Está chegando abril. Em maio, fará um ano sem meu amor.
Nesse ano vivido sem a pessoa que foi o meu maior refúgio no mundo, eu teimo em ser feliz, sabe? E olha que não foi pouca água derramada, nem foi pouca a tristeza das circunstâncias, da falta, da não-despedida. Eu senti muito um impacto de não estar lá. Isso doeu bastante, mas não mais que a própria perda, que seria inevitável mesmo se tudo tivesse acontecido como eu imaginei, como já vinha prevendo desde que passamos aquela noite de mãos dadas. Era notório que o crepúsculo se aproximava.
Talvez por já não ter a presença dela diariamente há muito tempo, eu me mergulhei por um tempo na boa e velha negação. Fiz o mesmo com outros lutos. Vestia a vida e ia, não como se não tivesse acontecido, mas como se não tivesse acontecido tanto. Encontrei a medida pra tentar continuar minha e vida e aguentar o peso de estar mais só, mas qual não foi essa solidão, hein?
Nos sonhos, ela sempre vinha. Ela ainda continua vindo, na verdade. O último que eu tive com ela, eu tinha a louquíssima missão de ajudar, nada mais, nada menos, um Faraó ressuscitado a encarar os dias de hoje. Aí, por ter ajudado o cabra, ele me "presenteou" com uns minutinhos com ela. Louco. Em uma das tantas casas alugadas que eu morei em Bacabal, traziam-na do corredor. Ela vinha caminhando, ladeada por duas pessoas que a seguravam até a cadeira que a esperava na pequena sala. O lugar se enchia de gente e eu arrastava uma cadeira e ficava sentada frente a frente com ela, que estava muito, muito velhinha como nem o era, com os cabelos todos branquinhos que só se vendo.
Ela olhava pra mim... Era bastante óbvio o quanto ela estava feliz por me ver. Era um sorriso tão bonito, tão faceiro, tão dela. Ela não dizia nada. Eu entendia que ela não podia. Mas eu podia.
Eu afastava meu corpo mais pra frente e dava aquele abraço profundo. Passava a mão nos cabelos dela e dizia: "Lulu, eu te amo muito. Muito!". E era só isso que eu conseguia dizer. E olhava pro rosto dela, afagava e só sabia repetir isso. Aquele abraço que ela me deu foi a única forma dela me dizer o mesmo. Que bom que os meus sonhos com ela são assim. Meu cérebro tem horas que me ajuda, compensando o que não pôde se resolver na realidade.
Quando eu paro pra pensar na Lulu, eu sinto tristeza, ainda. Eu não nego a vontade de chorar, nem as lágrimas que ainda descem. Mas eu muito mais rio do que choro. A tristeza vem mais quando eu lembro do que aconteceu, do baque, do susto, de pensar que tudo estava bem, mas na hora não estava, e que o que tinha acontecido, dessa vez, era incorrigível. Ai, um absurdo. Eu passei dias com um grito seco na garganta, que não saía de jeito nenhum. Uma pressão no peito que não achava jeito. Até que fui caminhar e numa área bastante deserta perto da minha casa e gritei. Gritei mesmo, pra caralho, deixei sair. Ajoelhei no chão e chorei até a última gota de lágrima que ainda tinha restado. Acho que o meu coração suspirou um pouco.
Nas caminhadas de hoje, de vez em quando eu lembro dela. Falo dela, como sempre falei, pros colegas de trabalho, nas redes sociais, nos escritos, e são sempre coisas boas que vêm à boca. E eu entendi que a memória dela é cada vez mais viva, mais buscada, mais feliz. Que, mesmo que ainda lacrimeje, eu sorrirei muito mais. Que o amor que a gente sentia, essa conexão inexplicável das nossas almas, não morreu. Tudinho tá bem dentro aqui. Meu amor, meu tanto amor, é minha raiz e eu vou carregar essa mulher, essa tão amada mulher, como um privilégio, até o dia da minha própria morte.
Tudo bem que você foi, sabe, Lulu? Você tinha que ir mesmo, eu sei. Eu tô aqui pra lembrar de você.
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