segunda-feira, 7 de abril de 2008

Cartas ao escafandrista I

Prezado escafandrista,

Sim, um dia fomos minhocas. Vivemos décadas sob a terra nos amontoando. Possuíamos um ritmo frenético pois fomos informados por uma força do além que precisávamos produzir (e nós, talvez ingenuamente, acreditamos). Diariamente milhões de nós transitávamos por debaixo de calor, concreto, barulho e pernas, como que, pisoteados, fôssemos levados do trabalho para casa e de casa ao trabalho. Trabalhamos muito, sem saber exatamente o motivo de tanto labor (e dissabor). Vivemos o dia-a-dia desconhecendo o porquê. Lutamos pela nossa existência na desistência de saber pelo que existir. Ignoramos o instinto, somos apenas carne e razão. Formigas ambulantes, perdidas abaixo do solo, cuja única missão é erigir uma civilização. Progredir... progredir... num ir-e-vir cuja meta é lugar nenhum.

Religiões nos dão respostas superficiais e fantasiosas, são mitos de muitos. Há também os filósofos, que se esmeram em explicar o que parece inexplicável. Será que o prezado escafandrista, homem do nosso futuro, já foi presenteado com o que nos parece ser a grande resposta da vida: o motivo do processo nascer-e-morrer?

Prezado escafandrista, caso a viagem no tempo já seja possível na sua Era (meus contemporâneos acreditam que um dia será), peço que venha nos visitar aqui no passado e nos conte algumas de suas velhas novidades. Somos ávidos pelo conhecimento, ainda que não saibamos o que fazer com ele. Vivemos no escuro, pisoteando civilizações passadas como quem dança o ritmo compassado e moroso do que chamamos de concreto. São dois pra lá, e dois pra cá. E fica a pergunta...

... prezado escafandrista, do que é feito o futuro?

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