quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Para a Jamila que já quase não escreve

Jamila que já quase não escreve, você precisa se atualizar de algumas coisinhas que se passaram na sua vida. Segue abaixo:

Foi muito o que de vida que te passou nesses últimos tempos.

Entre polêmicas, choros, melhoras, confusões e iras, também o acúmulo das doses de saudades diárias se manifestou. O amor, como sempre, claro, esteve rente. O amor sempre esteve em socorro. E já não falo tão somente do teu amor-pessoa. Falo dos amores-amigos, dos amores-família, do amor-próprio.

Você chorou novamente e de maneira volumosa a morte da sua avó. Era aniversário de 86 anos dela e, de fato, mal dá pra acreditar que se fizeram dois anos depois daquela festa em que você pegou o último ônibus pra Bacabal, com a última grana que tinha, e correu às dez e meia da noite pra festa com a roupa do corpo (regata, calça jeans e havaianas) pra fazer a velha dar um grito de alegria ao te ver, antes do abraço apertado e cheiroso que ela tinha.

Você foi na Barrinha com o seu amor (aí agora já é a pessoa), com a sua amiga-irmã, com o amor que ela também tem, com os amigos que você fez recentemente. Sua amiga lhe disse que você ainda acredita em algo, mesmo que não acredite que acredite. Quando tu falou das primeiras vezes que foi lá e sentiu o vento te abraçando com a Lulu, a amiga disse que foi mesmo. Ela, de fato, acredita nessas coisas. Você já não sabe. Outro amigo disse que você era cigana ou cabocla, já não lembro o nome. Outro, disse que é filha de santo, mas que não saberia dizer de qual. Todos parecem ver uma espiritualidade em você. Talvez isto ainda não tenha morrido de todo, como você apregoa.

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Muito mais aconteceu e você pode lembrar. O emprego mudou, algumas relações profissionais, não. Isso te gerou uma angústia sem fim e um processo de adoecimento enorme. O novo te assusta, é claro. E isso te faz se perguntar até onde está disposta a ir. Lembre-se: as decisões continuam sendo suas e de sua inteira responsabilidade. Não deixe que ninguém mais as tome por você.

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Você emagreceu 4 kg. Isso não é considerado bom pra você. Quando alguém comentou que queria essa "doença" pra emagrecer também, você quis dar um soco na pessoa. Você quis dar um soco em muita gente.

Por falar nisso, a ira te consumiu muitas vezes. Você nunca mais tinha chorado de ódio, como ontem, por exemplo, quando o escroto do vizinho da rua de trás deixou o alarme da cerca ligado das 15h até um horário indefinido, que você não soube, porque foi fazer yoga, depois de já ter chorado de ódio e inclusive ligado pra Delegacia do Silêncio.

Tente, Jamila. Tente não deixar a ira te sucumbir. Tente não dar vez ao orgulho. Tente se acalmar quando as coisas não saírem como planejado, quando alguém te decepcionar ou irritar, quando o mal acontecer, quando alguma frustração quiser se alastrar na sua alma. Não deixe. O mundo já é cruel demais pra que você deixe o ódio tomar o seu corpo, como já tomou, e te fazer ter sonhos difíceis. Aceite a humanidade que não está latente. Ela está presente em todo o seu ser, mas não ache as coisas ruins que estão presentes em você, naturais demais. Não se ache com tanto direito assim. Diminua esse ego. Preste mais atenção pra não ultrapassar fronteiras que não poderão ser costuradas nunca mais, como você já fez.

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Tente ferir menos seus dedos. Leia e escreva mais. Abrace aquele homem e continue dando a ele todo esse amor que você sente, com todos os beijos que você pode e quer. Dessa vez, você pode e quer.













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