E aí, no final da noite, depois de um filme francês, apareceram à moça as coisas que se precisam ler. Que o fado joga nos rostos, como aquela folha que se desprega da árvore e enceguece pra outros caminhos enquanto não se tira da face e a olha com algum respeito.
Nas três e meia da madrugada de um dia misturado, leu a carta mais linda de amor. Era de um escritor pra uma mocinha... Talvez a última ainda fosse uma criança na ocasião da carta. Ora, talvez. Não se sabe. Mas se sabe que era um amor tão puro e tão lindo que cabia em uma caixa cheia de beijos e que nenhum poderia perder-se no caminho.
Já a moça que leu, com lágrimas nos olhos e coração batendo como de um condenado, sentiu que precisava imediatamente de um amor também, forte e constante. Arrepios incendiaram-na e a lembrança de um querido manifestou-se sordidamente. Cantando na alma velhas canções de amor, soube que precisava, infelizmente, mais que uma caixa pros seus beijos. Se fosse amor, não haveria de ser tão puro assim. Queria o amor das vontades respeitadas. Que o cansaço fosse mais que entre o nariz e o queixo e que mãos se entrelaçassem mais que uma ou duas vezes. E se lembrou, com carinho, que o rapaz que queria, de si precisou e chamou. E lá ela se foi, abriu por querer as próprias feridas e sangrou na caminhada, mas foi sabendo que estava feliz.
Os beijos da moça ainda precisam se enclausurar, que não podem ainda chegar perto do moço. Tragam-na a caixa pra que os guarde! Ela lamenta, mas é assim que é. Mas sabe e espera que talvez chegue em algum momento a proximidade suave, mas que será tão profunda, que a Saudade precise vir reclamar aos dois, os seus direitos.
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