quinta-feira, 22 de maio de 2008






Soneto do desmantelo azul



Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas,

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.






Eu consigo lembrar do exato dia, do momento em que li esse soneto pela primeira vez... O ano era 1999 e eu estava no ônibus Rio Doce/CDU indo para a escola...

Era a celebração do Dia da Poesia, então dá pra saber que era março... estava em um cartaz colado no busão... A viagem era longa e o li diversas vezes e a cada vez que eu ia ficando mais encantada...

Ainda lembro que esse trecho foi o que eu mais gostei...

“E afogados em nós, nem nos lembramos que no excesso que havia em nosso espaço pudesse haver de azul também cansaço”.

Isso eu não sei porque, tinha então 14 nos...Faltava um mês pra eu dar o meu primeiro beijo...Faltavam dois anos pra eu conhecer o meu primeiro amor... Faltava muita vida ainda...

Bem...tudo isso pra dizer que Carlos Pena Filho foi o meu primeiro poeta... E muito feliz eu sou por ele ser pernambucano ( adoro puxar a sardinha pro meu lado ) , triste por ele ter morrido tão jovem... Os bons morrem antes, afinal.

E eu nem tava pensando em fazer um flashback... Que coisa!!!!

3 comentários:

Agatha disse...

Hoje está tudo bem azul aqui também...

JuDolores disse...

Aqui o céu está lindamente azul... combinando com o meu humor =)


E olha que eu saí de manhã debaixo do maior toró..ainda bem que se foi a nuvem que perseguia minha semana...

=D

J G Nascimento disse...

Hoje li no jornal só palavras Flor Azul, foi assim que tempos atraz fui apresentado a este poema no Beco, "Casa de Manoel bandeira" numa lembrança do poeta que pelas vielas do Recife vaga em poesia.