quarta-feira, 13 de junho de 2012
"Quando eu quiser, meu bem..."
E eu viro pra ela e digo: "Então quando, sua puta?"
Ela tá aqui do meu ladinho, dizendo apenas isso: "Quando eu quiser, meu bem..." com o final da frase em reticências, que me dá o estranho calafrio do sussuro ao pé do ouvido.
Pois se é assim, não me deixe querendo tanto, caralho! Sentindo tanto. Olhe pra mim e admita que é um erro colocar muralhas na minha frente, porque eu sempre sempre sempre sempre vou querer ver o que está do outro lado. Olhe pra mim e assuma que o seu sadismo que te move, já que colocastes uma impenetrável no meu caminho.
Não há texto meu que resolva. Não há coisa minha que dê jeito. Não há nada que eu possa fazer.
O grande pior é que sei que quero... Continuar querendo, nesse ad infinitum ao qual eu já me acostumei e gosto. Se eu ainda quero, difícil mais será o olhar indiferente, o abraço sem vigor, o sorriso sem alma.
O que eu sinto é que estou oferencendo um tesouro, um magnífico tesouro, e existe alguém que simplesmente não sabe o que fazer com ele. Que pode saber disso ou não, mas não o quer. E o que eu vou fazer?
Acontece comigo hoje (não só hoje!) a mesma coisa: eu não soube o que fazer com outros tesouros que me já me ofereceram. Deus, será o castigo por não ter sentido com quem era pra ter sentido ou eu sou mesmo assim? Alguém que só deseja o impossível, as muralhas que só se pode ver de longe, os paraísos que estão do outro lado do abismo?
Ou será somente injustiça?
Sou só eu, ou mais alguém aí queria ter um pouco menos de alma?
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Eu queria. Ah, se queria...
Eu queria, moço, caminhar numa praia, contando-te as histórias dos meus anos passados.
Eu queria, ah, se queria, conversar horas e horas contigo, deitados na minha cama de solteira, olhando nos teus olhos, sorrindo no canto da boca.
Queria te contar todas as besteiras que acumulei na vida, até que chorássemos de rir, os dois.
Queria que tu sentisses esse mesmo calor que sinto no peito agora.
Eu queria te abraçar,
com minha alma,
com meus seios,
com os meus desejos...
Queria correr ao teu encontro e te dar um beijo no olho. Sim, no olho. Melhor: nos dois olhos.
Depois, na ponta do teu nariz...
E então, no teu queixo...
E enfim, na tua boca. Só um pouquinho, e mais um pouquinho e mais um pouquinho e...
Eu queria que tu te deixasses querer.
Mas, é pedir demais, eu acho. Ah, moço... Não sabes o que estamos perdendo...
domingo, 20 de maio de 2012
E eis meus vinte e dois.
É, mãe, a senhora se superou dessa vez.
Vinte e dois anos, sim, mas ainda menina.
terça-feira, 15 de maio de 2012
You will be good.
Esqueça, querida. Esqueça que fazer planos é complicado. Esqueça que decisões são pesadas. Pesadas demais pra só esquecer.
Lembra, meu bem. Lembra que nascestes com esperança. Lembra que tu não te conformas. Lembra do que queres.
Lembra, criança. Lembra que tu sempre podes. Lembra que pôde muito mais. Lembra que tu que dás a importância devida.
Deixa, meu amor. Deixa esse teu corpo fluir na dança que ele quer. Deixa que a vontade te tome e te eleve.
Choras, se quiseres. Chora, porque é pesado. Choras, que tu não és de ferro. Choras, mas não permita que sempre a lágrima impere.
Somente te esqueça, te lembra e deixa.
sábado, 12 de maio de 2012
That I would be good...
De
repente, as coisas pareceram agoniadas. Sempre de repente, as velhas
sensações que tanto quero me livrar e que tanto já são parte de mim
chegam pra me fazer lembrar que eu tenho uma história e que eu não posso
desprezá-la.
Estar aqui, no entanto, na minha cidade, cercada de gente que eu amo e que me ama de volta, é aliviador, é recompensador.
É tanto a dizer, tanto pra colocar pra fora... Tanto, mas tanto, pra
derramar, que talvez seja melhor segurar um pouco essa torneira e apenas
dormir, sem pensamentos, sem reflexões, sem esse... Essa... Esse mundo
nos ombros. rs
Diário, você não faz ideia do quanto eu sinto a sua falta. Você não faz ideia do quanto eu sinto de um monte de coisas em relação à você. Sim, à você. Alguém. Eu mesma. Se você tivesse aqui, eu talvez não me reprimisse agora. Eu me falaria à mim, daquelas maneiras inconfundíveis que só nós dois sabíamos. As coisas já não seriam tão agoniadas assim, já que eu teria páginas e páginas pela frente. O tempo passaria um pouco mais devagar e as velhas sensações seriam desarmadas pelo raciocínio e pela esperança. Pela esperança que todos os dias ouso flamejar.
É foda.
Esse título aí é de uma música da Alanis. Só lembro essa frase no meu ótimo inglês. Tô com ela inteira na cabeça, mas só sei pronunciar isso.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Eu queria
Pior que eu tô precisando.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Um brinde aos meus arrependimentos.
Todos
eles apareceram na festa que dei na minha mente ontem à noite, mas
nenhum deles quis beber comigo. Sentaram-se numa mesa, olhavam pra mim
com a discreta desaprovação que vão ao casamento da noiva grávida.
Nenhum deles ainda tinha rido, nenhum deles ainda tinha chorado, apenas
ficaram com aquela mira intermitente para mim, que estava sentada,
horrorizada, no lugar de honra da festa.
O mais chorado
manifestou-se. Veio até mim, me dizendo que nunca esqueceu, nunca vai
entender o porquê, mas nunca me cobrará as explicações. Só queria que eu
soubesse. Só queria que eu soubesse...
Eles sempre querem que saiba!
O de amor olhou pra mim de soslaio, permitiu-se mais um gole de Whisky,
foi-se embora da festa e pra tanto, passou por mim imperioso. Nem
sequer teve a misericórdia de me olhar nos olhos. Aqueles olhos tristes
me doeram tanto! Acabou retornando, porque ele sabe que se sair da minha
memória, morre.
As bocas que não beijei se riam despudoradamente de
mim e pra mim. Meu Deus! Como elas estavam molhadas, lindas,
apetitosas, querendo a minha mordida lasciva. Elas se exibiam como se
soubessem de seus efeitos, de minhas vontades que guardei à sete chaves
porque tinha medo. Quais foram os transes que me neguei?
O mais
lindo, o que vi uma única vez num restaurante, que seria o homem da
minha vida, peguei de mãos dadas com a mulher que ele agora está fazendo
feliz. Esse apenas acenou e eu sorri o meu mais lindo sorriso triste.
Todos os meus arrependimentos cantaram a minha primeira canção d'alma,
que escrevi na quarta-série naquele colégio religioso, sabendo que não
seria mais uma, sabendo que amor era grande coisa, sabendo que andaria
caminhos ainda não trilhados, sabendo que algo grandioso me aguardava.
E eu só conseguia pensar na grande ironia de todos escolherem essa música.
Olhei pra cada um deles, lembrei de cada um deles, amei novamente cada
um deles e entendi, no meio daquele lamaçal de lamúrias, que o medo
levou os meus melhores anos.
O riso do canto da boca ainda não havia se dissipado.
Peguei pra mim uma taça de vinho, tal qual Jesus, e disse: "Reparto,
então, com vocês meu pranto. Reparto com vocês minhas agruras. Reparto
com vocês minhas mortes tantas vezes morridas em cada um de vós. Toda
vez que tomarem desse cálice, lembrem-se também de mim, porque eu nunca
me esquecerei tanto de vocês, mesmo sem cálice algum".
Todos brindamos e então foram saindo um por um. Um por um...
Um por um...
Até que o derradeiro se retirou e eu fiquei, com o coração arrasado,
apertando minhas mãos até que se rasgassem mais os dedos, agarrada
unicamente à certeza de que aquela festa nunca mais aconteceria de novo.
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Poema expresso das 1:20 da manhã
domingo, 25 de março de 2012
"Él que no sabe de amores, llorona, no sabe lo que es martírio..."
Sonhei com o que se foi de mim.
Andamos trezentas mil horas de sentimentos acumulados de mãos dadas.
Abracei seu corpo ardendo e desmanchando-se em soluços
Era meu, pra que cuidasse.
Andamos ladeiras de feridas expostas
E as latanhamos mais com nossas palavras.
Ele se viu sem os seus.
Chorou em meu peito a morte de dois filhos
E de uma mulher;
Porque o amor é grande demais, procurei com ele.
Estava prestes a definhar de andar
Mas não pararia nunca
Porque andávamos de mãos dadas
Trezentas mil horas de sentimentos acumulados.
Jorrou em mim sua febre
E em minhas horas acordadas ela alastrou-se
Lacrimejei minha própria luz
De trezentas mil horas de sentimentos acumulados.
Finalmente, achamos quem procurávamos.
Ele iria partir, porque morrera também.
Me queria junto dele, pra que o cuidasse sempre.
Teria que morrer também.
sábado, 24 de março de 2012
Sonhei demais.
Talvez nunca mais vou tocá-lo como hoje eu toquei. Depois que encontramos seus filhos e a mulher, vivos, mas mortos, almas que se recusaram a ir, ele também já estava morto. Já não era mais meu, como nunca fora e me pedia pra nunca abandoná-lo, e pra isso teria que morrer também. Não morri, como ele quis, porque fiquei com medo da infelicidade. Meu Deus! Como queria que estivesse vivo mais uma vez, pra tocá-lo. A febre dele impregnou-se no meu corpo e se alastrou em minhas horas acordadas e parece que desse sonho não sairei jamais.
Durmo e sonho demais, mais do que meu espírito pode já suportar.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Oração à Vida

Vida, deusa louca e bendita,
Abençoada e amada,
Poderosa e opressora,
E ainda assim, possível.
Vida, mulher dançante,
Que carrega em seu ventre o tudo:
O todo possível da humanidade.
Vida, louca bendita, te peço,
No novo tempo que se aproxima,
Que não sobrevenham os dias maus
Nem se aproxime o de mau coração.
Permita, ó Vida,
Que o amor perpetuado sossegue
E dê lugar a um novo.
Que as feridas abertas se fechem,
Que o olho fechado se abra,
Que a dor pare de doer,
Que o sossego se faça presente.
Vida, louca e amada,
Dê-me de presente a paz de espírito,
Que dá poderes divinos
A quem é igual a mim.
Vida, louca possível,
Sê grandiosa e abale minhas certezas
Para que nunca suba em pedestais.
Não te desapegues de mim, Vida,
Até que chegue o tempo,
De modo que possa sorrir,
Mesmo se todo o resto cair.
Jamila. 29/12/11, às 1:30.
Esse texto foi para a chegada do novo ano, o "novo tempo". Não conseguia dormir e, incomodada, precisei escrever. PRECISEI. Eu precisava pedir à Vida pra que me resguardasse de minhas inquietações. E aí está minha oração, livremente inspirada na "Oração ao tempo" de Caetano Veloso.
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Sobre a infância.
terça-feira, 12 de julho de 2011
Las colores
Há uma lua no céu brilhando como nunca e eu aqui, escrevendo pra não explodir.
Não é verdade que sempre existiram soluções pro que não se achava possível?
Inventaram a lâmpada, a roda, o fogo (esse descoberto).
Eu queria uma solução pros meus impasses. Quero inventar a minha roda, ou talvez minha engrenagem, pra que a minha vida vá. Não que me fuja como das outras vezes.
É tão difícil não chorar quando o mundo se apresenta tal como eu o vejo por vezes. Tenho medo de não ver o mundo com cores sempre.
Pois que esteja decidido: todas as vezes que o mundo estiver em preto e branco, que eu considere como as fotografias que ficam mais artísticas e mais bonitas desse jeito.
Que toda vez que ele estiver em sépia, que eu lembre de um céu amarelado que uma vez fez em Bacabal, logo depois das chuvas de janeiro, com um arco-íris sem cores, mas impressionantemente lindo.
Que toda vez que o mundo estiver somente negro, que eu lembre da janela desse quarto que não é meu, e me lembre da lua gloriosa que está agora e, com isso, lembre que não há escuridão que não ressalte alguma coisa e que eu possa lembrar também da felicidade que eu já toquei por várias vezes, para que as cores voltem.
Amém.
Às 1:25 de 11/07/2011
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
O ano improvável.
Praticamente em todos os dias, esse ano me trouxe surpresas.
Foi o ano que eu dei o meu 5º beijo, no 1º dia do ano.
Foi o ano que eu passei pro que eu queria, duas vezes. Desisti da primeira e meti os peito na segunda.
Foi o ano que eu abandonei, com uma dor no coração, Pedagogia. Depois de um ano e meio pedalando com a pobre Lois Lane praquela UEMA, passando raiva, tendo ódio de gente, rindo, amando algumas seletas pessoas. Não, não foi pra nada que eu fiz Pedagogia. Foi uma das mais surpreendentes aventuras da minha vida. Pena ter que ter de deixar tudo isso pra trás.
Foi o ano do meu primeiro carnaval!
Foi o ano que eu fui morar fora, depois de quase perder o curso de Jornalismo, por um erro no meu cadastro na UFPI.
Foi o ano que quatro pessoas me fuderam com toda a crueldade com que se pode fuder alguém. E digo FUDER mesmo, sem eufemismos, sem duplo sentido. A marca que ainda está em mim mostrou o quanto um dia pode fazer tanta diferença na vida de uma pessoa.
Foi o ano que eu conheci o maior número de gays da minha vida. (\o/ Lesgal! Atoron!)
Foi o ano que eu conheci pessoas e as amei, quase que instantâneamente. E, pelo menos uma dessas pessoas me amou com toda a intensidade que poderia ter. E foi, infelizmente, o ano que eu não pude retribuir o tesouro que me era dado.
Foi o ano que eu subi na mesa (não digo o meu estado*!) e cantei "Hay amores" pra umas 20 pessoas. Sei que serei lembrada pra sempre por isso. (gravaram, porra!)
Foi o ano que eu beijei mais do que em toda a minha vida inteira. A contagem não vai ser revelada, mas, pelos meus padrões, foi muito, mésti.
Foi o ano que eu beijei e não morri. (Sim, eu poderia. Se você me conhece, sabe o porquê!)
Foi o ano que eu fui assaltada pela primeira vez. Corri, o ladrão não me pegou, o celular sobreviveu, mas eu dei uma topada e torci o pé! Grrr
Foi o ano que, por causa da topada, pela primeira vez na vida, coloquei o gesso no pé. (Vai me dizer que quando você era criança não tinha esse sonho de usar gesso só pros outros assinarem? TÁ! Nem vem!)
Foi o ano que eu me sujeitei
Foi o ano que eu dei um ataque de fúria e xinguei meus pais na cara deles! =O EU fiz isso. Até hoje não acredito... Não só ter feito, mas como não acredito ter sobrevivido. Gulp!
Foi o ano que parei de dormir com a minha vó, depois de quase cinco anos.
Foi o ano que passei fui personagem de três reportagens de tv. (Tipo, eu passava lá atrás na escala rolante do shopping, mas mesmo assim, foi a minha estréia. Meu nome agora não é mais Jamila Carvalho, meu nome artístico agora é Íris Katherynni, ok?)
Foi o ano que eu vi o tanto que eu tava lascada sem amigos.
Foi o ano que eu fui assaltada pela segunda vez. E pela segunda vez, o meu celular resistiu.
Foi o ano que eu parei de escrever no meu diário. Infelizmente, muito, absurdamente.
Foi o ano que eu vi que eu não sei de porra nenhuma e que eu sou igual a uma formiga andando distraída pela sala. E que não sabe que o seu pé vai pisá-la e esmagá-la a qualquer momento.
Pelo menos eu sou daquelas formigas teimosas, que não morrem logo.
*Eu vou dizer meu Estado sim: Maranhão!
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Eu já escreví isso?
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Segunda do Dia da Felicidade.

Percebí que sou filha do vento.
Meu pai me carrega por entre as árvores
Beija-me e abraça-me completamente.
Ele disse: -Vai, filha.
Tenha-me dentro de ti.
Lembre-se dos meus beijos.
Deixe que eu me revolva em seu ser.
Vá por entre o mundo,
Assim como fomos entre as árvores.
Faça seus próprios tornados.
Destrua-se e volte a ser novamente.
Sopre para longe os males,
Assim como eu carrego as folhas secas reunidas.
Deteste as amarras,
Não as que ligam seu coração,
Mas as que perpetram no seu cérebro.
Vai, minha filha.
Chore. Eu secarei suas lágrimas.
Ria. Eu brincarei com os teus cabelos.
Ame. E terás uma brisa em seu rosto.
Apaixone-se. E verás um enorme furação.
Vai, filha.
Num simples balanço das mãos eu estarei contigo.
Primeira do Dia da Felicidade (31/08)
Se me quiseres,
Terás de mim o beijo mais doce
Terás as palavras que aquecem o coração
Terás o carinho que lampeja a alma.
Senhor cavalheiro,
Se me aceitares,
Terás um coração cheio de amor e de dor
Que reconhece a cada face e que faz curar
Que morreria por um sorriso de felicidade.
Senhor cavalheiro,
Se me amares,
Terás também o corpo casto que possuo
E todas as suas violentas formas
Que serão para ti e para mim uma fonte inesgotável.
Senhor cavalheiro,
Peço-lhe que me queiras,
Porque já não é a vida sem ti
Mas se não aceitasres minha oferta,
Terás porém estes versos
Que já eram seus antes de nós mesmos.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Uma história popular relata o caso de uma jovem que desejava muito viver uma relação de amor e então deixou um bilhete num local onde seria fácil de ser encontrado. A mensagem era a seguinte: “A quem encontrar este bilhete: eu te amo.” Parece improvável? Mas é isso mesmo o que acontece por aí, só que de forma mais sutil.
Na verdade, não faz muita diferença quem encontre o bilhete. Quantas vezes ouvimos a descrição do parceiro amoroso de alguém como sendo uma pessoa maravilhosa, bonita, inteligente e quando somos apresentados a ela levamos um choque?
O amor romântico não é construído na relação com a pessoa real, mas sobre a imagem que se faz dela, trazendo a ilusão de amor verdadeiro. Deseja-se tanto vivê-lo que, quando alguém o critica, provoca grande desapontamento. Não é para menos. Nada pode unir tanto duas pessoas como a fusão romântica.
A questão é que, por mais encantamento e exaltação que cause num primeiro momento, ela se torna opressiva por se opor à nossa individualidade.
Vivemos um período de grandes transformações no mundo, e, no que diz respeito ao amor, o dilema atual se situa entre o desejo de simbiose com o parceiro e o desejo de liberdade. É inegável que a fusão proposta pelo amor romântico é extremamente sedutora. Que remédio melhor para o nosso desamparo do que a sensação de nos completarmos na relação com outra pessoa?
No entanto, quando alguém alcança um estágio de desenvolvimento pessoal em que descobre o prazer de estar sozinho, se dá conta de uma profunda mudança interna. Preservar a própria individualidade passa a ser fundamental, e a idéia básica de fusão do amor romântico, em que os dois se tornam um só, deixa de ser atraente. Quanto à possibilidade de as pessoas alcançarem essa independência, existe certo pessimismo, alimentado pela crença de que o desejo de fusão com o outro está arraigado aos nossos ideais. Não participo muito dessa convicção.
O terapeuta e escritor Roberto Freire afirma em um dos seus livros que lhe custou muita dor, solidão e desespero aprender que sentir amor era uma potencialidade vital sua, produção criativa própria, e que para amar dependia apenas dele mesmo. A expressão e comunicação do seu amor eram produtos da liberdade pessoal e social conquistada. “Em minha inocência e ignorância, eu atribuía a algumas pessoas o poder de liberar, produzir, fazer exercer-se e se comunicar o amor em mim e de mim. Esse amor pertencia, pois, exclusivamente a essas pessoas, ficando eu delas dependente para sempre. Se, por alguma razão, me deixassem ou não quisessem produzi-lo em mim, eu secava de amor e — o que é pior — ficava em seu lugar, na pessoa e no corpo, uma sangrenta ferida, como a de uma amputação, que não cicatrizaria jamais.”
Por enquanto, não há dúvida de que desejar viver relações de amor fora do modelo romântico pode ser frustrante. As pessoas são viciadas nesse tipo de amor e fica difícil encontrar parceiros que já tenham se libertado dele. Mas acredito ser apenas uma questão de tempo. As mudanças são lentas e graduais, mas definitivas, nesse caso.
Para quem imagina que vai perder alguma coisa ao desistir do amor romântico, Bonnie Kreps, cineasta canadense que escreveu um livro sobre o assunto, é animadora.
Ela diz que deixar o hábito de “apaixonar-se loucamente” para a novidade de entrar num tipo de amor sem projeções e idealizações também tem sua própria excitação. É a mesma sensação de utilizar novos músculos, que sempre tivemos, mas nunca usamos por causa de nosso modo de vida. Entretanto, ao começar a utilizá-los podemos fazer com nosso corpo coisas que antes nunca conseguimos.
Para ela, os músculos psicológicos também existem e devemos olhar através da camuflagem do mito do amor romântico a fim de encontrá-los — e, então, ver com o que se parecerá o amor quando mais pessoas começarem a flexioná-los.
Quem sabe não teremos grandes surpresas?
Regina Navarro
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Meu amigo.

Seu Sampaio dorme agora
na sua vida, eu sorri
na sua morte, eu não chorei
o rádio de pilha desligou
não tocará mais
O mundo mudou
E ainda não me dei conta
O meu mais velho amigo
mais jovem alegre
dormiu.
Agora, ele joga conversa fora
com meus avôs.
Deitado não o vi.
Apenas sentado, cantando.
É isso que ficará, amigo.
Durma em paz, querido amigo. Sentirei sua falta.
20:23 de 04/04/2010.