sábado, 22 de dezembro de 2012

O sonho de João

João saiu de casa mais ansioso do que de costume. Ele não gostava da sensação de que algo de ruim estaria pra acontecer e essa sensação estava se fazendo cada vez mais presente desde o sonho que tivera durante a madrugada. O pior é que não tinha o costume de ficar dando importância a sonhos. Sonhos pra ele eram só o cérebro pirando um pouquinho, nada demais.

O da noite foi um tanto mais assustador: um anjo vinha conversar com ele sobre a sua vida. Não a vida dele, de João, mas a vida do anjo. O lugar era a casa de João e ao mesmo tempo não era. Ele se lembrou que quando convidou o anjo a se sentar, sem saber que era um anjo, abriu a cortina da janela e a vista dava pra torre Eiffel. E não havia lógica alguma que dissesse pro rapaz que aquilo era algo anormal.

A casa também estava mudada: ao invés da televisão lcd 42'' comprada em 2007 - quando só quem possuia uma era gente rico pra caralho - estava a televisão de tubo, de madeira ainda, de quando ele era criança viciada em pica-pau. O piso ainda era um que ele, depois, viu que não reconhecia de parte nenhuma da sua vida: um piso preto, parecia coisa de lápide de cemitério. Fazer essa constatação arrepiou-lhe os cabelos da nuca, quando estava já na parada de ônibus.

O homem, que depois disse que era anjo, vinha absolutamente de lugar nenhum. Ele apenas surgiu. Ele se virou e o cara tava ali, parado, olhando pra ele, com vontade de conversar. O cara se sentou no sofá pequeno e João no chão, (mas isso também era estranho. João NÃO senta no chão) esperando que o primeiro iniciasse a conversa. E iniciou. Começou falando que Deus - Deus mesmo, não o velho branco e barbado que Hollywood insistia em fazer se passar por ele - era um sujeito dado às pandeguices. Nada de luxúria, claro, mas ainda um pândego que gostava de tirar uma com a hoste celestial. Enviava a rapaziada pra desertos ao invés das regiões populosas. Ele, o anjo, disse que entendia, ou se esforçava pra entender.

Pra ele, Deus fazia isso porque era que nem aqueles pais que querem que os filhos aprendam na marra, com a taca que a vida dá. E ele não tirava a razão, mas ficava puto quando tinha que ficar olhando as nuvens na conchinchina ao invés de estar fazendo algo realmente útil pra alguém.

Disse que corria alguns riscos estando ali, conversando com um humano. Que era claro que ele já tinha sido descoberto (o Cara é onipresente, pô!), mas que quis tentar. Foi em João porque era um nome legal, bíblico, do primo de nosso Senhor e ele pensou que não queria ter que lidar com a geleia que ficaria o cérebro de algum ateu inconsequente ou algum outro tipo de fundamentalista religioso a qual ele se mostrasse.

Bom, João era o quê? Nem o próprio sabia. Nos tempos do Orkut, ele tinha marcado a opção "Com um lado espiritual independente de religiões". E era mesmo o que ele era. Ideal pras confissões do anjo que não queria também alarde em cultos evangélicos ou romarias de católicos à casa do sonhador.

Jamais teve a intenção de dizer o fim do mundo a ninguém. Ele sabia que ia rolar, porque tinha escutado uma conversa secreta de Deus com São Pedro, só sabia que não ia ser por água de novo. Tavam aí os arco-íris garantindo que a terra não ia ser destruída assim novamente.

Depois de dizer que não tinha inveja dos humanos - sua única vontade terrena era comer chocolate, embora soubesse que jamais comeria nada, depois do incidente com a maçã - o anjo olhou pra fora, deu uma olhada na torre Eiffel e soltou:

- Cara, você mora no Maranhão! Torre Eiffel? Pelo amor de Deus! Que cérebro ridículo, ô!

Riu e depois sumiu.

E João tinha permanecido a conversa toda calado. Tinha ficado atônito, olhando as feições daquele cara, mas não conseguia abrir a boca. Depois que levantou pra ir pro estágio, também não conseguia mais lembrar de como o cara era. Sabia que não era pra se importar com esses sonhos doidos, mas estava. No frigir dos ovos, já não sabia mais nem se o cara era anjo mesmo. Tá, ele apareceu do nada, sumiu do nada, mas sonho, cara... Sonho é sonho mesmo.

João, pobre João, quando chegou no estágio, atarantado, quase não conseguia cumprir as tarefas do dia. O olhar estava meio vago e a concentração não dava conta.

Os dias foram passando e João foi ficando mais estranho. Demorava a levantar, comia com apatia e dormia assim que chegava do trabalho. Terminou-se a semana e João já tinha faltado a quinta e a sexta e só se levantava quando chacoalhado fortemente pelo seu pai, que tinha mais força pra tarefa que a mãe. Preocupados, os pais de João chamaram um primo que era médico pra ver o que se passava com o rapaz. Exames feitos e nada demais detectado. Talvez fosse verme. A mãe ia preparar um lambedor de mastruz ou qualquer mato que tivesse no quintal da sogra.

O rapaz não se levantava mais. Só dormia. 36 horas de sono profundo, sem roncos, sem muitos movimentos, apenas o mexer suave das pálpebras, que indicava que estava sonhando.

Depois de 15 dias, João parou de respirar.

Sua alma foi em busca do homem que havia lhe sugado o animus. O anjo chorava (sim, anjos choram!) e João já sentia a boca solta pra falar-lhe. Perguntou porque estava chorando. O homem sentado na pedra mostrou que já havia falado com um humano antes, e que tivera que ferí-lo, porque o homem exigia uma bênção pra deixá-lo ir embora. Teve que dar. Depois disso, tinha prometido a si mesmo que nunca mais faria dessas. Fez. Não tinha mais presentes a dar, e sim um fardo a quem se dirigisse: a procura incessante que a alma procurada faria a si. Castigo divino inclemente, ele tentara esquecer.

João fechou os olhos e abraçou o que chorava. Sabia que estava morto, sabia que isso era algo ruim, mas tinha uma consciência lacerante de que, se lhe fosse dado o poder de escolha, faria tudo pra sonhar com o anjo de novo. Agora que sua alma achou o homem que a sentenciou, sentia o vazio completamente cheio das coisas completadas, dos objetivos satisfeitos e das dores saciadas. Sua alma chorou uma tristeza alegre, enquanto ria. Não havia nada a explicar nem a pedir explicação. Pousou a mão no ombro do anjo e, em silêncio, foram os dois aos portões do paraíso, onde só a entrada de João era permitida.

1:36 - do dia novo, do recomeço.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Pra mim, finalmente.

"Entre dois pontos,
Se são pontos bem definidos:
Há uma linha
Mas não há trem.

Entre dois pontos,
Se são pontos bem decididos:
Há uma linha
E há trem também."

sábado, 3 de novembro de 2012

"How sweet it can be?"

Quão doce isso pode ser, pelo amor de Deus?
Quanto de beijos não seriam trocados e quantas vezes, as mãos suadas não seriam entrelaçadas?
E quantos risos não daria ao te ver acordando,
E quantas histórias te contaria, ao te ver chegando,
E quantas horas de vida, por nós passando,
E quantos absurdos de tremores, não me darias, me amando?

Quão doce isso pode ser, pelo amor de Deus...


Tentando desesperadamente esquecer que essa música existe:

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Tá dum jeito...

... Tão intenso, tão forte, tão louco... Que está começando a doer, já. E não há forma pior de perceber que eu já estou completamente entregue. Isso não deveria ser assim. Deveria ser bom, somente bom. No entanto, "As coisas vão dar certo no final. Se elas ainda não deram, é porque ainda não é o final". E eu só posso me apegar a isso. rs

domingo, 21 de outubro de 2012

Para o meu amor que dorme.

Dorme, aquele que fez-se eterno,
Sem saber dessa feitura,
Com o mais suave dos meus beijos.
E sonha,
Com as mãos entrelaçadas às minhas,
Várias canções que não sabia...

...Ainda.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O que sai às 3 e pouco da manhã.

Vai desmanchar-se em soluços, mas continua sem que as lágrimas desçam.
Vai ser arrebatada para os céus fulgurantes num gozo nunca antes visto, mas continua contentando-se.
Vai queimar na fogueira das palavras, mas continua calada.
Vai rasgar sua garganta num canto, mas continua apenas pensando.
Vai abrir-se e expôr-se num rompante, mas continua deixando pra lá.
Vai obedecer, mas continua dizendo não.
Vai agir, mas continua imóvel.
Vai sair, mas continua dentro.
Vai, mas continua.

domingo, 9 de setembro de 2012

Falhando miseravelmente em resistir...

Terrivelmente, terrivelmente sexualizada.
E o pior, é que isso não necessita de que nos toquemos.
Ele fala, ele escreve, e o sangue flui imediatamente. Estou sem sentidos. Estou nua, mesmo quando vestida, pois meu corpo reclama o toque da roupa. Ele sente que há algo sobre os seios, que há algo sobre minhas costas e sobretudo, que há algo sobre...
Ele sabe que me provoca e gosta absurdamente disso. Ele sabe que eu não sucumbo nunca, mas precisa sempre me tentar...
Oh, Deus, eu preciso pensar. rs

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Os direitos.

E aí, no final da noite, depois de um filme francês, apareceram à moça as coisas que se precisam ler. Que o fado joga nos rostos, como aquela folha que se desprega da árvore e enceguece pra outros caminhos enquanto não se tira da face e a olha com algum respeito.
Nas três e meia da madrugada de um dia misturado, leu a carta mais linda de amor. Era de um escritor pra uma mocinha... Talvez a última ainda fosse uma criança na ocasião da carta. Ora, talvez. Não se sabe. Mas se sabe que era um amor tão puro e tão lindo que cabia em uma caixa cheia de beijos e que nenhum poderia perder-se no caminho.
Já a moça que leu, com lágrimas nos olhos e coração batendo como de um condenado, sentiu que precisava imediatamente de um amor também, forte e constante. Arrepios incendiaram-na e a lembrança de um querido manifestou-se sordidamente. Cantando na alma velhas canções de amor, soube que precisava, infelizmente, mais que uma caixa pros seus beijos. Se fosse amor, não haveria de ser tão puro assim. Queria o amor das vontades respeitadas. Que o cansaço fosse mais que entre o nariz e o queixo e que mãos se entrelaçassem mais que uma ou duas vezes. E se lembrou, com carinho, que o rapaz que queria, de si precisou e chamou. E lá ela se foi, abriu por querer as próprias feridas e sangrou na caminhada, mas foi sabendo que estava feliz.
Os beijos da moça ainda precisam se enclausurar, que não podem ainda chegar perto do moço. Tragam-na a caixa pra que os guarde! Ela lamenta, mas é assim que é. Mas sabe e espera que talvez chegue em algum momento a proximidade suave, mas que será tão profunda, que a Saudade precise vir reclamar aos dois, os seus direitos.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A fermata.


Talvez pouca gente saiba qual a dor de um amor impregnado. Eu sei.
Amei com toda a intensidade que o meu coração feminino e extremamente juvenil poderia alcançar. Com a minha ansiedade própria, traguei cada pedaço de solidão como se fosse o último e cada gota de reciprocidade como se estivesse a secar de sede nalgum deserto. E estava.
Corpo demasiado impúbere, mãos trêmulas, cabelos constantemente embaraçados e a não consciência de que esse estado era algo distante do que um adolescente poderia querer para si. Não obstante isso tudo, a palavra sempre foi medida, a inteligência ressaltada, o esforço recompensado e a risada muito fácil.
E então, do meio deserto e vindo da terra do sol causticante, ele chegou. Enorme como um templo, imperioso como um soldado e extremamente bonito aos meus olhos. Como já era grande, tanto por idade, quanto por tamanho, sabia reconhecer onde estava o que realmente lhe interessava. E era eu. Sei que era eu.
Ele foi a fermata que fez o tempo me obedecer. Deixei as armas pra trás, mas não os medos. Ainda assim, fiquei serena, muito mais risonha, alegre da existência. Saía pelas ruas da cidade na minha bicicletinha de mocinha e falava com ela das felicidades e das dores. A pobre ouvia tudo calada, era o jeito. Quando se zangava, inventava de cair a corrente ou rebentar o freio. E, morta de amor, eu retornava à rotina diária na espera de vê-lo pra ter que amá-lo tudo de novo. Tempos azuis.
O tempo passou e a reciprocidade foi se manifestando suavemente, mais parecia uma brisa no rosto. Porém, quando me dei conta pela primeira vez, andei como uma ferida pelas ruas, chorando parcas lágrimas em ruas desertas e cantando as canções que fiz em minha'lma nos tempos da inocência. Jamais abandonei a fermata. Ela continuou como a sua natureza manda: indefinida e pra sempre.
Aqueles sentimentos alucinados pareciam me ferver, meu Deus.

Eu já sabia que o futuro me reservava coisas inimagináveis, mas não poderia imaginar que, nove anos depois, ainda sentiria dores de um amor impregnado.


segunda-feira, 23 de julho de 2012

Amei-te tantas vezes. Umas vinte e duas.
Enquanto te amava, cerca de 40 diferentes beijos molharam minha boca.
Abraços, então, esses foram aos milhares.

Permaneci acordada um ano de noites, jurando, em cada dessas noites, que talvez minhas 22 fases de amor por ti, teriam que algum dia ter um fim.
Somente um.

Os recados sutis de amor existiram em numerais incalculáveis,
enquanto a primeira loucura ainda se convertia, dela mesma, em trezentas explosões pintadas, majoritariamente, de vermelho.

Tantas foram as vezes, tantos os numerais, que não consegui contá-los todos. Às vezes, nem ao menos dividi-los.
No final, meu amor foi centrifugado. Aquela quantidade assombrosa virou uma coisa bruta, destilada.
Meus prováveis 22 estágios de amor já não contêm mais dor.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Espero

Quando te quis, meu dedos congelaram
As mãos suadas reclamaram
E a vida foi saindo, quase de repente,
Sem ver nem pra quê
De um lado que eu não imaginei que sairia.

Te quis, mesmo que não me quisesse
Com aquele fulgor, aquele gás sem medida,
Aquela urgência vagabunda,
Aquela vontade inexorável,
Te quis.

Não me quis,
Mesmo que o corpo cantasse
E quisesse dançar a dança que nos é devida.
Mesmo que quisesse saber da carne
Os prazeres ainda não descobertos.

Quis demais a boca, o corpo, o tempo, o prazer, o momento, a mão, o pescoço.
Quis demais.

Espero que já não queira.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Que seja em paz.

A dor sempre consome as partes mais importantes. Ela alisa-te com um beijo e depois, de uma vez, o tabefe no rosto é rápido demais pra qualquer pretensão de escape. Talvez doa agora, porque eu estou percebendo que não vai acontecer nada do que sonhei acordada e dormindo. Doi agora, porque sei que, pelo menos dessa única vez, não fui a covarde que estou habituada a ser. É duro entender, em plena carne florescente, que alguns quereres são mais difíceis que encontrar uma jóia já lapidada numa mina. O querer que quero parece não ser meu. E, se for, só pode querer escondê-lo. O faz com sucesso.
De uma maneira estranha, parece que os nãos - os explícitos e os implícitos - voam sobre minha cabeça. A minha vista só vê corvos com asas escuras, que, em qualquer conto, querem dizer más notícias. Frustração é a palavra pra esse particular tipo de dor. Adentra fundo, faz fluir as lágrimas e também é capaz de deixar suas cicatrizes.
Talvez seja mesmo a hora de deixar partir essa esperança, em particular. Talvez eu entenderei, no futuro, as agruras acumuladas. Talvez eu compreenda que existem pessoas que não nasceram pra ver todos os seus sonhos feitos. Talvez eu tenha que esperar, somente. Talvez a resposta saia amanhã. Talvez eu e ele nos calemos pra sempre.
É estranho lamentar um sonho. Porque parece que lamentamos um filho nosso, que foi envolvido, embalado, nascido e criado somente dentro, durante uma gestação sem fim, sem que haja qualquer parto previsto. E, por mais dentro que esteja, parece que ele viveu uma vida inteira: das fraldas às fraldas. Mas ele fica dentro e dentro e chora e clama por sair.
Sinto muito, meu amor, mas não será possível desta vez.
Preciso aceitar isso e deixar passar. Que seja em paz.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

"Quando eu quiser, meu bem..."

Nunca beijei a quem tivesse amado. Me dói a constatação, mas dói mais o fato. Meus amores voam, vão ou nem ao menos chegam, e se chegam, o toque querido não é permitido. Na verdade, nunca foi. O presente se mostra quase tanto imperioso quanto o passado, com a diferença crucial e mais cruel de que agora eu morro com a sede de beijos apaixonados, quando antes, mesmo a imaginação era tolhida. Agora que quero, que estou disposta, que arriscaria, a vida, essa moça louca, diz simplesmente que não. Não pode, não quero, não dá, Jamila.
E eu viro pra ela e digo: "Então quando, sua puta?"
Ela tá aqui do meu ladinho, dizendo apenas isso: "Quando eu quiser, meu bem..." com o final da frase em reticências, que me dá o estranho calafrio do sussuro ao pé do ouvido.
Pois se é assim, não me deixe querendo tanto, caralho! Sentindo tanto. Olhe pra mim e admita que é um erro colocar muralhas na minha frente, porque eu sempre sempre sempre sempre vou querer ver o que está do outro lado. Olhe pra mim e assuma que o seu sadismo que te move, já que colocastes uma impenetrável no meu caminho.
Não há texto meu que resolva. Não há coisa minha que dê jeito. Não há nada que eu possa fazer.
O grande pior é que sei que quero... Continuar querendo, nesse ad infinitum ao qual eu já me acostumei e gosto. Se eu ainda quero, difícil mais será o olhar indiferente, o abraço sem vigor, o sorriso sem alma.

O que eu sinto é que estou oferencendo um tesouro, um magnífico tesouro, e existe alguém que simplesmente não sabe o que fazer com ele. Que pode saber disso ou não, mas não o quer. E o que eu vou fazer? 
Acontece comigo hoje (não só hoje!) a mesma coisa: eu não soube o que fazer com outros tesouros que me já me ofereceram. Deus, será o castigo por não ter sentido com quem era pra ter sentido ou eu sou mesmo assim? Alguém que só deseja o impossível, as muralhas que só se pode ver de longe, os paraísos que estão do outro lado do abismo?
Ou será somente injustiça?

Sou só eu, ou mais alguém aí queria ter um pouco menos de alma?

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Eu queria. Ah, se queria...

Eu queria, moço, só segurar na tua mão... Queria que ela ficasse apertada na minha, até que elas suassem.
Eu queria, moço, caminhar numa praia, contando-te as histórias dos meus anos passados.
Eu queria, ah, se queria, conversar horas e horas contigo, deitados na minha cama de solteira, olhando nos teus olhos, sorrindo no canto da boca.
Queria te contar todas as besteiras que acumulei na vida, até que chorássemos de rir, os dois.
Queria que tu sentisses esse mesmo calor que sinto no peito agora.
Eu queria te abraçar,
                                 com minha alma,
                                                             com meus seios,
                                                                                        com os meus desejos...

Queria correr ao teu encontro e te dar um beijo no olho. Sim, no olho. Melhor: nos dois olhos.

Depois, na ponta do teu nariz...

E então, no teu queixo...

E enfim, na tua boca. Só um pouquinho, e mais um pouquinho e mais um pouquinho e...


Eu queria que tu te deixasses querer.

Mas, é pedir demais, eu acho. Ah, moço... Não sabes o que estamos perdendo...

domingo, 20 de maio de 2012

E eis meus vinte e dois.

Tá com 22 anos e dois dias que eu "tou aí", como vi uma vez um cara dizer numa comunidade que eu fazia parte no Orkut. Pensei que não, começou 2012, o ano raspou duma lapada. Foi carnaval, semana santa, aquela loucura toda. Pensei que não de novo, veio Maio com todas as fulerágis típicas do mês, como uma pá de gente vestida de branco em razão de alguma promessa religiosa católica (ou não, hein? Nunca fui atrás de saber disso direito), mais aquele monte de gente desesperada sobre o presente das mamilys e tudo o mais (não dei pra minha...). Além de matérias sobre as ~tendências~ nos casamentos, que, graças ao Pai, eu não assisti por não ter televisão. Mas o pior de tudo no mês de maio, é o fato de absolutamente TODO MUNDO ter sido presenteado pelo destino ou pelo planejamento familiar para nascer nesse mês. Ah, mas é um mês lindo. É, é mesmo. Mas eu queria mais exclusividade nesse mês, pô!
Enfim... Nem só de reclamações vive a Jamila. Esse ano, que eu pensei que não fosse ter mais surpresas, já que todos os anos que eu morei aqui em Teresina, me fizeram festinhas do tipo - as primeiras festas surpresa da minha vida, repara! - eu achei que ninguém mais iria adotar esse método pra me fazer feliz no meu aniversário. Tanta foi a minha certeza, que eu mesma marquei da galera ir pra algum barzinho estiloso (leia-se: paredes pichadas e uma cerveja não tão cara assim) e comemorarmos essa data com show de amigos que têm/tocam/cantam/fazem-alguma-coisa em bandas covers daqui de Teresina. 
E qual não foi a minha surpresa quando, no dia 18 de maio de 2012, vestida com a camiseta pintada à mão do Calvin e do Haroldo se abraçando, que o Pelé me deu, cheguei, totalmente inocente na sala de aula daquele CCE e estavam muitos amigos meus e alguns professores queridos, vestidos numa camisa que mamãe mandou fazer lá em Bacabal, com os dizeres: "Feliz aniversário Jamila" (sic - veio sem a vírgula mesmo, mas não interessa!), junto com uma imagem de uma mocinha inocente andando de bicicleta - uma alusão à pobre e recém capturada Mary Jane, a primeira e a mais amada bicicleta que tive na vida - de chapéu, cabelos ao vento, com um jornal dentro da cestinha da bike que tinha como única manchete: "Parabéns!".
É, mãe, a senhora se superou dessa vez.
Eu, chocada, fui lá tentar falar com alguém. Abraçar alguém. Sei lá, fazer parte do que minha mente não tinha programado de jeito nenhum. Foi perfeito. Fiz um discurso nessa hora, falando a mais pura verdade: a verdade de que eu não seria nada sem meus amigos aqui em Teresina. Como prova disso, dei o primeiro pedaço do bolo pro Pelé, essa mina véia do buchão. (Nota: amizade mesmo só presta se tiver esculhambação mútua.)
Depois de todo o furdunço, ficamos conversando na sala vazia, já limpa, enquanto esperávamos a hora de ir pra pracinha. Ahhhh, a pracinha. Fizemos a famosa vaquinha e fomos lá, uns cinco no carro, comprar as boas vódegas para a confecção dos bons drink, enquanto já estava um povo sentado no banquinho da pracinha, esperando o éter que nos eleva aos céus, chegar. Chegamos. Pensei que não de novo, já tinha entornado o terceiro copo e quando chega a essa conta, já perdi boa parte da minha coordenação motora. A parte mais importante: a que coordena a língua. Além do falar enrolado, estava também as minhas já conhecidas eguagens multiplicadas pela ocasião. Acusei dois amigos (um homem e uma mulher, repare bem!), quando eles foram atrás de uma torneira pra lavar as mãos na praça, de terem ido dar umazinha e saí, rumando a minha casa, dizendo em alto e bom som que não ia jamais ser presa pelo atentado ao pudor alheio. rs Uma alma foi lá no meu caminho, me trouxe de volta calmamente e disse que não era nada daquilo. Mas minha pobre mente já estava contaminada: deduzi que eles tinham terminado rápido demais quando os vi voltando (já que não acharam a torneira!), falei: "Oxi, mas já?!" e a alma que me conduzia: "É que ele tem ejaculação precoce, amiga!". Lá fui eu falar com o meu amigo, abraçando-o e dizendo, com toda a piedade do meu coração, que aquilo era algo normal na idade dele, que isso tinha tratamento, que eu poderia dar o número da minha psicóloga e tal. Por aí você tira o resto da esculhambação que foi essa noite. Lembro apenas de ter recebido uma ligação de minha mãe e ter bancado a sóbria pra atendê-la. Ela não desconfiou de nada e mandou até ligar pra minha vó pra contar como foi a festa. Minha mãe, eu consegui passar a perna. Ela tomou minha fala enrolada por emoção. Mas a véia Lulu... Ah, a véia Lulu não tem esse que engane. Ali é 81 anos que lida com catchaceiro. Deusulíve!
Também não sei como, comecei mais um discurso. Esse, muito mais emocionado, muito mais poético, muito mais louco e alucinado que o primeiro. Falei de como sobrevivi a esses vinte e dois anos aí no mundo, sendo quem eu sou, sofrendo o que já sofri. Falei e o álcool aflorou todos os meus sentidos literários, já que três ou quatro das minhas amigas já estavam aos prantos quando terminei. Elas ainda sóbrias, ou pelo menos não tão bêbadas quanto eu.
Ontem, ainda não satisfeita com tanto vuco-vuco (no bom sentido!), fui comemorar no tal barzinho estiloso que já tinha marcado com o pessoal. Deu que pouca gente que eu chamei foi, mas mesmo assim foi muito legal. Coloquei o vestido mais sensual que eu tenho, me arrumei disposta a beijar uma boca em particular, e deu que de bocas que me tocaram, só as que me cumprimentaram de um lado e do outro da face. Nem sempre se consegue o que se quer, né? Voltei pra casa arrependida por não ter segurado o rosto do moço e ter dito, na cara-dura: "Vamos lá, tá esperando o quê pra me beijar?". O erro foi meu. Não dei abertura o suficiente. O moço deve ter ficado meio tímido, sei lá. Eu também fiquei. Enfim, enfim... Já era.
Hoje, no entanto, tive uma manhã mau. Sim, sem concordar com o gênero da palavra mesmo. O mau concorda com o meu conceito de dia mau. É o dia em que a minha história se manifesta e o meu passado pesa. Pesou hoje, só pra variar. Pareceu que não acreditaram em mim, quando disse que não poderia ir a um compromisso que tinha pra hoje de manhã, quando reclamei de uma dor que estou sentindo no estômago desde ontem. O descrédito que senti, de alguma forma me piorou. Passei a manhã inteira querendo dormir, sem conseguir. Tendo sonhos perturbados. Levantei uma hora da tarde, entre gemidos maus, com a consciência de que estou sub-alimentada, mas a consciência mais perturbadora ainda de que não tinha nenhuma vontade de comer e que não iria. A maçã que tirei da geladeira já se oxidou aqui em cima da mesa o potinho de Iogurte não tem o suficiente pra me manter de pé o dia inteiro. No entanto, não fui atrás de mais nada. Talvez ainda vá. Assim espero.
É, querido leitor (!!!) deste blog que eu me apropriei, chegou na estranha hora do texto, que eu consegui colocar muitas das coisas que eu queria pra fora. Algumas alegrias, algumas frustrações... Já não sei mais o que será desta menina que escreve, neste domingo solitário.
Vinte e dois anos, sim, mas ainda menina. 

terça-feira, 15 de maio de 2012

You will be good.

Esqueça, filha. Esqueça das horas desmaiadas. Esqueça das dores lancinantes. Esqueça de quando é difícil respirar.
Esqueça, querida. Esqueça que fazer planos é complicado. Esqueça que decisões são pesadas. Pesadas demais pra só esquecer.

Lembra, meu bem. Lembra que nascestes com esperança. Lembra que tu não te conformas. Lembra do que queres.
Lembra, criança. Lembra que tu sempre podes. Lembra que pôde muito mais. Lembra que tu que dás a importância devida.

Deixa, meu amor. Deixa esse teu corpo fluir na dança que ele quer. Deixa que a vontade te tome e te eleve.

Choras, se quiseres. Chora, porque é pesado. Choras, que tu não és de ferro. Choras, mas não permita que sempre a lágrima impere.

Somente te esqueça, te lembra e deixa.

sábado, 12 de maio de 2012

That I would be good...

De repente, as coisas pareceram agoniadas. Sempre de repente, as velhas sensações que tanto quero me livrar e que tanto já são parte de mim chegam pra me fazer lembrar que eu tenho uma história e que eu não posso desprezá-la.
Estar aqui, no entanto, na minha cidade, cercada de gente que eu amo e que me ama de volta, é aliviador, é recompensador.
É tanto a dizer, tanto pra colocar pra fora... Tanto, mas tanto, pra derramar, que talvez seja melhor segurar um pouco essa torneira e apenas dormir, sem pensamentos, sem reflexões, sem esse... Essa... Esse mundo nos ombros. rs 
Diário, você não faz ideia do quanto eu sinto a sua falta. Você não faz ideia do quanto eu sinto de um monte de coisas em relação à você. Sim, à você. Alguém. Eu mesma. Se você tivesse aqui, eu talvez não me reprimisse agora. Eu me falaria à mim, daquelas maneiras inconfundíveis que só nós dois sabíamos. As coisas já não seriam tão agoniadas assim, já que eu teria páginas e páginas pela frente. O tempo passaria um pouco mais devagar e as velhas sensações seriam desarmadas pelo raciocínio e pela esperança. Pela esperança que todos os dias ouso flamejar. 
É foda.
Esse título aí é de uma música da Alanis. Só lembro essa frase no meu ótimo inglês. Tô com ela inteira na cabeça, mas só sei pronunciar isso.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Eu queria

Mas não tô conseguindo me derramar agora. Essa internet filha da puta ainda me paga.
Pior que eu tô precisando.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Um brinde aos meus arrependimentos.

Todos eles apareceram na festa que dei na minha mente ontem à noite, mas nenhum deles quis beber comigo. Sentaram-se numa mesa, olhavam pra mim com a discreta desaprovação que vão ao casamento da noiva grávida. Nenhum deles ainda tinha rido, nenhum deles ainda tinha chorado, apenas ficaram com aquela mira intermitente para mim, que estava sentada, horrorizada, no lugar de honra da festa.
O mais chorado manifestou-se. Veio até mim, me dizendo que nunca esqueceu, nunca vai entender o porquê, mas nunca me cobrará as explicações. Só queria que eu soubesse. Só queria que eu soubesse...
Eles sempre querem que saiba!
O de amor olhou pra mim de soslaio, permitiu-se mais um gole de Whisky, foi-se embora da festa e pra tanto, passou por mim imperioso. Nem sequer teve a misericórdia de me olhar nos olhos. Aqueles olhos tristes me doeram tanto! Acabou retornando, porque ele sabe que se sair da minha memória, morre.
As bocas que não beijei se riam despudoradamente de mim e pra mim. Meu Deus! Como elas estavam molhadas, lindas, apetitosas, querendo a minha mordida lasciva. Elas se exibiam como se soubessem de seus efeitos, de minhas vontades que guardei à sete chaves porque tinha medo. Quais foram os transes que me neguei?
O mais lindo, o que vi uma única vez num restaurante, que seria o homem da minha vida, peguei de mãos dadas com a mulher que ele agora está fazendo feliz. Esse apenas acenou e eu sorri o meu mais lindo sorriso triste.
Todos os meus arrependimentos cantaram a minha primeira canção d'alma, que escrevi na quarta-série naquele colégio religioso, sabendo que não seria mais uma, sabendo que amor era grande coisa, sabendo que andaria caminhos ainda não trilhados, sabendo que algo grandioso me aguardava.
E eu só conseguia pensar na grande ironia de todos escolherem essa música.
Olhei pra cada um deles, lembrei de cada um deles, amei novamente cada um deles e entendi, no meio daquele lamaçal de lamúrias, que o medo levou os meus melhores anos.
O riso do canto da boca ainda não havia se dissipado.
Peguei pra mim uma taça de vinho, tal qual Jesus, e disse: "Reparto, então, com vocês meu pranto. Reparto com vocês minhas agruras. Reparto com vocês minhas mortes tantas vezes morridas em cada um de vós. Toda vez que tomarem desse cálice, lembrem-se também de mim, porque eu nunca me esquecerei tanto de vocês, mesmo sem cálice algum".
Todos brindamos e então foram saindo um por um. Um por um...
Um por um...
Até que o derradeiro se retirou e eu fiquei, com o coração arrasado, apertando minhas mãos até que se rasgassem mais os dedos, agarrada unicamente à certeza de que aquela festa nunca mais aconteceria de novo.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Poema expresso das 1:20 da manhã


Jogaria moedas na praça se o pobre cantasse
Andaria calada se o mudo falasse
Choraria sorrindo se a tristeza alegrasse
Olharia o céu se ele não me cegasse
Voltaria no tempo se a dor não entrasse
Sonharia voando como se eu precisasse
Te amaria te amando se eu já não te amasse.

domingo, 25 de março de 2012

"Él que no sabe de amores, llorona, no sabe lo que es martírio..."

24 de Março de 2012, às 00:44 de 25.

Sonhei com o que se foi de mim.
Andamos trezentas mil horas de sentimentos acumulados de mãos dadas.
Abracei seu corpo ardendo e desmanchando-se em soluços
Era meu, pra que cuidasse.

Andamos ladeiras de feridas expostas
E as latanhamos mais com nossas palavras.

Ele se viu sem os seus.
Chorou em meu peito a morte de dois filhos
E de uma mulher;
Porque o amor é grande demais, procurei com ele.
Estava prestes a definhar de andar
Mas não pararia nunca
Porque andávamos de mãos dadas
Trezentas mil horas de sentimentos acumulados.

Jorrou em mim sua febre
E em minhas horas acordadas ela alastrou-se
Lacrimejei minha própria luz
De trezentas mil horas de sentimentos acumulados.

Finalmente, achamos quem procurávamos.
Ele iria partir, porque morrera também.
Me queria junto dele, pra que o cuidasse sempre.
Teria que morrer também.



Ele se foi carregando seus mortos chorados,
E eu fiquei aqui escrevendo minha morte.
Porque por mais que não morresse,
Morri também quando se foi.
A partida inconcebível doeu-me
E sangrando fiquei
Trezentas mil horas de sentimentos acumulados.

Meu Deus! Quantas toneladas de solidão cabem
Em trezentas mil horas de sentimentos acumulados?

sábado, 24 de março de 2012

Sonhei demais.

Sonhei mais do que meu espírito podia aguentar. Sonhava que meu amor precisava de mim, que quem ele amava morria, filhos, mulher, e que eu podia abraçá-lo da maneira como eu queria, mas ele queimava de febre, numa maca no meio de uma sala, alucinado, procurando por quem se foi, mas chorando com minha presença. Andávamos eu e ele procurando, de mãos dadas, por eles. Eu, desfrutando cada pedaço de sua dor, dando-me por completa na missão de saná-la, amando-o mais que nunca, permitindo o nunca permitido toque (nem nos sonhos) e, doendo com ele, todos os pedaços partidos da minha alma.
Talvez nunca mais vou tocá-lo como hoje eu toquei. Depois que encontramos seus filhos e a mulher, vivos, mas mortos, almas que se recusaram a ir, ele também já estava morto. Já não era mais meu, como nunca fora e me pedia pra nunca abandoná-lo, e pra isso teria que morrer também. Não morri, como ele quis, porque fiquei com medo da infelicidade. Meu Deus! Como queria que estivesse vivo mais uma vez, pra tocá-lo. A febre dele impregnou-se no meu corpo e se alastrou em minhas horas acordadas e parece que desse sonho não sairei jamais.

Durmo e sonho demais, mais do que meu espírito pode já suportar.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Oração à Vida


Vida, deusa louca e bendita,
Abençoada e amada,
Poderosa e opressora,
E ainda assim, possível.
Vida, mulher dançante,
Que carrega em seu ventre o tudo:
O todo possível da humanidade.
Vida, louca bendita, te peço,
No novo tempo que se aproxima,
Que não sobrevenham os dias maus
Nem se aproxime o de mau coração.
Permita, ó Vida,
Que o amor perpetuado sossegue
E dê lugar a um novo.
Que as feridas abertas se fechem,
Que o olho fechado se abra,
Que a dor pare de doer,
Que o sossego se faça presente.
Vida, louca e amada,
Dê-me de presente a paz de espírito,
Que dá poderes divinos
A quem é igual a mim.
Vida, louca possível,
Sê grandiosa e abale minhas certezas
Para que nunca suba em pedestais.
Não te desapegues de mim, Vida,
Até que chegue o tempo,
De modo que possa sorrir,
Mesmo se todo o resto cair.

Jamila. 29/12/11, às 1:30.


Esse texto foi para a chegada do novo ano, o "novo tempo". Não conseguia dormir e, incomodada, precisei escrever. PRECISEI. Eu precisava pedir à Vida pra que me resguardasse de minhas inquietações. E aí está minha oração, livremente inspirada na "Oração ao tempo" de Caetano Veloso.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Sobre a infância.

Ontem à noite, depois de tantas manifestações de alegrias e momentos nostálgicos com os desenhos que a galera tá colocando no Facebook, pra "protestar", fiquei pensando sobre a infância. Claro, não é um texto que tem a intenção de definir o que ela seja, nem de moldar nada, é só um pouco das minhas lembranças.
A infância é, realmente, uma fase linda da vida das pessoas. Sim, a mais importante, sem sombra de dúvidas. É com ela que se começa tudo e onde o caráter e a personalidade do ser humano vão ser definidos. É por ela que ele aprende a simbolizar, a falar, a escrever (ou não). Enfim, na maioria das vezes, é nela que adquirimos as capacidades essenciais pra vida em sociedade. No entanto, não é o momento mais lindo.
Pra mim não foi.
Foi muito, muito bom. Mas tiveram momentos que foram muito, muito ruins.
A infância que não é infância é mais cruel do que as outras fases que não se deixam ser elas mesmas, podem ter certeza. De tudo o que mais me fazia falta era exatamente não saber me defender das crueldades das pessoas mais velhas e ser reprimida em muitíssimas situações onde eu estava certa e não poder fazer nada quanto a isso, por que eu só era uma criança.
Se existe mesmo alguma intenção das pessoas protestarem contra a violência infantil, que não seja só o ato de colocar um desenho querido no seu avatar - ato que por si só não traz relevância nenhuma e não muda NADA na vida de quem está sofrendo. A única pessoa a se beneficiar dos desenhos é você mesmo, que sente os bons momentos sentado na frente da tv, revividos.
Se a dor de uma criança te incomoda, dê ouvidos a ela. Saiba que o sentimento de raiva, de ódio, de tristeza, de frustração, de dor, são tão sofridos nela no que na de qualquer ser humano com mais de dezoito anos. E nem podemos saber (eu, pelo menos não sei) se não é até maior.
Morro de ódio de pessoas que acham que podem destratar uma criança, humilhar, fazer o que for por que "menino não tem querer".
Minha infância foi boa, melhor que de muita criança por aí que sofre coisas inimagináveis, eu sei. Mas poderia ter sido melhor se eu tivesse a consciência que eu tenho hoje, já com 21 anos e alguns calos da vida, desde a já muito dita infância. Conheço senhores de mais de 60 anos, profundamente marcados pelos desmandos sofridos na infância, onde a criança era apenas um adulto em miniatura.

A infância pra mim não é idílica. Tenho saudades dela, sim, mas nunca quereria vivê-la novamente. Prefiro a liberdade pra escolher meus caminhos, prefiro a coragem que hoje possuo, prefiro a consciência de que não sou inferior a ninguém.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Las colores

Há uma lua no céu brilhando como nunca e eu aqui, escrevendo pra não explodir.

Não é verdade que sempre existiram soluções pro que não se achava possível?

Inventaram a lâmpada, a roda, o fogo (esse descoberto).

Eu queria uma solução pros meus impasses. Quero inventar a minha roda, ou talvez minha engrenagem, pra que a minha vida vá. Não que me fuja como das outras vezes.

É tão difícil não chorar quando o mundo se apresenta tal como eu o vejo por vezes. Tenho medo de não ver o mundo com cores sempre.

Pois que esteja decidido: todas as vezes que o mundo estiver em preto e branco, que eu considere como as fotografias que ficam mais artísticas e mais bonitas desse jeito.

Que toda vez que ele estiver em sépia, que eu lembre de um céu amarelado que uma vez fez em Bacabal, logo depois das chuvas de janeiro, com um arco-íris sem cores, mas impressionantemente lindo.

Que toda vez que o mundo estiver somente negro, que eu lembre da janela desse quarto que não é meu, e me lembre da lua gloriosa que está agora e, com isso, lembre que não há escuridão que não ressalte alguma coisa e que eu possa lembrar também da felicidade que eu já toquei por várias vezes, para que as cores voltem.

Amém.

Às 1:25 de 11/07/2011

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O ano improvável.

Como não poderia deixar de ser, um texto pro final desse ano. Já estamos no dia 29 e provavelmente não entrarei na internet antes do reveillón e nem depois!

Praticamente em todos os dias, esse ano me trouxe surpresas.
Foi o ano que eu dei o meu 5º beijo, no 1º dia do ano.
Foi o ano que eu passei pro que eu queria, duas vezes. Desisti da primeira e meti os peito na segunda.
Foi o ano que eu abandonei, com uma dor no coração, Pedagogia. Depois de um ano e meio pedalando com a pobre Lois Lane praquela UEMA, passando raiva, tendo ódio de gente, rindo, amando algumas seletas pessoas. Não, não foi pra nada que eu fiz Pedagogia. Foi uma das mais surpreendentes aventuras da minha vida. Pena ter que ter de deixar tudo isso pra trás.
Foi o ano do meu primeiro carnaval!
Foi o ano que eu fui morar fora, depois de quase perder o curso de Jornalismo, por um erro no meu cadastro na UFPI.
Foi o ano que quatro pessoas me fuderam com toda a crueldade com que se pode fuder alguém. E digo FUDER mesmo, sem eufemismos, sem duplo sentido. A marca que ainda está em mim mostrou o quanto um dia pode fazer tanta diferença na vida de uma pessoa.
Foi o ano que eu conheci o maior número de gays da minha vida. (\o/ Lesgal! Atoron!)
Foi o ano que eu conheci pessoas e as amei, quase que instantâneamente. E, pelo menos uma dessas pessoas me amou com toda a intensidade que poderia ter. E foi, infelizmente, o ano que eu não pude retribuir o tesouro que me era dado.
Foi o ano que eu subi na mesa (não digo o meu estado*!) e cantei "Hay amores" pra umas 20 pessoas. Sei que serei lembrada pra sempre por isso. (gravaram, porra!)
Foi o ano que eu beijei mais do que em toda a minha vida inteira. A contagem não vai ser revelada, mas, pelos meus padrões, foi muito, mésti.
Foi o ano que eu beijei e não morri. (Sim, eu poderia. Se você me conhece, sabe o porquê!)
Foi o ano que eu fui assaltada pela primeira vez. Corri, o ladrão não me pegou, o celular sobreviveu, mas eu dei uma topada e torci o pé! Grrr
Foi o ano que, por causa da topada, pela primeira vez na vida, coloquei o gesso no pé. (Vai me dizer que quando você era criança não tinha esse sonho de usar gesso só pros outros assinarem? TÁ! Nem vem!)
Foi o ano que eu me sujeitei trabalho escravo às aulas de uma professora acolá, que me deu uma mínima amostra do que é o mercado de trabalho.
Foi o ano que eu dei um ataque de fúria e xinguei meus pais na cara deles! =O EU fiz isso. Até hoje não acredito... Não só ter feito, mas como não acredito ter sobrevivido. Gulp!
Foi o ano que parei de dormir com a minha vó, depois de quase cinco anos.
Foi o ano que passei fui personagem de três reportagens de tv. (Tipo, eu passava lá atrás na escala rolante do shopping, mas mesmo assim, foi a minha estréia. Meu nome agora não é mais Jamila Carvalho, meu nome artístico agora é Íris Katherynni, ok?)
Foi o ano que eu vi o tanto que eu tava lascada sem amigos.
Foi o ano que eu fui assaltada pela segunda vez. E pela segunda vez, o meu celular resistiu.
Foi o ano que eu parei de escrever no meu diário. Infelizmente, muito, absurdamente.
Foi o ano que eu vi que eu não sei de porra nenhuma e que eu sou igual a uma formiga andando distraída pela sala. E que não sabe que o seu pé vai pisá-la e esmagá-la a qualquer momento.

Pelo menos eu sou daquelas formigas teimosas, que não morrem logo.

*Eu vou dizer meu Estado sim: Maranhão!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Eu já escreví isso?


Jamila sempre foi conhecida por suas manias. Desde muito pequena, não conseguia ficar quieta um só instante. Odiava ter que entrar em casas com pisos de azulejos, porque faltava enlouquecer pra não pisar nas malditas linhas. Da mesma forma era com as calçadas. Talvez por isso mesmo que não gostava muito de ter que andar, mas tinha.

Agora que já é menina moça, anda por aí sem olhar para o chão. Ainda é muito difícil resistir a um bom desafio.

Jamila não chora fácil. Não, não mesmo. Nada de tpm’s que a fazem chorar com comerciais de manteiga, muito pelo contrário. A sua TPM a faz inflamar de ódio. Coitado do vento que triscar. Nomes feios, nomes baixos, nomes altos e sonoros saem da sua (voluptuosa) boca. Mas certa vez, a pobre garota chorou. Chorou até suas lágrimas secarem no rosto. Desde esse dia nunca mais chorou tão copiosamente, nem tanto e nem pretende. Mas a lembrança do dia do choro extremo nunca saiu de sua cabeça. É bom lembrar que depois disso, ela dormiu como se tivesse tomado diazepan na veia.

Ela já gostou de matemática, mas como qualquer pessoa normal, no Ensino Médio, veio a odiar essa triste invenção com todas as suas forças. Algo como três TPM’s acumuladas. Em dia de prova, saia de casa cheirosa, arrumada, cabelo penteado e alguma sombra no olho, mas nunca com uma faca, que era o que ela mais desejava carregar.

Sem perceber, entendeu que os seus dotes davam pra escrever. Mas ao mesmo tempo, também entendeu que podia escrever sem dar. Desde então, mantém cadernos avulsos, sempre comuns e entediantes, sem canetas coloridas, onde tem a oportunidade de ficar totalmente nua. Só às vezes, sexy.

Meninos bonitos demais não têm vez com ela. Mas só pelo único motivo de nunca um ter tido vontade de entrar na fila.*

Por vezes, vai dormir muito linda. Invariavelmente acorda feia. Nesse caso, já desistiu de esconder as eternas olheiras, porque nem cimento resolve.

É limpinha e cheirosa, porém os cabelos... Os seus cabelos têm vida própria. Quando eles encasquetam que não querem sair de casa, é um puxa daqui, repuxa dacolá, e muitos fios são sacrificados nessa batalha vencida quase à sangue. E, triunfante, ela joga o que tiver de creme em cima dos coitados exânimes. Certa vez, ela inventou de domá-lo à gel. Nem uma pedrada na cabeça movia algum fio. Só aí ela percebeu o quanto a Hebe Camargo deve sofrer. Desde então, a menina é partidária de qualquer meio que descaracterize o cabelo miscigenado das povas brasileiras, mas nunca teve coragem de meter qualquer química no seu.

A jovem ama e vive. De um jeito muito particular, de um jeito muito intenso, mas de um jeito não tão estereotipado como ela queria que fosse. E, porra!, apesar dos pesares, ela é uma garota normal. Ok, atipicamente normal.


[i]*Peraí, existe uma fila?[/i][:o]

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Segunda do Dia da Felicidade.


Percebí que sou filha do vento.
Meu pai me carrega por entre as árvores
Beija-me e abraça-me completamente.
Ele disse: -Vai, filha.
Tenha-me dentro de ti.
Lembre-se dos meus beijos.
Deixe que eu me revolva em seu ser.
Vá por entre o mundo,
Assim como fomos entre as árvores.
Faça seus próprios tornados.
Destrua-se e volte a ser novamente.
Sopre para longe os males,
Assim como eu carrego as folhas secas reunidas.
Deteste as amarras,
Não as que ligam seu coração,
Mas as que perpetram no seu cérebro.
Vai, minha filha.
Chore. Eu secarei suas lágrimas.
Ria. Eu brincarei com os teus cabelos.
Ame. E terás uma brisa em seu rosto.
Apaixone-se. E verás um enorme furação.
Vai, filha.
Num simples balanço das mãos eu estarei contigo.

Primeira do Dia da Felicidade (31/08)

Senhor cavalheiro,
Se me quiseres,
Terás de mim o beijo mais doce
Terás as palavras que aquecem o coração
Terás o carinho que lampeja a alma.

Senhor cavalheiro,
Se me aceitares,
Terás um coração cheio de amor e de dor
Que reconhece a cada face e que faz curar
Que morreria por um sorriso de felicidade.

Senhor cavalheiro,
Se me amares,
Terás também o corpo casto que possuo
E todas as suas violentas formas
Que serão para ti e para mim uma fonte inesgotável.

Senhor cavalheiro,
Peço-lhe que me queiras,
Porque já não é a vida sem ti
Mas se não aceitasres minha oferta,
Terás porém estes versos
Que já eram seus antes de nós mesmos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010


O declínio do amor romântico


Uma história popular relata o caso de uma jovem que desejava muito viver uma relação de amor e então deixou um bilhete num local onde seria fácil de ser encontrado. A mensagem era a seguinte: “A quem encontrar este bilhete: eu te amo.” Parece improvável? Mas é isso mesmo o que acontece por aí, só que de forma mais sutil.

Na verdade, não faz muita diferença quem encontre o bilhete. Quantas vezes ouvimos a descrição do parceiro amoroso de alguém como sendo uma pessoa maravilhosa, bonita, inteligente e quando somos apresentados a ela levamos um choque?

O amor romântico não é construído na relação com a pessoa real, mas sobre a imagem que se faz dela, trazendo a ilusão de amor verdadeiro. Deseja-se tanto vivê-lo que, quando alguém o critica, provoca grande desapontamento. Não é para menos. Nada pode unir tanto duas pessoas como a fusão romântica.

A questão é que, por mais encantamento e exaltação que cause num primeiro momento, ela se torna opressiva por se opor à nossa individualidade.
Vivemos um período de grandes transformações no mundo, e, no que diz respeito ao amor, o dilema atual se situa entre o desejo de simbiose com o parceiro e o desejo de liberdade. É inegável que a fusão proposta pelo amor romântico é extremamente sedutora. Que remédio melhor para o nosso desamparo do que a sensação de nos completarmos na relação com outra pessoa?


No entanto, quando alguém alcança um estágio de desenvolvimento pessoal em que descobre o prazer de estar sozinho, se dá conta de uma profunda mudança interna. Preservar a própria individualidade passa a ser fundamental, e a idéia básica de fusão do amor romântico, em que os dois se tornam um só, deixa de ser atraente. Quanto à possibilidade de as pessoas alcançarem essa independência, existe certo pessimismo, alimentado pela crença de que o desejo de fusão com o outro está arraigado aos nossos ideais. Não participo muito dessa convicção.


O terapeuta e escritor Roberto Freire afirma em um dos seus livros que lhe custou muita dor, solidão e desespero aprender que sentir amor era uma potencialidade vital sua, produção criativa própria, e que para amar dependia apenas dele mesmo. A expressão e comunicação do seu amor eram produtos da liberdade pessoal e social conquistada. “Em minha inocência e ignorância, eu atribuía a algumas pessoas o poder de liberar, produzir, fazer exercer-se e se comunicar o amor em mim e de mim. Esse amor pertencia, pois, exclusivamente a essas pessoas, ficando eu delas dependente para sempre. Se, por alguma razão, me deixassem ou não quisessem produzi-lo em mim, eu secava de amor e — o que é pior — ficava em seu lugar, na pessoa e no corpo, uma sangrenta ferida, como a de uma amputação, que não cicatrizaria jamais.”


Por enquanto, não há dúvida de que desejar viver relações de amor fora do modelo romântico pode ser frustrante. As pessoas são viciadas nesse tipo de amor e fica difícil encontrar parceiros que já tenham se libertado dele. Mas acredito ser apenas uma questão de tempo. As mudanças são lentas e graduais, mas definitivas, nesse caso.

Para quem imagina que vai perder alguma coisa ao desistir do amor romântico, Bonnie Kreps, cineasta canadense que escreveu um livro sobre o assunto, é animadora.

Ela diz que deixar o hábito de “apaixonar-se loucamente” para a novidade de entrar num tipo de amor sem projeções e idealizações também tem sua própria excitação. É a mesma sensação de utilizar novos músculos, que sempre tivemos, mas nunca usamos por causa de nosso modo de vida. Entretanto, ao começar a utilizá-los podemos fazer com nosso corpo coisas que antes nunca conseguimos.

Para ela, os músculos psicológicos também existem e devemos olhar através da camuflagem do mito do amor romântico a fim de encontrá-los — e, então, ver com o que se parecerá o amor quando mais pessoas começarem a flexioná-los.


Quem sabe não teremos grandes surpresas?

Regina Navarro

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Meu amigo.


Seu Sampaio dorme agora
na sua vida, eu sorri
na sua morte, eu não chorei
o rádio de pilha desligou
não tocará mais
O mundo mudou
E ainda não me dei conta
O meu mais velho amigo
mais jovem alegre
dormiu.
Agora, ele joga conversa fora
com meus avôs.
Deitado não o vi.
Apenas sentado, cantando.
É isso que ficará, amigo.

Durma em paz, querido amigo. Sentirei sua falta.

20:23 de 04/04/2010.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O infinito e nós.

Sete horas te escrevi que não poderia ser o melhor pra mim, meu querido. Olhei nas casas e elas me pareceram sombrias, por isso não me atrevi. Vaguei por mais lugares estranhos e ermos e eles não eram apropriados pra nós. Para nós, apenas um lugar poderia sustentar por alguns minutos as longas horas de amores guardados: o infinito. Se esse lugar existir, onde ele existir, de que modo existir, eu estarei lá, para sempre te esperando. O infinito nos hospedará por alguns minutos e esses minutos serão eternos, por causa do lugar que nos abriga. Horas, minutos, segundos, milésimos, tudo isso não terá nenhum significado. Onde quer que esteja o infinito, lá estarei eu e lá estaremos nós a nos perpetuarmos lancinantemente. Por isso somos mortais, para que possamos ter a oportunidade de nos tornarmos eternos. Por isso não me encontre onde eu te escreví cinco horas. O amor aqui, dessa maneira, jamais poderá acontecer.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A noite

é uma companheira e tanto. Não sei porque, quando dá de madrugada, parece que os meus neurônios querem funcionar mais rápido do que o normal. Eu passo a madrugada inteira "escrevendo" coisas na minha cabeça, criando textos lindíssimos, que na hora que dá o dia, que eu vou começar a escrevê-los, não saem com a mesma fluidez da madrugada.
Ontem, eu fiquei pensando na beleza. E nos seres apaixonantes e nos apaixonáveis. Eu pensei que há uma diferença entre esses dois tipos de gentes. Os apaixonantes seriam aqueles por quem se apaixonam muito fácil e os apaixonáveis seriam aqueles se apaixonam muito fácil ou por muito pouco. Por exemplo, pela beleza. Se apaixonar pela beleza é ser apaixonar muito fácil, porque a beleza é óbvia e evidente, só precisa-se de um olhar pra descobrí-la. E também é apaixonar-se por pouco, já que a beleza, apesar de grandiosa, é apenas uma coisa dentre tantas outras que podem levar uma pessoa a se apaixonar por outra.
Eu tenho um tio que é muito parecido comigo, quando se trata de pensar sobre as coisas. Uma vez estávamos conversando e ele me olhou e disse, com uma sinceridade que me desconcertou: "Você é perigosa, menina!" e eu perguntei porque. Ele me falou que era porque eu sou bonita e mulheres bonitas são perigosas. Eu era mais nova e isso me assustou um pouco, não porque eu não tivesse entendido o sentido do que ele me dizia, mas quando eu propus morar com a minha tia na capital, e ela não aceitou e me deu um monte de desculpas esfarrapadas pra isso, a fala do meu tio ecoou bem fundo na minha cabeça. Uma semana depois, ela revelou o real motivo pro meu pai de que era por causa do marido dela, um cara altamente apaixonável.

sábado, 3 de julho de 2010

O que é maior que dois

Num rompante, se despe por inteira. Não. Ainda não está por inteira. Ainda carrega no rosto sombra e um batom muito vermelho que faz com que seus lábios ressecados tenham um aspecto febril de que estão jorrando sangue. Tranca a porta com duas voltas na chave, ouve o barulho de um simples ventilador.

A noite está inesperadamente fria. O banho que tomou com água gelada faz com que todos os seus pêlos fiquem eretos. Ela não se enxuga, deixa a água correr e formar gotas que deslizarão suaves por suas curvas. Nota aí uma sensualidade que ninguém vê, é dela e apenas a ela pertence. Nesse momento, o desejo mostra-se e ela sente no seu secreto, uma ansiedade para o desconhecido.

O ventilador que é ligado no último grau quase fere o seu corpo. Enrijece-a e a quebra por dentro. E mesmo isso ela deseja. Vê nesse pequeno flagelo uma beleza. É para ela treinar seu corpo para pequenos invernos, resistir-se a si mesma, sentir a sensação do quase impossível na pele.

Segue a curva que é formada pelo seu seio, desce pela barriga e que se finda na virilha. Já não é ela mesma quem está ali, mas uma outra que se apossa e não tem medo de nada, nem de si mesma. Imagina a vastidão que se pode ter em tão delgado corpo e em suas falanges se encontram a passagem para a explosão ensaiada do êxtase.

O livro está aberto em uma página qualquer. Ela o nota e ri-se dessas travessuras que esse ser supremo lhe prega ao seu bel prazer. A vida, a quem não ensinaram os nãos, simplesmente atestara o seu estado: “(...) viver na verdade, não mentir nem a si próprio nem aos outros, só é possível se não houver público nenhum.”

Depois do riso, o ventilador pode então descansar. Olha o relógio e são três da madrugada. Lembra-se que na imensidão de uma noite são sempre três da madrugada.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

ADORO PAU MOLE - MARIA REZENDE


Adoro pau mole.
Assim mesmo.
Não bebo mate
não gosto de água de coco
não ando de bicicleta
não vi ET
e a-d-o-r-o pau mole.

Adoro pau mole
pelo que ele expõe de vulnerável e pelo que encerra de possibilidade.

Adoro pau mole
porque tocar um pressupõe a existência de uma intimidade e uma liberdade
que eu prezo e quero, sempre.

Porque ele é ícone do pós-sexo
(que é intrínseca e automaticamente
- ainda que talvez um pouco antecipadamente)
sempre um pré-sexo também.

Um pau mole é uma promessa de felicidade sussurrada baixinho ao pé do ouvido.

É dentro dele,
em toda a sua moleza sacudinte de massa de modelar,
que mora o pau duro e firme com que meu homem me come.

sábado, 19 de junho de 2010

Poema privado.

Em certos momentos insanos
é que nos damos a conhecer
a crueza de nossas palavras
que vêm para desdizer
tudo o que outrora se disse
e tudo o que se pensou
disse, portanto e ferí
ferí quem não magoou
se irou-me por um tempo
no outro só deu compaixão
por isso te peço, amigo
que me dê o seu perdão.
se quebras a testa ou a venta
com isso eu tenho a ver
por que com raiva fico
da dor que se deixou doer
mas se com raiva fico
não posso te maltratar
agora és um ferido
do chifre tem que cuidar.
Se pra você que lê agora
este meu poema imbecil
e não entendeu nada
vá torcer pelo Brasil
que aqui só é uma amiga
que tem a boca grande demais
e tudo por causa da formiga
que a carregue o satanás
Júnior, não mate mais formigas
largando a venta no chão
eu não sou tua mãe
mas tu me mata de preocupação
vai fazer um filme
vai estudar
que se tu tacar o chifre na quina do puff de novo
e não prometo não te xingar
E findamos assim
a nossa conversação
se tu não me ligar em dez minutos
eu te passou outro carão.



=D

terça-feira, 13 de abril de 2010

Devo confessar

Porque me sinto latanhada pelas unhas de um amor mal curado, que me persegue e há de me perseguir até os dias findos da minha vida, é que choro sem lágrimas nesse momento. Porque não há, em nenhum outro lugar, alguém que me diga que isso irá passar e me mostre com uma certeza absoluta de que não está enganado.

Enquanto choro, ele vive, ama, goza e eu vivo, choro e gozo a dor. Apenas a dor.

Enfeitiçou-me como um homem que me olhou profundamente às cinco da tarde de um dia que eu achei que fosse não terminar. Justamente por que ele era aquele homem, que atravessou o meu caminho e não saiu do meio para que outros ocupassem esse mesmo lugar. Atolou-se na lama de minhas lamúrias, aninhou-se no ventre de minhas angústias e apossou-se do órgão que controla o amor: o meu cérebro.

Que Deus abençoe a minha noite, para que possa dormir em paz. E que mais uma vez, possa ver o dia para ter de amá-lo tudo de novo. Porque se já não sai mais da minha vida, já não sei mais ser possível a vida sem a sua sombra.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Conheceu-se

A cada dia, uma lembrança nova surgia. Ela não imaginou que seu nome não era o que lhe haviam dito. Levantou, pisou os pés descalços no chão frio e uma voz que ela não sabia de onde avisava-a pra que se calçasse. "Pisar no chão com o corpo quente deixa a boca torta!", ouviu.
Uma sensação de familiaridade a tocou e ela sentou no colchão sem capa que tinham dado a ela. Andressa olhou em volta e não reconheceu o seu passado dentro daquele quarto recém rebocado. Pensou que poderia ser tudo um sonho. Olhar pra trás e ver que tudo não passou de um sonho é realmente um sonho, às vezes.
De repente, como que num passe de mágica, o coração voltou a fazer o que teimava há 7 anos. Bater descompassadamente enquanto um frio intenso subia pela sua espinha. Era o retorno do desespero. A garota deitou-se de novo e não pediu ajuda pra ninguém. Aquela seria a última vez na vida em que sentiria aquilo. Seria a última vez que esperava passar, sabendo que voltaria. Isso era a única coisa que ela ainda sabia das velhas reminiscências.
Andou até a cozinha, pegou uma faquinha de mesa, ainda suja de margarina. Lavou-a, mesmo entendendo que não havia sentido em se preocupar com a higiene naquele momento, mas seu instinto nunca deixou que fosse tão porquinha.
Com ódio e com uma profunda tristeza, decidiu apulanhar o seu coração, para que parasse à força. Olhou primeiro pra todos os lados e não havia ninguém daquela família que a acolhera, quando acordou numa avenida movimentada em noite de temporal, suja, com a testa sangrando e trêmula.
Apenas nesse momento, quando a decisão foi tomada, ela fechou os olhos e como sabia que o que a esperava era o descanso eterno, não tesou os músculos, mas relaxou-os inadvertidamente. Foi aí que sentiu que toda ela era agora serena e que o coração parava de bater agressivamente, e passava a bater como numa tarde dormida em uma rede na varanda da casa, com o céu azul e com um vento tranquilo.
A partir daí, abriu os olhos suavemente, tomou consciência de que a vida ainda era possível mesmo assim. Tentou ver onde teve início a sensação ruim e lembrou: quando estava andando à cavalo, na fazenda de um senhor de cabelos brancos. E lembrou que o senhor de cabelos brancos se chamava Augusto e era muito gentil. E lembrou que Augusto tinha um filho chamado Alberto que era muito valente. E lembrou que Alberto criava uma menina muito feliz chamada Manoela e logo se viu num espelho.
Já o coração retornava às batidas fortes, que não eram certeza de morte, mas sim uma profunda certeza de vida. Formigava o seu corpo esbelto dos pés à cabeça, sabendo que agora tinha mais uma razão pra viver e viu também, que mesmo que não tivesse descoberto que ainda tinha essa razão pra viver, ainda assim viveria, pois ao ser humano só cabe viver.
Forçou-se a encontrar a saída. A cozinha já estava cheia de luz, o sol já tinha raiado. Pegou o telefone e digitou aqueles oito números que vieram à cabeça. Uma voz feminina amargurada respondeu e ela já tinha ouvido aquela voz. "Peraí, é a mesma que me disse pra calçar os chinelos!"
Sim, era sua mãe que também se forçava a viver desde que Manoela sumiu no mundo pra nunca mais.

O nunca é sempre demais. O amor e o desejo de viver também. No final das contas, nós é que escolhemos qual das opções queremos pra nós. Se a vida, nos momentos maus, parece nada mais que um punhado de sofrimentos, ela ainda costuma ser maravilhosa e imprevisível. Ainda vale a pena tentar.

Tem amores



Também não deixa de ser uma falta do que fazer. Mas uma falta do que fazer muito digna!

sexta-feira, 26 de março de 2010

A música da vez



Iris - The goo goo dolls

E eu desistiria da eternidade para tocá-la
Pois eu sei que você me sente de alguma maneira
Você é o mais perto do paraíso do que eu jamais estarei
E eu não quero ir para casa agora

E tudo que eu sinto é este momento
E tudo que eu respiro é a sua vida
Porque mais cedo ou mais tarde isso irá acabar
e eu não quero sentir a sua falta essa noite

E eu não quero que o mundo me veja
Porque eu não acho que eles entenderiam
Quando tudo é feito para ser quebrado
Eu só quero que você saiba quem eu sou

E você não pode lutar contra as lágrimas que não estão vindo
Ou o momento da verdade em suas mentiras
Quando tudo parece como nos filmes
É, você sangra só para saber que está vivo

E eu não quero que o mundo me veja
Porque eu não acho que eles entenderiam
Quando tudo é feito para ser quebrado
Eu só quero que você saiba quem eu sou

domingo, 21 de março de 2010

Uma constatação

"Porque por mais que o tempo passe, por mais que eu não o veja, por mais que o mundo mude e nós próprios mudemos, ele é o homem que me habita, não tem jeito." (eu, como sempre, nos cadernos avulsos de toda noite.)


O que se passa nas minhas entranhas nesse momento é a certeza de que o que se vai, também sofre desesperadamente. Mas o que fica sofre mais.
Eu sou a que fui. Estou no lugar de onde ele veio. Agora a visão dele me perturba a todo o tempo, me chamando pra algum lugar do passado que eu não sei mais voltar. Saber que ele é uma certeza me dói.
Eu amo de uma forma, que só de saber que piso agora onde ele pisou, me causa euforia. Eu sou feliz só por saber que ele existe. Isso não é o suficiente, mas já me basta.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Como a vida mudou

Mudou demais. Moro agora em Teresina no Piauí. Curso o curso que sempre quis. Não estou doente, nem só, nem infeliz.
Porra! Pra falar a verdade, eu tô é feliz pra caraleo.
Eu disse que por você eu conseguiria. Pois é, você não sabe que eu disse isso, mas eu disse, há algum tempo atrás. A vida mudou pra mim e só agora eu posso dizer isso.
=D

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Sabe o cachorrinho que corre atrás do carro?

Corre, corre, corre e claro, nunca alcança o carro. Só que um dia um desses carros para. E o cachorrinho pensa: "Mas o que... !?!?" e fica parado, tentando pensar no que fazer a partir de agora.

Dia 5 eu soube da notícia que espero desde os 15 anos. Quando sugerí a uma amiga, que em dúvida da profissão que iria seguir, me perguntou se eu sabia de alguma profissão em que você poderia conhecer muitas pessoas, viajar muito e tal... E eu, martelando com meus botões, respondí, triunfante: "Porque tu não vira Jornalista?". Mal sabia que aquela resposta para aquela pergunta era resposta pras minhas próprias.

Desde então, quis ser Jornalista. Lembro muito bem que o meu sonho profissional anterior era de fazer parte da esquadrilha da fumaça do Brasil (!). Mas quando parei pra pensar que eu tenho medo de altura, entre outros empecilhos, ví que Jornalismo era para o que eu tinha sido feita. Uma vocação, um dom, alguma coisa do tipo.

Desde essa época também, tive bastante trabalho pra convencer os meus pais que eu não seria médica. Nem advogada, nem fisioterapeuta, nem enfermeira, nem nada. Eu seria jornalista e eles teriam que aceitar. Quem foi que mandou me incentivarem a paixão pela leitura e a consequente pela escrita?

Em 2006, eu estava prestes a completar 16 anos. Novinha ainda, uma criança, arrisco dizer. Sobreveio sobre mim a maior tempestade que já enfrentei nessa ainda curta vida: Síndrome do Pânico. Não tenho intenção de descrever aqui o sofrimento que é. No entanto, isso marcou minha vida de tal maneira que hoje, quase 4 anos depois, vejo meu coração contrito por causa dos desafios que agora a vida me colocou na frente.

Moro nessa em Bacabal (MA), desde que me entendo por gente e alguma coisa dentro de mim, dizia que o meu futuro não estaria aqui. Sonhei bastante com esse dia, com a alegria que seria, com as saudades que eu sentiria. Em suma: eu sabia que não seria fácil. Mas eu não achei que seria tão difícil.

Pra quem não sabe sobre a Síndrome, uma das características é a ansiedade descontrolada. O que gera o medo. E só o fato de eu pensar que posso ter uma crise por conta do medo, tenho mais medo. Bola de neve, saca? Ainda bem que eu seguí um tratamento rigoroso e ao contrário das minhas expectativas de 2006, que eram apenas que eu não sobreviveria pra ver o 2007, hoje eu levo uma vida normal.

Assim, pude concluir o Ensino Médio, dar risadas, fazer novos amigos e o mais importante de tudo: enxergar um amanhã livre! Assim, não tive dúvidas de colocar o curso pra uma cidade muito longe, onde não tenho parentes, não conheço nada, nunca pisei na vida. Eu estava com uma coragem absurda, absurda mesmo, que mesmo com os parentes falando de todas as dificuldades, eu dizia: "Eu posso superar!"

E ainda continuo achando que posso. No entanto, meu coração está pesado demais. Penso em como vai ser lá sem minha mãe, meu pai, meu irmão, minha avó querida... Em como vai ser se eu tiver uma crise por lá, sem ninguém pra me socorrer. Eu sei que eu só estou pensando nas dificuldades, e não estou pensando no que aquela cidade me reserva de bom.

Não quero desistir. Não quero mesmo. Estou fazendo de tudo pra me forçar a rasgar a "razão" do meu desespero e partir em paz.

Ontem lí uma coisa que me deu um pouco mais de força: "Pessoas sofridas são perigosas, diz alguém... São perigosas porque sabem que podem sobreviver." (daqui)

Corrí, corrí atrás de um sonho e quando ele finalmente se apresenta possível, eu fico como fico. Mesmo que não acreditem em Deus, eu acredito. Ele vai me dar forças pra aguentar tudo, firme e forte.

Eu posso. Eu já pude muito mais.

***

Agora que pude

Agora que pude, choro o choro dos justos. Tenho orgulho da minha coragem.
2010 foi o ano "improvável" pra mim. Muito do que eu esperava da vida aconteceu e muito do que eu não esperava também. Como eu já disse, me amaram, me fuderam no pior dos sentidos e eu estou aqui. Dá vontade de abrir a janela e gritar: EEEEEUU ESTOOOU AQUIIIII, PORRAAAAAAA!
Hoje, pela noitinha, chorei ao lado de uma amiga que amo.
Dividir emoções... Em um lugar que até tão pouco tempo atrás era totalmente inóspito pra mim...
Já é 2011 e sei que mais coisas estão por vir. Estou até agora (2:35) lendo esses meus antigos textos desse tão estimado blog e lembrando coisas que escrevi nos meus cadernos sem tranca (o meu grande pecado) que eu chamava de diário. Meu Deus! Quanto de vida já passou por mim? Quanto!!!
Olho pra trás e sinto apenas o orgulho de ser quem eu sou. Olho pra frente e sinto medo - por que eu sou eu, né? - mas não me sai do juízo que tudo também há de dar certo.
Eu já falei que eu acredito numa poderosíssima instituição chamada de Vida? Pois é. Pra mim, ela é uma mulher de muitas cores, com um vestido esvoaçante. Ela é faceira, séria, puta, nojenta, sem-vergonha, amorosa, amiga. Ela é tudo. Não ensinaram os nãos pra ela. De uns tempos pra cá eu senti que ela finalmente se apresentou na sua imensidão pra mim. Não só uns pedacinhos, mas eu vi ela toda e percebi que ela é mais bela do que feia. Ela é imperfeita, assim como eu, por isso agora somos amigas, somos irmãs. Eu a agarrei e ela se entranhou em mim. Vida, sua louca, você não me escapa nunca mais!
Sinto-me feliz e realizada por ter podido. Como eu disse nesse dia que escrevi a comparação com o cachorrinho, com o coração tão pesado quanto o do Frodo pra destruir o anel, eu sabia que podia. Ia ser putaqueparilmente difícil, mas eu podia. E eu pude.
Eu já pude muito mais.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Novidades!

Eu, sem ter mais o que fazer e me lembrando que esse blog existe e deve ser lido por mais gente, coloquei o link na LP. A Vã e o Chalaça querem colaborar com o blog e tornar isso aqui um pouco mais movimentado... Porém, enquanto não arranjar uma forma de que eles façam isso por sí mesmos, eu publicarei os textos deles.

E pra começar, um texto belíssimo, que me foi enviado há alguns instantes atrás, escrito "junho do ano passado numa madrugada fria com cigarros e chocolate quente!", da Vã:

A Madrugada e eu

Todo o mundo dorme, exceto eu que apreendo o alento da noite nas curvas que tremem a caneta sobre o papel.
Escrevo sem saber por quais linhas pousam meus pensamentos. Faço anotações num escuro tentador.
A noite, as curvas e a palavra são duvidosas, o que causam em mim uma inquietaçao necessaria.
Busco os cheiros do mundo com olhos arregalados, afobados, de quem tem ansia de vida. De quem pediu e recebeu, e agora, deve crescer para assumir as rédeas do próprio destino.
O mundo dorme, a lua pendura-se pela metade, e eu escrevo letras tremidas, por estradas onde não enxergo.
Em cada letra há uma confiança solta, um descompromisso da escrita fora de linha e das curvas.
Enquanto o mundo dorme, eu firmo os olhos no escuro, assim como quem tem medo, mas não teme se deixar levar pelos buracos da estrada.
Distante do que torna tudo uniforme, eu não me preocupo com o sentido das coisas. Da escrita e do caminho só saberei amanha. Talvez ria de tudo. Talvez jogue fora. Talvez mostre a alguem. Ou até coloque no blog tornando publico, quem sabe. Por hora, colocarei a tampa na caneta. Fecharei o caderno e os olhos.
Distante de tudo que acho que é, mergulharei por inteiro na noite e repousarei com o mundo, sem pressa, sendo o que sei ser de melhor, eu mesma.

sábado, 2 de janeiro de 2010

2010 e eu


Esse ano será cheio de viradas radicais...

Termino meu curso... e por mais que eu esteja adiando isso, terei que ser uma mulher adulta ¬¬

É que ser estagiária, embora seja um trabalho com responsabilidades e tal e coisa, dá uma sensação de liberdade... Uma impressão de juventude...

Tem a convivência com as meninas da faculdade que diminuirá... A perda da minha carteira de estudante ( até a pós, ou outra graduação ou sabe-se lá)..

Muitas coisas boas tb, eu sei... Meu maninho que começará uma nova etapa...

As novas e maravilhosas pessoas que eu ganhei da vida em 2009 e outras que virão em 2010 ( eu espero)...

Os planos são muitos...

Desde as básicas promessas de Ano Novo: emagrecer, me exercitar, ser mais organizada, ler mais...etc etc...

Até essa nova disposição em mim...

A de tomar nas minhas mãos a minha vida...

Ela me parecia meio solta, aos cuidados do acaso, de Deus ou da sorte...

Entendi um dia desses que a vida é minha e eu devo tomar conta dela, muito bem...ao que me consta eu só tenho uma!!!