sábado, 3 de agosto de 2013

Há quanto tempo, né?
Tanta coisa que já mudou. Eu nem sei por onde começar e nem sei se devo.
O fato é: eu só estou escrevendo por que algo importante aconteceu. Novamente. E, na verdade, o que está me fazendo sentir coisas nesse momento não foi o que realmente aconteceu (como nunca o é), mas o que eu estou sentindo sobre o fato. Hoje, faleceu alguém que eu odiava bastante. Bastante mesmo. Como eu nunca odiei e nunca serei capaz de odiar a mais alguém na minha vida, espero.
Talvez, pra isso, seja mister explicar algumas coisas: em um dia como esse, há três anos atrás, no começo de agosto, eu estava pra viver um dos piores dias da minha vida. 2010 foi o ano que eu me mudei pra Teresina e o ano que eu comecei a viver mais as coisas que eu sempre soube que poderia, não fossem as amarras que eu mesma me enredava sempre na minha cidade. Dava desculpas à mim mesma por não estar fazendo as coisas que eu queria, por não estar vivendo as experiências que eu queria e sabia que já era tempo de viver. Por vontade, não pelos outros. Ponto.
Vim pra Teresina atrás de um sonho, atrás de um ideal. Mas não só atrás disso: também vim pra Teresina atrás de uma nova vida. Vi essa cidade como um recomeço, uma nova chance, algo melhor. Melhor do que as horas agoniantes que havia vivido a adolescência quase toda, ou a melhor parte dela, ao explodir a grande bomba que ficou estilhaçando minha vida por muito tempo, desde os meus dezesseis anos, aquela que eu não posso deixar de falar nunca: a porra da síndrome do pânico.
E chega a moça serelepe, contente, mas morta de medo. Na cidade onde não tinha um amigo sequer, um conhecido que a valhesse, foi contar com um velho amigo que poderia levar pra onde quisesse: o diário que mantinha desde 2008. Nele, resvalava todas as minhas emoções, todos os meus ódios, meus acontecimentos, minhas iras, meus amores, minhas paixões, minhas taras, meus xingamentos, minhas bênçãos. TUDO. Se há algo de que me orgulho, mesmo depois do que tudo aconteceu, foi o fato de eu ter conseguido ao máximo não filtrar os meus pensamentos - lógico, sempre nos limites da escrita e da rapidez com que a minha mão era capaz de escrever. Nunca pensei em fazer uma versão digital (e mais segura) desse diário. Pra mim era imprescindível o papel pautado em branco e uma caneta com tinta. Eu queria minha letra. Eu queria minha subjetividade riscada ali, eu queria à mim, no que possível fosse da minha totalidade. Tentei.
Consegui até Agosto de 2010.

Na van que me trazia da minha cidade pra cá, mamãe perguntou ao motorista se ele conhecia algum lugar onde nós duas pudéssemos ficar, pelo menos durante a primeira noite que eu passasse aqui. Ele nos indicou uma pensão que ficava perto de onde eu estudo e que, segundo ele, eram de gentes muito boas. Pessoas evangélicas (não vou escrever qualquer juízo de valor sobre isso, pelo menos, não agora), muito respeitáveis e rígidas nas normas, porque não podia ser da "bagunça", claro. Claro.
Nessa época, conheci pessoas maravilhosas. Os amigos que eu fiz lá, apesar de que raramente eu mantenho qualquer contato, ainda me pego pensando no quanto foram essenciais naqueles meses chorados e novos em que eu saí da minha terra, depois de 19 anos morando por lá. Todos estávamos na mesma situação e era natural que todos nos ajudássemos. Obviamente, fui também viver as coisas que eu pretendia viver e que a mim não seriam mais vedadas pela pessoa que mais me impedia, sempre: eu mesma. Saí pra festas, bebi, fiquei bêbada, vomitei, beijei, dancei que me acabei. Mas também fiz amigos, estudei como nunca tinha estudado na minha vida, passei em todas as disciplinas, contornei crises. Enfim... Vivi. E não tinha perdido a minha responsabilidade, meu tino, como muita gente na minha família julgava que eu o faria.

E registrava diariamente nos meus cadernos numerados o que me acontecia, porque sabia que o tempo ia passar e a minha memória nunca foi nada confiável. E pra conseguir também. Sabia que, em qualquer momento que fosse da minha vida, aquelas páginas não me deixariam decepcionadas. Não me deixariam de ouvir. Seriam pacientes com as minhas lamúrias de saudades, minhas paixonites do primeiro período de faculdade, com o mesmo velho amor encarniçado de anos, com as minhas raivas, com qualquer Jamila que ali se apresentasse. Eu trabalhava minhas emoções nele. Eu me resolvia. Tudo na mais plena confiança de que só eu tinha acesso, porque todo mundo sabe que a presença de um observador diminui a espontâneidade de qualquer experimento.

Pois bem. Em Agosto de 2010, eu fui aviltada de uma forma que nunca tinha me acontecido antes. O casal velhinho e respeitável da pensão, estava nada mais nada menos do que lendo o meu diário. Lendo os segredos e as histórias que não pertenciam à mais ninguém, senão a mim. Acharam que, por superiores donos da pensão que eram, poderiam pegar os escritos das pessoas que moravam lá e ler. Isso mesmo: leram. Leram todos os meus segredos e confissões, daquelas que você não conta pro melhor amigo. Invadiram uma esfera muito maior que eu jamais havia deixado ninguém entrar: o profundo do meu íntimo, clandestinamente, sem qualquer permissão e sem qualquer conhecimento. O tempo foi passando e eu fui percebendo que aquelas pessoas que haviam me acolhido tão bem outrora, estavam me tratando deliberadamente mal. Inclusive a própria empregada da casa, que se fazia de minha amiga, conversava comigo como que pra confirmar coisas que eu havia escrito no diário. E a coisa foi chegando a um ponto tão insuportável, que a dona de lá me chamou pra conversar e falou coisas que eu nunca poderia imaginar que ela saberia, porque não tinha como, por outro meio. Basicamente, ela me acusou de várias coisas, me fez várias chantagens veladas, como a de que eu teria que sair de lá. Mal sabia ela que era a coisa que eu mais desejava na minha vida, naqueles momentos. Saí da tal conversa, liguei pra minha mãe e disse tudo o que havia me dito. Sem compressões e sem alívios pra mim, por mais que eu tivesse contando a minha versão. Fui embora de novo pra minha cidade. Voltei com a minha mãe, pra que ela dissesse absolutamente tudo que havia dito pra mim na cara dela, nada mais justo. Fui à Universidade e quando voltei com o coração pesadíssimo pelo resultado da conversa, encontro, atônita, minha mãe me dizendo que ela se recusou a falar qualquer coisa a meu respeito e disse que era pra deixar tudo pra lá. Hoje sei que foi o puro remorso pelo que estavam fazendo comigo. Só que por aí não parou. Começaram a me tratar bem por um tempo, mas eu descobri que estavam falando mal de mim pra MÃE da galera que chegava lá, que já morava comigo. Qual não foi a minha surpresa quando eu tive que mudar de quarto, sendo que eu me dava super bem com as duas outras meninas com quem eu dividia o quarto? Ainda mais sob a ridícula desculpa de que era pra que "as evangélicas ficassem em um quarto e as que não eram, em outro, pra não ter problema". Eu poderia contestar, mas não fiz pra não arrumar mais confusão. Mas eu juro que o dia que eu pensei que eu fosse morrer de ódio foi o dia que eu descobri que o real motivo foi que a mãe de uma das meninas que morava no quarto comigo, ao ouvir o quão "louca" eu era, temia pelo futuro da sua filha ao lado de tão má companhia, olha! E hoje eu me lembro o tanto de vezes em que acolhi a sua filha chorando morta de desesperada por não conseguir passar no vestibular, ou dava conselhos pra que estudasse mais, dentre outras coisas.

Minha vista rodou, escureceu. Eu acho que a minha pressão deve ter baixado nessa hora. O estresse tava alto demais. Pra evitar escândalos, calei toda a raiva que eu tinha dentro, respirei com muita vontade e entrei pro quarto novo, com as novas companheiras e escrevi todo o ódio que havia naquele momento na minha alma. Escrevi todos os xingamentos novos e antigos e creio que ainda inventei alguns. E disso não me arrependo. Da minha esfera íntima, quem tinha o domínio era eu, só quem poderia ter acesso também era eu. E ainda fiz isso pra não evitar mais problemas com aquele povo. Porque não tinha pra onde ir, porque não podia ser expulsa e ter que ligar desesperada pra um "recém-amigo" pra que me desse abrigo à noite, porque não podia ligar pra minha mãe chorando dizendo que tinha esculhambado um povo que me humilhou só porque não concordavam com o modo de viver que eu havia escolhido pra mim. Uma pessoa adulta, com cérebro, que estava tomando decisões. Quem eram eles ou quem era qualquer pessoa pra me falar alguma coisa? Alguém por ali pagava minhas contas, por acaso? E muito além disso: o que eu fazia ou deixava de fazer fora daquele ambiente, não era problema de absolutamente NINGUÉM.

No outro dia, tendo tomado café da manhã com pão e ódio, segui pra minha jornada diária que era das 8 às 18, na Universidade. Eis que no meio da tarde, o meu celular toca de um número desconhecido, mas tava no silencioso e eu não atendi. Tocou várias vezes e todas as chamadas ficaram perdidas. Cheguei lá na pensão, jantei. Tudo muito normalmente, tirando o fato de eu não aguentar nem olhar na cara desse pessoal. Fui pro meu quarto pegar um dinheiro pra ir ao shopping que fica perto de lá, quando sou abordada pela filha deles. Uma mulher que eu julgava ter mais de 30 anos e que morava lá também, ou que, pelo menos, passava uma boa parte do tempo. Me abordou da maneira mais violenta o possível e eu sem entender o porquê daquilo. Quando eu vi algo em suas mãos que fez o meu mundo desmoronar à minha volta: a XEROX do meu diário. Isso mesmo, amiguinhos. Nada mais, nada menos que várias páginas xerocadas do meu diário. Figurando, claro, as ofensas íntimas que eu havia escrito no dia anterior. Porque, logicamente, foram lá dar a lidinha do dia e acharam o que tavam merecendo ouvir. Tivemos uma briga corporal, mesmo com a minha força já perdida, mas mesmo assim eu não consegui recuperar o meu diário. Comecei a gritar e a chorar ao mesmo tempo. A visão ficou embaçada e ela seguia me gritando coisas e mais coisas dizendo coisas como: "Você tem que pedir perdão pra Deus", "Eu vou te processar", dentre outras coisas que o melhor pra minha sanidade não lembrar. E eu gritava e gritava, perguntando porque eles tinham feito aquilo. E tentava reaver meu diário, mas ela não me dava. Fragilizada que eu tava, mal conseguia me manter em pé.

Me empurrou de volta ao quarto que eu estava, com a porta em frente ao que tudo aconteceu. Atirou-me lá dentro e disse, sarcástica: "Olha, não vai dar uma crise não, viu?". Cambaleante, fui tomar um banho. Tirei toda minha roupa e fui pra debaixo do chuveiro. Vomitei todo o meu jantar recém comido (cara, eu podia ter morrido nessa porra, sei lá) e desmaiei em cima dele. Depois de um tempo, acordei e consegui pegar meu celular pra pedir ajuda. Liguei pro pessoal de lá, meus amigos. Uma delas me procurou no quarto e me limpou e me vestiu, também já passando mal pelo susto. Foi quando todo mundo apareceu, depois que ela gritou pela casa pedindo ajuda.

Todos vieram, inclusive quem tinha me causado aquilo. Fui levada pra cama já em crise, sem conseguir enxergar quase nada do mundo, com o meu cérebro totalmente alucinado, com toda aquela sensação escrota que essa merda de doença pode causar numa pessoa. Todas. Todas elas. Pelo menos, todas as que se manifestavam em mim, que botavam pra fuder mesmo com qualquer perspectiva de juízo. Nessa hora, eles ME PERDOARAM, acredita? ME PERDOARAM. Perdoaram pelo quê, meu Deus? Quem fez o mal pra quem? Na cabeça desse povo moralista, que só respeita quem anda na linha que eles traçam pra moças, pras pessoas, pra quem quer que seja, EU tinha errado. Eu tinha errado porque fui colocar a MINHA raiva em um lugar de fala que era só MEU. Do meu mais íntimo. Fora que eu nem falei que à tarde, antes de eu chegar, eles ligaram tocando o terror pra minha mãe, dizendo que iam me expulsar de lá e LERAM minhas confissões e segredos pra ela, como se já não bastasse tudo o que eu já tinha sofrido até então.

Talvez foi a crise mais longa da minha vida. Não dá nem pra colocar tudo, mas o cara pegou um óleo lá e me ungiu, me EXORCIZANDO, tá ligado? Tipo, o cara tava falando que era pro coisa-ruim sair de mim, galerinha do barulho. Meu celular tinha sumido (depois eu descobri que meu pai tinha ligado e que quem atendeu foi a filha deles e disse que EU ESTAVA MUITO BEM, OBRIGADA). Certamente estavam com medo de pra quem eu poderia ligar, quem eu poderia acionar. Mas eles nem precisavam ter ficado preocupados. Eu estava submersa em tanta agonia e sofrimento que até a possibilidade de defesa me foi tirada.

E foi, na minha vida, a maior maldade que pessoas já me fizeram. No outro dia, um amigo foi lá me buscar e eu tive que ser levada ao hospital pra tomar soro. E nunca mais pisei daquele lugar. Saí de lá com a roupa do corpo pra nunca mais voltar, graças a Deus. Alguém tem noção do quanto isso me doeu? Do quanto isso me abalou? Na própria fé que eu tinha das pessoas... Fui pra minha cidade sem saber como eu ia ter coragem de voltar de novo e ficar sem minha família... Alguém tem noção do quanto eu sofri com minha vó me dizendo coisas como se eu mesma tivesse provocado essa situação, como se fosse, de algum modo, legítimo que eles lessem mesmo algo que à eles não pertencia? O quanto eu sofri com a minha mãe realmente achando que eu que estava errada nessa história toda, no final das contas? Quando a moral cristã falou mais alto e eu tive que ouvir de gente que me ama e que eu amo, que eu não deveria ter escrito nada daquilo... Ou que eu deveria ter tomado mais cuidado com o meu diário... Como se fosse possível em um lugar onde não se tinha a menor privacidade e se pagava muito caro por isso.

Tudo doeu e ainda dói. E eu não pude buscar justiça, porque não tive o apoio da família. Quem mais quereria um escândalo, não é mesmo? E também não tinha estruturas físicas e principalmente psicológicas pra passar por isso sozinha. Quantas noites chorei na minha cama por tudo o que isso representou, meu Deus? Quanto de ódio não foi despertado? Eu nunca pensei que pudesse sentir essas sensações ruins que eu senti em relação ao que quer que fosse, imagine à um ser humano. Imagine à um grupo de seres humanos. Nunca pensei, mas eu senti.

Soube, através de um grupo onde fui "jogada" por um outro ex-pensionista, que o cara tava doente, muito doente mesmo. E que hoje, prestes a completar 3 anos daquela desgraça, morreu.

Velho, eu não tô nem aí.

sábado, 4 de maio de 2013

A paz

2 de Maio de 2013, às 16:33.


           O meu coração dói, mas está em paz. Incrível isso, sabe? O último texto que eu escrevi nessa cadernetinha, sentada na praça de um outro shopping, meu coração não podia se suportar de tanto peso. E agora que está tudo acabado, que decidimos que o melhor é cada um seguir o seu rumo, já que ele não pode me oferecer o que eu queria demais, meu coração está leve. Muitíssimo mais leve de quando esteve quando se terminou pela primeira vez.
           Não sei. Estou triste, é claro, mas eu consigo. Quero dizer, estou conseguindo manter-me no meu eixo. As alterações continuam as mesmas, no entanto: sem apetite e agora uma outra muito estranha: só consigo dormir até às seis da manhã, mesmo tendo indo dormir tardíssimo. Fico insistindo até pegar no sono novamente, o que leva umas duas, três horas. Desde a terça. É louco, isso.
(...)
           Lamento que terminou, lamento que vamos nos perder, lamento que não serei eu a ajudá-lo a superar os seus medos, os receios, os traumas. Pena muito grande que não serei eu a quebrar o ciclo que ele se enreda todas as vezes. Infelizmente. Por que, por mais que desejasse ardentemente usar toda a minha capacidade pra fazê-lo feliz, era necessário que ele quisesse isso primeiro. Tentar embarcar nessa comigo e ver como as coisas podiam (e seriam, forçosamente) ser diferentes dessa vez.
           Mas como eu já tinha visto, os quereres não estavam mais sincronizados e foi aí que se deu o "problema". Enfim... Que bom que se era mesmo pra que isso acontecesse, que foi da forma que foi. Tudo muito conversado, com a verdade que nos devíamos e com o afeto demonstrado na preocupação mútua, evidente e sincera com os nossos sentimentos.
           Talvez eu consiga achar um lugar tranquilo pra ele no meu coração. Que haja paz pra mim em relação a ele; que nunca me doa ao vê-lo viver as coisas que ele precisa viver com quem ele precisa viver, com as novas histórias que ele precisa compreender que vão acontecer pra que o ciclo que ele temia se repetir comigo não se repita com quem há de fazê-lo feliz. Marcado já está, mas peço à Vida: que não fique indelével.
            E que a Vida, essa louca que me faz de todas, me traga o amor que seja possível, que seja bonito e que seja leve e ao mesmo intenso, como foi aquele Janeiro maravilhoso que eu nunca achei que fosse viver. Ou pensei que estivesse longe demais.
           
O tempo não foi o errado. Pelo menos não pra mim. rs

             E, apesar de uma certa dose de tristeza que é impossível de não ter, a Vida acabou atendendo um dos meus pedidos: que se não fosse pra ser, que eu deixasse ir em paz.

Obrigada, Vida, pela paz.


17:14. Na caderneta.

domingo, 21 de abril de 2013

Carta privada para ninguém em particular.



Os teus amores me envolvem e parece que nunca serei capaz de sair do teu peito.

De ti, eu só tenho uma certeza: tua presença é um alento e um vício incalculável. Ainda encontrarei prazer melhor que o de me ver em teus braços? Que o de passar as mãos pelos teus cabelos e tu virar a cabeça pra que minhas unhas cocem-na toda? Que o de te beijar lentamente, depois da saciedade maior? Que o de ver o seu rosto tão lindo e tão absurdamente encantador quando se crispa, num êxtase?

Eu, mais uma vez, não sei explicar. Mas quando eu abri os olhos, e estava lá, também de olhos abertos, olhando em direção aos meus, pareceu que um raio me atingiu em cheio. Não aguentei e fechei os olhos. Ficar com aqueles olhos me encarando me faria dizer coisas que ainda quero guardar. Ainda é preciso.




Mas não há mais jeito, não há mais escapatória. Meu coração há de sempre se lembrar dessas sensações correspondidas. As mãos puderam, finalmente, se entrelaçar e as histórias e risadas, finalmente acontecem, como eu sempre desejei.

Eu queria dizer tudo, eu queria que já fosse permitido. rs


Obrigada pelas músicas.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Outra dessas

Os dedos descalços
 E os pés flutuando
  Caminhando inertes
   E sem direção.
    Os dedos descalços
     Os dedos tateam
      As nuvens secretas
       Em extenso algodão
        As mãos compreendem
         O vasto segredo
           Repleto de noites
            E transpiração
             As mãos compreendem
              As mãos tateam
               Tateam caminhos
                 Do que há de paixão.


0:34 - 17/04/13
Em mais uma pausa pra respirar.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Os direitos [2]


Esperando da vida a oportunidade do abraço sem medos. Do enlace tranquilo. Esperando da vida que o alvo dos meus desejos veja que a história é nova, que tudo é novo e que nada mais poderá se repetir, mesmo que assim pareça. Estou dando de mim o que eu pensei que não daria: um pedaço do meu medo (aquele medo normal), pra saber se tem coragem. Esperando novamente que a saudade venha e nos cobre os seus direitos, porque ela cobra, sem qualquer dúvida. E esperando que essa espera não seja vã ou tola como já foi um dia. E tendo a consciência intranquila de que a espera não pode ser demorada demais, por que o meu medo é precioso demais pra que eu dê por muito tempo. É muito de mim. Quero, porque quero e preciso como eu ainda não havia precisado (ou como não sabia que precisava).


Espero que não se furte da felicidade que eu quero tanto dar, mas isso precisa ser querido também. Por muitos anos eu dediquei amor unilateralmente. Eu gostaria muito que, dessa vez, os quereres se ressincronizassem, que os medos fossem superados e que nós pudéssemos viver em plenitude esse nosso tempo, esse momento em especial, que eu temo que passe e nós nos percamos pra sempre, como eu já vi acontecer, como eu já fiz acontecer.


Vida, louca e querida, te deixo mais um pedido, mais um dentre todos os guardados que eu tenho no coração: que o nosso tempo não passe e que a vontade seja tão grande que suplante o medo.

("E quantos segredos trazem o coração de uma mulher?" Perguntou Zé Ramalho.)



08/04/13 – às 11:42. Uma pausa pra pôr pra fora.


sexta-feira, 15 de março de 2013

Às vezes eu fico me lembrando de como as coisas eram diferentes há um tempo atrás. Não há tão pouco tempo assim, levando em consideração os aspectos mais gerais da minha vida. E, não sei porque diabos, vim me lembrar de como era quando eu tinha os meus diários. Aquelas páginas em branco, cheias de privilégios, já que elas eram praticamente as únicas que me viam inteiramente. Ali o espelho era total. Depois que muita coisa aconteceu, nunca mais consegui um espelho tão definitivo quanto aquele. Nunca mais soube como era, de verdade, estar sufocada por uma situação durante o dia e saber, ter a certeza mais plena e absoluta, que as suas próprias palavras iam servir como o bálsamo pra deixar que a noite viesse sem maiores sobressaltos.

E eu só me lembrei disso, porque hoje foi um desses dias em que eu estive sufocada. Não durante o dia inteiro, ainda bem. Mas em uma parte considerável dele e, pra mim, na parte mais crítica: durante a noite. De repente, acontece algo que te leva há alguns dias atrás e te lembra de uma dorzinha que esteve ali e que você viu que não foi embora. Vulcões não se revolvem tão facilmente, como no mundinho minúsculo do Pequeno Príncipe.

Essa dor, por mais irracional que tenha sido e por mais que eu saiba que não darei qualquer tipo de prosseguimento a ela, me deixou a par da minha situação: ainda vulnerável às expectativas. Ainda querendo alcançar uma serenidade que eu queria que fosse como a sua natureza pede: natural. Algo que continuasse comigo mais tempo, nesses tempos. Só que aí a gente se lembra que não seria quem é se não fosse a falta dela nesses tempos, né?

Tô falando muito em código, né? Eu sei.

Eu realmente não sei há quanto tempo eu sou blogueira daqui da Liga. Lembro só que os meus primeiros textos eram muito pífios. Daquela menina de dezoito anos que queria escrever, que achava bonito, mas que não fazia isso muitas vezes. O que dava aos meus textos um certo provincianismo e uma lógica meio furada de que eu precisava copiar o estilo de alguém. Hoje eu sei que posso não ser lá essas coisas, mas as coisas que eu escrevo, estão muito mais conscientes, pelo menos. A temporada de visita diária ao meu íntimo de mais de dois anos, me trouxe resultados surpreendentes e me deixou ciente de que sempre eu poderia me desvendar, com um texto ou dois. Que eu poderia, se não resolver, pelo menos compreender o que está se passando e racionalizar uma solução viável pra parar de doer. Sempre dava certo.

Hoje, por mais que eu saiba que vai parar de doer aquela dorzinha em particular, por algo que eu já havia perdoado, eu sei que hoje, especificamente hoje, isso está me incomodando. E outras questões surgem, sempre ligadas às expectativas que eu não sei deixar de fazer sobre o futuro, por mais que eu tente sempre me policiar em relação a isso. Viver mais o momento e deixar o depois pra depois mesmo.

É complicado... Sempre soube o que fazer quando era só eu. Mas nunca foi só eu, né, Jamila? Sempre havia algo ou alguém na vida. Eu não sou uma ilha. rs

Enfim, muito mais desabafo comigo mesma (já que eu sei que quase ninguém vai ler o que tá aqui mesmo) do que qualquer outra coisa. Eu sei que sensações vão passar por mim. Eu sei que isso vai passar, mas eu espero que logo. Respiro profundo e entendo que coisas boas estão só à minha espera e que essa insegurança não pode levar ninguém a nada. Um pouquinho de tristeza nunca matou ninguém (sendo só um pouquinho!).

Ah, outra coisa: PUTA QUE PARIU, como eu tô com saudades da minha mãe. Se eu chorar hoje à noite, vai ser por causa da falta dela. Eu só queria um abraço dela. Eita porra, dela e da minha vó. Do meu pai. Do meu irmão. Dos meus primos pequenos, da bebê. Isso me ajudaria a aliviar um pouco a alma, hoje.

Já respiro melhor agora. Já posso dormir melhor agora. (Se o calor deixar, é claro!)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

"E no meio de tanta gente, eu encontrei você..."


... E foi a coisa mais maravilhosa que poderia ter me acontecido. Chegou num momento da minha vida onde o que vivemos já não passava de uma esperança já se borrando no ar e a minha irritação com a Louca da Vida era visível e resistente. Claro, eu era feliz antes de ti. Claro, eu serei depois de ti. Mas fui tão mais feliz enquanto você, que os sentidos só me oferecem pontadas doloridas por toda a parte, por toda a pele. Onde nos tocamos. E nos tocamos demais.

Falou comigo hoje, e o meu corpo me respondeu ao seu nome com um arrepio frio na coluna, coisa que eu não sentia há tempos por ninguém. Talvez porque a Vida, essa entidade sem freios, a quem não ensinaram os nãos, enviou o moço pra me lembrar que eu ainda estava aqui, que ainda podia sentir cada coisinha dessas que sentem os apaixonados. Inclusive que eu teria esses ímpetos de escrever uma poesia louca na apostila, enquanto o professor dava um assunto novo e importante. Inclusive que eu poderia rir mais do meu riso, com uma intensidade bem maior, com um prazer bem, mas bem maior que o de sempre.

Veio como um furacão na minha vida, como todo o clichê de apaixonados... Naturalmente, como todo furacão, deixou as marcas quando desceu da minha cama e bebeu a água da geladeira que eu comprei pra que ele bebesse água gelada comigo da última vez. (Não só por isso, é claro! rs) Mas as marcas que me deixou, foram as melhores que um furacão poderia deixar.

Com a sua chegada tão inesperada, eu entendi que pras coisas não-pragmáticas da nossa vida, é melhor deixar que elas venham até nós. Como as músicas, as poesias e as paixões. Como o vento no rosto em uma tarde nublada... É igualável ao vento de um ventilador? É igualável ao vento de um abano? É sempre melhor que venha por si só, ao natural, à negligé (como os cabelos despenteados d'A Moreninha). Eu vi que eu realmente precisava ser mais serena. Em algum momento, coisas aconteceriam, quando estivessem na hora. Aconteceram, de fato.

Me deixou mais segura de mim, do meu poder feminino, da minha beleza, da minha personalidade e do meu caráter e sensibilidade. Com ele, eu provei que eu também sei estar com alguém, coisa que eu sempre tive bastante medo, justamente por nunca ter tido isso. Os meus medos foram infundados, graças a Deus. Também é saudável pra mim. Também é normal pra mim.

O moço apareceu e passou pelas minhas inúmeras barreiras como se elas nem existissem, sem um pingo de esforço. Apenas porque era assim o que foi. E como não ser eternamente grata à ele por isso? Por ter me feito entender, talvez sem saber, que o tempo ainda seria grato a mim, também.

Abri mão, não do que vivemos, não das minhas lembranças, não do afeto. Abri mão de um futuro nebuloso pra mim, que já estava entregue. Abri mão de muito, mas sabendo que era preciso. Conscientemente, aceitar esse futuro nebuloso, já seria a parte que me cabia do fado. E, conscientemente, eu não aceito fados que não são meus.

Talvez nós ainda nos encontremos na vida. Eu disse que se tudo estivesse certo, eu ainda o quereria. Talvez esteja, mas eu preciso saber que talvez não. Talvez a gente ainda viva pequenas doses de certas coisas, talvez não. Talvez a gente consiga de novo toda aquela intensidade que a gente teve, acrescida da saudade lancinante que me queimou no peito a vontade de dizer: "Não, não vai mais. Volta aqui. Esquece o que eu falei... Vem e faz amor comigo agora." rs

Vai tudo voltar aos seus eixos. Vai tudo voltar à normalidade. E eu vou voltar a esse eixo muito melhor, muito mais madura e muito mais feliz. Eu tenho certeza que sim. Por que é isso que acontece na minha vida, sempre. A certeza maior é que sempre vão vir intempéries, mas sempre virá a bonança. Eu apenas sei. Internalizei demais isso, ainda bem.

E, sem saber da ironia da situação, a música que me exaure os sentidos desde que a escutei a primeira vez, é a Ancora qui, que eu não achava nunca a tradução do italiano pro português. Achei pro inglês e li, quase sem acreditar, que ela é "Still here". rs



Talvez eu nem devesse estar escrevendo isso aqui. Mas eu quis e já me neguei demais pra essa semana.

Andei mil léguas
E quando mal pensei
Te encontrei
E estava cansada
Por ter andado tanto
Quase me encontrou
Caída
E eu mesma me levantei
Pra que pudesse andar contigo


06/02/13, mas só agora.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sei que devo ir
Não sei como vou
Nem com quem
Nem quando
Nem de onde sairei
Mas sei que devo.
É que sei que já andei tanto
E tanto isso me pesa
Que parece curvar minha jovem coluna
Por isso sei que tenho que ir.
Sim, será mais um caminho
Você pensará!
Mas o caminho será mais leve agora.
Que me perdoe o meu passado que me fez
As horas afogadas
Os beijos não dados
E os amores que não vivi
Os que vivi também, aliás.
Que ponham nessa conta também os de longe,
os esquecidos,
os venerados
e, finalmente, o eterno.
Que me perdoe o meu presente
Que me constrói todos os dias
E me resguarda dos percalços.
Você talvez não acredite
Mas em todos esses anos
A única coisa que fiz
Foi forrar-me de luz
E talvez acredite menos ainda
Que, para o caminho pretendido
Apenas isso me serve
Porque mais vida,
Muito, muito mais vida
É o que me espera.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Dele.

São dois pássaros que dançam
a mesma música.
São dois pássaros que voam
na mesma corrente.
São dois pássaros que bebem
da mesma fonte.
São dois corpos nus,
Entrelaçados,
no quarto pequeno,
no meio da noite
e no começo do infinito.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Aleatoriedades.

Eu queria acreditar nessas universos paralelos, onde eu estou vivendo felicíssima com o amor da minha vida ao meu lado. Meus filhos são educados e amorosos e nem ao menos reclamariam se eu comesse todos os doces que eles passaram a noite pedindo aos vizinhos - claro, não é tradição brasileira. Mas eu estaria vivendo na New York paralela - e, além de bem sucedida, os detalhes da minha vida sexual seriam indescritíveis de tão excitantes e revigorantes.

Mas o caso é que não. Vivo onde vivo e filhos estão nos planos pra vida, mas não pra tão cedo na vida. Ainda é preciso que eu ache o pai deles. O mais importante é que o pai deles me ache. E me queira. E me queira mais. E me queira de uma forma que ele não sossegue enquanto não me tiver. E que isso não seja alguma coisa má, pelo contrário.

A grande verdade, a verdade incontestável, é que eu não vivo sem sentir. E quando não há ninguém alvo dos meus represados desejos, há sempre aquela velha história do passado, que já fez-me o favor de se cristalizar e que eu nem ao menos sei se ainda se trata de amor mesmo ou uma gratidão profunda, o que não deixa de ser uma forma de amor.

O homem que conseguir romper as muitas e todas as barreiras que eu carrego, que conseguir meu amor e os meus desejos, eu digo apenas uma coisa: esse homem vai conhecer a felicidade.

***

Não sei porque, me tem batido na cuca que eu poderia escrever um livro. Lógico, por mais que eu saiba que sou alguém que tem uma autoestima alta pra cacildis, sei que literariamente, o negócio é sempre mais embaixo. E aí não adianta forçar histórias, nem ideias, nem projeções, se a inspiração e o talento não estiverem presentes, em primeiro lugar.

Pra falar a verdade, eu comecei, quando tinha 18 anos, a escrever um livro. Era uma história medíocre, mas eu consegui ainda que fosse algo agradável de se ler. Parei na página 50 e tanta por que desestimulei, lendo histórias realmente boas dos autores que eu gosto. Inveja mesmo. E aquela constatação difícil que, por mais que eu tente e queira, eu jamais seria capaz de construir alguma história realmente magistral. Uma pena.

Talvez todo possível autor possa se sentir assim, ou talvez seja mesmo só coisa minha em relação às histórias que não me pertencem. Não tenho culpa. Fui apresentada muito cedo a mestres muito mestres. O saldo positivo disso foi que a minha imaginação se mostra capaz de escrever bem de coisas que realmente acontecem, como nos meus textos jornalísticos. Mas mesmo neles, ainda há muito o que aprender. Vícios demais a serem corrigidos e uma subjetividade exagerada que não me larga. Se eu conseguir alguma fama, justifico como o meu estilo... rs

***

O fim do ano tá pra rolar. E eu, nesse ano, ainda  não tive coragem de fazer aquela retrospectiva dos fatos mais marcantes do ano. Mas uma coisa eu sou capaz de me lembrar muito bem. Em 2008, também no final do ano, escrevi em um tópico na LP (mãe da LJ, o que tornou possível esse blog), chamado: "O monstro 2009". Nele eu falava sobre como era essa sensação estranha de que um ano ia acontecer e que eu não fazia a mínima idea do que ME ia acontecer nele. Afinal, 2008 havia me dado mostras de que a vida era algo demasiado frágil. 2006 me provou isso me atirando num precipício sem me dar paraquedas e eu caí. Caí rolando na parede do penhasco e quebrando cada ossinho que eu tinha no meu corpo frágil. Quando cheguei ao fundo, ao olhar pras minhas mãos, conseguindo abrir os olhos, percebi que ainda estava viva e que ainda havia pelo que viver. Subi, alquebrada, dolorida, pedra por pedra, galho por galho, com uma força que eu nunca havia imaginado que tivesse. Escorregava, levantava e subia de novo. Em 2008, eu ainda não havia atingido o topo e mesmo em 2012, eu sei que eu ainda não atingi.

Mas tudo o que aconteceu, não sei, me deu uma esperança de que coisas boas vão me acontecer, agora ou depois. E eu sei que vão mesmo. Não é uma questão de fé, é uma questão de certeza absoluta. Eu SEI disso. O monstro 2013 ainda me faz pensar um pouco, ter algum receio. Mas isso é típico em mim. Eu sei que quando o dia 1º amanhecer, eu vou sentir aquelas mesmas sensações de peito cheio de vida que eu sinto nesses amanheceres especiais.

***


Digo mais uma coisa que eu esqueci de mencionar: eu estou apaixonada. Explodindo. Cometo a ousadia de parafrasear Gullar: eu sou uma fogueira de 1,61 de altura. Eu posso a qualquer hora desintegrar-me em soluços.

E já o fiz.





sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

É verdade.

Eu peço mesmo socorro.
Eu faço mesmo isso.

Eu me rasgo, eu me sofro.
Eu renego.
E eu peço socorro.

sábado, 22 de dezembro de 2012

O sonho de João

João saiu de casa mais ansioso do que de costume. Ele não gostava da sensação de que algo de ruim estaria pra acontecer e essa sensação estava se fazendo cada vez mais presente desde o sonho que tivera durante a madrugada. O pior é que não tinha o costume de ficar dando importância a sonhos. Sonhos pra ele eram só o cérebro pirando um pouquinho, nada demais.

O da noite foi um tanto mais assustador: um anjo vinha conversar com ele sobre a sua vida. Não a vida dele, de João, mas a vida do anjo. O lugar era a casa de João e ao mesmo tempo não era. Ele se lembrou que quando convidou o anjo a se sentar, sem saber que era um anjo, abriu a cortina da janela e a vista dava pra torre Eiffel. E não havia lógica alguma que dissesse pro rapaz que aquilo era algo anormal.

A casa também estava mudada: ao invés da televisão lcd 42'' comprada em 2007 - quando só quem possuia uma era gente rico pra caralho - estava a televisão de tubo, de madeira ainda, de quando ele era criança viciada em pica-pau. O piso ainda era um que ele, depois, viu que não reconhecia de parte nenhuma da sua vida: um piso preto, parecia coisa de lápide de cemitério. Fazer essa constatação arrepiou-lhe os cabelos da nuca, quando estava já na parada de ônibus.

O homem, que depois disse que era anjo, vinha absolutamente de lugar nenhum. Ele apenas surgiu. Ele se virou e o cara tava ali, parado, olhando pra ele, com vontade de conversar. O cara se sentou no sofá pequeno e João no chão, (mas isso também era estranho. João NÃO senta no chão) esperando que o primeiro iniciasse a conversa. E iniciou. Começou falando que Deus - Deus mesmo, não o velho branco e barbado que Hollywood insistia em fazer se passar por ele - era um sujeito dado às pandeguices. Nada de luxúria, claro, mas ainda um pândego que gostava de tirar uma com a hoste celestial. Enviava a rapaziada pra desertos ao invés das regiões populosas. Ele, o anjo, disse que entendia, ou se esforçava pra entender.

Pra ele, Deus fazia isso porque era que nem aqueles pais que querem que os filhos aprendam na marra, com a taca que a vida dá. E ele não tirava a razão, mas ficava puto quando tinha que ficar olhando as nuvens na conchinchina ao invés de estar fazendo algo realmente útil pra alguém.

Disse que corria alguns riscos estando ali, conversando com um humano. Que era claro que ele já tinha sido descoberto (o Cara é onipresente, pô!), mas que quis tentar. Foi em João porque era um nome legal, bíblico, do primo de nosso Senhor e ele pensou que não queria ter que lidar com a geleia que ficaria o cérebro de algum ateu inconsequente ou algum outro tipo de fundamentalista religioso a qual ele se mostrasse.

Bom, João era o quê? Nem o próprio sabia. Nos tempos do Orkut, ele tinha marcado a opção "Com um lado espiritual independente de religiões". E era mesmo o que ele era. Ideal pras confissões do anjo que não queria também alarde em cultos evangélicos ou romarias de católicos à casa do sonhador.

Jamais teve a intenção de dizer o fim do mundo a ninguém. Ele sabia que ia rolar, porque tinha escutado uma conversa secreta de Deus com São Pedro, só sabia que não ia ser por água de novo. Tavam aí os arco-íris garantindo que a terra não ia ser destruída assim novamente.

Depois de dizer que não tinha inveja dos humanos - sua única vontade terrena era comer chocolate, embora soubesse que jamais comeria nada, depois do incidente com a maçã - o anjo olhou pra fora, deu uma olhada na torre Eiffel e soltou:

- Cara, você mora no Maranhão! Torre Eiffel? Pelo amor de Deus! Que cérebro ridículo, ô!

Riu e depois sumiu.

E João tinha permanecido a conversa toda calado. Tinha ficado atônito, olhando as feições daquele cara, mas não conseguia abrir a boca. Depois que levantou pra ir pro estágio, também não conseguia mais lembrar de como o cara era. Sabia que não era pra se importar com esses sonhos doidos, mas estava. No frigir dos ovos, já não sabia mais nem se o cara era anjo mesmo. Tá, ele apareceu do nada, sumiu do nada, mas sonho, cara... Sonho é sonho mesmo.

João, pobre João, quando chegou no estágio, atarantado, quase não conseguia cumprir as tarefas do dia. O olhar estava meio vago e a concentração não dava conta.

Os dias foram passando e João foi ficando mais estranho. Demorava a levantar, comia com apatia e dormia assim que chegava do trabalho. Terminou-se a semana e João já tinha faltado a quinta e a sexta e só se levantava quando chacoalhado fortemente pelo seu pai, que tinha mais força pra tarefa que a mãe. Preocupados, os pais de João chamaram um primo que era médico pra ver o que se passava com o rapaz. Exames feitos e nada demais detectado. Talvez fosse verme. A mãe ia preparar um lambedor de mastruz ou qualquer mato que tivesse no quintal da sogra.

O rapaz não se levantava mais. Só dormia. 36 horas de sono profundo, sem roncos, sem muitos movimentos, apenas o mexer suave das pálpebras, que indicava que estava sonhando.

Depois de 15 dias, João parou de respirar.

Sua alma foi em busca do homem que havia lhe sugado o animus. O anjo chorava (sim, anjos choram!) e João já sentia a boca solta pra falar-lhe. Perguntou porque estava chorando. O homem sentado na pedra mostrou que já havia falado com um humano antes, e que tivera que ferí-lo, porque o homem exigia uma bênção pra deixá-lo ir embora. Teve que dar. Depois disso, tinha prometido a si mesmo que nunca mais faria dessas. Fez. Não tinha mais presentes a dar, e sim um fardo a quem se dirigisse: a procura incessante que a alma procurada faria a si. Castigo divino inclemente, ele tentara esquecer.

João fechou os olhos e abraçou o que chorava. Sabia que estava morto, sabia que isso era algo ruim, mas tinha uma consciência lacerante de que, se lhe fosse dado o poder de escolha, faria tudo pra sonhar com o anjo de novo. Agora que sua alma achou o homem que a sentenciou, sentia o vazio completamente cheio das coisas completadas, dos objetivos satisfeitos e das dores saciadas. Sua alma chorou uma tristeza alegre, enquanto ria. Não havia nada a explicar nem a pedir explicação. Pousou a mão no ombro do anjo e, em silêncio, foram os dois aos portões do paraíso, onde só a entrada de João era permitida.

1:36 - do dia novo, do recomeço.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Pra mim, finalmente.

"Entre dois pontos,
Se são pontos bem definidos:
Há uma linha
Mas não há trem.

Entre dois pontos,
Se são pontos bem decididos:
Há uma linha
E há trem também."

sábado, 3 de novembro de 2012

"How sweet it can be?"

Quão doce isso pode ser, pelo amor de Deus?
Quanto de beijos não seriam trocados e quantas vezes, as mãos suadas não seriam entrelaçadas?
E quantos risos não daria ao te ver acordando,
E quantas histórias te contaria, ao te ver chegando,
E quantas horas de vida, por nós passando,
E quantos absurdos de tremores, não me darias, me amando?

Quão doce isso pode ser, pelo amor de Deus...


Tentando desesperadamente esquecer que essa música existe:

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Tá dum jeito...

... Tão intenso, tão forte, tão louco... Que está começando a doer, já. E não há forma pior de perceber que eu já estou completamente entregue. Isso não deveria ser assim. Deveria ser bom, somente bom. No entanto, "As coisas vão dar certo no final. Se elas ainda não deram, é porque ainda não é o final". E eu só posso me apegar a isso. rs

domingo, 21 de outubro de 2012

Para o meu amor que dorme.

Dorme, aquele que fez-se eterno,
Sem saber dessa feitura,
Com o mais suave dos meus beijos.
E sonha,
Com as mãos entrelaçadas às minhas,
Várias canções que não sabia...

...Ainda.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O que sai às 3 e pouco da manhã.

Vai desmanchar-se em soluços, mas continua sem que as lágrimas desçam.
Vai ser arrebatada para os céus fulgurantes num gozo nunca antes visto, mas continua contentando-se.
Vai queimar na fogueira das palavras, mas continua calada.
Vai rasgar sua garganta num canto, mas continua apenas pensando.
Vai abrir-se e expôr-se num rompante, mas continua deixando pra lá.
Vai obedecer, mas continua dizendo não.
Vai agir, mas continua imóvel.
Vai sair, mas continua dentro.
Vai, mas continua.

domingo, 9 de setembro de 2012

Falhando miseravelmente em resistir...

Terrivelmente, terrivelmente sexualizada.
E o pior, é que isso não necessita de que nos toquemos.
Ele fala, ele escreve, e o sangue flui imediatamente. Estou sem sentidos. Estou nua, mesmo quando vestida, pois meu corpo reclama o toque da roupa. Ele sente que há algo sobre os seios, que há algo sobre minhas costas e sobretudo, que há algo sobre...
Ele sabe que me provoca e gosta absurdamente disso. Ele sabe que eu não sucumbo nunca, mas precisa sempre me tentar...
Oh, Deus, eu preciso pensar. rs

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Os direitos.

E aí, no final da noite, depois de um filme francês, apareceram à moça as coisas que se precisam ler. Que o fado joga nos rostos, como aquela folha que se desprega da árvore e enceguece pra outros caminhos enquanto não se tira da face e a olha com algum respeito.
Nas três e meia da madrugada de um dia misturado, leu a carta mais linda de amor. Era de um escritor pra uma mocinha... Talvez a última ainda fosse uma criança na ocasião da carta. Ora, talvez. Não se sabe. Mas se sabe que era um amor tão puro e tão lindo que cabia em uma caixa cheia de beijos e que nenhum poderia perder-se no caminho.
Já a moça que leu, com lágrimas nos olhos e coração batendo como de um condenado, sentiu que precisava imediatamente de um amor também, forte e constante. Arrepios incendiaram-na e a lembrança de um querido manifestou-se sordidamente. Cantando na alma velhas canções de amor, soube que precisava, infelizmente, mais que uma caixa pros seus beijos. Se fosse amor, não haveria de ser tão puro assim. Queria o amor das vontades respeitadas. Que o cansaço fosse mais que entre o nariz e o queixo e que mãos se entrelaçassem mais que uma ou duas vezes. E se lembrou, com carinho, que o rapaz que queria, de si precisou e chamou. E lá ela se foi, abriu por querer as próprias feridas e sangrou na caminhada, mas foi sabendo que estava feliz.
Os beijos da moça ainda precisam se enclausurar, que não podem ainda chegar perto do moço. Tragam-na a caixa pra que os guarde! Ela lamenta, mas é assim que é. Mas sabe e espera que talvez chegue em algum momento a proximidade suave, mas que será tão profunda, que a Saudade precise vir reclamar aos dois, os seus direitos.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A fermata.


Talvez pouca gente saiba qual a dor de um amor impregnado. Eu sei.
Amei com toda a intensidade que o meu coração feminino e extremamente juvenil poderia alcançar. Com a minha ansiedade própria, traguei cada pedaço de solidão como se fosse o último e cada gota de reciprocidade como se estivesse a secar de sede nalgum deserto. E estava.
Corpo demasiado impúbere, mãos trêmulas, cabelos constantemente embaraçados e a não consciência de que esse estado era algo distante do que um adolescente poderia querer para si. Não obstante isso tudo, a palavra sempre foi medida, a inteligência ressaltada, o esforço recompensado e a risada muito fácil.
E então, do meio deserto e vindo da terra do sol causticante, ele chegou. Enorme como um templo, imperioso como um soldado e extremamente bonito aos meus olhos. Como já era grande, tanto por idade, quanto por tamanho, sabia reconhecer onde estava o que realmente lhe interessava. E era eu. Sei que era eu.
Ele foi a fermata que fez o tempo me obedecer. Deixei as armas pra trás, mas não os medos. Ainda assim, fiquei serena, muito mais risonha, alegre da existência. Saía pelas ruas da cidade na minha bicicletinha de mocinha e falava com ela das felicidades e das dores. A pobre ouvia tudo calada, era o jeito. Quando se zangava, inventava de cair a corrente ou rebentar o freio. E, morta de amor, eu retornava à rotina diária na espera de vê-lo pra ter que amá-lo tudo de novo. Tempos azuis.
O tempo passou e a reciprocidade foi se manifestando suavemente, mais parecia uma brisa no rosto. Porém, quando me dei conta pela primeira vez, andei como uma ferida pelas ruas, chorando parcas lágrimas em ruas desertas e cantando as canções que fiz em minha'lma nos tempos da inocência. Jamais abandonei a fermata. Ela continuou como a sua natureza manda: indefinida e pra sempre.
Aqueles sentimentos alucinados pareciam me ferver, meu Deus.

Eu já sabia que o futuro me reservava coisas inimagináveis, mas não poderia imaginar que, nove anos depois, ainda sentiria dores de um amor impregnado.


segunda-feira, 23 de julho de 2012

Amei-te tantas vezes. Umas vinte e duas.
Enquanto te amava, cerca de 40 diferentes beijos molharam minha boca.
Abraços, então, esses foram aos milhares.

Permaneci acordada um ano de noites, jurando, em cada dessas noites, que talvez minhas 22 fases de amor por ti, teriam que algum dia ter um fim.
Somente um.

Os recados sutis de amor existiram em numerais incalculáveis,
enquanto a primeira loucura ainda se convertia, dela mesma, em trezentas explosões pintadas, majoritariamente, de vermelho.

Tantas foram as vezes, tantos os numerais, que não consegui contá-los todos. Às vezes, nem ao menos dividi-los.
No final, meu amor foi centrifugado. Aquela quantidade assombrosa virou uma coisa bruta, destilada.
Meus prováveis 22 estágios de amor já não contêm mais dor.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Espero

Quando te quis, meu dedos congelaram
As mãos suadas reclamaram
E a vida foi saindo, quase de repente,
Sem ver nem pra quê
De um lado que eu não imaginei que sairia.

Te quis, mesmo que não me quisesse
Com aquele fulgor, aquele gás sem medida,
Aquela urgência vagabunda,
Aquela vontade inexorável,
Te quis.

Não me quis,
Mesmo que o corpo cantasse
E quisesse dançar a dança que nos é devida.
Mesmo que quisesse saber da carne
Os prazeres ainda não descobertos.

Quis demais a boca, o corpo, o tempo, o prazer, o momento, a mão, o pescoço.
Quis demais.

Espero que já não queira.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Que seja em paz.

A dor sempre consome as partes mais importantes. Ela alisa-te com um beijo e depois, de uma vez, o tabefe no rosto é rápido demais pra qualquer pretensão de escape. Talvez doa agora, porque eu estou percebendo que não vai acontecer nada do que sonhei acordada e dormindo. Doi agora, porque sei que, pelo menos dessa única vez, não fui a covarde que estou habituada a ser. É duro entender, em plena carne florescente, que alguns quereres são mais difíceis que encontrar uma jóia já lapidada numa mina. O querer que quero parece não ser meu. E, se for, só pode querer escondê-lo. O faz com sucesso.
De uma maneira estranha, parece que os nãos - os explícitos e os implícitos - voam sobre minha cabeça. A minha vista só vê corvos com asas escuras, que, em qualquer conto, querem dizer más notícias. Frustração é a palavra pra esse particular tipo de dor. Adentra fundo, faz fluir as lágrimas e também é capaz de deixar suas cicatrizes.
Talvez seja mesmo a hora de deixar partir essa esperança, em particular. Talvez eu entenderei, no futuro, as agruras acumuladas. Talvez eu compreenda que existem pessoas que não nasceram pra ver todos os seus sonhos feitos. Talvez eu tenha que esperar, somente. Talvez a resposta saia amanhã. Talvez eu e ele nos calemos pra sempre.
É estranho lamentar um sonho. Porque parece que lamentamos um filho nosso, que foi envolvido, embalado, nascido e criado somente dentro, durante uma gestação sem fim, sem que haja qualquer parto previsto. E, por mais dentro que esteja, parece que ele viveu uma vida inteira: das fraldas às fraldas. Mas ele fica dentro e dentro e chora e clama por sair.
Sinto muito, meu amor, mas não será possível desta vez.
Preciso aceitar isso e deixar passar. Que seja em paz.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

"Quando eu quiser, meu bem..."

Nunca beijei a quem tivesse amado. Me dói a constatação, mas dói mais o fato. Meus amores voam, vão ou nem ao menos chegam, e se chegam, o toque querido não é permitido. Na verdade, nunca foi. O presente se mostra quase tanto imperioso quanto o passado, com a diferença crucial e mais cruel de que agora eu morro com a sede de beijos apaixonados, quando antes, mesmo a imaginação era tolhida. Agora que quero, que estou disposta, que arriscaria, a vida, essa moça louca, diz simplesmente que não. Não pode, não quero, não dá, Jamila.
E eu viro pra ela e digo: "Então quando, sua puta?"
Ela tá aqui do meu ladinho, dizendo apenas isso: "Quando eu quiser, meu bem..." com o final da frase em reticências, que me dá o estranho calafrio do sussuro ao pé do ouvido.
Pois se é assim, não me deixe querendo tanto, caralho! Sentindo tanto. Olhe pra mim e admita que é um erro colocar muralhas na minha frente, porque eu sempre sempre sempre sempre vou querer ver o que está do outro lado. Olhe pra mim e assuma que o seu sadismo que te move, já que colocastes uma impenetrável no meu caminho.
Não há texto meu que resolva. Não há coisa minha que dê jeito. Não há nada que eu possa fazer.
O grande pior é que sei que quero... Continuar querendo, nesse ad infinitum ao qual eu já me acostumei e gosto. Se eu ainda quero, difícil mais será o olhar indiferente, o abraço sem vigor, o sorriso sem alma.

O que eu sinto é que estou oferencendo um tesouro, um magnífico tesouro, e existe alguém que simplesmente não sabe o que fazer com ele. Que pode saber disso ou não, mas não o quer. E o que eu vou fazer? 
Acontece comigo hoje (não só hoje!) a mesma coisa: eu não soube o que fazer com outros tesouros que me já me ofereceram. Deus, será o castigo por não ter sentido com quem era pra ter sentido ou eu sou mesmo assim? Alguém que só deseja o impossível, as muralhas que só se pode ver de longe, os paraísos que estão do outro lado do abismo?
Ou será somente injustiça?

Sou só eu, ou mais alguém aí queria ter um pouco menos de alma?

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Eu queria. Ah, se queria...

Eu queria, moço, só segurar na tua mão... Queria que ela ficasse apertada na minha, até que elas suassem.
Eu queria, moço, caminhar numa praia, contando-te as histórias dos meus anos passados.
Eu queria, ah, se queria, conversar horas e horas contigo, deitados na minha cama de solteira, olhando nos teus olhos, sorrindo no canto da boca.
Queria te contar todas as besteiras que acumulei na vida, até que chorássemos de rir, os dois.
Queria que tu sentisses esse mesmo calor que sinto no peito agora.
Eu queria te abraçar,
                                 com minha alma,
                                                             com meus seios,
                                                                                        com os meus desejos...

Queria correr ao teu encontro e te dar um beijo no olho. Sim, no olho. Melhor: nos dois olhos.

Depois, na ponta do teu nariz...

E então, no teu queixo...

E enfim, na tua boca. Só um pouquinho, e mais um pouquinho e mais um pouquinho e...


Eu queria que tu te deixasses querer.

Mas, é pedir demais, eu acho. Ah, moço... Não sabes o que estamos perdendo...

domingo, 20 de maio de 2012

E eis meus vinte e dois.

Tá com 22 anos e dois dias que eu "tou aí", como vi uma vez um cara dizer numa comunidade que eu fazia parte no Orkut. Pensei que não, começou 2012, o ano raspou duma lapada. Foi carnaval, semana santa, aquela loucura toda. Pensei que não de novo, veio Maio com todas as fulerágis típicas do mês, como uma pá de gente vestida de branco em razão de alguma promessa religiosa católica (ou não, hein? Nunca fui atrás de saber disso direito), mais aquele monte de gente desesperada sobre o presente das mamilys e tudo o mais (não dei pra minha...). Além de matérias sobre as ~tendências~ nos casamentos, que, graças ao Pai, eu não assisti por não ter televisão. Mas o pior de tudo no mês de maio, é o fato de absolutamente TODO MUNDO ter sido presenteado pelo destino ou pelo planejamento familiar para nascer nesse mês. Ah, mas é um mês lindo. É, é mesmo. Mas eu queria mais exclusividade nesse mês, pô!
Enfim... Nem só de reclamações vive a Jamila. Esse ano, que eu pensei que não fosse ter mais surpresas, já que todos os anos que eu morei aqui em Teresina, me fizeram festinhas do tipo - as primeiras festas surpresa da minha vida, repara! - eu achei que ninguém mais iria adotar esse método pra me fazer feliz no meu aniversário. Tanta foi a minha certeza, que eu mesma marquei da galera ir pra algum barzinho estiloso (leia-se: paredes pichadas e uma cerveja não tão cara assim) e comemorarmos essa data com show de amigos que têm/tocam/cantam/fazem-alguma-coisa em bandas covers daqui de Teresina. 
E qual não foi a minha surpresa quando, no dia 18 de maio de 2012, vestida com a camiseta pintada à mão do Calvin e do Haroldo se abraçando, que o Pelé me deu, cheguei, totalmente inocente na sala de aula daquele CCE e estavam muitos amigos meus e alguns professores queridos, vestidos numa camisa que mamãe mandou fazer lá em Bacabal, com os dizeres: "Feliz aniversário Jamila" (sic - veio sem a vírgula mesmo, mas não interessa!), junto com uma imagem de uma mocinha inocente andando de bicicleta - uma alusão à pobre e recém capturada Mary Jane, a primeira e a mais amada bicicleta que tive na vida - de chapéu, cabelos ao vento, com um jornal dentro da cestinha da bike que tinha como única manchete: "Parabéns!".
É, mãe, a senhora se superou dessa vez.
Eu, chocada, fui lá tentar falar com alguém. Abraçar alguém. Sei lá, fazer parte do que minha mente não tinha programado de jeito nenhum. Foi perfeito. Fiz um discurso nessa hora, falando a mais pura verdade: a verdade de que eu não seria nada sem meus amigos aqui em Teresina. Como prova disso, dei o primeiro pedaço do bolo pro Pelé, essa mina véia do buchão. (Nota: amizade mesmo só presta se tiver esculhambação mútua.)
Depois de todo o furdunço, ficamos conversando na sala vazia, já limpa, enquanto esperávamos a hora de ir pra pracinha. Ahhhh, a pracinha. Fizemos a famosa vaquinha e fomos lá, uns cinco no carro, comprar as boas vódegas para a confecção dos bons drink, enquanto já estava um povo sentado no banquinho da pracinha, esperando o éter que nos eleva aos céus, chegar. Chegamos. Pensei que não de novo, já tinha entornado o terceiro copo e quando chega a essa conta, já perdi boa parte da minha coordenação motora. A parte mais importante: a que coordena a língua. Além do falar enrolado, estava também as minhas já conhecidas eguagens multiplicadas pela ocasião. Acusei dois amigos (um homem e uma mulher, repare bem!), quando eles foram atrás de uma torneira pra lavar as mãos na praça, de terem ido dar umazinha e saí, rumando a minha casa, dizendo em alto e bom som que não ia jamais ser presa pelo atentado ao pudor alheio. rs Uma alma foi lá no meu caminho, me trouxe de volta calmamente e disse que não era nada daquilo. Mas minha pobre mente já estava contaminada: deduzi que eles tinham terminado rápido demais quando os vi voltando (já que não acharam a torneira!), falei: "Oxi, mas já?!" e a alma que me conduzia: "É que ele tem ejaculação precoce, amiga!". Lá fui eu falar com o meu amigo, abraçando-o e dizendo, com toda a piedade do meu coração, que aquilo era algo normal na idade dele, que isso tinha tratamento, que eu poderia dar o número da minha psicóloga e tal. Por aí você tira o resto da esculhambação que foi essa noite. Lembro apenas de ter recebido uma ligação de minha mãe e ter bancado a sóbria pra atendê-la. Ela não desconfiou de nada e mandou até ligar pra minha vó pra contar como foi a festa. Minha mãe, eu consegui passar a perna. Ela tomou minha fala enrolada por emoção. Mas a véia Lulu... Ah, a véia Lulu não tem esse que engane. Ali é 81 anos que lida com catchaceiro. Deusulíve!
Também não sei como, comecei mais um discurso. Esse, muito mais emocionado, muito mais poético, muito mais louco e alucinado que o primeiro. Falei de como sobrevivi a esses vinte e dois anos aí no mundo, sendo quem eu sou, sofrendo o que já sofri. Falei e o álcool aflorou todos os meus sentidos literários, já que três ou quatro das minhas amigas já estavam aos prantos quando terminei. Elas ainda sóbrias, ou pelo menos não tão bêbadas quanto eu.
Ontem, ainda não satisfeita com tanto vuco-vuco (no bom sentido!), fui comemorar no tal barzinho estiloso que já tinha marcado com o pessoal. Deu que pouca gente que eu chamei foi, mas mesmo assim foi muito legal. Coloquei o vestido mais sensual que eu tenho, me arrumei disposta a beijar uma boca em particular, e deu que de bocas que me tocaram, só as que me cumprimentaram de um lado e do outro da face. Nem sempre se consegue o que se quer, né? Voltei pra casa arrependida por não ter segurado o rosto do moço e ter dito, na cara-dura: "Vamos lá, tá esperando o quê pra me beijar?". O erro foi meu. Não dei abertura o suficiente. O moço deve ter ficado meio tímido, sei lá. Eu também fiquei. Enfim, enfim... Já era.
Hoje, no entanto, tive uma manhã mau. Sim, sem concordar com o gênero da palavra mesmo. O mau concorda com o meu conceito de dia mau. É o dia em que a minha história se manifesta e o meu passado pesa. Pesou hoje, só pra variar. Pareceu que não acreditaram em mim, quando disse que não poderia ir a um compromisso que tinha pra hoje de manhã, quando reclamei de uma dor que estou sentindo no estômago desde ontem. O descrédito que senti, de alguma forma me piorou. Passei a manhã inteira querendo dormir, sem conseguir. Tendo sonhos perturbados. Levantei uma hora da tarde, entre gemidos maus, com a consciência de que estou sub-alimentada, mas a consciência mais perturbadora ainda de que não tinha nenhuma vontade de comer e que não iria. A maçã que tirei da geladeira já se oxidou aqui em cima da mesa o potinho de Iogurte não tem o suficiente pra me manter de pé o dia inteiro. No entanto, não fui atrás de mais nada. Talvez ainda vá. Assim espero.
É, querido leitor (!!!) deste blog que eu me apropriei, chegou na estranha hora do texto, que eu consegui colocar muitas das coisas que eu queria pra fora. Algumas alegrias, algumas frustrações... Já não sei mais o que será desta menina que escreve, neste domingo solitário.
Vinte e dois anos, sim, mas ainda menina. 

terça-feira, 15 de maio de 2012

You will be good.

Esqueça, filha. Esqueça das horas desmaiadas. Esqueça das dores lancinantes. Esqueça de quando é difícil respirar.
Esqueça, querida. Esqueça que fazer planos é complicado. Esqueça que decisões são pesadas. Pesadas demais pra só esquecer.

Lembra, meu bem. Lembra que nascestes com esperança. Lembra que tu não te conformas. Lembra do que queres.
Lembra, criança. Lembra que tu sempre podes. Lembra que pôde muito mais. Lembra que tu que dás a importância devida.

Deixa, meu amor. Deixa esse teu corpo fluir na dança que ele quer. Deixa que a vontade te tome e te eleve.

Choras, se quiseres. Chora, porque é pesado. Choras, que tu não és de ferro. Choras, mas não permita que sempre a lágrima impere.

Somente te esqueça, te lembra e deixa.

sábado, 12 de maio de 2012

That I would be good...

De repente, as coisas pareceram agoniadas. Sempre de repente, as velhas sensações que tanto quero me livrar e que tanto já são parte de mim chegam pra me fazer lembrar que eu tenho uma história e que eu não posso desprezá-la.
Estar aqui, no entanto, na minha cidade, cercada de gente que eu amo e que me ama de volta, é aliviador, é recompensador.
É tanto a dizer, tanto pra colocar pra fora... Tanto, mas tanto, pra derramar, que talvez seja melhor segurar um pouco essa torneira e apenas dormir, sem pensamentos, sem reflexões, sem esse... Essa... Esse mundo nos ombros. rs 
Diário, você não faz ideia do quanto eu sinto a sua falta. Você não faz ideia do quanto eu sinto de um monte de coisas em relação à você. Sim, à você. Alguém. Eu mesma. Se você tivesse aqui, eu talvez não me reprimisse agora. Eu me falaria à mim, daquelas maneiras inconfundíveis que só nós dois sabíamos. As coisas já não seriam tão agoniadas assim, já que eu teria páginas e páginas pela frente. O tempo passaria um pouco mais devagar e as velhas sensações seriam desarmadas pelo raciocínio e pela esperança. Pela esperança que todos os dias ouso flamejar. 
É foda.
Esse título aí é de uma música da Alanis. Só lembro essa frase no meu ótimo inglês. Tô com ela inteira na cabeça, mas só sei pronunciar isso.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Eu queria

Mas não tô conseguindo me derramar agora. Essa internet filha da puta ainda me paga.
Pior que eu tô precisando.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Um brinde aos meus arrependimentos.

Todos eles apareceram na festa que dei na minha mente ontem à noite, mas nenhum deles quis beber comigo. Sentaram-se numa mesa, olhavam pra mim com a discreta desaprovação que vão ao casamento da noiva grávida. Nenhum deles ainda tinha rido, nenhum deles ainda tinha chorado, apenas ficaram com aquela mira intermitente para mim, que estava sentada, horrorizada, no lugar de honra da festa.
O mais chorado manifestou-se. Veio até mim, me dizendo que nunca esqueceu, nunca vai entender o porquê, mas nunca me cobrará as explicações. Só queria que eu soubesse. Só queria que eu soubesse...
Eles sempre querem que saiba!
O de amor olhou pra mim de soslaio, permitiu-se mais um gole de Whisky, foi-se embora da festa e pra tanto, passou por mim imperioso. Nem sequer teve a misericórdia de me olhar nos olhos. Aqueles olhos tristes me doeram tanto! Acabou retornando, porque ele sabe que se sair da minha memória, morre.
As bocas que não beijei se riam despudoradamente de mim e pra mim. Meu Deus! Como elas estavam molhadas, lindas, apetitosas, querendo a minha mordida lasciva. Elas se exibiam como se soubessem de seus efeitos, de minhas vontades que guardei à sete chaves porque tinha medo. Quais foram os transes que me neguei?
O mais lindo, o que vi uma única vez num restaurante, que seria o homem da minha vida, peguei de mãos dadas com a mulher que ele agora está fazendo feliz. Esse apenas acenou e eu sorri o meu mais lindo sorriso triste.
Todos os meus arrependimentos cantaram a minha primeira canção d'alma, que escrevi na quarta-série naquele colégio religioso, sabendo que não seria mais uma, sabendo que amor era grande coisa, sabendo que andaria caminhos ainda não trilhados, sabendo que algo grandioso me aguardava.
E eu só conseguia pensar na grande ironia de todos escolherem essa música.
Olhei pra cada um deles, lembrei de cada um deles, amei novamente cada um deles e entendi, no meio daquele lamaçal de lamúrias, que o medo levou os meus melhores anos.
O riso do canto da boca ainda não havia se dissipado.
Peguei pra mim uma taça de vinho, tal qual Jesus, e disse: "Reparto, então, com vocês meu pranto. Reparto com vocês minhas agruras. Reparto com vocês minhas mortes tantas vezes morridas em cada um de vós. Toda vez que tomarem desse cálice, lembrem-se também de mim, porque eu nunca me esquecerei tanto de vocês, mesmo sem cálice algum".
Todos brindamos e então foram saindo um por um. Um por um...
Um por um...
Até que o derradeiro se retirou e eu fiquei, com o coração arrasado, apertando minhas mãos até que se rasgassem mais os dedos, agarrada unicamente à certeza de que aquela festa nunca mais aconteceria de novo.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Poema expresso das 1:20 da manhã


Jogaria moedas na praça se o pobre cantasse
Andaria calada se o mudo falasse
Choraria sorrindo se a tristeza alegrasse
Olharia o céu se ele não me cegasse
Voltaria no tempo se a dor não entrasse
Sonharia voando como se eu precisasse
Te amaria te amando se eu já não te amasse.

domingo, 25 de março de 2012

"Él que no sabe de amores, llorona, no sabe lo que es martírio..."

24 de Março de 2012, às 00:44 de 25.

Sonhei com o que se foi de mim.
Andamos trezentas mil horas de sentimentos acumulados de mãos dadas.
Abracei seu corpo ardendo e desmanchando-se em soluços
Era meu, pra que cuidasse.

Andamos ladeiras de feridas expostas
E as latanhamos mais com nossas palavras.

Ele se viu sem os seus.
Chorou em meu peito a morte de dois filhos
E de uma mulher;
Porque o amor é grande demais, procurei com ele.
Estava prestes a definhar de andar
Mas não pararia nunca
Porque andávamos de mãos dadas
Trezentas mil horas de sentimentos acumulados.

Jorrou em mim sua febre
E em minhas horas acordadas ela alastrou-se
Lacrimejei minha própria luz
De trezentas mil horas de sentimentos acumulados.

Finalmente, achamos quem procurávamos.
Ele iria partir, porque morrera também.
Me queria junto dele, pra que o cuidasse sempre.
Teria que morrer também.



Ele se foi carregando seus mortos chorados,
E eu fiquei aqui escrevendo minha morte.
Porque por mais que não morresse,
Morri também quando se foi.
A partida inconcebível doeu-me
E sangrando fiquei
Trezentas mil horas de sentimentos acumulados.

Meu Deus! Quantas toneladas de solidão cabem
Em trezentas mil horas de sentimentos acumulados?