Jamila sempre foi conhecida por suas manias. Desde muito pequena, não conseguia ficar quieta um só instante. Odiava ter que entrar em casas com pisos de azulejos, porque faltava enlouquecer pra não pisar nas malditas linhas. Da mesma forma era com as calçadas. Talvez por isso mesmo que não gostava muito de ter que andar, mas tinha.
Agora que já é menina moça, anda por aí sem olhar para o chão. Ainda é muito difícil resistir a um bom desafio.
Jamila não chora fácil. Não, não mesmo. Nada de tpm’s que a fazem chorar com comerciais de manteiga, muito pelo contrário. A sua TPM a faz inflamar de ódio. Coitado do vento que triscar. Nomes feios, nomes baixos, nomes altos e sonoros saem da sua (voluptuosa) boca. Mas certa vez, a pobre garota chorou. Chorou até suas lágrimas secarem no rosto. Desde esse dia nunca mais chorou tão copiosamente, nem tanto e nem pretende. Mas a lembrança do dia do choro extremo nunca saiu de sua cabeça. É bom lembrar que depois disso, ela dormiu como se tivesse tomado diazepan na veia.
Ela já gostou de matemática, mas como qualquer pessoa normal, no Ensino Médio, veio a odiar essa triste invenção com todas as suas forças. Algo como três TPM’s acumuladas. Em dia de prova, saia de casa cheirosa, arrumada, cabelo penteado e alguma sombra no olho, mas nunca com uma faca, que era o que ela mais desejava carregar.
Sem perceber, entendeu que os seus dotes davam pra escrever. Mas ao mesmo tempo, também entendeu que podia escrever sem dar. Desde então, mantém cadernos avulsos, sempre comuns e entediantes, sem canetas coloridas, onde tem a oportunidade de ficar totalmente nua. Só às vezes, sexy.
Meninos bonitos demais não têm vez com ela. Mas só pelo único motivo de nunca um ter tido vontade de entrar na fila.*
Por vezes, vai dormir muito linda. Invariavelmente acorda feia. Nesse caso, já desistiu de esconder as eternas olheiras, porque nem cimento resolve.
É limpinha e cheirosa, porém os cabelos... Os seus cabelos têm vida própria. Quando eles encasquetam que não querem sair de casa, é um puxa daqui, repuxa dacolá, e muitos fios são sacrificados nessa batalha vencida quase à sangue. E, triunfante, ela joga o que tiver de creme em cima dos coitados exânimes. Certa vez, ela inventou de domá-lo à gel. Nem uma pedrada na cabeça movia algum fio. Só aí ela percebeu o quanto a Hebe Camargo deve sofrer. Desde então, a menina é partidária de qualquer meio que descaracterize o cabelo miscigenado das povas brasileiras, mas nunca teve coragem de meter qualquer química no seu.
A jovem ama e vive. De um jeito muito particular, de um jeito muito intenso, mas de um jeito não tão estereotipado como ela queria que fosse. E, porra!, apesar dos pesares, ela é uma garota normal. Ok, atipicamente normal.
[i]*Peraí, existe uma fila?[/i][:o]
Um comentário:
as pessoas choram com o comercial de mantega? =O
(¬¬)
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