terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O mar de pensamentos

Tem sido uma semana difícil. E o que mais foi difícil nessa semana foram muito mais acontecimentos externos que os internos. E quando falo externos, não digo apenas do que foi fora de mim, mas do que foi bem longe de mim. Muitas notícias me abalaram essa semana... Atentado terrorista à Charlie Hebdo, aqueles lixos do Boko Haram matando 2000 na Nigéria, menina de 10 anos sendo usada como bomba humana, um amigo que não vai poder andar mais. Tudo isso me deu o que pensar bastante. E as opiniões que eu tinha a dar, já dei e talvez eu ainda volte a dar, mas eu quero dar um descanso pra minha cabeça. São muitas coisas aí envolvidas. Pensei muito sobre liberdade de expressão, relações de poder, lugares de fala, cultura, etnocentrismo, eurocentrismo, islamofobia, fundamentalismos, opressões internas, opressões externas e mais isso e aquilo e não sei o que mais e... Puta que pariu, calma, menina, senão essa tua cabeça vira um mingau!

Outro dia estava colocando no site sobre as opiniões que damos nas redes sociais sobre as coisas. Ficamos diferentes, vivemos, mudamos, crescemos, evoluímos, mas aquela opinião que você deu fica lá registrada e muito facilmente resgatável a quase todos. E, pensemos nisso ou não, pessoas realmente as consomem, se abalizam, refletem, se guiam, rejeitam e criam sobre nós os estereótipos que nós permitimos, com as áureas que fazemos de nós mesmos. Outro dia me disseram no trabalho que eu pareço uma menina que passa o fim de semana "debulhando terço". Porra! Nem como se usa um terço, eu sei. Se essa galera soubesse o tanto de palavrão que eu fico falando sozinha aqui nesse apartamentico e achando graça, ainda por cima... Mas não. Lá no trabalho, pra eles, eu sou a moça "respeitável" (eu seria de qualquer forma, apenas por ser alguém), que só sai de casa pro trabalho e do trabalho pra casa, com uma parada pra comprar coisa pra comer no supermercado da esquina. Só. Pra outro grupo de amigos, eu sou a doida boca-suja que passa o dia falando besteira e escrevendo errado de propósito no site; aquela que fica bêbada com duas cervejas e passa o número de cervejas que tomou, de dias de ressaca, se reclamando da vida. O caso é que a gente acaba sendo tanta coisa... É difícil fazer um panorama geral das representações que os outros fazem de nós e o quanto de responsabilidade nós temos nisso.

Ainda tem o diabo dessa paixão que não me laaaaarga, essa bandida. Sim, nesses termos. Não me agrada o pensamento de que há algo apenas unilateral. E vamos supor que ele esteja, nesse momento, chamando meu nome numa sarjeta, com uma garrafa de vinho na mão. Eu nunca saberia, se a gente se perdeu entre tanta coisa da vida e nosso contato é cada vez mais esparso e superficial. Como falei em outro escrito: esse tipo de relação é coisa estranha, porque não há mais nada a se agarrar do que as palavras. E se não existem palavras, não há como mensurar coisa alguma, mesmo que, do lado de lá, exista algo arrebatador. Há tanta coisa que nos impede de falar, né? Sei disso. Mas já aprendemos à duras penas que silêncio também é mensagem e faz um barulho ensurdecedor. Não tô dizendo aqui que agora esse homem me odeia, me despreza, não quer mais nem saber de mim. Não é isso. Creio eu que há, no mínimo, algum carinho nutrido por mim. Aí já não sei em que nível. E aí eu, sentindo uma falta absurda das palavras dele, da voz dele, dele, me pego imaginando tanta coisa... Mesmo dizendo não às expectativas e lidando o que melhor já lidei com a ausência, sem dores lancinantes me perpassando o corpo, sinto sim uma dosezinha de tristeza pelo que já não é mais.

Eu já não sei o que o futuro reserva. Aliás, nunca soube, seria pretensão demais. Mas imaginei muita coisa, fiz mesmo um monte de expectativas, porque a gente não deixa de ser quem é porque se apaixona. Elas, claro, não eram gratuitas, porque eu também não me apaixonei sozinha. Os planos que foram feito por mim, ainda estão de pé, pra esse futuro mais próximo do que eu acho. Ainda vou ao outro extremo desse país continental e me lançar ao desconhecido, de qualquer forma. A segunda parte do plano, por ele, pra ele e pra mim, é que eu não sei mais. Me faz uma valeta de sangue na cara, mas não me bota pra pressionar ninguém. Vai ser necessário perguntar, mais pra perto, eu sei. Mas não quero que se sinta pressionado a nada, porque não quero sentir isso. Mas quero que queira, entendeu, estimado leitor? Porque eu o quero e cada dia que passa, parece que quero mais. Dar os abraços que eu senti tantas vezes, quase físicos aqui. Afastei 24 anos de medos do meu caminho e vou ao que eu quero. Se não me quiser, vai ser doído, mas eu vou voltar com o coração aliviado por ter tentado. E, tenho certeza, com muito mais medos dominados. Eles simplesmente não fazem mais sentido pra mim. Ainda que apareçam e queiram se instalar, é muito mais fácil não dar guarida hoje em dia, já que posso, com mais ou menos esforço, quebrar a lógica de qualquer desespero oportunista. O coração é bobo, como disse Alceu Valença. A gente se ilude, dizendo: "já não há mais coração" e ó ele bem aqui todinho, pulando feito doido todo o tempo!

Há muito mais a se saber dessa viagem, no entanto. Vai ser a hora de olhar aquela cidade e perguntar: "é isso que eu quero pra mim?". Avaliar as minhas chances reais sobre o mestrado lá e assentar os meus dois pezinhos na realidade, economicamente, academicamente e psicologicamente, pra não me arrepender nunca das minhas escolhas e não me colocar em nenhuma situação degradante, longe da família e amigos. Apesar de ter alguém especial por lá, essa é uma decisão muito grande e importante pra eu colocar a responsabilidade dela em cima de quem quer que seja. Se eu for, será por mim, pelos meus sonhos, pelo que eu quero. Só posso deliberar sobre a minha vida, então é baseada nela que eu irei ou não.

Pensei muito sobre a leveza por esses tempos, item mais que necessário pra essa cabeça imersa nesse mar de pensamentos menos leves. Mas pensei também nos furacões que se instalam na alma, fazendo transbordar esse mesmo mar.

Deixa fluir.



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