terça-feira, 1 de abril de 2008

Cineminha na Liga: A Rainha Margot

Ficha Técnica

Título no Brasil: A Rainha Margot
Título Original: La Reine Margot
Direção: Patrice Chéreau
País de Origem: França
Gênero: Drama
Ano de Lançamento: 1994
Elenco: Isabelle Adjani,Daniel Auteuil, Jean-Hugues Anglade, Vincent Perez, Virna Lisi, Pascal Greggory, Miguel Bosé






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Baseado no livro homônimo de Alexander Dumas, A Rainha Margot é, além de uma aulinha de História, uma abordagem psicanalítica sobre as questões levantadas, posteriormente, por Freud a respeito da necessidade da morte simbólica dos pais para a possibilidade de formação / construção do indivíduo.

Trata-se, sobretudo, de um tema contemporâneo: ódio religioso com fundo político (qualquer semelhança com o que ocorre hoje entre Cristãos x Muçulmanos x Judeus é mera coincidência?). Guerra civil entre católicos e protestantes, onde esses últimos eram obrigados a abjurarem de suas crenças se quisessem sobreviver.

Uma das coisas interessantes no filme, é como a psicologia dos personagens é delineada através de seus atos e gozos sexuais (quase sempre) desregrados. Na história contada por Dumas, e ilustrada por Chéreau, o desejo e o ato sexual são colocados como imperativos de gozo. Freud e Lacan se redescobririam mais tarde, em suas respectivas teorias psicanalíticas.


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Liberdade para o sexo em oposição à privação do amor.

É curioso observar como o sexo é encarado de forma natural e aceitável, enquanto o amor é, de certa forma, considerado algo maldito. O amor é visto como uma fraqueza. Inversão dos valores contemporâneos. Hoje valoriza-se muito mais o amor e condena-se o sexo. Isso pode soar como um paradoxo, num mundo onde bundas são estampadas em capas de revistas e o sexo é vendido às claras nas esquinas das grandes cidades, porém, não é necessário se aprofundar muito na questão para observarmos o quanto a sociedade atual julga o comportamento sexual de seus contemporâneos. Tentamos ser "modernos" (os contemporâneos de Margot o eram), porém retrocedemos vertiginosamente no que concerne às questões sexuais. A pós-modernidade é retrógrada e se esconde sob um disfarce progressista.

Fugi um pouco do filme para filosofar a respeito do contra-senso que permeia os valores morais do século XXI. Vou voltar à obra para tentar colocar sentido a estas minhas palavras desconexas.


Em determinado momento do filme, Margot diz ao seu marido que mostrar amor a alguém deve ser evitado, pois enfraquece o indivíduo, oferecendo armas para que o "inimigo" o destrua. Dumas coloca o amor como sinônimo de morte? É interessante lembrar que, em francês (idioma original da obra), usa-se o termo petit mort (pequena morte) para se referir ao clímax sensual – também conhecido como orgasmo.

O comportamento sexual de Margot é predominantemente masculino, pois suas atitudes indicam que ela é a predadora. É ela quem vai à caça de suas vítimas, tendo como meta exclusiva o gozo. A jovem é conhecida no Reino por suas práticas sexuais, e seu comportamento frio (indiferente) no que diz respeito aos sentimentos. Porém, em determinado momento, ela se percebe apaixonada... e por um protestante. Até conhecer La Môle, Margot parece sofrer uma interdição ao amor. Ao se apaixonar, ela "abdica" dos valores familiares e, conseqüentemente, da hipocrisia que imperava em sua família, para passar para o outro lado. Alia-se ao seu amor e, com isso, torna-se também aliada dos protestantes. Margot vislumbrou que só poderia se transformar em sujeito que ama caso se afastasse da sufocante família à qual fazia parte.

Outro ponto que também pode ser analisado pelo viés psicanalítico, é a notável dependência que o Rei Carlos IX possuía em relação à sua mãe, assim como a qualquer outra figura impositiva / absoluta. O pai de Carlos IX morre cedo, deixando o trono para seu primogênito assumir ainda criança. No decorrer do filme, torna-se evidente o efeito que a ausência da figura paterna causa na vida do rei – ainda que a Rainha Catharina (mãe de Carlos) tenha substituído a figura do pai. Esta substituição da figura materna pela paterna acaba por gerar, também, a ausência do feminino no seio familiar (o que talvez sirva como influência para o comportamento de Margot, já que sua mãe a masculiniza durante toda a história). O Almirante Coligny (protestante e melhor amigo de Carlos IX), serve como apoio paternal ao Rei. Após a morte deste, Carlos IX realiza a transferência da figura da paternidade para seu cunhado, Henrique de Navarra. Em um momento da narrativa, o rei diz que Coligny serviu para que ele se tornasse independente da mãe e, de certa forma, se tornasse independente dele próprio.


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Dúvida: há amor incestuoso entre a Catharina e seu filho Anjou? Muitas vezes há indicações que respondem a esta pergunta, mas nenhuma resposta é definitiva. Eu acredito que haja sim, até por todo o tal contexto psicanalítico que mencionei anteriormente. A rainha gostaria de governar ao lado de um rei que a merecesse. A rainha e o rei juntos, sentados no trono, em seus delírios de mandos e desmandos. Cortem cabeças, apunhalem os inimigos, embrenhem-se nas entranhas daqueles que se opõe.

Ali está a semente que germinará, fazendo nascer, anos mais tarde, o Estado Absolutista francês.

Matar em nome de Deus. Um deus. Qualquer deus. Há deus? Adeus.


Vive la Révolution!


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Em relação à parte técnica, destaque para a fotografia primorosa, figurino, direção consciente, direção de arte (certamente com intenso trabalho de pesquisa)... tudo nota dez. Além disso, há a performance impecável da Isabelle Adjani, alva, linda, e perfeita em cada gesto.


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* Indicação de Filme: Lutero - Eric Till
* Indicação de Leitura: A Rainha Margot - Alexander Dumas
Hamlet - William Shakespeare









Trecho do filme:

Cineminha+IV



** Mais uma vez me desculpo pela evidente falta de linearidade do texto.

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PROMOÇÃO MALUCA:
O primeiro leitor que escrever a seguinte senha no meu scrapbook ganha um magnífico prêmio:
Agatha, ò, Soberana, cadê meu prêmio?


Um comentário:

Grazzi Yatña disse...

Muito bons! O comentário e os dois filmes!

Ganhou o oscar dos efeitos especiais!
"Ágatha, cadê meu prêmio?" hihihi

Só vale no scrap, é? Burocratas..tsc..