina era uma garota tímida e reservada.

Mantinha uma rotina que se limitava ao roteiro casa-faculdade-trabalho-casa e, raras vezes, se permitia uma ida a praia.

Só para tomar uma cor.

Conhecera Pedrinho por força da convivência e logo se tornaram amigos.

Devido à sua timidez, Pedrinho era o único do bairro que não a tratava como um objeto sexual.

E logo por isso, a bela acabou se apaixonando por aquele fiapo de gente.

A notícia do namoro causou verdadeiro furor àqueles homens, que olhavam cobiçosos o corpo escultural com o qual, apesar da timidez de sua dona e para desespero deles, ela se espremia dentro de uma lingerie minúscula, em vários outdoors e capas de revistas pela cidade.

Quatro meses e meio atrás – por iniciativa dela – começaram o romance.

Tórrido, diga-se de passagem.

Já na segunda semana tiveram sua primeira noite de amor, onde Pedrinho, apesar da sua compleição franzina, mostrara levar jeito para a coisa, e a tímida menina do interior se transformara numa verdadeira deusa da luxúria.

Desde então qualquer hora era boa.

No trabalho, em casa ou até mesmo na praia, qualquer encontro dos dois se transformava num verdadeiro incêndio.

Pedrinho passou a ser alvo de inveja e até mesmo de ódio por parte de alguns homens mais exaltados.

Mas nada poderia estragar sua alegria.

E daqui a alguns instantes ele estaria no altar, tornando de direito o que já é de fato e sagrando diante de Deus a sua posse sobre aquele monumento.

Cuidou de tudo nos mínimos detalhes e espalhou avisos por toda a casa para não correr o risco de esquecer as alianças.

Eram alianças de ouro dezoito quilates com um pequeno – eu diria até, minúsculo – diamante incrustado, que foram presente de sua mãe e tinham custado quase cinqüenta anos de economia.

Nada podia dar errado.

Mas deu.

Apesar de todos os cuidados, Pedrinho só lembrou das alianças ao chegar na frente da igreja.

O desespero tomou conta dele.

O apartamento do casal, local onde tinha esquecido as alianças, ficava do outro lado da cidade, e a limusine chegaria dentro de poucos instantes trazendo a noiva.

Entrou em pânico.

Ficou paralisado e não conseguia confessar a ninguém o erro que cometera.

Os minutos passavam numa rapidez alucinante e nenhuma solução ocorria ao desesperado noivo, que nada mais fazia senão esperar, apático.

E a limusine trazendo a noiva despontou na esquina, enquanto todos tentavam em vão levar Pedrinho – que nem andava nem explicava o porquê – até o altar.

Foi quando o inesperado aconteceu: Carlos, amigo de infância de Pedrinho, que ficara com uma cópia da chave do apartamento para preparar uma surpresa para os “pombinhos” apareceu, esbaforido, trazendo o salvador estojo com as alianças.

Ao ver aquele pequeno volume sendo agitado de forma triunfal na mão do seu amigo do outro lado da rua, Pedrinho percebeu o quanto era afortunado, e com o peito quase explodindo de alegria correu ao encontro de Carlos e do seu destino.

Foi atropelado por um caminhão carregado de melancias e morreu ali mesmo na rua, deixando para trás a quase-viúva mais linda de que se tem notícia e dois anéis de diamantes dos quais nunca mais se ouviu falar.


(DEUS)

2 comentários:

Agatha disse...

Oba! Criar conteúdo é bem melhor do que copiar e colar :)

Nadadeordinário disse...

Adorei o blog, conteúdo é ótimo num mundo de diversidades.
Gostei mesmo da história.
XXX:)