quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Poema de Natal - Vinicius de Moraes



Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.


Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.


Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.


Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas


Nascemos, imensamente.



Para meus mui amados amiguinhos da LP e LJ, desejo um Natal muito gostoso, com uma ceia bem calórica e muito vinho!!!

ENGOV ANTES E DEPOIS... Sem esquecer algum anti-ácido também!!!!


JESUS NASCEU!!! VAMO COMEMORAR \0/



sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Para Dolores

Menina que me vê
Na moldura da janela
Olhando pra você
Como olha Monalisa
Olhar sem compromisso
Como um quê que se admira
Olhar sem perceber
Cega o verso desta lira





* Vi sua reclamação ali embaixo e tive que responder prontamente. Saiu isso aí.

Beijos :)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Acho muito chato esse BLOG paradão...



O que está havendo? Porque tanto marasmo por aqui? Vocês não têm pena de mim? que não posso acessar o Orkut no trabalho (um ABSURDO!!!) Eu adorava poder ler as coisas que vocês postavam aqui... (Vocês leia-se Agathona e JamYYY)

Enfim...



Sinto sua falta
Não posso esperar
Tanto tempo assim
O nosso amor é novo
É o velho amor ainda e sempre...
Não diga que não vem me ver
De noite eu quero descansar
Ir ao cinema com você
Um filme à tôa no Pathé...
Que culpa a gente tem
De ser feliz
Que culpa a gente tem
Meu bem!
O mundo bem diante do nariz
Feliz agora e não além...
Faço tanta coisa
Pensando no momento de te ver
A minha casa sem você é triste
A espera arde sem me aquecer...
Não diga que você não volta
Eu não vou conseguir dormir
À noite eu quero descansar
Sair à tôa por aí...
Eh! Eh! Oh! Oh!
Me sinto só, me sinto só
Me sinto tão seu
Me sinto tão, me sinto só
E sou teu!
Me sinto só, me sinto só
Me sinto tão seu
Me sinto tão, me sinto só
E sou teu!
Oh! Oh! Oh!
Eh! Eh!...
SKANK

segunda-feira, 6 de outubro de 2008


Qual o elogio que uma mulher adora receber?


Bom, se você está com tempo, pode-se listar aqui uns setecentos:mulher adora que verbalizem seus atributos, sejam eles físicos ou morais.

Diga que ela é uma mulher inteligente, e ela irá com a sua cara.

Diga que ela tem um ótimo caráter e um corpo que é uma provocação,e ela decorará o seu número.

Fale do seu olhar, da sua pele, do seu sorriso, da sua presença de espírito,da sua aura de mistério, de como ela tem classe:ela achará você muito observador e lhe dará uma cópia da chave de casa.

Mas não pense que o jogo está ganho: manter o cargo vai depender da suaperspicácia para encontrar novas qualidades nessa mulher poderosa, absoluta.

Diga que ela cozinha melhor que a sua mãe,que ela tem uma voz que faz você pensar obscenidades,que ela é um avião no mundo dos negócios.

Fale sobre sua competência, seu senso de oportunidade,seu bom gosto musical.


Agora quer ver o mundo cair?


Diga que ela é muito boazinha.

Descreva aí uma mulher boazinha.

Voz fina, roupas pastel, calçados rente ao chão.

Aceita encomendas de doces, contribui para a igreja,cuida dos sobrinhos nos finais de semana.Disponível, serena, previsível, nunca foi vista negando um favor.

Nunca teve um chilique.Nunca colocou os pés num show de rock. É queridinha.Pequeninha.Educadinha.

Enfim, uma mulher boazinha.


Fomos boazinhas por séculos.

Engolíamos tudo e fingíamos não ver nada, ceguinhas.

Vivíamos no nosso mundinho, rodeadas de panelinhas e nenezinhos.

A vida feminina era esse frege: bordados, paredes brancas,crucifixo em cima da cama, tudo certinho.

Passamos um tempão assim, comportadinhas, enquanto íamos alimentando umdesejo incontrolável de virar a mesa.

Quietinhas, mas inquietas.Até que chegou o dia em que deixamos de ser as coitadinhas.

Ninguém mais fala em namoradinhas do Brasil: somos atrizes,estrelas, profissionais.

Adolescentes não são mais brotinhos: são garotas da geração teen.

Ser chamada de patricinha é ofensa mortal.

Pitchulinha é coisa de retardada.

Quem gosta de diminutivos, definha.Ser boazinha não tem nada a ver com ser generosa.

Ser boa é bom, ser boazinha é péssimo.As boazinhas não têm defeitos.

Não têm atitude.Conformam-se com a coadjuvância.PH neutro.Ser chamada de boazinha, mesmo com a melhor das intenções,é o pior dos desaforos.

Mulheres bacanas, complicadas, batalhadoras, persistentes, ciumentas,apressadas, é isso que somos hoje.


Merecemos adjetivos velozes, produtivos, enigmáticos.

As “inhas” não moram mais aqui.

Foram para o espaço, sozinhas.
Martha Medeiros

quarta-feira, 1 de outubro de 2008



Vê-la praticamente todos os dias...Todos os dias falar com ela...Ter uma amizade estreita de anos, e mesmo assim, não poder dizer: -Conheço-a muito bem!!!

Ela muda todos os dias, e é a mesma... Nunca será o tipo de mulher a quem se diga “ Continue sempre assim”...até porque, mesmo que fosse possível ela não quereria...enjoaria de si mesma!

Ao longo da semana pensei em coisas ótimas pra escrever pra ela nesse dia...não pude faze-lo...e aquelas coisas legais que eu pensei, frases bem construídas se perderam na minha mente anuviada... Resta dizer aquelas coisas que ela já sabe, ou espero que saiba...

Eu a amo muito...de um amor de irmã preferida... Quero tanto bem a ela quanto quero a mim mesma...Espero estar com ela em seus momentos cruciais e poder ser útil...tipo casamento...na alegria e na tristeza, sem aquele negócio da morte nos separando...

Posso dizer que praticamente todas as coisas boas que aconteceram comigo recentemente tiveram a ajuda dela...Mais que isso...ela me obriga a fazer o melhor pra mim... Me mostra as coisas mais interessantes... Desperta o gosto por café... Traz novos e deliciosos vícios pra vida diária... Traz os melhores amigos...

Ter lugar VIP no coração dela é uma grande alegria... Tornei-me sócia GOLD e não deixarei de ser jamais...ela tem a minha torcida organizada...Estarei sempre lá balançando os pompons *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/*

PARABÉNS CHAY!!!!!!!!!!!!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

PEDAÇOS DE MIM - Martha Medeiros



Eu sou feito de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos


Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão


Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci


Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante


Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas
Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar


Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei


Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo


Mas continuo vivendo e aprendendo.


sábado, 20 de setembro de 2008

Algumas palavras sobre Liberdade - Clarice Lispector



"Se eu me demorar demais olhando "Paysage aux oiseaux jaunes", de Klee, nunca mais poderei voltar atrás. Coragem e covardia são um jogo que se joga a cada instante. Assusta a visão talvez irremediável e que talvez seja a da liberdade. O hábito de olhar através das grades da prisão, o conforto de segurar com as duas mãos as barras, enquanto olho. A prisão é segurança, as barras, o apoio para as mãos. Então reconheço que a liberdade é só para muito poucos. De novo coragem e covardia se jogaram: minha coragem, inteiramente possível, me amedronta. Pois sei que minha coragem é possível. Começo então a pensar que entre os loucos há os que não são loucos. É que a possibilidade, que é verdadeiramente realizada, não é para ser
entendida. E à medida que a pessoa quiser explicar, ela estará perdendo a coragem, ela já estará pedindo; "Paysage aux oiseaux jaunes" não pede. Pelo menos calculo o que seria a liberdade. E é isso o que torna intolerável a segurança das grades; o conforto desta prisão me bate na cara. Tudo o que eu tenho aguentado – só para não ser livre"

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Queria te dizer...

Queria falar de amor contigo, mas tenho medo de ser piegas, de tu rir de mim e dizer que eu sou um brincalhão - o maior deles. (Hahahahahahahaha!)

Queria falar desses sonhos em que eu te vejo nos meus braços e sem uma só palavra, nós nos unimos, como as gotas se unem e formam as chuvas... (Eu não sei o que me deu hoje, me desculpe, eu estou muito envergonhado, isso não vai mais se repetir!)

Queria te dizer que os mais cheirosos dos incensos não têm o mesmo poder que o cheiro dos teus cabelos e que quando o aroma penetra por minhas narinas, eu entro em transe profundo. (É, realmente, esse shampoo que você usa ficaria ótimo nos cabelos de minha irmã, também acho!)

Queria te dizer que tua pele é tão fresca e tão deliciosa quanto um cobertor de linho fino, quando se está no frio. E que quando tu passas e sem querer roças teu seio no meu peito o mundo pára e meu coração se enche de vida! (Não precisava ter me dado esse tapa! Foi apenas um elogio!)

Queria te dizer que eu preciso que você cuide de mim... (Querida, cheguei! *smack* onde estão as crianças?)

terça-feira, 19 de agosto de 2008


Beije-me as coxas
pálpebras, dedos, lóbulos
os dois


beije-me os seios
um e outro, que são ciumentos
ambos

beije-me os lábios
superior e inferior
os grandes e os pequenos

todos
Martha Medeiros

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O Dia em que faremos contato




A nave quando desceu, desceu no morro
Ficou da meia-noite ao meio-dia
Saiu, deixou uma gente
Tão igual e diferente
Falava e todo mundo entendia
Os homens se perguntaram
Por que não desembarcaramem São Paulo, em Brasília ou Natal?
Vieram pedir socorro
Pois quem mora lá no morro
Vive perto do espaço sideral
Pois em toda via Láctea
Não existe um só planeta
Igual a esse daqui
A galáxia tá em guerra
Paz só existe na terra
A paz começou aqui
Sete Artes e dez mandamentos
Só tem aqui
Cinco sentidos, terra, mar, firmamento
Só tem aqui
Essa coisa de riso e de festa
Só tem aqui
Baticum, ziriguidum, dois mil e um
Só tem aqui
A nave estremeceu, subiu de novo
Deixou um rastro de luz do meio-dia
Entrou de volta nas trevas
Foi buscar futuras levas
Pra conhecer o amor e a alegria
A nave quando desceu, desceu no morro
Cheia de ET vestido de Orixá
Vieram pedir socorro
E se deram vez ao morro
Todo o universo vai sambar...



segunda-feira, 28 de julho de 2008

Pedido a um velho amigo


Céu em que tanto brinquei
Em que tanto imaginei formas
Que tanto me apaixonei
Céu que me buscava
Céu que eu aprontava
Que eu me quebrantava
Céu que eu já tive
Céu que me percebia
Que me recebia
Céu que me ouvia
Nas minhas inocentes reclamações pueris
Mas que nunca ficava indiferente.
E quando a noite chegava
Nesse céu brotavam companheiras
Pequenas estrelas de prazer
Que me enlevavam
Que me faziam suas irmãs
Me davam beijos doces e fraternais
E que me punham pra dormir
Soprando o mais carinhoso dos ventos
E nem em sonho elas me deixavam
Elas sabiam dos meus segredos...
As nuvens eram meu alimento
Que me sustentavam na fraqueza
Que me deixavam robusta
Na esperança de ver o céu outra vez
- Pobre Céu, meu amigo
O que foi que fizeram contigo?
Que andas tão triste
Tão cinzento e obscuro
Abra um sorriso e anoiteça com minhas irmãs
Que eu amanheço meu coração.

sexta-feira, 11 de julho de 2008




Dentro

dentro dos seus grandes olhos lagos
dentro dos seus grandes lábios logo
dentro do seu grande peito fogo
dentro de sua grande alma anjo
dentro de seu corpo gente
dentro de mim

dentro de sua boca riso
dentro da cabeça sonho
dentro de seu braço arco
dentro de sua pele febre
dentro de sua vida laço
dentro de mim

dentro em breve
dentro em breve
dentro de mim

dentro do cabelo pente
dentro do tecido saia
dentro do desejo beijo
dentro do quarto crescente
dentro do seu centro entro
dentro de mim

dentro do seu filho parto
dentro da família ente
dentro do umbigo rente
dentro da pessoa sempre
dentro da sua semente
dentro de mim



dentro do possível hoje
dentro do limite urgente
dentro de onde você mora
dentro do calor da hora
dentro de você agora
dentro de mim


dentro em breve
dentro em breve
você precisa

Chico César.




Saudade de postar aqui... passei por uma semana estranha... Que começou com uma muito boa notícia, com crise existêncial no meio e com um fim de semana sem muita perspectiva... Se bem que, não posso tentar prever o futuro, vai que esse fds me surpreende!!!

Pensando agora nessa crise, acabo de me dar conta de que, apesar dos pesares, eu me mantive, com a postura e as crenças debatidas... é estou contente!!!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Tudo que eu fiz até hoje...


Tudo o que eu fiz até hoje foi só rir do sem graça, foi também chorar depois de ter feito uma coisa que não deveria ter feito, foi só ver a efemeridade da vida, foi só andar na direção do que eu acho correto, quebrando a cara sucessivas vezes.

Tudo o que eu fiz até hoje foi só amar, amar mesmo, amor de verdade, amar quem me cerca, amar quem me ama e, às vezes, até quem não me ama também. Tudo o que eu fiz foi só ser poeta, foi olhar pro céu cheio de estrelas e começar a contá-las uma por uma, imaginando que elas fossem bem pequeninas, menores que o dedo que as apontava.

Tudo o que eu fiz foi respirar bem fundo quando sentia um cheiro bom, foi fechar os olhos durante a noite na rua, foi olhar pra lua com muito respeito e imaginar como seria se nós pudéssemos fazer várias viagens interplanetárias por ano, nas férias de Dezembro.

Tudo o que fiz foi olhar o céu extremamente azul da minha cidade e contemplar as nuvens, imaginando formas, vendo ovelhas e outras figuras inimagináveis.

Tudo o que fiz foi fazer das minhas noites insones, as mais agradáveis possíveis, assistindo os filmes que passam, que, aliás, são os melhores, não sei se tenho essa impressão por que é mais emocionante ligar a televisão de madrugada, com o risco de acordar todos os que dormem e ver que só está passando aquilo e que eu tenho que aproveitar de qualquer forma, ou se as pessoas colocam mesmo, de propósito, os melhores filmes de madrugada pra incentivar os telespectadores a ficarem acordados com a TV ligada.

Tudo o que eu fiz até hoje foi sonhar, sonhar com o futuro e sonhar com o passado também, sonhar com os meus anseios, sonhar com amores, sonhar com essa vida.
Tudo o que fiz foi amar a água, sentir que ela consegue me tomar por inteiro, sentir que ela pode me fazer quase voar.

E tudo o que eu fiz até hoje eu quero continuar fazendo até o fim dos meus dias.
Tudo o que eu fiz até hoje foi por diversas vezes, ignorar que eu já tenho quase 18 anos e que garotas dessa idade não brincam de baleada, nem sujam, os seus pés de terra com as crianças menores.

Tudo o que fiz foi tentar não deixar de ser uma eterna criança, uma mulher que o tempo não estragou.

Só quero que, no dia que eu não estiver mais entre nós (daqui a muito, muito tempo mesmo), as pessoas digam: foi feliz quem escreveu isso...

terça-feira, 10 de junho de 2008

Ego / Id / Superego

Estava eu cá no meu canto, pensando sobre esses episódios recentes da LP... Mais precisamente sobre essa questão do Ego... aí eu ouvi essa musiquinha do Roberto, na voz da Zélia ...

Meu Ego
(Roberto Carlos e Erasmo Carlos)


Por favor, meu ego
Não dê força ao prego
Que nos põe contra a parede
Pra nos afogar de sede
Chove chuva na sua boca
E você não bebe
Há palavras, existem letras
Mas você não forma
As frases loucas que cultiva por aí
Fale pelos cotovelos, e pelos joelhos
Me critique sem razão
Se omitir não vale à pena
Mas não polua minha cultura
Não venha dividir comigo sua auto-censura
Me desencontre, não me prostitua
Se não seremos mais uma carcaça em desgraça por aí

Depois disso eu notei que não saberia definir o que era exatamente o EGO, que é que eu fiz? GOOGLE!!!

Saquem só!!!!

Ego é o centro da
consciência inferior, diferente do Eu que é centro superior da consciência. O Ego é a soma total dos pensamentos, idéias, sentimentos, lembranças e percepções sensoriais. É a parte mais superficial do indivíduo, a qual, modificada e tornada consciente, tem por funções a comprovação da realidade e a aceitação, mediante seleção e controle, de parte dos desejos e exigências procedentes dos impulsos que emanam do indivíduo. Obedece ao princípio da realidade, ou seja, à necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer ao id* sem transgredir as exigências do superego

Quando o ego se submete ao id, torna-se imoral e destrutivo; ao se submeter ao superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável; se não se submeter ao mundo, será destruído por ele.

Id: Formado por instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes e regido pelo princípio do prazer, que exige satisfação imediata. É a energia dos instintos e dos desejos em busca da realização desse princípio do prazer. É a libido.

Superego: Representa a censura das
pulsões que a sociedade e a cultura impõem ao id, impedindo-o de satisfazer plenamente os seus instintos e desejos. É a repressão, particularmente, a repressão sexual.

Diga se não é uma coisa complexa pra caramba =D

Bem na verdade eu só queria compartilhar minha breve pesquisa com vocês!!!!!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Cinema: Philippe Barcinski

Vou voltar a falar um pouquinho sobre cinema, porque bateu saudade e não faz mal a ninguém.

Ao contrário do que o nome parece indicar, Philippe Barcinski é brazuca (adoro brazuca), carioca, formado em cinema pela ECA/USP, trintão, casado, pai de dois filhos, e flamenguista (Ok, os dois últimos foram invenções minhas. Pode ser verdade, pode ser que não).

O fato é que atualmente, Barcinski é, pra mim, o nome do curta-metragem nacional. Tive contato com o trabalho dele num festival de curtas que rolou no RJ, onde foi apresentado Palíndromo, filme com excelente montagem e roteiro "redondo".



Depois disso procurei outras coisas na internet e encontrei o Janela Aberta, que gostei ainda mais. Curta intimista, polissêmico, quase claustrofóbico, e com um humor peculiar.




Em 2007 ele se sentiu seguro para dirigir seu primeiro longa, "Não por acaso", assinando o roteiro, e levando alguns prêmios pra casa. Tô baixando o filme agora, e depois que eu assistí-lo atualizo o post.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

EROS E PSIQUÉ

- Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada...
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem....
A Princesa adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera....
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém....
Mas cada um cumpre o Destino
- Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada...
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora...
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

(Fernando Pessoa)

A PORTA ESPELHADA


Engraçado como aquilo aconteceu! Pôxa vida, um casamento causado por uma mania por espelhos!



Vou explicar melhor: Ele fazia um cursinho, já tinha 26 anos e estava se preparando pro seu 12º vestibular, já havia passado em três – de História, Jornalismo e outro de Artes Cênicas – mas parou no meio dos três, acho que não era aquilo que ele estava buscando. Era um cara tranquilão, trancado e só se achava legal, só se achava um cara bonito quando se via em algum espelho.



Já Marcela, era uma típica maranhense, quer dizer, sua fala não tinha sotaque, assistia BBB, bebia Guaraná Jesus, ia todo o final de semana pra praia e odiava os governantes, todos – os atuais, os antigos e até mesmo os que ainda estavam por vir! – se bem que essa descrição que se fez do Maranhense é quase igual a de todos os brasileiros. (Menos a parte do Guaraná Jesus e da fala sem sotaque.) Tinha 23 anos e aquele emprego no Cursinho era o primeiro que arranjara.
Juliano, o cara dos espelhos, passava todos os dias pela secretaria e como a porta era toda espelhada, o rapaz não resistia, era sacanagem demais, golpe baixo aquele espelhão dando mole pra ele daquele jeito.



E o moço ficava sentado no banco paralelo à porta, no outro lado, fazendo cara de sedutor apaixonado, fazendo cara de quem queria conquistar uma pessoa pelo olhar...
Tornou-se um hábito, todas as noites, nos intervalos para a troca de professores, Juliano ia lá pro seu banquinho se admirar e se acontecia de alguém sentar-se ao seu lado, sairia chateado, pois Juliano só respondia com “ahans” e “é mesmos!”


Marcela ficava lá, na sua mesa dando pra porta da secretaria e que no lado de dentro não era espelhada. Doce ilusão, pensou que o rapaz estava tentando conquistá-la; até que nos primeiros dias tentou ignorar aqueles olhares sedutores, ficava no seu computador, digitando alguma planilha, mas de vez em quando dava suas olhadinhas de soslaio...


Do 15º dia em diante, já não conseguia mais ignorar, passou a sentir raiva daquilo. Aquele garoto não tem que fazer não? Ele tinha, ficar lá admirando-a mesmo depois dela ter mostrado a língua, o dedo, feito cara de mau e até puxado uma folha A4 e escrito em letras garrafais: VAI PROCURAR TUA TURMA, SEU CHATO! Mas o moço não ia...


Aquilo foi de uma persistência que a comoveu, procurou saber o nome do rapaz, a idade, se tinha antecedentes criminais, estava melhor que James Bond no quesito serviço secreto, e depois de ter analisado todo o histórico do rapaz, acho que seria uma coisa boa pra se investir, afinal, se ele estava ali num Cursinho, algo de bom na vida ele queria ser!


Mas um dia aconteceu um incidente: outra funcionária que veio de casa estressada não mediu a força que empregou na hora de fechar a porta espelhada e a mesma se quebrou, se partiu em vários pedacinhos, mas não se partiu tanto quanto o coração de Marcela...


No outro dia quando chegou no serviço – o episódio aconteceu depois que ela já tinha ido pra casa, ela só trabalhava meio turno – a porta já havia sido substituída por outra de vidro, só vidro, nada de espelhos e naquele dia também, Juliano passou direto pelo banquinho sem nem dar uma olhadinha pra Marcela.


Pobre coração dos apaixonados, a moça ficou tão atordoada com aquilo, ela poderia ter imaginado várias coisas, mas preferiu imaginar a pior: que ele de repente perdeu o interesse nela, e havia se interessado por outra moça, talvez da sala de aula, quem sabe e descartou Marcela como se fosse uma injeção mal dada na testa.


Ah, mas aquilo foi o fim, a secretária foi para o banheiro e lá derramou duas lágrimas afoitas, foram apenas duas, tão intensas quanto mil, recolocou a maquiagem e voltou com um sorriso mais que forçado. Decidiu que ia tomar uma atitude, não se trata assim o coração de uma mulher, não se ilude e depois se solta uma bomba nele, POMBAS!


Quando Juliano, alheio a tudo, estava sentado na mesa da lanchonete recapitulando alguma coisa da aula, ela veio por trás, passou a mão nos cabelos dele, inclinou a cabeça e deu um beijo – nossa! Mas que beijo! Parecia coisa de novela! - No momento em que descolaram os lábios ela simplesmente marcou sua mão na cara dele! E que força tinha aquela mulher, ficaram as marcas vermelhas no rosto dele e ela disse: Eu precisava desse beijo porque eu te amo, mas eu precisava te dar esse tapa pelo que você fez comigo!


Naquela noite, nenhum dos dois dormiu, ela chorando e cogitando seriamente a possibilidade de largar o emprego, a cidade, o país, tudo! E o pobre coitado na sua cama suspirando e pensando que aquela doida só podia estar confundindo ele com outra pessoa! Só pode! Mas aquele beijo ele não poderia esquecer... Que beijo... Levaria mais três tapas dela só pra mais um daqueles... O bichinho do amor o mordeu também!


No outro dia, ele chamou-a pra pedir explicações, ela falou logo que ele era um cínico, passava dias tentando conquistá-la e de uma hora pra outra a ignorou como se ela fosse algo descartável? Não precisou dizer mais nada, nesse exato momento Juliano compreendeu tudo! Percebeu que Marcela pensava que os olhares eram pra ela, entendeu logo que ela achava que seus olhares fatais de conquistador inveterado eram pra ela. Mas não quis estragar aquilo tudo revelando a verdade, aproveitou a oportunidade para dizer que apenas naquele dia não foi vê-la porque estava preparando algo pra falar, estava ensaiando a sua declaração de amor. Marcela já ia dar outro tapa nele por achar que era tudo mentira deslavada, mas não teve tempo, ele segurou o seu braço e deu outro beijo... Como beijava bem aquele mentiroso...


Ela acreditou (ou fingiu que acreditou) naquilo tudo e eles começaram a namorar. O tempo passou, ele passou no vestibular pra Medicina e ela tinha se tornado a Diretora do Cursinho. Resolveram se casar.


Um dia antes do casamento ele disse que precisava falar uma coisa pra ela! Marcela esperava tudo menos aquilo! Ficou pasma, achou que ele ia dizer que era gay ou que estava a traindo com outra, quando escutou a história do espelho da porta ficou estática e dois minutos depois soltou a melhor de suas gargalhadas, que contrastavam com a cara de choro que Juliano estava fazendo diante da tensão da revelação!


Hoje, são casados; ele é um médico com uma clínica recém-montada e Marcela abriu um Cursinho pra si. Fez questão de colocar um banquinho oposto a uma porta de vidro espelhado e a mesa da secretária de frente pra porta, vai que alguém mais tinha essa sorte?


Mês passado nasceram os dois filhos do casal, gêmeos, mas como eles preferem dizer: espelhados!

domingo, 1 de junho de 2008

LENDO E APRENDENDO ALGUMA COISA

"... Pois o que você ouve e vê depende do lugar em que se coloca, como depende também de quem você é."

« C.S. Lewis »
Estou lendo as Crônicas de Nárnia agora, sei que pode ser uma literatura mais infantil, mas não deixa de me encantar e de me surpreender...
Mais uma vez eu digo que queria ter um talento assim, de inventar histórias malucas, que passassem de apenas uma página...
Imitando a Chefa Ágatha, o primeiro que for ao meu scrapbook e disser: "Si eu pudesse eu matarra mil queu sô caba homi!" vai ganhar um maravilhoso prêmio!

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Tristes tópicos

Pegando carona com o Lévi-Strauss, tristes tópicos são aqueles que, desconhecendo seu caráter de falta de matéria etérea (com o perdão da aliteração), se levam a sério.

Em um salto descontínuo, amanhã vejo se sai algo que preste.


Boa noite, meus prezados -3 leitores! :)

sábado, 24 de maio de 2008

NA VOLTA PRA CASA - CRÔNICA

A menina vinha feliz, estava escutando música, aquela música que a pessoa carrega na alma, que não sabe explicar de onde vem, mas sabe que ela está alí fazendo-lhe companhia. Começou a cantar, sua voz era suave, não chegava a ser uma voz doce, mas era bem agradável de se ouvir.
Ela não se deu conta que estava no meio da avenida em pleno meio-dia, seu estado de espírito era tão feliz que ela estava absolutamente só no mundo. Não abriu os olhos, não olhou em volta, não foi reparar se não havia alguém vendo, simplesmente deu vontade de dançar e ela dançou, também não era uma ótima bailarina, mas era agradável ver seu corpo se mexendo como se não tivesse ossos.
Não! Ela não foi atropelada e morreu, como você pensou que fosse o final dessa história, no momento que ela começou a dançar todos os carros pararam pra ver o que era aquilo. Pensaram que a moça estava louca, onde já se viu ficar daquele jeito em plena avenida movimentada...
Ela dançou e dançou e dançou e cantou e até gritou! Quando ela abriu os olhos e viu que todos estavam contemplando-a, deu uma gargalhada e foi pra calçada como se nada tivesse acontecido. Todos ficaram pasmos com aquilo, estava louca mesmo aquela menina... que mundo! Que mundo! Uma garota tão bonita...
Ela seguiu seu rumo com um sorriso no canto dos lábios, eles nunca saberiam que ela voltava de uma noite de amor...

quinta-feira, 22 de maio de 2008






Soneto do desmantelo azul



Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas,

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.






Eu consigo lembrar do exato dia, do momento em que li esse soneto pela primeira vez... O ano era 1999 e eu estava no ônibus Rio Doce/CDU indo para a escola...

Era a celebração do Dia da Poesia, então dá pra saber que era março... estava em um cartaz colado no busão... A viagem era longa e o li diversas vezes e a cada vez que eu ia ficando mais encantada...

Ainda lembro que esse trecho foi o que eu mais gostei...

“E afogados em nós, nem nos lembramos que no excesso que havia em nosso espaço pudesse haver de azul também cansaço”.

Isso eu não sei porque, tinha então 14 nos...Faltava um mês pra eu dar o meu primeiro beijo...Faltavam dois anos pra eu conhecer o meu primeiro amor... Faltava muita vida ainda...

Bem...tudo isso pra dizer que Carlos Pena Filho foi o meu primeiro poeta... E muito feliz eu sou por ele ser pernambucano ( adoro puxar a sardinha pro meu lado ) , triste por ele ter morrido tão jovem... Os bons morrem antes, afinal.

E eu nem tava pensando em fazer um flashback... Que coisa!!!!

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Literatura: mini-conto-feliz

"Se você for, não precisa nem voltar".
Nunca mais a vi desde então.

Quando a porta do carro bateu e ela engatou a primeira sumindo repentinamente da minha vida, percebi que tudo não passava de uma mentira minha. Eu a queria de volta. Meu desejo era que ela retornasse - após constatar que não saberia viver sem mim-, me pedisse perdão, assumisse seus erros e implorasse para voltar. Não lembro quanto tempo esperei para que isso acontecesse, mas a espera foi em vão.

Dias e noites se passaram desde então. Filmes, livros, amigos e o silêncio foram as melhores companhias que pude encontrar durante o tempo da pós-espera. Já não havia a sensação de aguardar por algo que eu não sabia se aconteceria. Não me encontrava mais na cilada que eu mesma havia me colocado.

Acordei cedo naquela manhã de domingo. Dormindo ao meu lado estava uma amiga daquelas a quem recorremos num sábado à noite sem opção. Levantamos da cama e nos arrumamos para tomar café da manhã em uma das esquinas do Leblon. Enquanto pisávamos sobre os mosaicos de pedras portuguesas, olhávamos arrebatadas para cima, observando que o outono nos presenteava elegantemente com um distinto céu azul.

Minha amante de ocasião parecia feliz com a minha presença. Sorríamos entre sucos e pães, e conversávamos sobre as delícias fúteis lidas no Caderno de Cultura que compramos na banca de jornais ao lado da padaria.

Ao esperar pela conta, notei, do outro da calçada, a presença de uma figura conhecida. Ela estava acompanhada, e um ar alegre permeava o casal. Acendi um cigarro e deixei meu corpo ser tragado pela beleza daquele céu de outono. Fechei os olhos e me demorei percebendo os sons da manhã de domingo. A risada da minha amiga de desjejum era agradável aos meus ouvidos.



Havia 3 meses desde que eu disse que ela não precisava voltar, e hoje percebo que realmente não precisava.



©

terça-feira, 20 de maio de 2008

Musica: Novamente - Ney Matogrosso

Me disse vai embora, eu não fui
Você não dá valor ao que possui
Enquanto sofre, o coração intui
Que ao mesmo tempo que magoa o tempo
O tempo flui

E assim o sangue corre em cada veia
O vento brinca com os grãos de areia
Poetas cortejando a branca luz
E ao mesmo tempo que machuca o tempo me passeia

Quem sabe o que se dá em mim?
Quem sabe o que será de nós?
O tempo que antecipa o fim
Também desata os nós

Quem sabe soletrar adeus
Sem lágrimas, nenhuma dor
Os pássaros atrás do sol
As dunas de poeira

O céu de anil no pólo sul
Há dinamite no paiol
Não há limite no anormal
É que nem sempre o amor
É tão azul

A música preenche sua falta
Motivo dessa solidão sem fim
Se alinham pontos negros de nós dois
E arriscam uma fuga contra o tempo
O tempo salta



"Inclassificáveis, novo show de Ney Matogrosso, em temporada que termina hoje no Canecão e estreou na quinta-feira para 1.800 pessoas, põe o cantor em vantagem diante de outros artistas brasileiros, sobretudo pela sua conceituação. É ela que o deixa além de muitos trabalhos recentes da MPB e, em especial, do pop-rock nacional. A partir da música-título do show, feita por Arnaldo Antunes (um maracatu com versos como "Que preto/que branco/que índio o quê!/somos todos inclassificáveis") e da própria sensação que evoca na platéia, fica claro que o lema de Ney é a sua liberdade pessoal. Esta se estende para as letras que grava, para a produção de seus shows e para o passeio rítmico que, comandado por ele, vai do samba à música grega em minutos." Por Ricardo Schott - JB Online.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Literatura: Conto - A Ruptura

E foi assim que ela me deixou. Foi embora sem olhar para trás, mas antes teve o cuidado de inventar mentiras para não me magoar. Ela desconhece ter sido isso o que mais me feriu, a constatação de que ela tem pena de mim, tem pena por não me amar mais, tem pena por ter escolhido deixar num futuro paralelo, inexistente - o limbo dos mal amados -, os sonhos que sonhamos juntas, estancando o sangue que corria em minhas veias, alimentava meu coração, e me fazia viver. Ao optar por me abandonar, abandonou também as noites em claro, o álcool escorrendo pelo corpo, a saliva descendo na garganta, o gosto do sexo excitado, os gemidos, os odores, os fluidos, as trocas incessantes de prazer.

Ao me suprimir de sua vida, ela se privou de provar da minha ilusão de amor maior, deixando em branco os papéis onde eu escreveria cartas confessionais a ela. Dessa forma vil ela agiu, olhou nos meus olhos sem demorar o olhar, e com total falta de misericórdia, executando um tiro certeiro, proclamou o lúgubre decreto, esvaindo meu peito de amor em estado bruto. Ela abaixou suas órbitas de íris negras e pupilas dilatadas, ensaiou um falso choro, e por pouco não derramou algo que se assemelhava a uma lágrima. Girou em torno de seu próprio eixo, me presenteando com a visão de seus cabelos, suas costas, e daquele corpo que eu conhecia tanto. Sem hesitar ela deu dois passos firmes para fora da minha vida, batendo a porta com uma força que eu desconhecia. O estampido ecoou retumbante em minha caixa craniana, estourando meus sentidos, oferecendo a certeza de que, naquele momento, eu morria cravejada por suas palavras condolentes, que dilaceravam meus ouvidos.


Antes de me resignar ao meu fado, pensei na renúncia daquela mulher a um futuro feliz, cheio de sorrisos, poesia, prazer, sexo, sons, um futuro que transbordava de cores e amores, optando por me deixar em companhia das dores. Assim ela extirpou do meu corpo toda esperança de felicidade que passeava liqüefeita dentro de mim. Arrancou com a brutalidade de um bárbaro a quimera de amor pra toda a vida que eu guardava em meus desejos.

Agora eu era só, sem ela pra eu me admirar. Foi dessa maneira que eu descobri só ser alguém quando ao lado dela. E desta forma ela me deixou só, sem mim. E sendo assim, neste estado de privação da própria identidade, e na maior das solidões - aquela onde sentimos a ausência de nós mesmos, descobri que eu ainda morreria de amor e renasceria por ele inúmeras vezes.

©


-------------------------------------------

Este conto serviu de argumento para o roteiro do curta-metragem "A Ruptura", parte da trilogia "Tempos de Amor". Em breve nas telas grandes, médias e pequenas.


domingo, 18 de maio de 2008

Cinema: Pangea Day

Para os que não conhecem, Pangea Day é um evento global que se propõe à união mundial através do recurso audiovisual. A proposta é que, por trás das linhas fronteiriças que muitas vezes não nos permite enxergar as semelhanças que possuímos com indivíduos de outros países, só nos põe frente às diferenças culturais existentes.

Os trabalhos apresentados foram escolhidos entre os mais de 2.500 filmes enviados à organização do evento. Foram mais de 100 países participantes, cujos videos foram gravados, inclusive, por telefones celulares - o que possibilitou o baixo custo de produção, ampliando o número de pessoas que aderiram ao projeto.



Os filmes do Pangea Day tornam-se, dessa forma, um meio de nos aproximar dos nossos semelhantes, respeitando as diferenças, e identificando as similitudes existentes entre o modo mundial de viver, pensar e sentir. A proposta é humanizar o diferente.



Apresentação do Projeto





-----------------------------------------------------------------------
SAIBA MAIS

Para maiores detalhes sobre o evento, basta clicar aqui.
A relação dos filmes você encontra aqui.

sábado, 17 de maio de 2008

Literatura: O Despertar

Era só pousar o olhar sobre ela, que eu entrava no palco iluminado da existência. Um sorriso brotava nos lábios, e naqueles olhos que se espremiam para exprimirem o tanto de bem-querer que ela guardava por mim. Ao vê-la caminhar em minha direção, meu corpo enchia-se de desejo, e eu era entorpecida pela idéia de possuí-la. Eu a via como sendo completamente minha, em toda sua extensão, em todas as suas vontades, em todos os seus pensamentos, em toda sua libido, em todas as células e pequenas partículas que compunham aquele organismo. Eu aspirava que ela respirasse por mim e para mim, e pensava assim: "Eu aspiro que ela me respire".

Naquele corpo eu redescobria o sexo a cada movimento executado. Era uma languidez que me enfeitiçava, despertando a volúpia eventualmente adormecida em mim. A sensualidade ao se abrir e me chamar, os olhos transbordando de desejo, o sexo me convocando para dentro a cada latejar. Eu só precisava lançar um olhar cheio de apetite, para que aquela mulher começasse a arfar. Era uma respiração ofegante, em descompasso com o batimento acelerado do sangue em suas artérias. E nos fundíamos assim, cheias de paixão.

E era amor o que havia. A luz que clareava nossos caminhos era luz de amor, o cheiro dos ambientes pelos quais passávamos era cheiro de amor, os sons que ouvíamos mesmo no silêncio acolhedor eram sons de amor. Aquele gosto que sentíamos ao provar nossos corpos, e os alimentos deles derivados, era o gosto do amor. E ele era tangível, nós o tocávamos e éramos por ele tocadas. Amor que toca. A vontade era fundir aquele corpo no meu, ser um só. Dois indivíduos transfigurando-se em coisa una. Aquilo era soma, mas da soma surgiam novas substâncias, e éramos então transformadas em um novo objeto. Novidade. Um elemento satisfazendo o outro, em uma troca mútua de prazer, cuja meta era a unidade. Havia o meu olhar sobre ela, e aquele olhar sobre mim. E queríamos que permanecesse assim, sendo uma, mas descontinuamente apresentada em duas. Ela me ama, eu a amo.

Fazíamos planos como quem bebe água quando tem sede. Éramos arquitetas de uma vida dual. Nós nos bastávamos, como ao céu bastam as nuvens, como à fome basta o alimento. Tínhamos pressa em sonhar juntas a nossa odisséia, a aventura que iríamos viver até nosso último suspiro. Ao morrer, eu permaneceria viva dentro dela, ao morrer, ela permaneceria viva dentro de mim. Viveríamos mais, pois viveríamos juntas.

O que me impressionava era que meus sentidos estavam trocados. Eu era feita de multi-sentidos. Meus olhos acariciavam aquele corpo no lugar das minhas mãos, deslizando na pele morena daquela mulher que um dia chamei de amor. Meu olhar a despia de suas parcas roupas, que, pouco a pouco, iam colorindo o chão do quarto alumiado. Era o olhar como tato - o contato. Meus ouvidos a viam se aproximar, e, sua voz, aquela voz que soava como perfeita melodia, era acompanhada por um cheiro afável que invadia meus pulmões, fazendo com que eu exalasse contentamento. O cheiro de mulher que ela carregava, impregnava meus ouvidos com a certeza de que era ela que, um dia, me faria sofrer.

Era uma felicidade transitória, eu sabia. No entanto não havia em mim nenhuma vontade de me privar daquela efemeridade enferma chamada amor.

©


---------------------------------------
Texto-argumento do curta "O Despertar", parte integrante da trilogia Tempos de Amor.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Literatura: Caminhando em sentidos opostos

Levantou-se às 04:15 da manhã, vestiu seu uniforme laranja e pôs-se a caminhar até a estação de trem. Foram 30 minutos que poderiam ser transformados em 5, caso tivesse dinheiro para o ônibus. A barriga vazia entoava um lamento reclamando por comida, enquanto entrava no vagão acompanhado da esperança de que um dia tudo iria mudar. Sem encontrar lugar para sentar, dormiu em pé o sono atrasado de um corpo cansado de suas jornadas diárias. Os desejos que povoavam suas imagens oníricas eram sempre travestidos em histórias de um homem bem sucedido que, fora de seus sonhos, esqueceu de bem suceder.

Uma hora e meia após iniciar o calvário sobre trilhos, ao ser acordado pelo sacolejo violento do comboio chegando à sua estação, foi brutalmente jogado na vida real. O trem vomitava milhares de humildes sub-empregados no Centro da Cidade, e José era um deles. Chocado ao olhar para o relógio na nave central da estação ferroviária, percebeu-se atrasado e partiu como um torpedo para vencer sua maratona diária. Em alguns momentos, via-se disputando passo a passo com seus pares uma corrida sem vencedores. Não há troféu na chegada.

Sem tomar conhecimento de sua existência, o ônibus partiu deixando-o para trás. Passaram-se 15 minutos até José tomar outra condução e finalmente achar-se no último trecho de seu destino final.

João foi acordado por sua mulher, uma morena de carne apetitosa e pele bronzeada por um sol que parecia nascer apenas para ela. Diariamente ela cumpria sua rotina de exercícios físicos, o que explicava suas formas exuberantes e bem construídas. Beijaram-se antes que ela vestisse sua malha cinza e branca, enquanto ele a admirava com ares de desejo por algo que já era dele.

Levantou-se, fez sua higiene rotineira, apoderou-se do jornal, e fez seu desjejum preguiçoso à base de frutas, leite, café, pães e frios. Ligou a TV sem pressa para assistir as novidades de ontem e, ao final do noticiário, vestiu terno, gravata, pegou seu paletó, a maleta, e saiu. Seu carro já o esperava, trazido por um porteiro conhecedor de seus hábitos e orgulhoso por sua competência.

Deixou seu prédio rangendo os pneus, montado em uma pressa desconhecida nos 5 minutos precedentes. Parado no sinal vermelho, e sobre as listras brancas, desnudou um drops, pôs em sua boca fluorescente pelos dentes bem tratados, e abriu o vidro para cumprir, indiferente, seu ritual de jogar o papel para fora do veículo. José, de vassoura na mão, asssitiu à cena e, empunhando sua ferramenta de trabalho com altivez, dirigiu-se ao local do crime. Acostumado por limpar dejetos de terceiros, se apossando deles em determinados casos, extinguiu com um só golpe a sujeira deixada em via pública.


O trem de pouso se recolheu, e João estava em altitude de cruzeiro, voando até sua reunião. Novamente um suco, um sanduíche, e mais papéis jogados em sua lixeira de ocasião.

José escavava seus bolsos laranja em busca de moedas que, somadas, talvez possibilitassem um cafezinho no bar da esquina. Após uma reunião produtiva, que multiplicou em dois o saldo bancário de João, o almoço foi por sua conta. Paletós vestiam as cadeiras enquanto conversas sobre stock market, carros alemães, torneios de tênis, e sobras no prato, ocupavam o restaurante.

A televisão do pé sujo onde José era cliente preferencial alertava, mal sintonizada, que o Flamengo está na final. Ele e seus amigos exalavam felicidade em seus sorrisos de poucos dentes. O falatório eufórico tomou conta do ambiente enquanto Zico, Júnior, Adílio e Nunes tabelavam magistralmente até o gol.

João se aproximava de sua casa a 800 km/h. Queria seu carro, sua mulher, sua cama. Queria seus amigos para comemorar mais um feito em sua brilhante carreira de vendedor de dinheiro. Ao pagar o estacionamento, deixou uma soma considerável de moedas para a moça bonita, mas mal cuidada, que trabalhava no guichê. Era a conta certa para a condução até sua casa, em algum bairro distante, cujo nome João desconhecia.

Dobrou a esquina da rua onde morava, abrindo eletricamente a janela de seu importado enquanto José sonhava acordado, imaginando-se ao volante daquele carro que nunca seria dele. "Sai da frente, porra!". O brado de João despertou José de seu transe, fazendo com que, em um pulo, ele saísse da entrada da garagem daquele prédio imponente da Garcia D'Avila. Olhou seu relógio, que só marcava os minutos, e se deu conta que ainda faltavam vários deles para que ele pudesse passar seu turno e voltar pra casa.

Era uma das raras noites frias do inverno carioca, e José notou que, quanto mais ele varria, mais imundas ficavam as valorosas ruas de Ipanema.

©


-----------------------------------------

SOBRE O TEMA:
Leitura recomendada: O Processo, Franz Kafka
Som recomendado: Construção, Chico Buarque
Medicamento recomendado: Resignação gotas


Tela: Narciso, Caravaggio

quarta-feira, 14 de maio de 2008


Ainda que mal


Ainda que mal pergunte,

ainda que mal respondas;

ainda que mal te entendas,

ainda que mal repitas;

ainda que mal insista,

ainda que mal desculpes;

ainda que mal me exprima,

ainda que mal me julgues;

ainda que mal me mostre,

ainda que mal me vejas;

ainda que mal te encare,

ainda que mal te furtes;

ainda que mal te siga,

ainda que mal te voltes;

ainda que mal te ame,

ainda que mal o saibas;

ainda que mal te agarre,

ainda que mal te mates;

ainda, assim, pergunto:

me amas?

E me queimando em teu seio, me salvo e me dano...

... de amor.


* * * Drummond * * *
Porque eu morro de saudades dele...

segunda-feira, 5 de maio de 2008




ELA

Na cama não se fala de filosofia.Peguei na mão dela, coloquei sobre meu coração, disse, meu coração é seu, depois pus sua mão sobre minha cabeça e disse, meus pensamentos são seus, moléculas do meu corpo estão impregnadas com moléculas do seu. Depois botei a mão dela no meu pau, que estava duro, disse, é seu esse pau.
Ela nada disse, me chupou, depois chupei sua boceta, ela veio por cima, fodemos, ela ficou de joelhos, rosto no travesseiro, penetrei por trás, fodemos.Fiquei deitado e ela de costas para mim sentou-se sobre o meu púbis, enfiou meu pau na boceta. Eu via meu pau entrando e saindo, via o cu rosado dela, que depois lambi. Fodemos, fodemos, fodemos. Gozei como um animal agonizando.
Ela disse, te amo, vamos viver juntos.Perguntei, não está tão bom assim? Cada um no seu canto, nos encontramos para ir ao cinema, passear no Jardim Botânico, comer salada com salmão, ler poesia um para o outro, ver filmes, foder. Acordar todo dia, todo dia, todo dia juntos na mesma cama é mortal.
Ela respondeu que Nietzsche disse que a mesma palavra amor significa duas coisas diferentes para o homem e para a mulher.Para a mulher, amor exprime renúncia, dádiva. Já o homem quer possuir a mulher, tomá-la, a fim de se enriquecer e reforçar seu poder de existir.Respondi que Nietzsche era um maluco.Mas aquela conversa foi o início do fim.

Na cama não se fala de filosofia.


Rubem Fonseca, "Ela e outras mulheres”, Editoras Companhia das Letras, 174 páginas.



Tem umas coisas dele que eu, pessoa sensível que sou, não posso ler. Por exemplo, Secreções, Excreções e Desatinos, só consegui ler alguns e com muito custo...

Mas a história de ELAS foi assim... A capa do livro é verde limão e peguei pra dar uma olhada...abri o livro aleatoriamente e caiu em ELA... na hora lembrei da Chay...

Eu já tinha lido um livro dele, há muito tempo, quando ainda era muito jovem... Por não ter idade suficiente, não alcancei o livro, ou ainda, ele não me alcançou... O livro era o “ Vastas emoções e pensamentos imperfeitos”, como eu roubei esse livro ele está lá em casa aguardando o momento de ser relido... Afinal eu tinha 15 anos quando li, faz um tempinho...