terça-feira, 15 de maio de 2012

You will be good.

Esqueça, filha. Esqueça das horas desmaiadas. Esqueça das dores lancinantes. Esqueça de quando é difícil respirar.
Esqueça, querida. Esqueça que fazer planos é complicado. Esqueça que decisões são pesadas. Pesadas demais pra só esquecer.

Lembra, meu bem. Lembra que nascestes com esperança. Lembra que tu não te conformas. Lembra do que queres.
Lembra, criança. Lembra que tu sempre podes. Lembra que pôde muito mais. Lembra que tu que dás a importância devida.

Deixa, meu amor. Deixa esse teu corpo fluir na dança que ele quer. Deixa que a vontade te tome e te eleve.

Choras, se quiseres. Chora, porque é pesado. Choras, que tu não és de ferro. Choras, mas não permita que sempre a lágrima impere.

Somente te esqueça, te lembra e deixa.

sábado, 12 de maio de 2012

That I would be good...

De repente, as coisas pareceram agoniadas. Sempre de repente, as velhas sensações que tanto quero me livrar e que tanto já são parte de mim chegam pra me fazer lembrar que eu tenho uma história e que eu não posso desprezá-la.
Estar aqui, no entanto, na minha cidade, cercada de gente que eu amo e que me ama de volta, é aliviador, é recompensador.
É tanto a dizer, tanto pra colocar pra fora... Tanto, mas tanto, pra derramar, que talvez seja melhor segurar um pouco essa torneira e apenas dormir, sem pensamentos, sem reflexões, sem esse... Essa... Esse mundo nos ombros. rs 
Diário, você não faz ideia do quanto eu sinto a sua falta. Você não faz ideia do quanto eu sinto de um monte de coisas em relação à você. Sim, à você. Alguém. Eu mesma. Se você tivesse aqui, eu talvez não me reprimisse agora. Eu me falaria à mim, daquelas maneiras inconfundíveis que só nós dois sabíamos. As coisas já não seriam tão agoniadas assim, já que eu teria páginas e páginas pela frente. O tempo passaria um pouco mais devagar e as velhas sensações seriam desarmadas pelo raciocínio e pela esperança. Pela esperança que todos os dias ouso flamejar. 
É foda.
Esse título aí é de uma música da Alanis. Só lembro essa frase no meu ótimo inglês. Tô com ela inteira na cabeça, mas só sei pronunciar isso.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Eu queria

Mas não tô conseguindo me derramar agora. Essa internet filha da puta ainda me paga.
Pior que eu tô precisando.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Um brinde aos meus arrependimentos.

Todos eles apareceram na festa que dei na minha mente ontem à noite, mas nenhum deles quis beber comigo. Sentaram-se numa mesa, olhavam pra mim com a discreta desaprovação que vão ao casamento da noiva grávida. Nenhum deles ainda tinha rido, nenhum deles ainda tinha chorado, apenas ficaram com aquela mira intermitente para mim, que estava sentada, horrorizada, no lugar de honra da festa.
O mais chorado manifestou-se. Veio até mim, me dizendo que nunca esqueceu, nunca vai entender o porquê, mas nunca me cobrará as explicações. Só queria que eu soubesse. Só queria que eu soubesse...
Eles sempre querem que saiba!
O de amor olhou pra mim de soslaio, permitiu-se mais um gole de Whisky, foi-se embora da festa e pra tanto, passou por mim imperioso. Nem sequer teve a misericórdia de me olhar nos olhos. Aqueles olhos tristes me doeram tanto! Acabou retornando, porque ele sabe que se sair da minha memória, morre.
As bocas que não beijei se riam despudoradamente de mim e pra mim. Meu Deus! Como elas estavam molhadas, lindas, apetitosas, querendo a minha mordida lasciva. Elas se exibiam como se soubessem de seus efeitos, de minhas vontades que guardei à sete chaves porque tinha medo. Quais foram os transes que me neguei?
O mais lindo, o que vi uma única vez num restaurante, que seria o homem da minha vida, peguei de mãos dadas com a mulher que ele agora está fazendo feliz. Esse apenas acenou e eu sorri o meu mais lindo sorriso triste.
Todos os meus arrependimentos cantaram a minha primeira canção d'alma, que escrevi na quarta-série naquele colégio religioso, sabendo que não seria mais uma, sabendo que amor era grande coisa, sabendo que andaria caminhos ainda não trilhados, sabendo que algo grandioso me aguardava.
E eu só conseguia pensar na grande ironia de todos escolherem essa música.
Olhei pra cada um deles, lembrei de cada um deles, amei novamente cada um deles e entendi, no meio daquele lamaçal de lamúrias, que o medo levou os meus melhores anos.
O riso do canto da boca ainda não havia se dissipado.
Peguei pra mim uma taça de vinho, tal qual Jesus, e disse: "Reparto, então, com vocês meu pranto. Reparto com vocês minhas agruras. Reparto com vocês minhas mortes tantas vezes morridas em cada um de vós. Toda vez que tomarem desse cálice, lembrem-se também de mim, porque eu nunca me esquecerei tanto de vocês, mesmo sem cálice algum".
Todos brindamos e então foram saindo um por um. Um por um...
Um por um...
Até que o derradeiro se retirou e eu fiquei, com o coração arrasado, apertando minhas mãos até que se rasgassem mais os dedos, agarrada unicamente à certeza de que aquela festa nunca mais aconteceria de novo.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Poema expresso das 1:20 da manhã


Jogaria moedas na praça se o pobre cantasse
Andaria calada se o mudo falasse
Choraria sorrindo se a tristeza alegrasse
Olharia o céu se ele não me cegasse
Voltaria no tempo se a dor não entrasse
Sonharia voando como se eu precisasse
Te amaria te amando se eu já não te amasse.

domingo, 25 de março de 2012

"Él que no sabe de amores, llorona, no sabe lo que es martírio..."

24 de Março de 2012, às 00:44 de 25.

Sonhei com o que se foi de mim.
Andamos trezentas mil horas de sentimentos acumulados de mãos dadas.
Abracei seu corpo ardendo e desmanchando-se em soluços
Era meu, pra que cuidasse.

Andamos ladeiras de feridas expostas
E as latanhamos mais com nossas palavras.

Ele se viu sem os seus.
Chorou em meu peito a morte de dois filhos
E de uma mulher;
Porque o amor é grande demais, procurei com ele.
Estava prestes a definhar de andar
Mas não pararia nunca
Porque andávamos de mãos dadas
Trezentas mil horas de sentimentos acumulados.

Jorrou em mim sua febre
E em minhas horas acordadas ela alastrou-se
Lacrimejei minha própria luz
De trezentas mil horas de sentimentos acumulados.

Finalmente, achamos quem procurávamos.
Ele iria partir, porque morrera também.
Me queria junto dele, pra que o cuidasse sempre.
Teria que morrer também.



Ele se foi carregando seus mortos chorados,
E eu fiquei aqui escrevendo minha morte.
Porque por mais que não morresse,
Morri também quando se foi.
A partida inconcebível doeu-me
E sangrando fiquei
Trezentas mil horas de sentimentos acumulados.

Meu Deus! Quantas toneladas de solidão cabem
Em trezentas mil horas de sentimentos acumulados?

sábado, 24 de março de 2012

Sonhei demais.

Sonhei mais do que meu espírito podia aguentar. Sonhava que meu amor precisava de mim, que quem ele amava morria, filhos, mulher, e que eu podia abraçá-lo da maneira como eu queria, mas ele queimava de febre, numa maca no meio de uma sala, alucinado, procurando por quem se foi, mas chorando com minha presença. Andávamos eu e ele procurando, de mãos dadas, por eles. Eu, desfrutando cada pedaço de sua dor, dando-me por completa na missão de saná-la, amando-o mais que nunca, permitindo o nunca permitido toque (nem nos sonhos) e, doendo com ele, todos os pedaços partidos da minha alma.
Talvez nunca mais vou tocá-lo como hoje eu toquei. Depois que encontramos seus filhos e a mulher, vivos, mas mortos, almas que se recusaram a ir, ele também já estava morto. Já não era mais meu, como nunca fora e me pedia pra nunca abandoná-lo, e pra isso teria que morrer também. Não morri, como ele quis, porque fiquei com medo da infelicidade. Meu Deus! Como queria que estivesse vivo mais uma vez, pra tocá-lo. A febre dele impregnou-se no meu corpo e se alastrou em minhas horas acordadas e parece que desse sonho não sairei jamais.

Durmo e sonho demais, mais do que meu espírito pode já suportar.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Oração à Vida


Vida, deusa louca e bendita,
Abençoada e amada,
Poderosa e opressora,
E ainda assim, possível.
Vida, mulher dançante,
Que carrega em seu ventre o tudo:
O todo possível da humanidade.
Vida, louca bendita, te peço,
No novo tempo que se aproxima,
Que não sobrevenham os dias maus
Nem se aproxime o de mau coração.
Permita, ó Vida,
Que o amor perpetuado sossegue
E dê lugar a um novo.
Que as feridas abertas se fechem,
Que o olho fechado se abra,
Que a dor pare de doer,
Que o sossego se faça presente.
Vida, louca e amada,
Dê-me de presente a paz de espírito,
Que dá poderes divinos
A quem é igual a mim.
Vida, louca possível,
Sê grandiosa e abale minhas certezas
Para que nunca suba em pedestais.
Não te desapegues de mim, Vida,
Até que chegue o tempo,
De modo que possa sorrir,
Mesmo se todo o resto cair.

Jamila. 29/12/11, às 1:30.


Esse texto foi para a chegada do novo ano, o "novo tempo". Não conseguia dormir e, incomodada, precisei escrever. PRECISEI. Eu precisava pedir à Vida pra que me resguardasse de minhas inquietações. E aí está minha oração, livremente inspirada na "Oração ao tempo" de Caetano Veloso.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Sobre a infância.

Ontem à noite, depois de tantas manifestações de alegrias e momentos nostálgicos com os desenhos que a galera tá colocando no Facebook, pra "protestar", fiquei pensando sobre a infância. Claro, não é um texto que tem a intenção de definir o que ela seja, nem de moldar nada, é só um pouco das minhas lembranças.
A infância é, realmente, uma fase linda da vida das pessoas. Sim, a mais importante, sem sombra de dúvidas. É com ela que se começa tudo e onde o caráter e a personalidade do ser humano vão ser definidos. É por ela que ele aprende a simbolizar, a falar, a escrever (ou não). Enfim, na maioria das vezes, é nela que adquirimos as capacidades essenciais pra vida em sociedade. No entanto, não é o momento mais lindo.
Pra mim não foi.
Foi muito, muito bom. Mas tiveram momentos que foram muito, muito ruins.
A infância que não é infância é mais cruel do que as outras fases que não se deixam ser elas mesmas, podem ter certeza. De tudo o que mais me fazia falta era exatamente não saber me defender das crueldades das pessoas mais velhas e ser reprimida em muitíssimas situações onde eu estava certa e não poder fazer nada quanto a isso, por que eu só era uma criança.
Se existe mesmo alguma intenção das pessoas protestarem contra a violência infantil, que não seja só o ato de colocar um desenho querido no seu avatar - ato que por si só não traz relevância nenhuma e não muda NADA na vida de quem está sofrendo. A única pessoa a se beneficiar dos desenhos é você mesmo, que sente os bons momentos sentado na frente da tv, revividos.
Se a dor de uma criança te incomoda, dê ouvidos a ela. Saiba que o sentimento de raiva, de ódio, de tristeza, de frustração, de dor, são tão sofridos nela no que na de qualquer ser humano com mais de dezoito anos. E nem podemos saber (eu, pelo menos não sei) se não é até maior.
Morro de ódio de pessoas que acham que podem destratar uma criança, humilhar, fazer o que for por que "menino não tem querer".
Minha infância foi boa, melhor que de muita criança por aí que sofre coisas inimagináveis, eu sei. Mas poderia ter sido melhor se eu tivesse a consciência que eu tenho hoje, já com 21 anos e alguns calos da vida, desde a já muito dita infância. Conheço senhores de mais de 60 anos, profundamente marcados pelos desmandos sofridos na infância, onde a criança era apenas um adulto em miniatura.

A infância pra mim não é idílica. Tenho saudades dela, sim, mas nunca quereria vivê-la novamente. Prefiro a liberdade pra escolher meus caminhos, prefiro a coragem que hoje possuo, prefiro a consciência de que não sou inferior a ninguém.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Las colores

Há uma lua no céu brilhando como nunca e eu aqui, escrevendo pra não explodir.

Não é verdade que sempre existiram soluções pro que não se achava possível?

Inventaram a lâmpada, a roda, o fogo (esse descoberto).

Eu queria uma solução pros meus impasses. Quero inventar a minha roda, ou talvez minha engrenagem, pra que a minha vida vá. Não que me fuja como das outras vezes.

É tão difícil não chorar quando o mundo se apresenta tal como eu o vejo por vezes. Tenho medo de não ver o mundo com cores sempre.

Pois que esteja decidido: todas as vezes que o mundo estiver em preto e branco, que eu considere como as fotografias que ficam mais artísticas e mais bonitas desse jeito.

Que toda vez que ele estiver em sépia, que eu lembre de um céu amarelado que uma vez fez em Bacabal, logo depois das chuvas de janeiro, com um arco-íris sem cores, mas impressionantemente lindo.

Que toda vez que o mundo estiver somente negro, que eu lembre da janela desse quarto que não é meu, e me lembre da lua gloriosa que está agora e, com isso, lembre que não há escuridão que não ressalte alguma coisa e que eu possa lembrar também da felicidade que eu já toquei por várias vezes, para que as cores voltem.

Amém.

Às 1:25 de 11/07/2011

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O ano improvável.

Como não poderia deixar de ser, um texto pro final desse ano. Já estamos no dia 29 e provavelmente não entrarei na internet antes do reveillón e nem depois!

Praticamente em todos os dias, esse ano me trouxe surpresas.
Foi o ano que eu dei o meu 5º beijo, no 1º dia do ano.
Foi o ano que eu passei pro que eu queria, duas vezes. Desisti da primeira e meti os peito na segunda.
Foi o ano que eu abandonei, com uma dor no coração, Pedagogia. Depois de um ano e meio pedalando com a pobre Lois Lane praquela UEMA, passando raiva, tendo ódio de gente, rindo, amando algumas seletas pessoas. Não, não foi pra nada que eu fiz Pedagogia. Foi uma das mais surpreendentes aventuras da minha vida. Pena ter que ter de deixar tudo isso pra trás.
Foi o ano do meu primeiro carnaval!
Foi o ano que eu fui morar fora, depois de quase perder o curso de Jornalismo, por um erro no meu cadastro na UFPI.
Foi o ano que quatro pessoas me fuderam com toda a crueldade com que se pode fuder alguém. E digo FUDER mesmo, sem eufemismos, sem duplo sentido. A marca que ainda está em mim mostrou o quanto um dia pode fazer tanta diferença na vida de uma pessoa.
Foi o ano que eu conheci o maior número de gays da minha vida. (\o/ Lesgal! Atoron!)
Foi o ano que eu conheci pessoas e as amei, quase que instantâneamente. E, pelo menos uma dessas pessoas me amou com toda a intensidade que poderia ter. E foi, infelizmente, o ano que eu não pude retribuir o tesouro que me era dado.
Foi o ano que eu subi na mesa (não digo o meu estado*!) e cantei "Hay amores" pra umas 20 pessoas. Sei que serei lembrada pra sempre por isso. (gravaram, porra!)
Foi o ano que eu beijei mais do que em toda a minha vida inteira. A contagem não vai ser revelada, mas, pelos meus padrões, foi muito, mésti.
Foi o ano que eu beijei e não morri. (Sim, eu poderia. Se você me conhece, sabe o porquê!)
Foi o ano que eu fui assaltada pela primeira vez. Corri, o ladrão não me pegou, o celular sobreviveu, mas eu dei uma topada e torci o pé! Grrr
Foi o ano que, por causa da topada, pela primeira vez na vida, coloquei o gesso no pé. (Vai me dizer que quando você era criança não tinha esse sonho de usar gesso só pros outros assinarem? TÁ! Nem vem!)
Foi o ano que eu me sujeitei trabalho escravo às aulas de uma professora acolá, que me deu uma mínima amostra do que é o mercado de trabalho.
Foi o ano que eu dei um ataque de fúria e xinguei meus pais na cara deles! =O EU fiz isso. Até hoje não acredito... Não só ter feito, mas como não acredito ter sobrevivido. Gulp!
Foi o ano que parei de dormir com a minha vó, depois de quase cinco anos.
Foi o ano que passei fui personagem de três reportagens de tv. (Tipo, eu passava lá atrás na escala rolante do shopping, mas mesmo assim, foi a minha estréia. Meu nome agora não é mais Jamila Carvalho, meu nome artístico agora é Íris Katherynni, ok?)
Foi o ano que eu vi o tanto que eu tava lascada sem amigos.
Foi o ano que eu fui assaltada pela segunda vez. E pela segunda vez, o meu celular resistiu.
Foi o ano que eu parei de escrever no meu diário. Infelizmente, muito, absurdamente.
Foi o ano que eu vi que eu não sei de porra nenhuma e que eu sou igual a uma formiga andando distraída pela sala. E que não sabe que o seu pé vai pisá-la e esmagá-la a qualquer momento.

Pelo menos eu sou daquelas formigas teimosas, que não morrem logo.

*Eu vou dizer meu Estado sim: Maranhão!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Eu já escreví isso?


Jamila sempre foi conhecida por suas manias. Desde muito pequena, não conseguia ficar quieta um só instante. Odiava ter que entrar em casas com pisos de azulejos, porque faltava enlouquecer pra não pisar nas malditas linhas. Da mesma forma era com as calçadas. Talvez por isso mesmo que não gostava muito de ter que andar, mas tinha.

Agora que já é menina moça, anda por aí sem olhar para o chão. Ainda é muito difícil resistir a um bom desafio.

Jamila não chora fácil. Não, não mesmo. Nada de tpm’s que a fazem chorar com comerciais de manteiga, muito pelo contrário. A sua TPM a faz inflamar de ódio. Coitado do vento que triscar. Nomes feios, nomes baixos, nomes altos e sonoros saem da sua (voluptuosa) boca. Mas certa vez, a pobre garota chorou. Chorou até suas lágrimas secarem no rosto. Desde esse dia nunca mais chorou tão copiosamente, nem tanto e nem pretende. Mas a lembrança do dia do choro extremo nunca saiu de sua cabeça. É bom lembrar que depois disso, ela dormiu como se tivesse tomado diazepan na veia.

Ela já gostou de matemática, mas como qualquer pessoa normal, no Ensino Médio, veio a odiar essa triste invenção com todas as suas forças. Algo como três TPM’s acumuladas. Em dia de prova, saia de casa cheirosa, arrumada, cabelo penteado e alguma sombra no olho, mas nunca com uma faca, que era o que ela mais desejava carregar.

Sem perceber, entendeu que os seus dotes davam pra escrever. Mas ao mesmo tempo, também entendeu que podia escrever sem dar. Desde então, mantém cadernos avulsos, sempre comuns e entediantes, sem canetas coloridas, onde tem a oportunidade de ficar totalmente nua. Só às vezes, sexy.

Meninos bonitos demais não têm vez com ela. Mas só pelo único motivo de nunca um ter tido vontade de entrar na fila.*

Por vezes, vai dormir muito linda. Invariavelmente acorda feia. Nesse caso, já desistiu de esconder as eternas olheiras, porque nem cimento resolve.

É limpinha e cheirosa, porém os cabelos... Os seus cabelos têm vida própria. Quando eles encasquetam que não querem sair de casa, é um puxa daqui, repuxa dacolá, e muitos fios são sacrificados nessa batalha vencida quase à sangue. E, triunfante, ela joga o que tiver de creme em cima dos coitados exânimes. Certa vez, ela inventou de domá-lo à gel. Nem uma pedrada na cabeça movia algum fio. Só aí ela percebeu o quanto a Hebe Camargo deve sofrer. Desde então, a menina é partidária de qualquer meio que descaracterize o cabelo miscigenado das povas brasileiras, mas nunca teve coragem de meter qualquer química no seu.

A jovem ama e vive. De um jeito muito particular, de um jeito muito intenso, mas de um jeito não tão estereotipado como ela queria que fosse. E, porra!, apesar dos pesares, ela é uma garota normal. Ok, atipicamente normal.


[i]*Peraí, existe uma fila?[/i][:o]

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Segunda do Dia da Felicidade.


Percebí que sou filha do vento.
Meu pai me carrega por entre as árvores
Beija-me e abraça-me completamente.
Ele disse: -Vai, filha.
Tenha-me dentro de ti.
Lembre-se dos meus beijos.
Deixe que eu me revolva em seu ser.
Vá por entre o mundo,
Assim como fomos entre as árvores.
Faça seus próprios tornados.
Destrua-se e volte a ser novamente.
Sopre para longe os males,
Assim como eu carrego as folhas secas reunidas.
Deteste as amarras,
Não as que ligam seu coração,
Mas as que perpetram no seu cérebro.
Vai, minha filha.
Chore. Eu secarei suas lágrimas.
Ria. Eu brincarei com os teus cabelos.
Ame. E terás uma brisa em seu rosto.
Apaixone-se. E verás um enorme furação.
Vai, filha.
Num simples balanço das mãos eu estarei contigo.

Primeira do Dia da Felicidade (31/08)

Senhor cavalheiro,
Se me quiseres,
Terás de mim o beijo mais doce
Terás as palavras que aquecem o coração
Terás o carinho que lampeja a alma.

Senhor cavalheiro,
Se me aceitares,
Terás um coração cheio de amor e de dor
Que reconhece a cada face e que faz curar
Que morreria por um sorriso de felicidade.

Senhor cavalheiro,
Se me amares,
Terás também o corpo casto que possuo
E todas as suas violentas formas
Que serão para ti e para mim uma fonte inesgotável.

Senhor cavalheiro,
Peço-lhe que me queiras,
Porque já não é a vida sem ti
Mas se não aceitasres minha oferta,
Terás porém estes versos
Que já eram seus antes de nós mesmos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010


O declínio do amor romântico


Uma história popular relata o caso de uma jovem que desejava muito viver uma relação de amor e então deixou um bilhete num local onde seria fácil de ser encontrado. A mensagem era a seguinte: “A quem encontrar este bilhete: eu te amo.” Parece improvável? Mas é isso mesmo o que acontece por aí, só que de forma mais sutil.

Na verdade, não faz muita diferença quem encontre o bilhete. Quantas vezes ouvimos a descrição do parceiro amoroso de alguém como sendo uma pessoa maravilhosa, bonita, inteligente e quando somos apresentados a ela levamos um choque?

O amor romântico não é construído na relação com a pessoa real, mas sobre a imagem que se faz dela, trazendo a ilusão de amor verdadeiro. Deseja-se tanto vivê-lo que, quando alguém o critica, provoca grande desapontamento. Não é para menos. Nada pode unir tanto duas pessoas como a fusão romântica.

A questão é que, por mais encantamento e exaltação que cause num primeiro momento, ela se torna opressiva por se opor à nossa individualidade.
Vivemos um período de grandes transformações no mundo, e, no que diz respeito ao amor, o dilema atual se situa entre o desejo de simbiose com o parceiro e o desejo de liberdade. É inegável que a fusão proposta pelo amor romântico é extremamente sedutora. Que remédio melhor para o nosso desamparo do que a sensação de nos completarmos na relação com outra pessoa?


No entanto, quando alguém alcança um estágio de desenvolvimento pessoal em que descobre o prazer de estar sozinho, se dá conta de uma profunda mudança interna. Preservar a própria individualidade passa a ser fundamental, e a idéia básica de fusão do amor romântico, em que os dois se tornam um só, deixa de ser atraente. Quanto à possibilidade de as pessoas alcançarem essa independência, existe certo pessimismo, alimentado pela crença de que o desejo de fusão com o outro está arraigado aos nossos ideais. Não participo muito dessa convicção.


O terapeuta e escritor Roberto Freire afirma em um dos seus livros que lhe custou muita dor, solidão e desespero aprender que sentir amor era uma potencialidade vital sua, produção criativa própria, e que para amar dependia apenas dele mesmo. A expressão e comunicação do seu amor eram produtos da liberdade pessoal e social conquistada. “Em minha inocência e ignorância, eu atribuía a algumas pessoas o poder de liberar, produzir, fazer exercer-se e se comunicar o amor em mim e de mim. Esse amor pertencia, pois, exclusivamente a essas pessoas, ficando eu delas dependente para sempre. Se, por alguma razão, me deixassem ou não quisessem produzi-lo em mim, eu secava de amor e — o que é pior — ficava em seu lugar, na pessoa e no corpo, uma sangrenta ferida, como a de uma amputação, que não cicatrizaria jamais.”


Por enquanto, não há dúvida de que desejar viver relações de amor fora do modelo romântico pode ser frustrante. As pessoas são viciadas nesse tipo de amor e fica difícil encontrar parceiros que já tenham se libertado dele. Mas acredito ser apenas uma questão de tempo. As mudanças são lentas e graduais, mas definitivas, nesse caso.

Para quem imagina que vai perder alguma coisa ao desistir do amor romântico, Bonnie Kreps, cineasta canadense que escreveu um livro sobre o assunto, é animadora.

Ela diz que deixar o hábito de “apaixonar-se loucamente” para a novidade de entrar num tipo de amor sem projeções e idealizações também tem sua própria excitação. É a mesma sensação de utilizar novos músculos, que sempre tivemos, mas nunca usamos por causa de nosso modo de vida. Entretanto, ao começar a utilizá-los podemos fazer com nosso corpo coisas que antes nunca conseguimos.

Para ela, os músculos psicológicos também existem e devemos olhar através da camuflagem do mito do amor romântico a fim de encontrá-los — e, então, ver com o que se parecerá o amor quando mais pessoas começarem a flexioná-los.


Quem sabe não teremos grandes surpresas?

Regina Navarro

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Meu amigo.


Seu Sampaio dorme agora
na sua vida, eu sorri
na sua morte, eu não chorei
o rádio de pilha desligou
não tocará mais
O mundo mudou
E ainda não me dei conta
O meu mais velho amigo
mais jovem alegre
dormiu.
Agora, ele joga conversa fora
com meus avôs.
Deitado não o vi.
Apenas sentado, cantando.
É isso que ficará, amigo.

Durma em paz, querido amigo. Sentirei sua falta.

20:23 de 04/04/2010.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O infinito e nós.

Sete horas te escrevi que não poderia ser o melhor pra mim, meu querido. Olhei nas casas e elas me pareceram sombrias, por isso não me atrevi. Vaguei por mais lugares estranhos e ermos e eles não eram apropriados pra nós. Para nós, apenas um lugar poderia sustentar por alguns minutos as longas horas de amores guardados: o infinito. Se esse lugar existir, onde ele existir, de que modo existir, eu estarei lá, para sempre te esperando. O infinito nos hospedará por alguns minutos e esses minutos serão eternos, por causa do lugar que nos abriga. Horas, minutos, segundos, milésimos, tudo isso não terá nenhum significado. Onde quer que esteja o infinito, lá estarei eu e lá estaremos nós a nos perpetuarmos lancinantemente. Por isso somos mortais, para que possamos ter a oportunidade de nos tornarmos eternos. Por isso não me encontre onde eu te escreví cinco horas. O amor aqui, dessa maneira, jamais poderá acontecer.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A noite

é uma companheira e tanto. Não sei porque, quando dá de madrugada, parece que os meus neurônios querem funcionar mais rápido do que o normal. Eu passo a madrugada inteira "escrevendo" coisas na minha cabeça, criando textos lindíssimos, que na hora que dá o dia, que eu vou começar a escrevê-los, não saem com a mesma fluidez da madrugada.
Ontem, eu fiquei pensando na beleza. E nos seres apaixonantes e nos apaixonáveis. Eu pensei que há uma diferença entre esses dois tipos de gentes. Os apaixonantes seriam aqueles por quem se apaixonam muito fácil e os apaixonáveis seriam aqueles se apaixonam muito fácil ou por muito pouco. Por exemplo, pela beleza. Se apaixonar pela beleza é ser apaixonar muito fácil, porque a beleza é óbvia e evidente, só precisa-se de um olhar pra descobrí-la. E também é apaixonar-se por pouco, já que a beleza, apesar de grandiosa, é apenas uma coisa dentre tantas outras que podem levar uma pessoa a se apaixonar por outra.
Eu tenho um tio que é muito parecido comigo, quando se trata de pensar sobre as coisas. Uma vez estávamos conversando e ele me olhou e disse, com uma sinceridade que me desconcertou: "Você é perigosa, menina!" e eu perguntei porque. Ele me falou que era porque eu sou bonita e mulheres bonitas são perigosas. Eu era mais nova e isso me assustou um pouco, não porque eu não tivesse entendido o sentido do que ele me dizia, mas quando eu propus morar com a minha tia na capital, e ela não aceitou e me deu um monte de desculpas esfarrapadas pra isso, a fala do meu tio ecoou bem fundo na minha cabeça. Uma semana depois, ela revelou o real motivo pro meu pai de que era por causa do marido dela, um cara altamente apaixonável.

sábado, 3 de julho de 2010

O que é maior que dois

Num rompante, se despe por inteira. Não. Ainda não está por inteira. Ainda carrega no rosto sombra e um batom muito vermelho que faz com que seus lábios ressecados tenham um aspecto febril de que estão jorrando sangue. Tranca a porta com duas voltas na chave, ouve o barulho de um simples ventilador.

A noite está inesperadamente fria. O banho que tomou com água gelada faz com que todos os seus pêlos fiquem eretos. Ela não se enxuga, deixa a água correr e formar gotas que deslizarão suaves por suas curvas. Nota aí uma sensualidade que ninguém vê, é dela e apenas a ela pertence. Nesse momento, o desejo mostra-se e ela sente no seu secreto, uma ansiedade para o desconhecido.

O ventilador que é ligado no último grau quase fere o seu corpo. Enrijece-a e a quebra por dentro. E mesmo isso ela deseja. Vê nesse pequeno flagelo uma beleza. É para ela treinar seu corpo para pequenos invernos, resistir-se a si mesma, sentir a sensação do quase impossível na pele.

Segue a curva que é formada pelo seu seio, desce pela barriga e que se finda na virilha. Já não é ela mesma quem está ali, mas uma outra que se apossa e não tem medo de nada, nem de si mesma. Imagina a vastidão que se pode ter em tão delgado corpo e em suas falanges se encontram a passagem para a explosão ensaiada do êxtase.

O livro está aberto em uma página qualquer. Ela o nota e ri-se dessas travessuras que esse ser supremo lhe prega ao seu bel prazer. A vida, a quem não ensinaram os nãos, simplesmente atestara o seu estado: “(...) viver na verdade, não mentir nem a si próprio nem aos outros, só é possível se não houver público nenhum.”

Depois do riso, o ventilador pode então descansar. Olha o relógio e são três da madrugada. Lembra-se que na imensidão de uma noite são sempre três da madrugada.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

ADORO PAU MOLE - MARIA REZENDE


Adoro pau mole.
Assim mesmo.
Não bebo mate
não gosto de água de coco
não ando de bicicleta
não vi ET
e a-d-o-r-o pau mole.

Adoro pau mole
pelo que ele expõe de vulnerável e pelo que encerra de possibilidade.

Adoro pau mole
porque tocar um pressupõe a existência de uma intimidade e uma liberdade
que eu prezo e quero, sempre.

Porque ele é ícone do pós-sexo
(que é intrínseca e automaticamente
- ainda que talvez um pouco antecipadamente)
sempre um pré-sexo também.

Um pau mole é uma promessa de felicidade sussurrada baixinho ao pé do ouvido.

É dentro dele,
em toda a sua moleza sacudinte de massa de modelar,
que mora o pau duro e firme com que meu homem me come.