Eu acho que só publico aqui quando o sentimento é maior do que qualquer outra coisa. Quando eu sufoco, finalmente. Acredito que esse espaço ainda é livre, é meu, é pouco, é pequeno e sucinto pro que eu quero, sem dar margem pra gentes estranhas. Revelo, sem escancarar demais. E aí, confio.
Acabo de ler uma pequena declaração de um amigo que está passando por uma situação que eu não desejaria nem pros meus maiores inimigos: sua filha está numa situação de saúde delicada. Ele largou tudo na cidade em que mora e foi pra perto da filha, como qualquer ser humano decente no mundo faria.
Há pouco, postou uma foto dela numa dessas poses bonitas e infantis, com um breve texto sobre a sua falta de crença na espiritualidade, da ausência de fé, tão incentivada em momentos como esse. Tão arduamente defendida em situações extremas, onde o desespero é sedutor.
Acho que apagou a mensagem. Escrever é se expôr, bem sei. Antes, escrevi uma mensagem, que sequer sei se chegou a ver. De qualquer forma, aquilo me queimou os olhos.
É óbvio pra todo mundo que se cerca de mim que há um desejo pulsante, latente de ser mãe. De cuidar e amar de alguém. Já questionei minhas certezas, já me perguntei se não seria uma compulsoriedade da qual eu me apropriei há tempos e que quero ver efetivada. Mas, de verdade, existem coisas que me fazem pensar algumas vezes antes de concretizar o projeto.
A primeira é o mundo.
Não que já tivesse sido fácil pra ninguém, em qualquer tempo. Não que eu ache que o mundo antes era a grande quimera em que o tudo era maravilhoso e perfeito e que o mal não estava à solta, só porque a infância era brincada da porta da rua pra fora. Não. Mas o mundo me assusta.
Talvez sejam as maldades mais escancaradas do momento, em que eu estou aqui testemunhando tudo de olhos abertos. Talvez seja o furor do contra-ataque, veloz, furioso, calando vozes e derretendo mentes.
A segunda é a vida.
Muito se fala da ordem natural das coisas. De que os velhos amargam o dissabor do fim da existência primeiro e que os jovens aguardam a finitude pra quando for a sua vez de serem velhos. A questão é que à vida - essa que desrespeita todos os nãos -, não lhe interessa quem é velho ou novo. Coloca novos e velhos no mesmo balaio de sujeições daquilo que um ser humano é capaz de viver, para o bem ou para o mal.
E aí vemos que a justiça está na sorte, no puro acaso. Eu que, tal qual o amigo com a filha enferma, abdiquei das explicações do destino, tenho medo de um filho que eu tenho certeza de que vou amar mais que a mim mesma, seja o sujeito da vez das sujeitudes da vida.
Nada disso vai me impedir, eu sei. Só situações extremas me impediriam de verdade.
Cética, tento até rezar algumas palavras sobre a criança enferma. Nada sai. Mas dentro está o desejo profundo de que se recupere e siga a sua vida de criança em frente, linda, plena e feliz, como é reservado às crianças desse mundo.
E que seus pais acalmem o coração de toda a angústia da luta que só um amor invencível como esse pode lutar.
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