terça-feira, 10 de junho de 2008

Ego / Id / Superego

Estava eu cá no meu canto, pensando sobre esses episódios recentes da LP... Mais precisamente sobre essa questão do Ego... aí eu ouvi essa musiquinha do Roberto, na voz da Zélia ...

Meu Ego
(Roberto Carlos e Erasmo Carlos)


Por favor, meu ego
Não dê força ao prego
Que nos põe contra a parede
Pra nos afogar de sede
Chove chuva na sua boca
E você não bebe
Há palavras, existem letras
Mas você não forma
As frases loucas que cultiva por aí
Fale pelos cotovelos, e pelos joelhos
Me critique sem razão
Se omitir não vale à pena
Mas não polua minha cultura
Não venha dividir comigo sua auto-censura
Me desencontre, não me prostitua
Se não seremos mais uma carcaça em desgraça por aí

Depois disso eu notei que não saberia definir o que era exatamente o EGO, que é que eu fiz? GOOGLE!!!

Saquem só!!!!

Ego é o centro da
consciência inferior, diferente do Eu que é centro superior da consciência. O Ego é a soma total dos pensamentos, idéias, sentimentos, lembranças e percepções sensoriais. É a parte mais superficial do indivíduo, a qual, modificada e tornada consciente, tem por funções a comprovação da realidade e a aceitação, mediante seleção e controle, de parte dos desejos e exigências procedentes dos impulsos que emanam do indivíduo. Obedece ao princípio da realidade, ou seja, à necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer ao id* sem transgredir as exigências do superego

Quando o ego se submete ao id, torna-se imoral e destrutivo; ao se submeter ao superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável; se não se submeter ao mundo, será destruído por ele.

Id: Formado por instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes e regido pelo princípio do prazer, que exige satisfação imediata. É a energia dos instintos e dos desejos em busca da realização desse princípio do prazer. É a libido.

Superego: Representa a censura das
pulsões que a sociedade e a cultura impõem ao id, impedindo-o de satisfazer plenamente os seus instintos e desejos. É a repressão, particularmente, a repressão sexual.

Diga se não é uma coisa complexa pra caramba =D

Bem na verdade eu só queria compartilhar minha breve pesquisa com vocês!!!!!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Cinema: Philippe Barcinski

Vou voltar a falar um pouquinho sobre cinema, porque bateu saudade e não faz mal a ninguém.

Ao contrário do que o nome parece indicar, Philippe Barcinski é brazuca (adoro brazuca), carioca, formado em cinema pela ECA/USP, trintão, casado, pai de dois filhos, e flamenguista (Ok, os dois últimos foram invenções minhas. Pode ser verdade, pode ser que não).

O fato é que atualmente, Barcinski é, pra mim, o nome do curta-metragem nacional. Tive contato com o trabalho dele num festival de curtas que rolou no RJ, onde foi apresentado Palíndromo, filme com excelente montagem e roteiro "redondo".



Depois disso procurei outras coisas na internet e encontrei o Janela Aberta, que gostei ainda mais. Curta intimista, polissêmico, quase claustrofóbico, e com um humor peculiar.




Em 2007 ele se sentiu seguro para dirigir seu primeiro longa, "Não por acaso", assinando o roteiro, e levando alguns prêmios pra casa. Tô baixando o filme agora, e depois que eu assistí-lo atualizo o post.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

EROS E PSIQUÉ

- Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada...
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem....
A Princesa adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera....
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém....
Mas cada um cumpre o Destino
- Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada...
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora...
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

(Fernando Pessoa)

A PORTA ESPELHADA


Engraçado como aquilo aconteceu! Pôxa vida, um casamento causado por uma mania por espelhos!



Vou explicar melhor: Ele fazia um cursinho, já tinha 26 anos e estava se preparando pro seu 12º vestibular, já havia passado em três – de História, Jornalismo e outro de Artes Cênicas – mas parou no meio dos três, acho que não era aquilo que ele estava buscando. Era um cara tranquilão, trancado e só se achava legal, só se achava um cara bonito quando se via em algum espelho.



Já Marcela, era uma típica maranhense, quer dizer, sua fala não tinha sotaque, assistia BBB, bebia Guaraná Jesus, ia todo o final de semana pra praia e odiava os governantes, todos – os atuais, os antigos e até mesmo os que ainda estavam por vir! – se bem que essa descrição que se fez do Maranhense é quase igual a de todos os brasileiros. (Menos a parte do Guaraná Jesus e da fala sem sotaque.) Tinha 23 anos e aquele emprego no Cursinho era o primeiro que arranjara.
Juliano, o cara dos espelhos, passava todos os dias pela secretaria e como a porta era toda espelhada, o rapaz não resistia, era sacanagem demais, golpe baixo aquele espelhão dando mole pra ele daquele jeito.



E o moço ficava sentado no banco paralelo à porta, no outro lado, fazendo cara de sedutor apaixonado, fazendo cara de quem queria conquistar uma pessoa pelo olhar...
Tornou-se um hábito, todas as noites, nos intervalos para a troca de professores, Juliano ia lá pro seu banquinho se admirar e se acontecia de alguém sentar-se ao seu lado, sairia chateado, pois Juliano só respondia com “ahans” e “é mesmos!”


Marcela ficava lá, na sua mesa dando pra porta da secretaria e que no lado de dentro não era espelhada. Doce ilusão, pensou que o rapaz estava tentando conquistá-la; até que nos primeiros dias tentou ignorar aqueles olhares sedutores, ficava no seu computador, digitando alguma planilha, mas de vez em quando dava suas olhadinhas de soslaio...


Do 15º dia em diante, já não conseguia mais ignorar, passou a sentir raiva daquilo. Aquele garoto não tem que fazer não? Ele tinha, ficar lá admirando-a mesmo depois dela ter mostrado a língua, o dedo, feito cara de mau e até puxado uma folha A4 e escrito em letras garrafais: VAI PROCURAR TUA TURMA, SEU CHATO! Mas o moço não ia...


Aquilo foi de uma persistência que a comoveu, procurou saber o nome do rapaz, a idade, se tinha antecedentes criminais, estava melhor que James Bond no quesito serviço secreto, e depois de ter analisado todo o histórico do rapaz, acho que seria uma coisa boa pra se investir, afinal, se ele estava ali num Cursinho, algo de bom na vida ele queria ser!


Mas um dia aconteceu um incidente: outra funcionária que veio de casa estressada não mediu a força que empregou na hora de fechar a porta espelhada e a mesma se quebrou, se partiu em vários pedacinhos, mas não se partiu tanto quanto o coração de Marcela...


No outro dia quando chegou no serviço – o episódio aconteceu depois que ela já tinha ido pra casa, ela só trabalhava meio turno – a porta já havia sido substituída por outra de vidro, só vidro, nada de espelhos e naquele dia também, Juliano passou direto pelo banquinho sem nem dar uma olhadinha pra Marcela.


Pobre coração dos apaixonados, a moça ficou tão atordoada com aquilo, ela poderia ter imaginado várias coisas, mas preferiu imaginar a pior: que ele de repente perdeu o interesse nela, e havia se interessado por outra moça, talvez da sala de aula, quem sabe e descartou Marcela como se fosse uma injeção mal dada na testa.


Ah, mas aquilo foi o fim, a secretária foi para o banheiro e lá derramou duas lágrimas afoitas, foram apenas duas, tão intensas quanto mil, recolocou a maquiagem e voltou com um sorriso mais que forçado. Decidiu que ia tomar uma atitude, não se trata assim o coração de uma mulher, não se ilude e depois se solta uma bomba nele, POMBAS!


Quando Juliano, alheio a tudo, estava sentado na mesa da lanchonete recapitulando alguma coisa da aula, ela veio por trás, passou a mão nos cabelos dele, inclinou a cabeça e deu um beijo – nossa! Mas que beijo! Parecia coisa de novela! - No momento em que descolaram os lábios ela simplesmente marcou sua mão na cara dele! E que força tinha aquela mulher, ficaram as marcas vermelhas no rosto dele e ela disse: Eu precisava desse beijo porque eu te amo, mas eu precisava te dar esse tapa pelo que você fez comigo!


Naquela noite, nenhum dos dois dormiu, ela chorando e cogitando seriamente a possibilidade de largar o emprego, a cidade, o país, tudo! E o pobre coitado na sua cama suspirando e pensando que aquela doida só podia estar confundindo ele com outra pessoa! Só pode! Mas aquele beijo ele não poderia esquecer... Que beijo... Levaria mais três tapas dela só pra mais um daqueles... O bichinho do amor o mordeu também!


No outro dia, ele chamou-a pra pedir explicações, ela falou logo que ele era um cínico, passava dias tentando conquistá-la e de uma hora pra outra a ignorou como se ela fosse algo descartável? Não precisou dizer mais nada, nesse exato momento Juliano compreendeu tudo! Percebeu que Marcela pensava que os olhares eram pra ela, entendeu logo que ela achava que seus olhares fatais de conquistador inveterado eram pra ela. Mas não quis estragar aquilo tudo revelando a verdade, aproveitou a oportunidade para dizer que apenas naquele dia não foi vê-la porque estava preparando algo pra falar, estava ensaiando a sua declaração de amor. Marcela já ia dar outro tapa nele por achar que era tudo mentira deslavada, mas não teve tempo, ele segurou o seu braço e deu outro beijo... Como beijava bem aquele mentiroso...


Ela acreditou (ou fingiu que acreditou) naquilo tudo e eles começaram a namorar. O tempo passou, ele passou no vestibular pra Medicina e ela tinha se tornado a Diretora do Cursinho. Resolveram se casar.


Um dia antes do casamento ele disse que precisava falar uma coisa pra ela! Marcela esperava tudo menos aquilo! Ficou pasma, achou que ele ia dizer que era gay ou que estava a traindo com outra, quando escutou a história do espelho da porta ficou estática e dois minutos depois soltou a melhor de suas gargalhadas, que contrastavam com a cara de choro que Juliano estava fazendo diante da tensão da revelação!


Hoje, são casados; ele é um médico com uma clínica recém-montada e Marcela abriu um Cursinho pra si. Fez questão de colocar um banquinho oposto a uma porta de vidro espelhado e a mesa da secretária de frente pra porta, vai que alguém mais tinha essa sorte?


Mês passado nasceram os dois filhos do casal, gêmeos, mas como eles preferem dizer: espelhados!

domingo, 1 de junho de 2008

LENDO E APRENDENDO ALGUMA COISA

"... Pois o que você ouve e vê depende do lugar em que se coloca, como depende também de quem você é."

« C.S. Lewis »
Estou lendo as Crônicas de Nárnia agora, sei que pode ser uma literatura mais infantil, mas não deixa de me encantar e de me surpreender...
Mais uma vez eu digo que queria ter um talento assim, de inventar histórias malucas, que passassem de apenas uma página...
Imitando a Chefa Ágatha, o primeiro que for ao meu scrapbook e disser: "Si eu pudesse eu matarra mil queu sô caba homi!" vai ganhar um maravilhoso prêmio!

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Tristes tópicos

Pegando carona com o Lévi-Strauss, tristes tópicos são aqueles que, desconhecendo seu caráter de falta de matéria etérea (com o perdão da aliteração), se levam a sério.

Em um salto descontínuo, amanhã vejo se sai algo que preste.


Boa noite, meus prezados -3 leitores! :)

sábado, 24 de maio de 2008

NA VOLTA PRA CASA - CRÔNICA

A menina vinha feliz, estava escutando música, aquela música que a pessoa carrega na alma, que não sabe explicar de onde vem, mas sabe que ela está alí fazendo-lhe companhia. Começou a cantar, sua voz era suave, não chegava a ser uma voz doce, mas era bem agradável de se ouvir.
Ela não se deu conta que estava no meio da avenida em pleno meio-dia, seu estado de espírito era tão feliz que ela estava absolutamente só no mundo. Não abriu os olhos, não olhou em volta, não foi reparar se não havia alguém vendo, simplesmente deu vontade de dançar e ela dançou, também não era uma ótima bailarina, mas era agradável ver seu corpo se mexendo como se não tivesse ossos.
Não! Ela não foi atropelada e morreu, como você pensou que fosse o final dessa história, no momento que ela começou a dançar todos os carros pararam pra ver o que era aquilo. Pensaram que a moça estava louca, onde já se viu ficar daquele jeito em plena avenida movimentada...
Ela dançou e dançou e dançou e cantou e até gritou! Quando ela abriu os olhos e viu que todos estavam contemplando-a, deu uma gargalhada e foi pra calçada como se nada tivesse acontecido. Todos ficaram pasmos com aquilo, estava louca mesmo aquela menina... que mundo! Que mundo! Uma garota tão bonita...
Ela seguiu seu rumo com um sorriso no canto dos lábios, eles nunca saberiam que ela voltava de uma noite de amor...

quinta-feira, 22 de maio de 2008






Soneto do desmantelo azul



Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas,

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.






Eu consigo lembrar do exato dia, do momento em que li esse soneto pela primeira vez... O ano era 1999 e eu estava no ônibus Rio Doce/CDU indo para a escola...

Era a celebração do Dia da Poesia, então dá pra saber que era março... estava em um cartaz colado no busão... A viagem era longa e o li diversas vezes e a cada vez que eu ia ficando mais encantada...

Ainda lembro que esse trecho foi o que eu mais gostei...

“E afogados em nós, nem nos lembramos que no excesso que havia em nosso espaço pudesse haver de azul também cansaço”.

Isso eu não sei porque, tinha então 14 nos...Faltava um mês pra eu dar o meu primeiro beijo...Faltavam dois anos pra eu conhecer o meu primeiro amor... Faltava muita vida ainda...

Bem...tudo isso pra dizer que Carlos Pena Filho foi o meu primeiro poeta... E muito feliz eu sou por ele ser pernambucano ( adoro puxar a sardinha pro meu lado ) , triste por ele ter morrido tão jovem... Os bons morrem antes, afinal.

E eu nem tava pensando em fazer um flashback... Que coisa!!!!

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Literatura: mini-conto-feliz

"Se você for, não precisa nem voltar".
Nunca mais a vi desde então.

Quando a porta do carro bateu e ela engatou a primeira sumindo repentinamente da minha vida, percebi que tudo não passava de uma mentira minha. Eu a queria de volta. Meu desejo era que ela retornasse - após constatar que não saberia viver sem mim-, me pedisse perdão, assumisse seus erros e implorasse para voltar. Não lembro quanto tempo esperei para que isso acontecesse, mas a espera foi em vão.

Dias e noites se passaram desde então. Filmes, livros, amigos e o silêncio foram as melhores companhias que pude encontrar durante o tempo da pós-espera. Já não havia a sensação de aguardar por algo que eu não sabia se aconteceria. Não me encontrava mais na cilada que eu mesma havia me colocado.

Acordei cedo naquela manhã de domingo. Dormindo ao meu lado estava uma amiga daquelas a quem recorremos num sábado à noite sem opção. Levantamos da cama e nos arrumamos para tomar café da manhã em uma das esquinas do Leblon. Enquanto pisávamos sobre os mosaicos de pedras portuguesas, olhávamos arrebatadas para cima, observando que o outono nos presenteava elegantemente com um distinto céu azul.

Minha amante de ocasião parecia feliz com a minha presença. Sorríamos entre sucos e pães, e conversávamos sobre as delícias fúteis lidas no Caderno de Cultura que compramos na banca de jornais ao lado da padaria.

Ao esperar pela conta, notei, do outro da calçada, a presença de uma figura conhecida. Ela estava acompanhada, e um ar alegre permeava o casal. Acendi um cigarro e deixei meu corpo ser tragado pela beleza daquele céu de outono. Fechei os olhos e me demorei percebendo os sons da manhã de domingo. A risada da minha amiga de desjejum era agradável aos meus ouvidos.



Havia 3 meses desde que eu disse que ela não precisava voltar, e hoje percebo que realmente não precisava.



©

terça-feira, 20 de maio de 2008

Musica: Novamente - Ney Matogrosso

Me disse vai embora, eu não fui
Você não dá valor ao que possui
Enquanto sofre, o coração intui
Que ao mesmo tempo que magoa o tempo
O tempo flui

E assim o sangue corre em cada veia
O vento brinca com os grãos de areia
Poetas cortejando a branca luz
E ao mesmo tempo que machuca o tempo me passeia

Quem sabe o que se dá em mim?
Quem sabe o que será de nós?
O tempo que antecipa o fim
Também desata os nós

Quem sabe soletrar adeus
Sem lágrimas, nenhuma dor
Os pássaros atrás do sol
As dunas de poeira

O céu de anil no pólo sul
Há dinamite no paiol
Não há limite no anormal
É que nem sempre o amor
É tão azul

A música preenche sua falta
Motivo dessa solidão sem fim
Se alinham pontos negros de nós dois
E arriscam uma fuga contra o tempo
O tempo salta



"Inclassificáveis, novo show de Ney Matogrosso, em temporada que termina hoje no Canecão e estreou na quinta-feira para 1.800 pessoas, põe o cantor em vantagem diante de outros artistas brasileiros, sobretudo pela sua conceituação. É ela que o deixa além de muitos trabalhos recentes da MPB e, em especial, do pop-rock nacional. A partir da música-título do show, feita por Arnaldo Antunes (um maracatu com versos como "Que preto/que branco/que índio o quê!/somos todos inclassificáveis") e da própria sensação que evoca na platéia, fica claro que o lema de Ney é a sua liberdade pessoal. Esta se estende para as letras que grava, para a produção de seus shows e para o passeio rítmico que, comandado por ele, vai do samba à música grega em minutos." Por Ricardo Schott - JB Online.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Literatura: Conto - A Ruptura

E foi assim que ela me deixou. Foi embora sem olhar para trás, mas antes teve o cuidado de inventar mentiras para não me magoar. Ela desconhece ter sido isso o que mais me feriu, a constatação de que ela tem pena de mim, tem pena por não me amar mais, tem pena por ter escolhido deixar num futuro paralelo, inexistente - o limbo dos mal amados -, os sonhos que sonhamos juntas, estancando o sangue que corria em minhas veias, alimentava meu coração, e me fazia viver. Ao optar por me abandonar, abandonou também as noites em claro, o álcool escorrendo pelo corpo, a saliva descendo na garganta, o gosto do sexo excitado, os gemidos, os odores, os fluidos, as trocas incessantes de prazer.

Ao me suprimir de sua vida, ela se privou de provar da minha ilusão de amor maior, deixando em branco os papéis onde eu escreveria cartas confessionais a ela. Dessa forma vil ela agiu, olhou nos meus olhos sem demorar o olhar, e com total falta de misericórdia, executando um tiro certeiro, proclamou o lúgubre decreto, esvaindo meu peito de amor em estado bruto. Ela abaixou suas órbitas de íris negras e pupilas dilatadas, ensaiou um falso choro, e por pouco não derramou algo que se assemelhava a uma lágrima. Girou em torno de seu próprio eixo, me presenteando com a visão de seus cabelos, suas costas, e daquele corpo que eu conhecia tanto. Sem hesitar ela deu dois passos firmes para fora da minha vida, batendo a porta com uma força que eu desconhecia. O estampido ecoou retumbante em minha caixa craniana, estourando meus sentidos, oferecendo a certeza de que, naquele momento, eu morria cravejada por suas palavras condolentes, que dilaceravam meus ouvidos.


Antes de me resignar ao meu fado, pensei na renúncia daquela mulher a um futuro feliz, cheio de sorrisos, poesia, prazer, sexo, sons, um futuro que transbordava de cores e amores, optando por me deixar em companhia das dores. Assim ela extirpou do meu corpo toda esperança de felicidade que passeava liqüefeita dentro de mim. Arrancou com a brutalidade de um bárbaro a quimera de amor pra toda a vida que eu guardava em meus desejos.

Agora eu era só, sem ela pra eu me admirar. Foi dessa maneira que eu descobri só ser alguém quando ao lado dela. E desta forma ela me deixou só, sem mim. E sendo assim, neste estado de privação da própria identidade, e na maior das solidões - aquela onde sentimos a ausência de nós mesmos, descobri que eu ainda morreria de amor e renasceria por ele inúmeras vezes.

©


-------------------------------------------

Este conto serviu de argumento para o roteiro do curta-metragem "A Ruptura", parte da trilogia "Tempos de Amor". Em breve nas telas grandes, médias e pequenas.


domingo, 18 de maio de 2008

Cinema: Pangea Day

Para os que não conhecem, Pangea Day é um evento global que se propõe à união mundial através do recurso audiovisual. A proposta é que, por trás das linhas fronteiriças que muitas vezes não nos permite enxergar as semelhanças que possuímos com indivíduos de outros países, só nos põe frente às diferenças culturais existentes.

Os trabalhos apresentados foram escolhidos entre os mais de 2.500 filmes enviados à organização do evento. Foram mais de 100 países participantes, cujos videos foram gravados, inclusive, por telefones celulares - o que possibilitou o baixo custo de produção, ampliando o número de pessoas que aderiram ao projeto.



Os filmes do Pangea Day tornam-se, dessa forma, um meio de nos aproximar dos nossos semelhantes, respeitando as diferenças, e identificando as similitudes existentes entre o modo mundial de viver, pensar e sentir. A proposta é humanizar o diferente.



Apresentação do Projeto





-----------------------------------------------------------------------
SAIBA MAIS

Para maiores detalhes sobre o evento, basta clicar aqui.
A relação dos filmes você encontra aqui.

sábado, 17 de maio de 2008

Literatura: O Despertar

Era só pousar o olhar sobre ela, que eu entrava no palco iluminado da existência. Um sorriso brotava nos lábios, e naqueles olhos que se espremiam para exprimirem o tanto de bem-querer que ela guardava por mim. Ao vê-la caminhar em minha direção, meu corpo enchia-se de desejo, e eu era entorpecida pela idéia de possuí-la. Eu a via como sendo completamente minha, em toda sua extensão, em todas as suas vontades, em todos os seus pensamentos, em toda sua libido, em todas as células e pequenas partículas que compunham aquele organismo. Eu aspirava que ela respirasse por mim e para mim, e pensava assim: "Eu aspiro que ela me respire".

Naquele corpo eu redescobria o sexo a cada movimento executado. Era uma languidez que me enfeitiçava, despertando a volúpia eventualmente adormecida em mim. A sensualidade ao se abrir e me chamar, os olhos transbordando de desejo, o sexo me convocando para dentro a cada latejar. Eu só precisava lançar um olhar cheio de apetite, para que aquela mulher começasse a arfar. Era uma respiração ofegante, em descompasso com o batimento acelerado do sangue em suas artérias. E nos fundíamos assim, cheias de paixão.

E era amor o que havia. A luz que clareava nossos caminhos era luz de amor, o cheiro dos ambientes pelos quais passávamos era cheiro de amor, os sons que ouvíamos mesmo no silêncio acolhedor eram sons de amor. Aquele gosto que sentíamos ao provar nossos corpos, e os alimentos deles derivados, era o gosto do amor. E ele era tangível, nós o tocávamos e éramos por ele tocadas. Amor que toca. A vontade era fundir aquele corpo no meu, ser um só. Dois indivíduos transfigurando-se em coisa una. Aquilo era soma, mas da soma surgiam novas substâncias, e éramos então transformadas em um novo objeto. Novidade. Um elemento satisfazendo o outro, em uma troca mútua de prazer, cuja meta era a unidade. Havia o meu olhar sobre ela, e aquele olhar sobre mim. E queríamos que permanecesse assim, sendo uma, mas descontinuamente apresentada em duas. Ela me ama, eu a amo.

Fazíamos planos como quem bebe água quando tem sede. Éramos arquitetas de uma vida dual. Nós nos bastávamos, como ao céu bastam as nuvens, como à fome basta o alimento. Tínhamos pressa em sonhar juntas a nossa odisséia, a aventura que iríamos viver até nosso último suspiro. Ao morrer, eu permaneceria viva dentro dela, ao morrer, ela permaneceria viva dentro de mim. Viveríamos mais, pois viveríamos juntas.

O que me impressionava era que meus sentidos estavam trocados. Eu era feita de multi-sentidos. Meus olhos acariciavam aquele corpo no lugar das minhas mãos, deslizando na pele morena daquela mulher que um dia chamei de amor. Meu olhar a despia de suas parcas roupas, que, pouco a pouco, iam colorindo o chão do quarto alumiado. Era o olhar como tato - o contato. Meus ouvidos a viam se aproximar, e, sua voz, aquela voz que soava como perfeita melodia, era acompanhada por um cheiro afável que invadia meus pulmões, fazendo com que eu exalasse contentamento. O cheiro de mulher que ela carregava, impregnava meus ouvidos com a certeza de que era ela que, um dia, me faria sofrer.

Era uma felicidade transitória, eu sabia. No entanto não havia em mim nenhuma vontade de me privar daquela efemeridade enferma chamada amor.

©


---------------------------------------
Texto-argumento do curta "O Despertar", parte integrante da trilogia Tempos de Amor.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Literatura: Caminhando em sentidos opostos

Levantou-se às 04:15 da manhã, vestiu seu uniforme laranja e pôs-se a caminhar até a estação de trem. Foram 30 minutos que poderiam ser transformados em 5, caso tivesse dinheiro para o ônibus. A barriga vazia entoava um lamento reclamando por comida, enquanto entrava no vagão acompanhado da esperança de que um dia tudo iria mudar. Sem encontrar lugar para sentar, dormiu em pé o sono atrasado de um corpo cansado de suas jornadas diárias. Os desejos que povoavam suas imagens oníricas eram sempre travestidos em histórias de um homem bem sucedido que, fora de seus sonhos, esqueceu de bem suceder.

Uma hora e meia após iniciar o calvário sobre trilhos, ao ser acordado pelo sacolejo violento do comboio chegando à sua estação, foi brutalmente jogado na vida real. O trem vomitava milhares de humildes sub-empregados no Centro da Cidade, e José era um deles. Chocado ao olhar para o relógio na nave central da estação ferroviária, percebeu-se atrasado e partiu como um torpedo para vencer sua maratona diária. Em alguns momentos, via-se disputando passo a passo com seus pares uma corrida sem vencedores. Não há troféu na chegada.

Sem tomar conhecimento de sua existência, o ônibus partiu deixando-o para trás. Passaram-se 15 minutos até José tomar outra condução e finalmente achar-se no último trecho de seu destino final.

João foi acordado por sua mulher, uma morena de carne apetitosa e pele bronzeada por um sol que parecia nascer apenas para ela. Diariamente ela cumpria sua rotina de exercícios físicos, o que explicava suas formas exuberantes e bem construídas. Beijaram-se antes que ela vestisse sua malha cinza e branca, enquanto ele a admirava com ares de desejo por algo que já era dele.

Levantou-se, fez sua higiene rotineira, apoderou-se do jornal, e fez seu desjejum preguiçoso à base de frutas, leite, café, pães e frios. Ligou a TV sem pressa para assistir as novidades de ontem e, ao final do noticiário, vestiu terno, gravata, pegou seu paletó, a maleta, e saiu. Seu carro já o esperava, trazido por um porteiro conhecedor de seus hábitos e orgulhoso por sua competência.

Deixou seu prédio rangendo os pneus, montado em uma pressa desconhecida nos 5 minutos precedentes. Parado no sinal vermelho, e sobre as listras brancas, desnudou um drops, pôs em sua boca fluorescente pelos dentes bem tratados, e abriu o vidro para cumprir, indiferente, seu ritual de jogar o papel para fora do veículo. José, de vassoura na mão, asssitiu à cena e, empunhando sua ferramenta de trabalho com altivez, dirigiu-se ao local do crime. Acostumado por limpar dejetos de terceiros, se apossando deles em determinados casos, extinguiu com um só golpe a sujeira deixada em via pública.


O trem de pouso se recolheu, e João estava em altitude de cruzeiro, voando até sua reunião. Novamente um suco, um sanduíche, e mais papéis jogados em sua lixeira de ocasião.

José escavava seus bolsos laranja em busca de moedas que, somadas, talvez possibilitassem um cafezinho no bar da esquina. Após uma reunião produtiva, que multiplicou em dois o saldo bancário de João, o almoço foi por sua conta. Paletós vestiam as cadeiras enquanto conversas sobre stock market, carros alemães, torneios de tênis, e sobras no prato, ocupavam o restaurante.

A televisão do pé sujo onde José era cliente preferencial alertava, mal sintonizada, que o Flamengo está na final. Ele e seus amigos exalavam felicidade em seus sorrisos de poucos dentes. O falatório eufórico tomou conta do ambiente enquanto Zico, Júnior, Adílio e Nunes tabelavam magistralmente até o gol.

João se aproximava de sua casa a 800 km/h. Queria seu carro, sua mulher, sua cama. Queria seus amigos para comemorar mais um feito em sua brilhante carreira de vendedor de dinheiro. Ao pagar o estacionamento, deixou uma soma considerável de moedas para a moça bonita, mas mal cuidada, que trabalhava no guichê. Era a conta certa para a condução até sua casa, em algum bairro distante, cujo nome João desconhecia.

Dobrou a esquina da rua onde morava, abrindo eletricamente a janela de seu importado enquanto José sonhava acordado, imaginando-se ao volante daquele carro que nunca seria dele. "Sai da frente, porra!". O brado de João despertou José de seu transe, fazendo com que, em um pulo, ele saísse da entrada da garagem daquele prédio imponente da Garcia D'Avila. Olhou seu relógio, que só marcava os minutos, e se deu conta que ainda faltavam vários deles para que ele pudesse passar seu turno e voltar pra casa.

Era uma das raras noites frias do inverno carioca, e José notou que, quanto mais ele varria, mais imundas ficavam as valorosas ruas de Ipanema.

©


-----------------------------------------

SOBRE O TEMA:
Leitura recomendada: O Processo, Franz Kafka
Som recomendado: Construção, Chico Buarque
Medicamento recomendado: Resignação gotas


Tela: Narciso, Caravaggio

quarta-feira, 14 de maio de 2008


Ainda que mal


Ainda que mal pergunte,

ainda que mal respondas;

ainda que mal te entendas,

ainda que mal repitas;

ainda que mal insista,

ainda que mal desculpes;

ainda que mal me exprima,

ainda que mal me julgues;

ainda que mal me mostre,

ainda que mal me vejas;

ainda que mal te encare,

ainda que mal te furtes;

ainda que mal te siga,

ainda que mal te voltes;

ainda que mal te ame,

ainda que mal o saibas;

ainda que mal te agarre,

ainda que mal te mates;

ainda, assim, pergunto:

me amas?

E me queimando em teu seio, me salvo e me dano...

... de amor.


* * * Drummond * * *
Porque eu morro de saudades dele...

segunda-feira, 5 de maio de 2008




ELA

Na cama não se fala de filosofia.Peguei na mão dela, coloquei sobre meu coração, disse, meu coração é seu, depois pus sua mão sobre minha cabeça e disse, meus pensamentos são seus, moléculas do meu corpo estão impregnadas com moléculas do seu. Depois botei a mão dela no meu pau, que estava duro, disse, é seu esse pau.
Ela nada disse, me chupou, depois chupei sua boceta, ela veio por cima, fodemos, ela ficou de joelhos, rosto no travesseiro, penetrei por trás, fodemos.Fiquei deitado e ela de costas para mim sentou-se sobre o meu púbis, enfiou meu pau na boceta. Eu via meu pau entrando e saindo, via o cu rosado dela, que depois lambi. Fodemos, fodemos, fodemos. Gozei como um animal agonizando.
Ela disse, te amo, vamos viver juntos.Perguntei, não está tão bom assim? Cada um no seu canto, nos encontramos para ir ao cinema, passear no Jardim Botânico, comer salada com salmão, ler poesia um para o outro, ver filmes, foder. Acordar todo dia, todo dia, todo dia juntos na mesma cama é mortal.
Ela respondeu que Nietzsche disse que a mesma palavra amor significa duas coisas diferentes para o homem e para a mulher.Para a mulher, amor exprime renúncia, dádiva. Já o homem quer possuir a mulher, tomá-la, a fim de se enriquecer e reforçar seu poder de existir.Respondi que Nietzsche era um maluco.Mas aquela conversa foi o início do fim.

Na cama não se fala de filosofia.


Rubem Fonseca, "Ela e outras mulheres”, Editoras Companhia das Letras, 174 páginas.



Tem umas coisas dele que eu, pessoa sensível que sou, não posso ler. Por exemplo, Secreções, Excreções e Desatinos, só consegui ler alguns e com muito custo...

Mas a história de ELAS foi assim... A capa do livro é verde limão e peguei pra dar uma olhada...abri o livro aleatoriamente e caiu em ELA... na hora lembrei da Chay...

Eu já tinha lido um livro dele, há muito tempo, quando ainda era muito jovem... Por não ter idade suficiente, não alcancei o livro, ou ainda, ele não me alcançou... O livro era o “ Vastas emoções e pensamentos imperfeitos”, como eu roubei esse livro ele está lá em casa aguardando o momento de ser relido... Afinal eu tinha 15 anos quando li, faz um tempinho...

sábado, 3 de maio de 2008

O amor, o sorriso, a flor


"Quem acreditou
No amor, no sorriso, na flor
Então sonhou, sonhou...
E perdeu a paz
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais
Quem, no coração
Abrigou a tristeza de ver
Tudo isto se perder
E, na solidão
Procurou um caminho e seguiu
Já descrente de um dia feliz
Quem chorou, chorou
E tanto que seu pranto já secou
Quem depois voltou
Ao amor, ao sorriso e à flor
Então tudo encontrou
Pois, a própria dor
Revelou o caminho do amor
E a tristeza acabou"


(Newton Mendonça / Tom Jobim)








--------------------------

Eis um cara que pensa o amor eterno. Porém, somos perecíveis e assim fazemos perecer também as relações. Enquanto vivo, forte, pulsante e obcecado, o amor segue violentamente em busca de um novo alvo.


Hoje eu gosto dela, é ela o meu pão de cada dia, me alimento com seus sorrisos. Amanhã passo fome. Choramos aos borbotões com a perda do que acreditamos amar (afinal, como saber o que é o amor?). Só dói em quem está vivo, só quem vive sente dor.


Com um pouco de ousadia, e total falta de criatividade, começarei uma daquelas frases que já nascem mortas - aquelas que tentam definir o indefinível: O amor é uma doença que aflige os corações que batem.


E assim seguimos tateando nessa nossa roda-viva de dor e flor, sorriso e amor, e dor.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

O QUE SERÁ, SERÁ!

Todas as noites antes de dormir eu faço um pequeno retrospecto do dia, do que transcorreu, do que foi importante e do que não foi também. Aí eu fico pensando do que eu poderia ter feito de melhor, do que eu não deveria ter feito de maneira nenhuma ou no que eu fiz e definitivamente não me arrependo.
E é nessas horas que eu sinto como as coisas são passageiras, de como tudo o que se sente agora talvez não seja a mesma coisa que sintamos daqui a alguns anos, ou mesmo daqui a um minuto.
E também é nessas horas que eu vejo o meu passado, da minha ainda curta vida de quase 18 anos, é nessas horas também que eu vejo de como era ingênua e desconhecedora de várias coisas da vida, e continuo sendo – a “idade” não me subiu à cabeça – mas lembro de quando eu tinha 13 anos, achava que era perfeitamente adulta.
Eu também sei que daqui a alguns anos eu vou ter essa mesma opinião sobre mim hoje, vou querer voltar ao passado, vou querer regredir no tempo para tentar não cometer alguns erros que eu hoje cometi e ainda cometerei, ou mesmo, querer cometê-los de novo, como diz a música Epitáfio, dos Titãs.
Será que quando eu estiver velha (de corpo) eu vou olhar para o passado e ter a certeza de que fiz o que tinha que ser feito, ou vou olhar e ver mais uma vez que eu só fui uma tola que não soube aproveitar as chances que a vida lhe deu?
Meu futuro ainda é incerto, sei que vão acontecer reviravoltas na minha vida, e sei que eu ainda vou amadurecer muito mais, à custa de sofrimento, é claro, sei que eu ainda vou me lembrar desses tempos de agora com muitas saudades, mas, se existe uma coisa que eu não quero perder nunca é a capacidade de rir mesmo nas adversidades, de cantar músicas que não fazem sentido algum, de dizer piadinhas com a família reunida, de brincar com as crianças e de andar com os olhos fechados e abrir os braços deixando que o vento leve os meus cabelos, mesmo sabendo que eu posso ser atropelada por qualquer carro errante.
Não quero deixar nunca de visitar os meus amigos de surpresa, não quero deixar nunca de ligar o som bem alto enquanto se arruma a casa, e eu não quero nunca, nunca mesmo deixar de fazer guerra de travesseiro. Eu não quero deixar nunca de andar de bicicleta sem um lugar específico para se ir, não quero deixar nunca de cantar no chuveiro músicas em inglês que eu não sei o que significam (por enquanto), não quero deixar nunca de criticar o que eu vejo na televisão e mesmo assim não conseguir mudar de canal.
Eu quero é continuar sendo essa mesma doida de sempre, que gosta de encontrar os amigos e ficar batendo papo sentada nas calçadas da cidade até altas horas da noite, a contra-gosto de meus Pais.
Eu quero é ser feliz, sei que a idade vai chegar e com ela as responsabilidades, mas vou lutar com todas as minhas forças para que a vida não me deixe carrancuda e amarga, não, isso nunca!
Quero ser uma mulher, que a vida deixou como presente a alegria e a leveza de uma menina.


Jamila Carvalho

quinta-feira, 1 de maio de 2008

O QUE EU DESEJO PRA VOCÊS

Desejo primeiro que você ame, e que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim, mas se for, saiba ser sem se desesperar
Desejo também que tenha amigos
Que mesmo maus e inconsequentes, sejam corajosos e fiéis
E que pelo menos um deles você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos
Mas na medida exata para que algumas vezes você se interpele
A respeito de suas próprias certezas
E que entre eles haja pelo menos um que seja justo
Desejo depois, que você seja útil, mas não insubstituível.
E que nos maus momentos, quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante.
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com os que erram muito e irremediavelmente
E que fazendo bom uso desta tolerância, você sirva de emeplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais
E que sendo maduro não insista em rejuvenescer.
E que sendo velho não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor.
Desejo, por sinal, que você seja triste.
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia, descubra que o riso diário é bom, o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra com o máximo de urgência acima e a respeito de tudo
Que existem oprimidos, injustiçados e infelizes e que estão bem à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato, alimente um cuco e ouça um joão-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal.
Porque assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente, por menor que seja e acompanhe o seu crescimento, para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro.
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano, coloque um pouco dele em sua frente e diga: "Isso é meu"
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum dos seus afetos morra, por eles e por você
Mas que se morrer, você possa chorar sem se lamentar e sofrer sem culpar.
Desejo por fim que você sendo homem, tenha uma boa mulhere que sendo mulher, tenha um bom homem.
Que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes
E quando estiverem exaustos e sorridentes
Ainda haja amor pra recomeçar
E se tudo isso acontecer
Não tenho mais nada a lhe desejar.


Victor Hugo

quarta-feira, 30 de abril de 2008

A URGÊNCIA DE JERÔNIMO - CRÔNICA

Já passavam de duas horas da manhã quando Seu Jerônimo apareceu, aos gritos na farmácia de Seu Antônio, o único farmacêutico daquela cidadezinha do interior do interior do Acre. Gritos estes que acordaram não só Seu Antônio e a esposa, que moravam no andar de cima do prédio da Farmácia, mas também a vizinhança inteira.

Seu Antônio sabia que deveria descer e atender quem quer que fosse, não era médico, mas se sentia como um, e por isso, deveria cumprir com o juramento de Hipócrates da mesma maneira que os seus "colegas" graduados! Mas era um pena, pois naquela noite estava dormindo como nunca mais dormira, e com raiva e de cara inchada desceu, sob os protestos da esposa.

Ao chegar na calçada de sua casa e farmácia, viu não só o Velho Jerônimo, mas também um pequeno aglomerado, eram os vizinhos sensibilizados com a insistência do velho, que poderia estar com a esposa doente e prestes a morrer e tudo dependeria do Farmacêutico abrir ou não seu estabelecimento.

Passaram meia hora discutindo, de um lado: Seu Antônio zangado e sem querer abrir a farmacinha, do outro o Velho Jerônimo e a multidão, gritando com mais vigor, e todos, mesmo com sono, estavam cada vez mais exaltados e os gritos estavam cada vez mais altos.

Quando finalmente, Seu Antônio resolveu abrir a Farmácia e sob aplausos dos vencedores, foi para atrás do balcão, perguntou pro Velho Jerônimo o que ele queria, foi com espanto que ele escutou:

- Nada não! Eu só queria me pesar!


Jamila Carvalho ou JamYYY GIRL.