quarta-feira, 21 de maio de 2008

Literatura: mini-conto-feliz

"Se você for, não precisa nem voltar".
Nunca mais a vi desde então.

Quando a porta do carro bateu e ela engatou a primeira sumindo repentinamente da minha vida, percebi que tudo não passava de uma mentira minha. Eu a queria de volta. Meu desejo era que ela retornasse - após constatar que não saberia viver sem mim-, me pedisse perdão, assumisse seus erros e implorasse para voltar. Não lembro quanto tempo esperei para que isso acontecesse, mas a espera foi em vão.

Dias e noites se passaram desde então. Filmes, livros, amigos e o silêncio foram as melhores companhias que pude encontrar durante o tempo da pós-espera. Já não havia a sensação de aguardar por algo que eu não sabia se aconteceria. Não me encontrava mais na cilada que eu mesma havia me colocado.

Acordei cedo naquela manhã de domingo. Dormindo ao meu lado estava uma amiga daquelas a quem recorremos num sábado à noite sem opção. Levantamos da cama e nos arrumamos para tomar café da manhã em uma das esquinas do Leblon. Enquanto pisávamos sobre os mosaicos de pedras portuguesas, olhávamos arrebatadas para cima, observando que o outono nos presenteava elegantemente com um distinto céu azul.

Minha amante de ocasião parecia feliz com a minha presença. Sorríamos entre sucos e pães, e conversávamos sobre as delícias fúteis lidas no Caderno de Cultura que compramos na banca de jornais ao lado da padaria.

Ao esperar pela conta, notei, do outro da calçada, a presença de uma figura conhecida. Ela estava acompanhada, e um ar alegre permeava o casal. Acendi um cigarro e deixei meu corpo ser tragado pela beleza daquele céu de outono. Fechei os olhos e me demorei percebendo os sons da manhã de domingo. A risada da minha amiga de desjejum era agradável aos meus ouvidos.



Havia 3 meses desde que eu disse que ela não precisava voltar, e hoje percebo que realmente não precisava.



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2 comentários:

JuDolores disse...

Ai que bom... um mini conto feliz =)

Se bem que, em todos os outros, eu percebo a esperança...a continuidade... um sofrimento válido apenas para concluir uma fase e iniciar outra...


E hoje eu estou feliz... sem nenhum motivo aparente...eu acho...

C. (J.) disse...

É tão bom quando isso acontece Dolores...
aaaaiiii!!!