domingo, 30 de março de 2008

Literatura: Técnicas de Sedução

Era sempre a mesma história. Ela fugindo das investidas dele, e ele, cada vez mais incisivo, tentando levá-la para a cama de qualquer jeito.

Dionísio e Isadora haviam se conhecido há alguns meses na casa de um amigo em comum, que já o havia alertado sobre a atitude pudica da amiga em questão, fato que fez com que ele fosse invadido por um desejo incontrolável de desvirtuá-la. A idéia de ser o primeiro a se deitar com ela, a idéia de corrompê-la, a idéia de apresentá-la aos prazeres mundanos o seduzia imensamente.


Ela viveu seus 23 anos em abstinência total dos prazeres sensuais. Era uma virgem que dizia querer preservar sua castidade até que encontrasse seu príncipe consorte. Dona de um temperamento passivo e às vezes apático, vivia de forma indulgente, guardando a felicidade para ser vivida apenas no dia seguinte. Sem saber, na sua inocência de menina pós-púbere, que o dia seguinte poderia não chegar.
As investidas de Dionísio eram cada vez mais agressivas. O que começou com flores, bombons e convites para jantar, se transformou em telefonemas libidinosos no meio da noite, mensagens eróticas, sempre diretas e sem rodeios.
Durante bastante tempo Isadora se manteve implacável aos apelos de seu pretendente, não cedendo sequer um beijo ao pobre Dionísio, que, a esta altura, já dedicava todos os seus momentos de solidão lasciva à imagem de sua musa inspiradora. Não era possível dormir e acordar sem pensar nela, sem imaginar seu toque, sua boca, seus carinhos, e seu sexo tímido engolindo o dele. Era assim que começava a se masturbar, e terminava sempre jorrando seu líquido seminal em abundância. Cada gota de seu leite era destinada a ela.


Não é que Isadora não gostasse de seu admirador. Ela gostava. Gostava das conversas, gostava da companhia e também gostava de se sentir desejada. Chegou a se sentir excitada uma ou duas vezes, mas se penitenciou por ter tido tais reações físicas. Não queria pensar nisso. Não queria pensar que poderia renunciar à sua virtude precocemente, e, o que seria pior, com a pessoa errada. O que ela precisava era de uma prova cabal de que Dionísio seria o homem que a faria ceder aos prazeres da carne, que a faria sucumbir em seus braços, que a faria entregar seu corpo e sua alma de moça pura. Ainda que ela precisasse dessa demonstração, ela não sabia ao certo como essas provas se apresentariam.

Em uma noite escura de outono, quando levava Isadora para casa após assistirem a uma retrospectiva de cinema político italiano, Dionísio se apercebeu em um momento inefável de cólera. Mirou para sua companhante, aproximou-se dela ostentando um olhar inflamado, pegou em seus braços com força e a levou até o muro mais próximo, enfiando a língua quente e viril dentro de sua boca. Viu-se como um vampiro ao sugar e morder o pescoço de Isadora enquanto esmagava o corpo frágil de sua vítima usando como compressores a parede e seu próprio corpo. E, como um animal faminto que devora sua presa, rasgou as roupas delicadas de mulher inocente e enfiou seu membro rijo dentro do sexo até então imaculado de Isadora. Nesse momento ela já se contorcia, entregue aos delírios que eram apenas daquele homem, mas que agora tratava-se também de seus próprios desejos. E eram.

Tudo aconteceu ali, em uma rua deserta e mal iluminada, a duas quadras de sua casa. Foi então que ela compreendeu. Estava ali a prova que precisava. Era ele o homem com quem tencionava passar o resto da vida.

Em três meses estavam casados e ela, radiante, carregava em seu ventre o primogênito do casal. O primeiro dos quatro filhos que tiveram.

Amanhã será a colação de grau de Ricardo, o filho mais novo do casal.

© Agatha


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* Filme recomendado: Ata-me, Pedro Almodóvar
* Leitura recomendada: Memória de minhas putas tristes, Gabriel Gárcia Márquez

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