Um amigo me pediu algo que foi, por alguns minutos, impossível: queria que eu descrevesse o mundo de coisas que eu vi e vivi em um mês numa viagem de loucos, em uma frase. Depois de muito labutar internamente, escrevi pra ele a que mais me pareceu óbvia: "Tudo é dramático".
Depois das discussões pra saber se o que se tinha vivido era mesmo drama ou se era humor, segundo os padrões hollywoodianos, ficou decidido que era uma espécie de novela das 7. Aquelas que sempre têm um título engraçadinho e os problemas são totalmente resolvíveis. Foi assim mesmo. Mas talvez, o que eu quis dizer quando disse o que disse, foi que todo esse mundo foi uma miríade emocional pra mim. Um drama, não tanto por qualquer classificação de gênero, mas pelas respostas que o coração dava a quaisquer das situações vividas.
Numa viagem à Barrinha Encantada, ainda no ano passado, eu e o meu bem resolvemos que as nossas primeiras férias juntos seriam com uma viagem e seria para a Colômbia. Ele ainda não a conhecia e já era tempo do meu retorno. Afinal, a vida pra lá não parou depois que eu voltei. Eu tinha um sobrinho pra conhecer, lugares novos pra ir e memórias a relembrar. A saudade já apertava meu coração há muito tempo. Era um regresso necessário, antes de qualquer coisa. Era um mundo meu que eu precisava abraçar novamente.
O que mais eu pensei durante essa viagem foi sobre memórias. A criação delas. Qual seria o critério que meu cérebro escolheria pra definir o que seria ou não considerado relevante naquele mar de coisas incríveis? Quais seriam os momentos em que eu faria questão de registrar por palavras? O que seria o mais incrível de todas as coisas boas que eu teria por viver?
- Essa viagem já nasceu velha. A gente vai lembrar dessa viagem pra sempre! - sentenciei pra ele, enquanto coletávamos mais um inacreditável pôr do sol no mais afastado Caribe colombiano, na ilha de San Andrés.
- Mas, amor, mas a gente ainda vai viajar muito. - Ele me respondeu.
- Mas nenhuma vai ser a primeira.
As memórias vêm e vão a todo momento. Não dá pra esquecer do dia em que nadamos nus numa praia deserta do Alagoas, logo depois do amor. Não dá pra esquecer a felicidade com que fui recebida pela minha família colombiana. Não dá pra esquecer as risadas que demos, as pessoas que conhecemos, os amigos instantâneos, a hospitalidade, o assalto, o celular esquecido, a gaveta desparafusada, as longas caminhadas, a falta de ar na altitude, o frio, as moedas contadas, os abraços, as conversas. Não dá pra esquecer daquele tanto de amor transbordante, mais que os arroios que se formam na época das chuvas nas ruas de Barranquilla. Não dá pra esquecer a sensação de que, apesar de tudo, não era como se fosse uma viagem, apesar dos oito voos que nos tornaram peritos em arrumação de bagagens. Eu estava apenas voltando pra casa, pra lugares que eram meus. E os são, de verdade. Eu os tomei pra mim.
Há mais, é claro que há ainda muito mais. Lembranças e pensamentos que nem cabem aqui. Milhares de textos escritos apenas no meu pensamento e que nunca conhecerão a luz do dia. A felicidade não se comporta, afinal de contas.
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