sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sabe aquelas situações que você vive na sua vida, e que por razões que ninguém sabe responder, ficaram marcadas? Situações incrivelmente banais, ou até mesmo com alguns resquícios de heroísmo, ou qualquer outra coisa do tipo, que não saem da sua cabeça, mesmo que se passem os anos? Então... Fiquei me lembrando delas hoje. Dentre as perguntas que me surgem quando eu penso nelas é o porquê que justamente elas, ficaram marcadas, no meio de tantas outras coisas mais importantes e mais interessantes que eu já ví.
Vou compartilhar algumas, mas não espere muita coisa, certo?

Certa vez eu estava voltando da escola com o meu pai. Isso da época que ele ainda ia deixar eu e o meu irmão na escola, de bicicleta. Em certa altura do trajeto, numa esquina de uma outra escola da cidade, tinha um pequeno aglomerado de pessoas, todas ao redor de um rapaz de seus 15, 16 anos. Ele tinha roubado uma bicicleta e o dono correu atrás dele e conseguiu pegar. Alguns populares ainda deram uns tapas no rapaz, que chorava e pedia até pelo amor de Deus pra não levarem ele pra polícia. Mas o dono da bicicleta estava irredutível e ficou segurando o rapaz até a polícia chegar.
Eu devia ter uns 11 anos. Na hora que passamos, eu olhei de longe e perguntei pro meu pai o que poderia ter sido e ele logo reconheceu o que era. Eu disse: "Éguas! Que massa!" E comecei a rir da cara do rapaz. Meu pai não riu, mas não ralhou como de costume, disse apenas que não imaginava a vergonha que aquele rapaz, claramente arrependido, deveria estar sentindo naquele momento...


Eu estudei numa mesma escola durante 11 anos. Desde o 1º período do jardim de infância, até a 8ª série. Em um recreio de algum dia de todos esses dias, eu derramei suco no uniforme de uma amiga, em plena segunda-feira, ou seja, a farda tava tinindo de limpinha. Suco de cajú ainda por cima, que deixa uma nódoa desgraçada. Na hora que o suco caiu, eu esperava até que ela fosse me delatar na secretaria, e por causa disso eu ia ser expulsa, presa, exilada, essas coisas... Ela começou foi a rir e disse que não tinha problema, ela tinha duas fardas. Talvez isso tenha me marcado tanto, porque eu acho que não teria tido essa generosidade, se fosse o contrário. Acho que essa foi uma lição de como ser alguém melhor.

Lembra da enchente desse ano, que terminou de lascar alagou o Maranhão? A minha cidade em especial... Um dia eu e alguns amigos da Universidade fomos ver o rio. No meio daquelas pessoas que estavam saindo de suas casas para os abrigos e mais outros curiosos, passou um senhor, com o olho muito vermelho, que nos viu fardados e nos parou. Dois colegas eram homens, mas nós, as mulheres, ficamos com medo. Quer dizer, todo mundo ficou com muito medo, mas os rapazes tinham uma reputação a zelar... rs
Ele falou pausadamente, como se fosse um cirurgião que tivesse que pesar a força do punho pra fazer o corte na profundidade certa: "Vocês... Vocês acham que é justo o Prefeito estar naquela casa, andando de carro importado, e nós perdermos tudo o que a gente fez durante a vida toda?"
Não, Senhor. Não acho justo e nem acho que foi culpa sua que isso tenha te acontecido. Pelo contrário, o senhor é uma vítima.
Pena que ninguém teve coragem pra responder nada. Vinha um caminhão e o homem teve que sair do meio. Acho que a cara daquele senhor vai ficar pra sempre marcada. O corte foi bem feito.

2 comentários:

yza disse...

Adorei minha amiga sua historia. Bacana mesmo!vc sempre supreendendo!

JuDolores disse...

Essa JamYYYzinha...

Saudade de tu...